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O processo de desenvolvimento sustentável implica reflexões e escolhas de crescimento aliados à questão econômica, social e ambiental. Quando consideramos as bases de construção torna-se evidente a necessidade de emprego de práticas eficientes na gestão das partes interessadas e na busca por encontrar mecanismos capazes de conciliar a relação entre homem e natureza, de forma a gerir o que é possível e o que é desejável.

Quando o ser humano constitui a razão de ser do processo de desenvolvimento, significa defender com razões e argumentos um novo estilo, que seja ambientalmente prudente no acesso e no uso de recursos naturais, conjuntamente com a preservação da biodiversidade, socialmente justo na redução da pobreza e das desigualdades sociais, culturalmente responsável na conservação de valores, práticas e símbolos de identidade, e politicamente viável ao aprofundar a democracia e garantir o acesso e a participação efetiva da população nos processos de decisão que impactarão em suas vidas.

1.1.1 Dimensão econômica

Cada época caracteriza-se por possibilidades concretas que modificam a realidade e estabelecem novas bases. Na realidade contemporânea, a globalização representa a unificação do planeta em um só mundo. A globalização é evidenciada de diversas formas; dentre elas pelo espaço geográfico, definido neste caso, de acordo com Santos (2012, p. 146), “como algo dinâmico e unitário, onde se reúnem materialidade e ação humana”. Com informações instantâneas, a globalização aproxima lugares e oportuniza a simultaneidade, fato que corrobora para uma relação unitária da escala do mundo, evidenciada pela criação de lugares e acontecimentos, sendo caracterizada com base na mundialização dos indivíduos e lugares (SANTOS, 2012).

Neste caso, o mundo é capaz de oferecer as possibilidades e o local oportunidades. Trata-se de uma produção raciocinada de um espaço, onde cada território é instigado a incorporar características específicas em razão de atores hegemônicos, em que a eficácia é definida pela produtividade espacial, resultado de um ordenamento intencional específico (SANTOS, 2012).

Existem várias interpretações sobre a globalização. De acordo com Veiga (2013), é necessário a ponderação dos argumentos a favor ou contra o processo, no entanto parece haver um consenso em aceitar que alguns fatos estejam ocorrendo em escala mundial: maior interligação nas regiões e entre regiões; novas desigualdades e abalo de velhas hierarquias (em razão da competição inter-regional); aumento dos problemas transnacionais e transfronteiriços; novas formas de gestão internacional; exigências de pensar sobre novas maneiras democráticas de regulação política; e, por fim, o impacto planetário da decadência ambiental.

Dowbor (2001) ressalta que a globalização abre novos caminhos no que diz respeito à questão econômica. Já no plano político observa-se a falta de instrumentos globais de regulação, não havendo respostas para os problemas atuais, fato (pobreza, desemprego, dentre outros) que tem gerado impactos negativos no desenvolvimento.

Diante dessa realidade, a gestão local tem de se reinventar e encontrar novos caminhos que permitam enfrentar a atual conjuntura. A nova realidade econômica apresenta uma economia visualizada em escala mundial. Algumas de suas principais características, desafios e oportunidades, são apontadas por Drucker (2003):

– Na primeira metade da década de 1970 – quando tivemos o OPEP e o início da flutuação do dólar no governo Nixon – a economia mundial deixou de ser internacional para tornar-se transnacional. É a economia transnacional que tornou-se dominante, controlando em grande medida as economias modernas das nações.

– A economia transnacional é moldada basicamente por fluxos de capital e não pelo comércio de bens e serviços. Esses fluxos de dinheiro possuem sua própria dinâmica. Cada vez mais, as políticas monetárias e fiscais dos governos nacionais apenas reagem aos acontecimentos dos mercados financeiros transnacionais ao invés de determiná-los.

– Na economia transnacional, os fatores de produção tradicionais – terra e trabalho – são cada vez mais secundários. O capital, tendo se tornado transnacional e universalmente obtível, deixou de ser um fator de produção capaz de proporcionar vantagens competitivas no mercado mundial. As taxas de câmbio só têm importância quando consideramos intervalos bastante pequenos. Foi a administração que despontou como o fator decisivo de produção: é a administração de um negócio que determina a sua composição competitiva.

– Na economia transnacional, o objetivo não é a maximização do lucro e sim a maximização dos mercados. E na economia transnacional a atividade comercial cada vez mais é resultado de investimentos. Na realidade, o comércio está se tornando uma função do investimento.

– A teoria econômica ainda supõe que o estado nacional soberano constitui a única unidade – ou, no mínimo, a unidade predominante – e a única capaz de uma política econômica eficaz. Na economia transnacional, contudo, existem quatro dessas unidades. São o que os matemáticos chamam de variáveis parcialmente dependentes, isto é, unidades ligadas entre si, interdependentes, mas não controladas pelas outras. O Estado nacional é uma dessas unidades; na economia transnacional cada país tem evidentemente sua importância (particularmente os grandes países não comunistas desenvolvidos). Mas cada vez mais o poder de tomar decisões vai sendo transferido para uma segunda unidade, a região. Terceiro, existe hoje a economia genuína e praticamente autônoma dos fluxos de capital, crédito e investimento. Essa economia é fundamentada na informação e desconhece fronteiras nacionais. Finalmente, existe a empresa transnacional – que, aliás, não é necessariamente grande – para a qual todo o mundo não-comunista desenvolvido constitui um único mercado, um único sítio de produção ou venda de bens e serviços.

– A política econômica cada vez menos implica em um livre comércio ou no protecionismo, tendo surgido agora a noção de reciprocidade entre regiões. – Existe também uma ecologia transnacional, um fenômeno ainda mais recente. Assim como o capital e a informação, o meio ambiente também não conhece fronteiras nacionais. As necessidades ambientais mais cruciais – proteger a atmosfera, por exemplo, ou preservar as florestas do planeta – não podem ser satisfeitas através de medidas isoladas de uma nação, nem por uma legislação de âmbito nacional. Não podem ser abordadas como questões adversativas. O meio ambiente exige uma política transnacional comum que seja executada transnacionalmente.

– Finalmente, se por um lado a economia mundial transnacional já é uma realidade, ela ainda carece de algo fundamental: um novo direito transnacional (p. 95-97).

O desenvolvimento regional, coordenado pela lógica do mercado, acentua as tendências de centralização. É necessária a consciência da relevância da descentralização no processo de desenvolvimento regional, o que torna necessária a coordenação desses processos de forma socialmente participativa e institucionalmente acertada.

1.1.2 Dimensão social

O comportamento passivo do cidadão tem sido influenciado por dois fatores, como destaca Dowbor (2001): o primeiro é o liberalismo, que prega o não envolvimento na construção do mundo em que vivemos, isso influenciado pela ideia de que a mão invisível do mercado será capaz de garantir um mundo melhor; e o segundo fator é a visão estatizante, que leva a crer que o Estado, por intermédio de um planejamento central, garantirá uma gestão efetivada de nossas vidas. Sen (2010, p. 26) afirma que “com oportunidades sociais adequadas, os indivíduos podem efetivamente moldar seu próprio destino e ajudar uns aos outros”.

Neste contexto, a gestão social pode ser considerada relevante para a efetividade do desenvolvimento, sendo necessário um resgate teórico acerca dessa temática para o seu entendimento.

Tenório (2012a) contribui para o entendimento da expressão gestão social, apresentando uma trajetória do emprego do termo. De acordo com o autor, é a partir dos anos 90 que tem início o uso da expressão na linguagem acadêmica e algumas práticas na América Latina, mais precisamente em 1992 na cidade de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia), em um Seminário que discutia a temática. Neste contexto histórico, a gestão social era apresentada como uma nova proposta gerencial para os países latino- americano que estavam submetidos ao conteúdo econômico neoliberal (o Estado de interventor no processo de desenvolvimento a regulador dos fatos originados no mercado). O objetivo do novo conceito de gestão era a compreensão de uma gestão que visualizasse as carências pontuais.

O termo gestão social evolui a partir de então e, atualmente, é apresentado como uma proposta de um processo democrático de decisão, tendo dialogicidade nas tomadas de decisão e comprometimento com o bem-estar da sociedade. Neste entendimento de uma gestão compartilhada, emerge a cidadania ativa amparada pelos pressupostos de liberdade, igualdade e solidariedade. O intuito é que o conceito de gestão social seja substanciado pela promoção da cidadania (controle social e participação); o protagonismo deve estar nas mãos daqueles afetados por uma decisão.

Na busca de uma síntese do conceito de gestão social, Cançado, Sausen e Villela (2013) afirmam que ela pode ser entendida como tomada de decisão coletiva, sem coerção, com base na dialogicidade e no entendimento esclarecido como processo, na transparência como pressuposto e na emancipação como finalidade.

Na esfera pública, para que a gestão social aconteça, deverá ocorrer a aproximação das pessoas da política, visando a oportunizar um espaço onde elas se encontrem para deliberarem sobre as suas necessidades e o seu futuro. A gestão social é visualizada como um processo de resgate da cidadania nas políticas públicas, sendo, na sua essência, participativa, permitindo aos autores discutirem seus projetos e definirem seus objetivos comuns (CANÇADO; SAUSEN; VILLELA, 2013).

Allebrandt (2010) ressalta que a participação é vivenciada quando as pessoas envolvidas compreendem as razões e as consequências de suas ações. Elas devem atuar no processo de forma voluntária, entendendo o seu papel na busca de soluções para os problemas de maneira coletiva.

Tenório (2012a) considerou como base e referencial norteador para a gestão social a cidadania deliberativa, entendida como um processo no qual a legitimidade das decisões políticas tem origem em discussões orientadas pelos princípios da inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e do bem comum. Cada aspecto é evidenciado conforme descrito a seguir: os processos de discussão são vitais nos procedimentos decisórios e na condução de políticas públicas; a discussão propicia o diálogo que permite a compreensão de cada um sobre o objeto de análise; a inclusão é verificada pela abertura de espaço, pela aceitação e pela valorização da cidadania; o pluralismo ressalta a descentralização de poderes e identifica a participação em relação a quais atores sociais participam das decisões; a igualdade participativa representa a avaliação da isonomia de oportunidades e de atuação efetiva dos atores locais nas tomadas de decisão; a autonomia é a capacidade de avaliação e resolução de problemas locais pelas próprias comunidades; e, por fim, o bem comum representa a identificação de benefícios tangíveis e intangíveis que refletem na melhoria da qualidade de vida da comunidade.

A aproximação dos termos gestão social e desenvolvimento regional e sustentável é realizada a partir do questionamento sobre os critérios de participação nas políticas locais.

O desenvolvimento regional e sustentável preconiza a melhoria da qualidade de vida de determinada localidade e a envolve em várias dimensões: econômica, social, cultural, ambiental e físico-territorial, político-institucional e científico-tecnológica. Para que o processo de desenvolvimento seja efetivo, este deverá surgir do fortalecimento dos atores sociais de um território, com iniciativa e propostas socioeconômicas que promovam as potencialidades locais com foco na melhoria integral da qualidade de vida da população. O desenvolvimento é entendido como sinônimo de bem-estar social, de educação, de preservação ambiental e sustentabilidade (CANÇADO; SAUSEN; VILLELA, 2013).

Neste sentido, os processos de democratização visualizados pela capacidade de participação cidadã e pela gestão social dos processos decisórios, contribuem para o desenvolvimento em um contexto multidimensional.

O RDH – 2014 aponta para a necessidade de que seja promovida uma melhor compreensão e conscientização sobre a relevância da redução da vulnerabilidade e o reforço da resiliência para um desenvolvimento humano sustentável. “A vulnerabilidade ameaça o desenvolvimento humano – e, a menos que seja abordada de forma sistemática, mediante a alteração das políticas e normas sociais, o progresso não será nem equitativo nem sustentável” (PNDU, 2014, p. 10)

1.1.3 Dimensão ambiental

Podemos afirmar que a conscientização ambiental é recente, e existem dois acontecimentos que contribuíram para que fosse despertada essa preocupação: o primeiro está relacionado ao alcance da humanidade de poder técnico para destruir a vida do planeta – como a bomba de Hiroshima; o segundo foi outra grande conquista técnico-científica que despertou a reflexão sobre a finitude da Terra – a aterrissagem na Lua. Diante desses feitos, a opinião pública começou a ter consciência da limitação da natureza e dos perigos decorrentes da agressão a ela (SACH, 2009).

Outro fator que contribui para a discussão do limite da natureza é o entendimento de que o crescimento econômico desordenado provoca efeitos indesejáveis que se agravam com o passar do tempo. Em meio a essas constatações, no final da década de 70 observa-se um aumento notável das discussões a respeito dos

efeitos negativos desse processo. As discussões nesse período estavam marcadas por uma nítida polarização: de um lado os países industrializados buscando garantir seu crescimento e, de outro, os países em desenvolvimento, que não visualizavam a discussão como algo palpável. A conferência de Estocolmo marca essa polarização e também marca os avanços na interpretação dos problemas ambientais, pondo em destaque a ideia de que é compatível o desenvolvimento econômico com a conservação da natureza.

A Conferência das Nações Unidas, que abordou o Ambiente Humano em 1972, na cidade de Estocolmo na Suécia, inseriu a dimensão ambiental na agenda internacional. Os organizadores da Conferência realizaram o encontro denominado Founex, em 1971, também em Estocolmo, para discutir pela primeira vez a relação de dependência entre o desenvolvimento e o meio ambiente (SACH, 2009).

A adoção do conceito desenvolvimento sustentável ocorreu a partir do Relatório das Nações Unidas, denominado Relatório de Brundtland – Nosso Futuro Comum, apresentado em 1987 à Assembleia Geral das Nações Unidas pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. A partir de então o termo foi legitimado como o maior desafio do século (VEIGA, 2013).

Para Veiga (2013), o desenvolvimento sustentável, como definido no documento “Nosso Futuro Comum”, representou um grande avanço, porém foi somente o ponto de partida para que decorressem das discussões ações concretas. As discussões aumentaram e foram realizados encontros e compromissos internacionais, como as conferências Rio-92, Rio+10, o Protocolo de Kyoto, dentre outros. O que parece ocorrer, todavia, é um retrocesso a cada encontro e acordo. Isso pelo fato de não se avançar em práticas concretas.

O Relatório de Brundtland tratou da insustentabilidade de muitos padrões de desenvolvimento em curso, que depredavam os recursos naturais e o meio ambiente em que estavam inseridos, limitando as possibilidades de desenvolvimento futuro, fazendo também conexões entre pobreza e desenvolvimento, desigualdades sociais, o uso e o manejo inadequado dos recursos naturais, e as ameaças desses modelos em um futuro próximo.

Surge, então, a necessidade de substituir conceitos tradicionais de desenvolvimento e de segurança mundial por uma nova noção: a de desenvolvimento sustentável. Se, entretanto, é um consenso entre países em desenvolvimento e países industrializados acerca da interpretação dos problemas ambientais e da necessidade de adotar estratégias para um desenvolvimento sustentável, esse mesmo caminho enfrenta interesses conflitantes.

Sachs (2009) argumenta que é necessário um planejamento flexível negociado e contratual, que seja capaz de tratar as preocupações sociais e ambientais. O autor ressalta que economia (responsável pelas articulações de estratégias) e ecologia (responsável pela descrição do que é preciso para um mundo sustentável) devem somar forças importantes e necessárias para o desenvolvimento.

O ajuste da produtividade do setor público é a melhor maneira de fazer crescer a produtividade sistêmica de toda a sociedade. Atualmente a visão moderna da gestão pública é denominada governança participativa. Neste caso, a gestão é consequência da articulação inteligente e equilibrada das partes interessadas no desenvolvimento, é uma gestão que demanda sistemas participativos, democráticos e transparentes. Na nova proposta, a eficiência é medida pelo resultado e pelo processo; as chefias escutam os cidadãos por intermédio de processos democráticos, fato que contribui para a eficiência dos administradores que estão ligados diretamente ao que deles se espera e deseja (SACHS; LOPES; DOWBOR, 2010).

A governança dá ênfase a uma atuação aberta do governo. Quando se articula com a sociedade, tende a dar maior relevância à incorporação e à inclusão de atores interessados no processo.

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