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CAPÍTULO I AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E O DIREITO À

2 As políticas públicas educacionais no Brasil: lutas, limites e avanços

2.1 Direito à cidadania

Souza questionou “as afirmações tradicionais de que o Estado antecipou-se à procura por escola entre os setores populares, [...] essas camadas tiveram, ao contrário, que lutar pelo direito ao estudo” (Souza, 1998, p. 13). Esse direito à escola como um direito de cidadania é uma conquista e uma luta, pois

A multiplicidade de interesses antagônicos em torno da educação

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60O autor destaca “que sob o prisma restritivo, de simples aquisição de informações, a educação não representa um direito da personalidade, ínsito ao ser humano, e por isso indispensável.” (MACHADO JUNIOR, 2003, p. 169)

manifestado por diversos segmentos sociais aliado às demandas populares pela escola torna difícil crer em mitos como o da atuação unilateral dos liberais na luta pela democratização do ensino nessa época ou o mito da antecipação do Estado às reivindicações populares, menos ainda crer na existência de um desinteresse da população pela escola. Ao contrário, elas atestam o que tem sido a difícil trajetória do povo no sentido de apropriar-se de um mínimo de escolaridade e de conquista da cidadania. (SOUZA, 1998, p. 194)

Esse estudo historiográfico realizado por Souza propõe que a população continue a luta por escola, luta pelo direito à educação em busca da “conquista da cidadania” (idem, idem). Destacamos que o esse termo cidadania é apontado por Outhwaite & Bottomore (1996) em dois aspectos: a) a cidadania será formal quando definida como a condição de membro de um estado-nação e b) a cidadania será substantiva quando se compreender o que significam direitos civis, políticos e sociais para toda a população de uma nação.

Entretanto, o direito à cidadania implica o efetivo exercício da liberdade, a possibilidade concreta não apenas teórica ou legal, de participação na vida social com poder de influenciar e de decidir. Assim, Dallari (2004) destaca que a democracia é muito mais do que a formalidade do voto, mas para exercê-la é necessário liberdade e igualdade. Para se ter liberdade e igualdade é necessário o acesso às mesmas oportunidades educacionais, às mesmas informações e às mesmas frentes de desenvolvimento interior. Quando se desperta para a cidadania, desperta-se para a consciência sobre o valor da pessoa humana.

Para Benevides (2004), os direitos da cidadania, são aqueles estabelecidos pela ordem jurídica de um determinado Estado, e juntamente com os deveres, restringem-se aos seus membros. Os direitos do cidadão englobam direitos individuais, políticos e sociais, econômicos e culturais e, quando são efetivamente reconhecidos e garantidos, podemos falar em cidadania democrática. A cidadania democrática pressupõe a participação ativa dos cidadãos nos processos decisórios da esfera pública. Quando falamos em cidadania democrática, supomos a vigência de direitos humanos, pois não há democracia sem garantia de direitos humanos e vice-versa. Os direitos humanos são, portanto mais amplos, e abrangem os direitos da cidadania em cada país.

Cidadania e democracia são processos no entendimento de Benevides (2004). Os cidadãos em uma democracia são titulares de direitos já estabelecidos e são expostos à possibilidade de expansão, de criação de novos direitos, novos espaços, e de novos mecanismos. A idéia de cidadania e de direito estão sempre relacionadas aos processos de construção e de mudança. A autora alerta que não é possível congelar em uma lista fechada de direitos específicos de uma determinada sociedade. Há de se reconhecer que existem espaços

de reivindicação de direitos a partir das relações sociais existentes. Há espaços de reivindicações de espaços frente a instituições e frente a novas demandas da sociedade. Se listássemos nossos direitos, observaríamos que tal lista é sempre passível de transformação, sempre historicamente determinada.

Segundo a experiência de Machado Junior,

[...] quando se levantam barreiras à educação, no seu sentido de direito da personalidade, os tribunais dizem que, dependendo da situação, o bom senso deve imperar sobre os regulamentos. É o direto natural à educação com forma superior às normas escritas (idem, p.170).

A definição da educação como direito social decorrente dos direitos da personalidade compreende a mesma como um direito de todos, e um dever do Estado e da família. O mesmo destaca que a educação, segundo o artigo 205 da Constituição Federal de 1988 “é integral e problematizadora, que leva o ser humano a exercer seus direitos civis, sociais e políticos, através de uma participação ativa e efetiva nos grandes temas da contemporaneidade humana” (Machado Junior, 2003. p. 168). Isso ocorre porque além de ser direito de todos, a educação deve possibilitar o pleno desenvolvimento da pessoa humana, capacitando-a para o “exercício consciente da cidadania, os direitos de participação, direitos de autodeterminação e direitos a prestações que favoreçam a igualdade substancial entre todos os seres humanos” (idem, p. 179).

Concordamos com esse autor quando o mesmo afirma que “a educação deve propiciar a operacionalização do conhecimento, devendo ser reflexiva e crítica para formar cidadãos. A escola neste contexto deve transformar o mundo, para torná-lo mais humano” (idem, p, 169). Percebemos que a educação que humaniza se localiza no sentido de formar o cidadão para o pleno desenvolvimento de suas capacidades físicas, intelectuais, sendo inclusive um meio para a liberdade.

Conclusão do Capítulo I

A fim de responder a questão sobre a relação entre as políticas públicas educacionais no Brasil apresentamos no Capítulo I definições de Estado, seu papel nos movimentos e na legislação do Estado brasileiro, dentro do paradigma do Estado democrático de direito. Compreendemos que uma política pública é a ação do Estado e não apenas de um Governo. Enfocamos as políticas públicas educacionais, suas lutas, limites e avanços referentes ao direito à educação no Brasil, após conceituarmos o que são políticas públicas.

Constatamos que houve uma evolução da compreensão de direito ao longo da história, entretanto compreendemos que a luta sempre foi maneira para atingi-lo e protegê-lo. Definimos o direito humano à educação como um direito social por meio da leitura de Ewald (1986). Destacamos que o direito à cidadania significa o exercício da liberdade, de participação com o poder de decisão. Ao se despertar para a cidadania, encontramos o valor da pessoa humana.

Para melhor compreendermos as Proeduc passaremos ao estudo do Ministério Público, sua origem, estrutura e atuação.