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O inciso II do artigo 4º-C da Lei nº 6.019/1974 atribui responsabilidade à empresa contratante de assegurar ao empregado terceirizado plenas condições de segurança, higiene e salubridade nos locais de trabalho. É sabido que essa responsabilidade já era fixada na Constituição Federal, na Consolidação das Leis do Trabalho e em algumas normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho (SILVA, 2017, p. 141).

No entanto, a Lei nº 13.429/2017, editada pela Lei nº 13.467/2017, deu nova redação e posicionamento ao dispositivo mencionado acima, conforme vemos a seguir:

Art. 4o-C. São asseguradas aos empregados da empresa prestadora de serviços a que se refere o art. 4o-A desta Lei, quando e enquanto os serviços, que podem ser de qualquer uma das atividades da contratante, forem executados nas dependências da tomadora, as mesmas condições:(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

I - relativas a:

a) alimentação garantida aos empregados da contratante, quando oferecida em refeitórios;

b) direito de utilizar os serviços de transporte;

c) atendimento médico ou ambulatorial existente nas dependências da contratante ou local por ela designado;

d) treinamento adequado, fornecido pela contratada, quando a atividade o exigir. II - sanitárias, de medidas de proteção à saúde e de segurança no trabalho e de instalações adequadas à prestação do serviço.

§ 1oContratante e contratada poderão estabelecer, se assim entenderem, que os

empregados da contratada farão jus a salário equivalente ao pago aos empregados da contratante, além de outros direitos não previstos neste artigo.

§ 2oNos contratos que impliquem mobilização de empregados da contratada em número igual ou superior a 20% (vinte por cento) dos empregados da contratante, esta poderá disponibilizar aos empregados da contratada os serviços de alimentação e atendimento ambulatorial em outros locais apropriados e com igual padrão de atendimento, com vistas a manter o pleno funcionamento dos serviços existentes. (BRASIL, 2017d).

Consta no texto normativo o dever legal de que a empresa tomadora de serviços deve propiciar ao empregado um ambiente de trabalho seguro, sadio e respeitoso, de modo que não importa se o trabalho é realizado em suas dependências ou em local determinado pela empresa. (SILVA, 2017, p. 142).

Esse dispositivo que utiliza as normas da Consolidação das Leis do Trabalho sobre segurança e higiene no trabalho, explicitou o direito fundamental que todas as pessoas possuem que é o de trabalhar em um ambiente de trabalho protegido de todas as formas para que possa desenvolver suas atividades de forma profissional e segura. A doutrina reconhece

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como um princípio da proteção psicológica integral do trabalhador, que pode ser considerado um desdobramento do princípio da dignidade da pessoa humana. (SILVA, 2017, p. 142).

Podemos ver o que foi exposto acima nos artigos 1º,III, e 7º, XXII, XXVII e XXVIII, e também nos artigos 170 caput e 200, II e VIII da Constituição Federal.

Sabe-se que as normas que regulam a proteção do trabalhador no seu ambiente de trabalho, buscam na verdade a proteção do bem maior do ser humano, que é o direito à vida. Entende-se que, além do direito à vida e do direito à dignidade humana, o texto constitucional acrescenta também os princípios da valorização do trabalho, da livre iniciativa como valores inerentes aos fundamentos e objetivos da República. (SILVA, 2017, p. 142).

Neste sentido o artigo 1º e 3º, I da Constituição Federal:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania; II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária. (BRASIL, 1988).

Entende o doutrinador Silva (2017, p. 142) que a lei disse menos do que deveria, pois a obrigação de garantir um meio ambiente de trabalho digno é de ambas as empresas contratantes e não apenas da empresa tomadora. O empregador das empresas que prestam o serviço deve igualmente zelar e garantir esses direitos fundamentais acima mencionados aos seus empregados, visto que o § 1º do artigo 4º- A da Lei Geral de Terceirização dispõe que a empresa prestadora de serviços vai dirigir o trabalho realizado pelo terceirizado.

Para Martins (2017, p. 182) “é responsabilidade da contratante as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou local previamente convencionado no contrato.”

Estabelece a lei que a empresa contratante, por estar recebendo os empregados temporários em suas dependências ou locais de trabalho, tem uma obrigação (compartilhada e disjuntiva) de garantir aos trabalhadores um ambiente físico, moral, social, ambiental, ergonômico e sonoro que seja protegido e que possua os atributos civilizatórios mínimos. (SILVA, 2017, p. 143).

Mesmo que ambas as empresas acima mencionadas tenham a obrigação de proteção do trabalhador de forma compartilhada, uma não depende da outra para concretizar

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esse direito, pois devem agir de forma independente para não ocorrer nenhum tipo de violação às normas ambientais de trabalho. Desse modo entende-se que suas obrigações são também disjuntivas (separadas), pois a ideia principal é a de proteção ao trabalhador para diminuir os acidentes no ambiente laboral. (SILVA, 2017, p. 143).

Entende Silva (2017, p. 143) que:

No caso de haver descumprimento de tais normas e a geração, por conseguinte, de infortúnios laborais, por parte das empresas contratantes (EPS e ETS), a responsabilidade de ambas deve ser tida como solidária, aplicando-se a regra geral prevista no art. 942 do Código Civil, porquanto, diante dos graves danos gerados por acidentes de trabalho, deve-se promover um juízo de proporcionalidade para se identificar no ordenamento jurídico as normas que devem incidir no caso concreto, proporcionando a valorização social do trabalho o efetivo acesso à justiça. É a velha equação das regras da necessidade e da adequação entre meio e fins, para que o juízo de justiça (proporcionalidade) possa garantir resultados jurisdicionais céleres e justos.

A Lei nº 6.019/1974 em seu artigo 4º-A, §2º estendeu para o trabalhador terceirizado a mesma regra positivada para o empregado temporário que está exposta no artigo 10 “caput” da lei, uma vez que veda o reconhecimento de vínculo de emprego entre o terceirizado e a empresa tomadora de serviços. (SILVA, 2017, p. 147).

Assim, cabe expor os artigos acima mencionados para melhor visualização da ideia apresentada:

Art. 4o-A. Considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução.

[...]

§ 2o Não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a empresa contratante.

Art. 10. Qualquer que seja o ramo da empresa tomadora de serviços, não existe vínculo de emprego entre ela e os trabalhadores contratados pelas empresas de trabalho temporário. (BRASIL, 1974).

Porém, entende Silva (2017, p. 147) que quando ocorre esse tipo de situação, acima mencionada, o preceito proibitório deve obedecer à consideração de que apenas será aplicado se os pressupostos fáticos e jurídicos que deram motivo a sua criação estiverem presentes.

Caso fique configurado que as regras especiais de contratação e de trabalho do empregado terceirizado forem desrespeitadas pelas empresas contratantes não ocorre, como consequência desse vício legal, a anulação do contrato de trabalho, mas sim a sua transformação em contrato de trabalho por prazo indeterminado, configurado diretamente com a empresa prestadora de serviços. Desse modo, o empregado terceirizado deixa de ser

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considerado integrante da categoria diferenciada para fazer parte do quadro efetivo de empregados da empresa tomadora. (SILVA, 2017, p. 147).

Para entender melhor o que foi exposto acima é importante visualizar o exemplo dado pelo doutrinador Silva (2017, p. 147) em sua obra literária, conforme segue:

Assim, por exemplo, se uma empresa tomadora – ETS celebra com uma empresa de prestação de serviços – EPS terceirizados um contrato de fornecimento de mão de obra (colocação de pessoal à sua disposição) o efeito desse desrespeito à lei não será a nulidade absoluta do contrato de trabalho, e sim sua convolação em contrato de trabalho por prazo indeterminado (art. 442 da CLT), e a consequente com a configuração do vínculo empregatício diretamente com a empresa tomadora contratante – ETS, ante a atração dos requisitos de ordem pública caracterizadores da condição de empregado (arts. 3º e 2º, CLT).

Podemos dizer que a Lei Federal nº 13.429/2017 não confere aos empregados terceirizados e aos empregados das empresas prestadoras de serviços, direito ao mesmo nível contratual existente para os empregados efetivos da empresa contratante. (SILVA, 2017, p. 143).

Segundo Silva (2017, p. 143) a Lei nº 13.467/2017 modificou a relação e a disposição dos artigos da lei anteriormente mencionada, deixando expresso que, agora ambas as partes (tomadora e contratada) poderão estabelecer, caso assim entendam, que os empregados contratados pela contratada receberão salário equivalente ao que recebem os empregados da contratante, além de outros direitos.

Podemos ver no artigo 4º-C, §§1º e 2º o que foi mencionado acima:

Art. 4o-C. São asseguradas aos empregados da empresa prestadora de serviços a que

se refere o art. 4o-A desta Lei, quando e enquanto os serviços, que podem ser de

qualquer uma das atividades da contratante, forem executados nas dependências da tomadora, as mesmas condições: (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

[...]

§ 1o Contratante e contratada poderão estabelecer, se assim entenderem, que os

empregados da contratada farão jus a salário equivalente ao pago aos empregados da contratante, além de outros direitos não previstos neste artigo.

§ 2o Nos contratos que impliquem mobilização de empregados da contratada em número igual ou superior a 20% (vinte por cento) dos empregados da contratante, esta poderá disponibilizar aos empregados da contratada os serviços de alimentação e atendimento ambulatorial em outros locais apropriados e com igual padrão de atendimento, com vistas a manter o pleno funcionamento dos serviços existentes. (BRASIL, 2017d).

Segundo Silva (2017, p. 144) esse direito é uma consequência lógica e jurídica da própria posição especial em que se encontra o empregado terceirizado. É considerada uma relação atípica de trabalho na qual o trabalhador é contratado por um empregador, mas labora para outro, que é o tomador de serviços, exercendo muitas vezes os mesmos cargos e funções dos empregados da tomadora, e nas mesmas condições fáticas ou até mais gravosas.

Desse modo, tem-se a aplicação dos princípios da não discriminação e da isonomia, bem como a valorização constitucional e social do trabalho, pois deve-se estender

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ao empregado terceirizado os mesmos direitos contratuais e coletivos dos empregados da empresa tomadora que fazem as mesmas funções. (SILVA, 2017, p. 144).

É importante visualizar o artigo 12, alínea “a” da Lei Geral de Terceirização, pois o mesmo dispõe sobre essa igualdade entre os trabalhadores terceirizados e os empregados contratados pela tomadora, de modo que caso esse artigo não seja aplicado pode ocorrer uma discriminação e configurar uma situação de extrema injustiça e antinomia entre os trabalhadores que desempenham as mesmas funções ou tarefas parecidas (SILVA, 2017, p. 144).

Segue abaixo o artigo mencionado:

Art. 12 - Ficam assegurados ao trabalhador temporário os seguintes direitos:

a) remuneração equivalente à percebida pelos empregados de mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados à base horária, garantida, em qualquer hipótese, a percepção do salário mínimo regional. (BRASIL, 1974).

Pode-se dizer que o direito igualitário e ao tratamento não discricionário (ou isonômico) faz parte do regime jurídico do empregado terceirizado, tanto para fins salariais, quanto de fixação de jornada de trabalho. É necessário reconhecer a existência de direito igualitário no tratamento contratual de forma ampla, que englobe todos os aspectos que fazem parte do direito contratual, seja individual ou coletivo, de que fazem jus os empregados efetivados na empresa tomadora. Porém, esses direitos variam de acordo com o tipo de empresa na qual o terceirizado esteja laborando (SILVA, 2017, p. 145).

Segundo Silva (2017, p. 145) ainda cabe ressaltar que dispõe o artigo 5º-A, §3º da Lei Geral de Terceirização que, é responsabilidade da contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade aos trabalhadores, quando o serviço for realizado em local previamente estabelecido em contrato ou quando for realizado em suas dependências.

Essa obrigação que deve ser garantida pela empresa contratante, de assegurar um ambiente de trabalho adequado, é indivisível, pois protege e beneficia a todos, tanto os empregados da empresa tomadora de serviços como também os empregados terceirizados, de modo que, ou beneficia a todos ou não beneficia ninguém. (SILVA, 2017, p. 145).

Segue o artigo mencionado acima:

Art. 5º-A. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços relacionados a quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)

[...]

§ 3º É responsabilidade da contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou local previamente convencionado em contrato. (BRASIL, 2017d).

No mesmo sentido, e buscando cumprir o princípio constitucional da não discriminação, estabelece o artigo 5º, §4º da Lei Geral de Terceirização que a contratante

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poderá estender ao trabalhador da empresa prestadora de serviços o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição que é destinado aos seus empregados, existente das dependências da contratante ou em local estabelecido por ela. (MARTINS, 2017, p. 182).

Leia-se a seguir o artigo mencionado acima:

Art. 5º-A. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços relacionados a quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) [...]

§ 4º A contratante poderá estender ao trabalhador da empresa de prestação de serviços o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela designado. (BRASIL, 2017d).

Ocorre que, tendo em vista a indivisibilidade do direito ao meio ambiente de trabalho adequado, existe causa para afastar a palavra “poderá”, utilizada pela lei no artigo mencionado acima, que deve ser interpretada como “deverá”, de modo que restaura o sentido do texto legal, concretizando os princípios constitucionais da máxima efetividade das normas constitucionais, da não discriminação e da plena proteção psicofisiológica do trabalhador. (SILVA, 2017, p. 146).

Sobre o que foi dito acima, cabe ressaltar que os benefícios mencionados no texto legal são direitos fundamentais e encontram-se também fixados nos artigos 168, §4º e 169, bem como no artigo 200, VII todos da Consolidação das Leis do Trabalho.

A Constituição Federal fixa direito fundamental não só de redução de riscos inerentes ao trabalho, mas também de proteção a saúde e a vida do trabalhador em local de trabalho, independente de ser empregado terceirizado ou não. Assim, vale destacar os artigos 7º XXII, artigo 1º, III e IV, artigo 3º, I e III, artigo 6º, artigo 170 e 200, II e VIII, todos da Constituição Federal. (SILVA, 2017, p. 146).

Por fim, segundo o entendimento de Silva (2017, p. 146) a Lei Geral de Terceirização “prevê expressamente o direito do empregado terceirizado, contratado por empresa de prestação de serviço, ao tratamento contratual equivalente àquele dispensado aos obreiros da empresa tomadora.”