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CAPÍTULO II – O MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO

9 Ministério Público da União: estrutura e composição

9.1 Promotorias comuns e Promotorias especializadas

As Promotorias comuns e as Promotorias especializadas constituem a coluna vertebral do MP. Para o entrevistado (E 14) isso ocorre porque “a Promotoria é demandada por todos os tribunais”. Assim, uma Promotoria comum ficaria atrelada a uma execução

criminal e cível e as diversas Promotorias especializadas pelo interesse difuso e coletivo. As Promotorias comuns e especializadas têm metas a serem seguidas conforme, nos esclareceu o entrevistado (E 03): “O MP, hoje, como instituição tem uma prioridade. Cada Promotoria tem as suas metas porque chegamos a esta conclusão de que trabalhamos com o povo e devemos resolver os problemas”. Os MPE também possuem Promotorias comuns e especializadas. Uma Promotoria pode surgir de maneira experimental. Esse foi o caso da Promotoria de Justiça e de Defesa da Educação do DF: “Era Promotoria de justiça, mas como era uma Promotoria experimental, não era aberta à remoção”. (E 06).

Segundo o Promotor entrevistado (E 07) todas as Promotorias especializadas do MPDFT estão localizadas no Plano Piloto, ou seja, em Brasília. Também para o Promotor entrevistado (E 09) a especialização80 acontece pela “matéria”, ou seja para que determinado ponto seja analisado com mais profundidade pelo MP e as mesmas devem ter um perfil difuso e coletivo. Para o entrevistado (E 09):

Nós não temos Promotorias especializadas nas cidades satélites, todas as Promotorias especializadas ficam no Plano Piloto. A especialização é mais pela matéria. São para o DF todo. Não tem efetivo para isso e nem local, nem não tem condição [...] (E 09)

A dificuldade em se ter mais especializações esbarra no quantitativo de pessoal do MPDFT e muitas vezes o conflito de atribuições. Assim, depreendemos que há uma constante discussão entre a especialização ou não, tendo em vista o quantitativo de Promotores existentes no MPDFT. Segundo entrevistado (E 05), o MPDFT é um dos poucos Ministérios

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As vinte e sete Promotorias especializadas do MPDFT são: Promotoria de Justiça e de Defesa da Comunidade - PROCIDADÃ; Promotoria de Justiça e de Defesa do Consumidor - PRODECON; Promotoria de Justiça e de Defesa da Educação - PROEDUC; Promotoria de Justiça e de Defesa da Filiação - PROFIDE; Promotoria de Justiça e de Defesa da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência - PRODIDE; Promotoria de Justiça e de Defesa da Infância e da Juventude; Promotoria de Justiça e de Defesa da Ordem Urbanística - PROURB; Promotoria de Justiça e de Defesa da Saúde - PROSUS; Promotoria de Justiça de Delitos de Trânsito; Promotoria de Justiça Eleitoral; Promotoria de Justiça de Entorpecentes; Promotoria de Justiça de Execuções Penais; Promotoria de Justiça da Fazenda Pública; Promotoria de Justiça de Órfãos, Sucessões e Resíduos; Promotoria de Justiça de Registros Públicos; Promotoria de Justiça de Tutela das Fundações e Entidades de Interesse Social; Promotorias de Justiça de Acidentes de Trabalho; Promotorias de Justiça Cível; Promotorias de Justiça Criminais; Promotorias de Justiça Criminal da Defesa dos Usuários de Serviços de Saúde - PRÓ-VIDA; Promotorias de Justiça e de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Distrito Federal - PRODEMA; Promotorias de Justiça e de Defesa da Ordem Tributária; Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social - PRODEP; Promotorias de Justiça de Falências e de Recuperação de Empresas; Promotorias de Justiça de Família; Promotorias de Justiça do Tribunal de Júri; Promotorias de Justiça Militar.

Públicos que conta com uma Promotoria especializada na área educacional porque no DF há Promotores para essa função.

O MP em seis estados da Federação conta com algum tipo de Promotoria ou Centro de Apoio para educação: Distrito Federal, Espírito Santo, Paraná, Rondônia, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Dois Promotores entrevistados reconhecem que essa estrutura de especializações do MPDFT não está presente em todos os MPE e que essa opção aconteceu no Distrito Federal.

O MP não é só responsável pela execução criminal, mas é interessado e responsável pelo direito difuso. Quem defende o interesse difuso é a Proeduc. A Proeduc é um avanço do Ministério Público. (E 05)

[...] com certeza não são todas as cidades do Brasil que tem essa possibilidade de ter uma especialização na Promotoria da educação, grande parte das cidades, para não dizer quase todas inclusive capitais às vezes não tem essa especialização na Promotoria da educação. (E 11)

Uma das críticas do Promotor entrevistado (E 05) quanto as especializações do MPDFT é que as Promotorias especializadas estão no centro do Distrito Federal e longe dos problemas da periferia. O mesmo acrescenta que é preciso ter uma política comum entre as Promotorias especializadas: educação e patrimônio público são exemplos.

A grande relevância das Promotorias chamadas Promotorias especializadas é que as Promotorias especializadas muitas vezes sofrem, elas precisam, é natural isso, precisam definir uma política comum, e isso já começa a ser feito. [...] Por que muitas vezes existe uma narração de um tipo de crime. Um furto. Quem vai tomar conta disso? A questão da segurança escolar é

na verdade uma coisa que não é para uma Promotoria é uma coisa que precisa de um apoio local (grifo nosso). Lá no centro, está longe. (E 05) O entrevistado (E 05) enfoca o problema da especialização e da generalização. Ao especializarmos demais corremos o risco de particularizar os conflitos, tratando à parte, muitas vezes o que é comum. A visão geral, mesmo que advinda de uma Promotoria comum pode também contribuir para o maior entendimento dos problemas e conflitos. Acreditamos que o Distrito Federal, por sua geografia, favorece a especialização, entretanto, após análise das quatorze entrevistas realizadas, observamos, por exemplo, que as Proeduc contaram muito com o apoio de outras Promotorias especializadas.

O entrevistado (E 05) entende que o fato de termos no DF Promotores especificamente na área educacional ocorre porque há Promotores disponíveis para atuarem nessa área e o entrevistado (E 10) acrescenta que:

Procuradores e Promotores são 324. Ai você tira 40 Procuradores, ai temos 284 Promotores. É um quadro razoável. Não pouco para a população do Distrito Federal, mas nós temos aqui no DF muitas fiscalizações. Nós tivemos a chance de instituir diversas Promotorias especializadas. [...] Você tem especialistas no braço direito, você tem no braço esquerdo e a gente não consegue tratar dos braços como uma comunidade. [...] Nós estamos com carência de Promotores. Já faz um bom tempo por conta dessa especialização enorme a gente tem um sério problema. Cinqüenta

Promotores em um universo de 280 são mais que 20% (grifo nosso).

Então, é muito. Não é realidade de estado nenhum do país. Uma situação na ordem de 20% do seu contingente de Promotor em especializadas. Então, a gente está começando a ver que isso está causando problemas. (E 10)

Apesar dessa possibilidade de se ter um contingente de aproximadamente 20% do total dos Promotores e Procuradores do MPDFT atuando em Promotorias especializadas, temos ainda a percepção de um entrevistado de que seria preciso uma estrutura maior para atender esses interesses difusos e coletivos. Assim,

A gente precisaria de uma estrutura maior (grifo nosso). Eu acho, mas

como a gente está no limite do gasto não tem como fazer isso. A gente está numa situação complicada, mas eu acho que deveria ter mais ter uma estrutura de apoio maior e mais pessoas. (E 13)

Segundo o sítio eletrônico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)81 a população no DF em 2007 é de 2.455.903. De acordo com informação prestada pelo Procurador-geral de Justiça82 há no MPDFT 344 Promotores e Procuradores de justiça. Assim, temos no DF um (01) membro do MPDFT atuando para aproximadamente 7 mil habitantes.

Somente para título de ilustração, Silveira (2006) em sua pesquisa com as Promotorias de Infância e Juventude em Rio Claro e Ribeirão Preto constatou a proporção de 62 mil e 67 mil habitantes, respectivamente, para cada um (01) membro do Ministério Público atuando na área cível. Se formos considerar o quantitativo de alunos matriculados em 200783 e o quantitativo de dois Promotores para a questão educacional no DF, verificaremos que haverá um (01) Promotor para perto de 300 mil alunos84. Isso nos faz concluir que as Proeduc não são responsáveis pela fiscalização da educação no DF sozinhas dentro do MP. Outras

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Acesso em 08 de março de 2008: www.ibge.gov.br. 82

Carta enviada pelo Procurador de Justiça Leonardo Azevedo Bandarra ao Correio Braziliense em 10 de dezembro de 2006 sobre as licenças de Promotores do MPDFT.

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Dados do sítio eletrônico do MEC - Inep (Educacenso) 2007, em 08 de março de 2008 às 23horas, http://www.inep.gob.br/basica/censo/escolar/matricula/censoescolar_2007

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Promotorias85 certamente atuam em conjunto com a mesma.

Para o entrevistado (E 08) a solução é estabelecer uma comunicação entre as Promotorias comuns e as especializadas. A Promotoria criminal que recebe o registro do crime ocorrido, quando aconteceu a judicialização do fato pode remeter para as Promotorias especializadas, para ciência das mesmas. A Promotoria comum atua diante da responsabilidade penal e é importante que “[...] os Promotores atuem em rede. Eles têm que ter um feedback para saber: nós, aqui, na responsabilização penal estamos recebendo alguns problemas das escolas” (E 08). A comunicação interpromotorias é, no nosso entender, uma maneira de o MP avançar no seu objetivo de defender o interesse público. Poderia amenizar o conflito de atribuições e cobriria eventuais lacunas na defesa dos direitos difusos e coletivos.

9.2 A estrutura organizacional do Ministério Público: Promotor de justiça, Promotor