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CAPÍTULO II – O MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO

6 Princípios institucionais e garantias funcionais

indivisibilidade e a independência funcional. Arantes destaca outras garantias, tais como vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. Tais garantias, afirma Arantes, mesmo que não sejam suficientes para o bom desempenho da instituição como um todo, “são necessárias para aqueles integrantes do Ministério Público que assumiram seu papel político excepcional e procuram levar às últimas conseqüências suas novas tarefas constitucionais” (Arantes, 1999, p. 90).

Segundo o Promotor entrevistado (E 09) esses princípios existem para que os membros do MP trabalhem sem que sejam pressionados.

Mas de qualquer forma existem princípios institucionais que são assegurados na Constituição, como a unidade, a indivisibilidade a própria independência funcional que nós temos. Isso permite que a gente trabalhe

de uma forma sem receio de alguma represália, de alguma pressão

(grifo nosso). (E 09)

Dawalibi (2006) entende por unidade o fato de que todos os membros do MP façam parte do mesmo órgão, com as mesmas finalidades institucionais e sob a direção de um só chefe. Entendemos que isso gera contradições na medida em que a própria norma é passível de entendimentos por ser um texto. O entrevistado (E 10) procura destacar que o princípio da unidade faz com que os Promotores caminhem no MP “num rumo só, [...] então há uma preocupação nossa de ter, de caminhar num rumo só. A gente tenta tomar esse caminho mais uniforme” (E 10).

Acreditamos que a pressão e a represália sempre existirão, pois nenhuma atividade é neutra ou apolítica. Lyra Filho entende que aquele que se auto-intitula de neutro é “um reacionário encabulado e não tem a coragem e a franqueza de confessar que é moço de recados da dominação que mascara” (Lyra Filho, 1984, p. 34). Tenzer (1993) ao analisar o fenômeno da despolitização o coloca como uma característica das sociedades pós-modernas. Segundo esse autor, o descrédito político acontece quando há uma ilegitimidade profunda do poder político e uma ineficiência da política em sua missão de organização social. O indivíduo acredita que pode passar sem a política e que também deve afirmar essa sua distância da mesma.

Quanto ao princípio da indivisibilidade, Dawalibi afirma que o membro do MP age em nome da instituição e não em nome próprio. Representa o MP com “uma atuação indivisível” (Dawalibi, 2006, p. 12). Esse autor apresenta o terceiro princípio institucional do MP a independência funcional como uma garantido do membro do MP que o mesmo será livre e independente no exercício de suas atribuições. Não haverá subordinação ou sujeição

hierárquica, nem mesmo em relação à chefia da instituição.

Para Arantes, o princípio de independência no exercício das funções dos integrantes do Ministério Público lhes garante “atuar com desenvoltura e autonomia – particularmente nos conflitos de dimensão social e política” (Arantes, 1999, p. 90). A hierarquia nesse órgão não é capaz de atingir a esfera funcional de seus integrantes.

Esse princípio foi o mais assinalado como fundamental para os Promotores entrevistados:

[...] o Procurador-geral, o Chefe do MP não pode dizer ao Promotor o que fazer, dizer para processar tal pessoa porque ela tem crime. (E 03)

Você tem a independência funcional: é o Fulano que vai ficar com esse processo e vai pensar aquilo que a consciência dele mandar e dentro do direito que ele tem. [...] Se ele não tivesse a sua independência funcional, a gente estaria vinculando a nossa atuação com a condição de alguém. (E 10)

Percebemos que um Promotor ao agir dentro desse princípio funcional de independência pode se posicionar com mais autonomia em algumas questões. Conforme Arantes (1999) tem ocorrido uma politização no MP por meio de posicionamentos políticos de seus integrantes pode representar certa ameaça à independência institucional do MP, pelo menos nas condições em que ela se assenta hoje.

Mesmo tendo ciência de que o ingresso na carreira no MP ocorra por meio de concurso público, Arantes alerta que a escolha dos chefes dos Ministérios Públicos estaduais e mesmo do Ministério Público da União são “marcadas pelo critério de alinhamento com o governo, numa clara tentativa de controlar por cima essa poderosa organização” (Arantes, 1999, p. 98). Esse autor afirma que

[...] do ponto de vista do arranjo institucional de poderes, o Ministério Público rompeu o isolamento do sistema judicial para se constituir em ator relevante no processo político, interferindo muitas vezes de modo decisivo na dinâmica entre os poderes, internamente: a politização vem ocorrendo no sentido de um posicionamento ideológico de seus integrantes diante dos desafios de redução de desigualdades sociais e ampliação de cidadania (ARANTES, 1999, p.98)

Segundo Silveira a forma como o Ministério Público está organizado não permite a escolha de Promotores de justiça “dentre os mais capacitados para atuar em determinados casos. Essa garantia pode dificultar o trabalho, mas constitui uma segurança para a sociedade” (Silveira, 2006, p. 218). A autora destaca que essa segurança reside no fato de um membro do Ministério Público não poder ser substituído para atender a pressões internas e externas à instituição. Para as Promotorias especializadas, como as Promotorias de Educação, o critério

de titularização de um Promotor à mesma é também a antiguidade funcional no MP e não seu conhecimento específico na área educacional.

As garantias funcionais dos membros do MP são: vitaliciedade, inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos. Dawalibi (2006) entende por vitaliciedade a permanência no cargo até que sua aposentadoria. A demissão não pode ocorrer por meio de processo administrativo e sim mediante uma sentença judicial. A inamovibilidade é a impossibilidade de o membro do MP ser afastado de suas atribuições, excepcionalmente por interesse público. Nesse caso a decisão deverá ser tomada pela maioria absoluta do órgão colegiado competente e com a ampla defesa do membro do MP.

Alguns Promotores entrevistados apresentaram que a inamovibilidade se refere à remoção do Promotor ou Procurador. Para o entrevistado (E 13) a inamovibilidade significa que “ele só sai dali se ele quiser, se ele pedir remoção”. Os Promotores entrevistados tratam dessa garantia:

É a remoção.[...]Exatamente para evitar que, por exemplo, eu esteja investigando alguém e aí, por interesses de terceiros queiram, aí alguém pode querer me tirar. Ninguém pode me tirar o processo assim. (E 05) [...] A sociedade tem certeza de que o Promotor a quem foi distribuído pelo procedimento está livre para fazer o que ele achar que deve fazer, e no vai sofrer pressão de ninguém. [...] existe essa tranqüilidade de a gente saber que a gente é livre para agir segundo a nossa consciência. (E 10)

A irredutibilidade de vencimentos75 consiste na impossibilidade de diminuição de salário paga ao membro do MP76. Dawalibi destaca que há “um novo teto remuneratório para os membros do MP da União que é o valor do vencimento mensal, em espécie, dos ministros do Supremo Tribunal Federal” (Dawalibi, 2006, p. 19). Para os membros do Ministério Público Estadual (MPE) a maior remuneração é o vencimento dos desembargadores do Tribunal de Justiça, que corresponde a 90, 25% dos subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em reportagem77 de um jornal de circulação nacional, por decisão unânime, tomada às vésperas do fim de mandato de seus integrantes, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), mesmo contrariando recente entendimento do STF, aumentou o _____________

75

De acordo com a emenda Constitucional n. 19 usa-se o termo subsídios não mais vencimento, sendo a remuneração fixada em parcela única, sem outros acréscimos e vantagens de cunho pessoal.

76

O Projeto de Lei n° 7.298, de 2006 dispõe sobre os subsídios dos membros do MPU e MPDFT, a partir de 1° de janeiro de 2007, a saber: Procurador-geral da República = R$ 25.269,73; Procurador de Justiça do MPDFT = R$ 22.805,93; Promotor de justiça do MPDFT = R$ 21.665,63; e Promotor de justiça Adjunto do MPDFT = R$ 20.582,35.

valor máximo dos vencimentos de Promotores e Procuradores.