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Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010)

Matrículas em Unidades Municipais pré-escola Matrículas em Unidades Privadas pré-escola

2.1 EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE DIZEM AS LEIS E AS ORIENTAÇÕES OFICIAIS Muito se discute sobre a importância da valorização da Educação Infantil Seguindo

2.1.8 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010)

No decorrer da história da Educação Infantil, deparamo-nos com práticas de cuidados muito próximas das realizadas em ambientes domésticos e, portanto, sem intencionalidade educativa. Reforçava-se nesses espaços a figura da mulher por representar a figura materna, trazendo, assim, somente o cuidar – sem a preocupação com o educar. Nesse período, a marca das desigualdades sociais também se fazia presente, resultando mesmo em diferentes formas de entender a prática com crianças pequenas nesses espaços.

Em 2009, foi publicada a Resolução nº 5 do Conselho Nacional de Educação (CNE), que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e suas políticas, norteando o planejamento, a execução e a avaliação de propostas pedagógicas, permeando em seu texto o conceito e o currículo a ser trabalhado nas creches e pré-escolas. A presença do

termo criança foi apresentado nesse documento para enfatizar que elas possuem práticas pedagógicas próprias, descaracterizando o foco no educando e sua escolarização, como se pode verificar na definição de currículo:

Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2010, p. 12).

As Diretrizes quebram o paradigma do professor como centro do planejamento curricular, respeitando a criança como sujeito e o “ser criança”, que “brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura” (BRASIL, 2009, Art. 4º).

O documento é claro quando pontua que a Educação Infantil não é um espaço doméstico, tendo seus objetivos próprios, e o foco no cuidar e educar como ações indissociáveis do processo educativo. É importante lembrar que os princípios éticos, políticos e estéticos também são orientadores das práticas educativas da Educação Infantil. 2.1.9 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (2010)

A Resolução nº 4/10 do Conselho Nacional de Educação, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, amplia a proposta do cuidar e educar para toda a Educação Básica em seu Art. 6º. Traz ainda em seu Art. 1º não só a responsabilidade de garantir o acesso e a permanência como também a inclusão e a conclusão com sucesso no processo de ensino-aprendizagem das crianças, dos jovens e adultos na instituição educacional.

Apresenta a extensão da Educação Básica, composta por Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Define, no seu Art. 21, as etapas da Educação Infantil como creche (para crianças de até 3 anos e 11 meses) e pré-escola com duração de 2 anos, para crianças de 4 a 5 anos e 11 meses de idade. Além disso, reafirma a etapa da Educação Infantil como o tempo em que a criança deve desenvolver-se em sua integralidade nos aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual e social.

O atual Plano Nacional de Educação (PNE), cuja formulação era prevista no Art. 214 da Constituição Federal de 1988, estabelece diretrizes, metas e estratégias para a política educacional com vigência de dez anos, a partir de 25 de junho de 2014. As metas abrangem todas as etapas, níveis e modalidades da educação, incluindo a Educação Infantil. O primeiro grupo de metas está relacionado à garantia do direito à Educação Básica com qualidade, à garantia ao acesso, à universalização do ensino obrigatório e à ampliação das oportunidades educacionais. O segundo grupo de metas se refere particularmente à diminuição das desigualdades e à valorização da diversidade e a percursos relevantes à igualdade. No terceiro bloco de metas temos a valorização dos profissionais da Educação, que é fundamental para a efetivação das metas anteriores. O quarto grupo de metas diz respeito ao Ensino Superior.

O Plano Nacional de Educação, aprovado como Lei nº 13.005/14, estabelece em sua meta 1, entre outras voltadas para a Educação Infantil, universalizar até 2016 a pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta de Educação Infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos até o final da sua vigência.

O Plano Municipal de Educação de Niterói foi aprovado em 2016 e contou com muitas disputas para sua aprovação. De forma equivocada, o Plano apontava como meta o atendimento de 50% das crianças entre 4 e 5 anos. Essa meta difere frontalmente da meta 1 do Plano Nacional de Educação de 2014: enquanto o PNE prescreve a universalização da Educação Infantil na pré-escola, o projeto de lei aprovado pela Câmara de Vereadores na redação dada pela emenda parlamentar prescrevia como meta que apenas e tão somente 50% das crianças com idade entre 4 a 5 anos devam estar matriculadas na escola durante o prazo do Plano Municipal de Educação.

Toda a meta relacionada à Educação Infantil foi descartada, considerando que o Plano Nacional de Educação erigiu como meta a universalização da Educação Infantil na pré-escola para crianças de 4 a 5 anos de idade; não pode vir o Plano Municipal definir meta inferior ao Plano Nacional, por expressa violação ao Art. 214, inciso II, da Constituição Federal e violação ao princípio constitucional implícito da vedação ao retrocesso social.

Para o cumprimento da meta 1, foram estabelecidas no Plano Nacional de Educação as seguintes estratégias: 1.1 – Metas de expansão; 1.2 – Combate à desigualdade; 1.3 – Demanda; 1.4 – Consulta pública da demanda; 1.5 – Rede física; 1.6 – Avaliação; 1.7 – Oferta de atendimento em creche por dependência administrativa; 1.8 – Formação de professores; 1.9 – Pesquisa; 1.10 – Atendimento em comunidades indígenas, quilombolas e

do campo; 1.11 – Atendimento educacional especializado; 1.12 – Apoio às famílias; 1.13 – Padrões nacionais de qualidade; 1.14 – Monitoramento do acesso e da permanência; 1.15 – Busca ativa; 1.16 – Levantamento da demanda; e 1.17 – Tempo integral.

Segundo Arelaro (2017, p. 213), as metas do PNE favorecem a expansão da Educação Básica e incentivam a qualidade do ensino. Para ele,

a existência de um Plano Nacional sempre nos motiva para exigir que suas metas sejam cumpridas e que os governos façam dele referência obrigatória para suas prioridades de atuação e investimento na educação.

2.1.11 Base Nacional Comum Curricular (2017)

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais que devem ser desenvolvidas pelos educandos na Educação Básica. O documento está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (BRASIL, 2017, p. 7).

Considerando que, na Educação Infantil, as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças têm como eixos estruturantes as interações e a brincadeira, assegurando-lhes os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se, a organização curricular da Educação Infantil na BNCC está estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento (BRASIL, 2017, p. 38).

Esses cinco campos de experiências consideram os direitos de aprendizagem e desenvolvimento nos quais as crianças podem aprender e se desenvolver: o eu, o outros e o nós; corpo, gestos e movimentos; traços, sons, cores e formas; oralidade e escrita; e espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.

Em cada campo de experiências, são definidos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos por faixa etária. A divisão por idade é a seguinte: bebês (0-1a6m), crianças bem pequenas (1a7m-3a11m) e crianças pequenas (4a- 5a11m).

expressava o entendimento de que a Educação Infantil era uma etapa anterior, independente e preparatória para a escolarização, que só teria seu começo no Ensino Fundamental. Situava- se, portanto, fora da educação formal.

Com a Constituição Federal de 1988, o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade tornou-se dever do Estado. Posteriormente, com a promulgação da LDB, em 1996, a Educação Infantil passou a ser parte integrante da Educação Básica, situando- se no mesmo patamar do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. A partir da modificação introduzida na LDB em 2006, que antecipou o acesso ao Ensino Fundamental para os seis anos de idade, a Educação Infantil passou a atender a faixa etária de 0 a 5 anos. A Educação Infantil passou a ser obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos apenas com a Emenda Constitucional nº 59/09. Com a inclusão da Educação Infantil na BNCC, mais um importante passo foi dado no processo histórico de sua integração ao conjunto da Educação Básica.

Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da Educação Básica propostas pela BNCC, os campos de experiência e os direitos de aprendizagem e desenvolvimento devem assegurar na Educação Infantil as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nos quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. 2.2 CAMINHOS LEGAIS, CONQUISTAS E AVANÇOS

Como podemos perceber, na maioria das vezes há coerência entre os ditames constitucionais e os das leis ordinárias, bem como nos documentos de política e do plano de educação. Nas disposições legais, a Educação Infantil encontra-se regulada, dispõe de recursos públicos, registra melhorias no processo de normatização, com repercussões no Ensino Superior com incremento de pesquisas que abrangem a área.

Ademais, é preciso considerar que o ingresso da Educação Infantil nos sistemas de ensino pode exercer influência nas demais etapas, nas diferentes modalidades e níveis de ensino, por suas práticas serem capazes de retratar relações pedagógicas mais democráticas e menos fragmentadas aos ambientes educativos. Essa realidade tem sido meta almejada para as demais etapas da educação, entretanto com pouco êxito no que se refere à sua concretização.

De fato, essa influência já está explicita na Resolução nº 4/10 do CNE, quando define, no seu Art. 24, que

os objetivos da formação básica das crianças, definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no primeiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e intensificando, gradativamente, o processo educativo, mediante: I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três) primeiros anos; III - compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da economia, da tecnologia, das artes, da cultura e dos valores em que se fundamenta a sociedade; IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de respeito recíproco em que se assenta a vida social (BRASIL, 2010).

Por outro lado, não se pode desconsiderar a busca permanente pela construção de uma identidade da Educação Infantil capaz de resguardar suas especificidades, não se tornando apenas um local salubre para os bebês e não tendo papel de espaço preparatório para o Ensino Fundamental.

Apesar de algumas conquistas e avanços, ainda existem muitos obstáculos para mudanças nas concepções de atendimento às crianças pequenas. Uma forte consequência tem sido o crescimento de preocupações educacionais tanto no campo das políticas como no estímulo à produção de conhecimento na área.

Sônia Kramer (2003) considera que todos os avanços na legislação dirigem-se para a conquista da igualdade das crianças pequenas e o reconhecimento de suas diferenças:

A educação da criança é um direito – não social, mas um direito humano. A educação da criança pequena é um direito social porque significa uma das estratégias de ação (ao lado do direito à saúde e à assistência) no sentido de combater a desigualdade, e é direito humano porque representa uma contribuição, dentre outras, em contextos de violenta socialização urbana como os nossos, que se configura como essencial para que seja possível assegurar uma vida digna a todas as crianças (KRAMER, 2003, p. 56).

A área de Educação Infantil vive um momento intenso de revisão de práticas e produção de conhecimentos que buscam efetivar os avanços advindos do campo jurídico e da contribuição das diferentes áreas de conhecimento sobre a criança pequena. Nas pesquisas e artigos científicos, predominam proposições que versam sobre a necessidade de garantir a especificidade da Educação Infantil, por meio da constituição de uma Pedagogia da Infância que, longe de aumentar a fragmentação já existente em nosso sistema educacional, busca dar

ênfase às particularidades do trabalho pedagógico com crianças pequenas e muito pequenas em instituições educacionais.

No que se refere à educação da criança pequena, os avanços na legislação brasileira foram impulsionados especialmente pelo envolvimento de profissionais, pesquisadores e militantes da Educação Infantil que contribuíram para construir novos conhecimentos que subsidiam a construção de uma política pública ancorada no respeito aos direitos fundamentais das crianças.

Nesse sentido, concordamos com Haddad (2006), que afirma que o que pode realmente contribuir para um avanço na Educação Infantil é o reconhecimento de seu caráter multifuncional, integrando suas funções sociais e educacionais, com a finalidade de garantir o desenvolvimento da criança em sua integralidade, por meio da promoção de um ambiente que proporcione segurança, bem-estar e estimule a brincadeira, a interação e o convívio prazeroso entre crianças e adultos.

3 A EDUCAÇÃO INFANTIL EM NITERÓI

Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.

Manoel de Barros

Na trajetória histórica da Educação Infantil há avanços e retrocessos. É importante ressaltar as mudanças pelas quais as escolas infantis passaram no decorrer do tempo, desde a característica de assistencialismo até a função educativa, que, sem dúvida, representa um importante avanço da legislação quando reconhece a criança como cidadã, como sujeito de direitos, inclusive o direito à educação de qualidade.

No entanto, no momento que estamos vivenciando, temos o desafio de evitar retrocessos e possibilitar avanços no atendimento à Educação Infantil a fim de garantir o desenvolvimento pleno das crianças.

A Constituição Federal de 1988 garante que a criança é um ser de direitos e que a Educação Infantil é direito do cidadão e dever do Estado. O Brasil, a partir dos anos 1990, passou a valorizar os investimentos em Educação Infantil, aumentando a oferta desse atendimento e dando condições para que ele aconteça de maneira integral à formação da criança. A garantia de acesso deve estar ligada à permanência e à qualidade. O direito ao acesso deve dar também direito a um atendimento educacional de qualidade. Lisete Regina Gomes Arelaro afirma que

há três critérios de avaliação de políticas públicas que são consenso na área de educação: 1) a democratização do acesso, enquanto condição de realização do direito à educação de todos e todas; 2) a qualidade do atendimento, que implica a existência de projeto pedagógico consistente e condições de trabalho dos profissionais do magistério (salário, jornada de trabalho, número de alunos por turma, materiais e equipamentos dos alunos no sistema de ensino; e 3) a gestão democrática, princípio educacional e condição de participação dos usuários na elaboração das propostas de políticas diversificados) pertinentes à função educacional como condição de permanência pública, seu acompanhamento e sua avaliação (ARELARO, 2017, p. 207).

O município de Niterói, atualmente, apesar de ainda não atender integralmente à demanda de vagas, atende de forma satisfatória aos critérios de avaliação de políticas públicas

em educação, especialmente no que se refere à Educação Infantil, que são, como citado antes: a democratização do acesso, a qualidade do atendimento e a gestão democrática.

Quanto à democratização do acesso, para garantir o direito à educação de toda a população, a Rede Municipal de Niterói vem expandindo sua capacidade de oferta de vagas tanto com construção de novas UMEIs quanto em reforma das já existentes; na atual gestão foram criadas dezessete UMEIs. Esses avanços permitiram a universalização atendimento a crianças de 4 e 5 anos, em conformidade com a Lei nº 13.306/16, que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê que a Educação Infantil vai de 0 a 5 anos e determina que todas as crianças deverão ser matriculadas na Educação Básica a partir dos quatro anos de idade.

No que diz respeito à qualidade do atendimento, vale ressaltar que Niterói não se limitou à expansão de vagas; buscou também a qualidade do atendimento prestado às crianças. Visando a garantir uma educação de qualidade município, instituiu a bidocência, ou seja, são dois professores em cada grupo de Educação Infantil. Criou ainda ambientes diversificados para as atividades pedagógicas e forneceu equipamentos adequados à faixa etária das crianças.

A gestão democrática se faz a partir do cotidiano escolar, em que se estabelece a elaboração das propostas do projeto pedagógico. A Secretaria Municipal de Educação se preocupa em garantir o que determina a lei no que diz respeito à obrigatoriedade da oferta de vagas, mas também tem seu olhar voltado para a questão pedagógica, buscando capacitar o professor. Na Rede Municipal de Niterói acontecem reuniões semanais com o objetivo de favorecer a avaliação da prática pedagógica. Assim, podemos afirmar que a Educação Infantil do município não se restringe apenas a colocar a criança na escola, mas procura atender essa criança com vistas à oferta de educação de qualidade baseada no trinômio cuidar-educar- brincar.