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2. REGULAÇÃO NO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA

2.5. Regulação do setor de energia elétrica

2.5.3. Disciplina constitucional sobre energia e principais leis que regulam o setor de

Antes de prosseguir para o estudo do papel da ANEEL, é necessário partir do marco

constitucional sobre o tema, sem considerar, no entanto, as disposições de cunho tributário existentes na Constituição Federal, bem como considerar as principais leis que regulamentam o setor de energia elétrica.

Inicialmente, o artigo 20, inciso VIII da Carta Constitucional estabelece que os potenciais de energia hidráulica – principal fonte geradora de energia elétrica no país – são bens da União. Não obstante, em que pese a titularidade da União, o parágrafo 1º do mesmo artigo assegura aos demais entes federativos (Estados, Distrito Federal e Municípios), bem como a órgãos da administração direta da União, especificamente, a “participação no resultado da exploração [...] de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica [...] ou

compensação financeira por essa exploração”.

Por sua vez, o artigo 21, inciso XII, alínea “b”, preceitua que compete à União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água. É importante observar, nesse ponto, que também houve abertura para que haja articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos quando da sua exploração.

Ademais, em se tratando o fornecimento de energia de serviço público, aplica-se o artigo 175, segundo o qual a sua prestação “[i]ncumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação”, devendo ser garantidos direitos de usuários e a manutenção adequada desse serviço.262

Por fim, quanto à competência legislativa sobre energia, ela é privativa da União, conforme prevê o artigo 22, inciso IV da Constituição Federal.

Passando para a legislação infraconstitucional, como visto acima, o setor de energia elétrica é regulado e moldado não apenas pela ANEEL, mas também por diversas normas esparsas, que, ao longo dos anos, criaram novos tipos de agentes atuantes no mercado, novos ambientes de contratação de energia e induziram – e induzem – os comportamentos dos agentes. Sendo assim, cumpre agora elencar as principais dessas leis, apontando as contribuições mais relevantes que elas trouxeram:

a) Lei nº 3890-A/1961: essa lei, mencionada acima, foi responsável por autorizar a criação da ELETROBRÁS;

b) Lei nº 8631/1993: também já mencionada, ela dispõe sobre a fixação dos níveis das tarifas para o serviço público de energia elétrica, extinguindo o regime de remuneração garantida;

c) Lei nº 8987/1995: dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no artigo 175 da Constituição Federal, de modo que tem grande relevância para a prestação dos serviços de energia elétrica;

d) Lei nº 9074/1995: estabelece normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos, sendo interessante citar que essa lei elenca casos nos quais se dispensa a concessão, a permissão ou a autorização, a depender dos potenciais energéticos aproveitados pelos empreendimentos, bem como disciplina o poder da ANEEL de declarar a utilidade pública de áreas destinadas à implantação de instalações de energia elétrica;

e) Lei nº 9427/1996: essa lei, conforme já restou estabelecido e será mais bem explorado abaixo, instituiu a ANEEL, disciplinando o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica;

f) Lei nº 9478/1997: de suma importância não apenas para o setor, mas também para a diversificação da matriz energética mediante a inclusão de fontes geradoras alternativas, essa lei dispõe sobre a política energética nacional e institui, além da ANP, o Conselho Nacional de Política Energética;

g) Lei nº 9648/1998: dentre outras alterações legislativas importantes, essa lei reestruturou a ELETROBRÁS; em razão do escopo do presente trabalho, destaca- se que essa lei previu a possibilidade de utilização de recursos da Conta de Consumo de Combustíveis – CCC, destinados ao ressarcimento de custos adicionais de geração de eletricidade em sistemas isolados, em pequenas centrais hidrelétricas ou produtores de energia pelas fontes eólica, solar, de biomassa e de gás natural implantadas em sistemas isolados em substituição à geração termelétrica a fim de atender ao incremento do mercado;

h) Lei nº 9991/2000: essa lei dispõe sobre a realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética por parte das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica; trata-se da obrigação desses agentes de investir percentual de sua receita operacional líquida anual em pesquisa e desenvolvimento do setor energético e em programas de eficiência energética no uso final; é importante mencionar que a lei isentou dessa obrigação aquelas empresas que geram energia a partir das fontes eólica, solar, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas;

i) Lei nº 10295/2001: essa lei dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia, visando à alocação eficiente de recursos energéticos e a

preservação do meio ambiente, notadamente no que diz respeito à utilização de energia elétrica de máquinas e aparelhos fabricados e comercializados no país; j) Lei nº 10438/2002: essa é uma lei muito relevante para o setor e, também, para o

presente trabalho, tendo em vista que, dentre outras disposições, ela criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA263 e

a Conta de Desenvolvimento Energético – CDE264, que tem como um de seus objetivos o aumento da competitividade, nas áreas atendidas pelos sistemas interligados, da energia produzida a partir das fontes eólica, biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas;

k) Lei nº 10847/2004: essa lei autorizou a criação da Empresa de Pesquisa Energética – EPE, posteriormente criada por meio do Decreto nº 5184/2004, como já mencionado acima; é importante salientar a importância dessa lei no âmbito do desenvolvimento das fontes alternativas e renováveis de energia elétrica, tendo em vista que compete à EPE, dentre outras atividades, realizar estudos de impacto social, viabilidade técnico-econômica, socioambiental para os empreendimentos de energia elétrica e de fontes renováveis, desenvolver estudos para avaliar e incrementar a utilização de energia proveniente de fontes renováveis, atuar para subsidiar tecnicamente planos e programas de desenvolvimento energético ambientalmente sustentável, inclusive de eficiência energética e, ainda, realizar inventário do potencial de energia elétrica proveniente de fontes alternativas265; l) Lei nº 10848/2004: essa lei estrutura os dois ambientes de contratação de energia

elétrica, o regulado e o livre, sendo, assim, a principal norma que disciplina a contratação de fontes de energia elétrica para suprimento do mercado nacional, tendo, inclusive, disposição expressa no sentido de que os processos licitatórios devem contemplar, dentre outros critérios, tratamento para as fontes alternativas de

263 O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA tem o objetivo de aumentar

a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos de Produtores Independentes Autônomos, concebidos com base em fontes eólica, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa, no Sistema Elétrico Interligado Nacional. Cumpre esclarecer que o Produtor Independente é Autônomo quando sua sociedade, não sendo ela própria concessionária de qualquer espécie, não é controlada ou coligada de concessionária de serviço público ou de uso do bem público de geração, transmissão ou distribuição de energia elétrica, nem de seus controladores ou de outra sociedade controlada ou coligada com o controlador comum. Ver: Lei nº 10438/2002, artigo 3º, caput e § 1º.

264 A Conta de Desenvolvimento Energético – CDE visa ao desenvolvimento energético dos Estados, de modo

que, dentre seus objetivos, além do fortalecimento da geração de energia por fontes alternativas, está a promoção da universalização do serviço de energia elétrica em todo o território nacional. Ver: Lei nº 10438/2002, artigo 13.

energia elétrica266;

m) Lei nº 11488/2007: criou o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infra-Estrutura – REIDI e estabeleceu, entre seus beneficiários, pessoas jurídicas que tenham projetos aprovados para implantação de obras de infraestrutura no setor de energia267, o que, de maneira clara, é incentivo para

novos investimentos no setor;

n) Lei nº 12111/2009: dispõe sobre os serviços de energia elétrica nos Sistemas Isolados, notadamente sobre o processo licitatório a ser realizado, direta ou indiretamente, pela ANEEL;

o) Lei nº 12783/2013: trata da prorrogação de concessões de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, da redução dos encargos setoriais e da modicidade tarifária; essa lei alterou a Lei nº 10438/2002 para especificar que a Conta de Desenvolvimento Energético – CDE tem como um de seus objetivos promover a competitividade da energia produzida a partir de fontes eólica, termossolar, fotovoltaica, pequenas centrais hidrelétricas, biomassa, outras fontes renováveis e gás natural268;

p) Lei nº 13203/2015: dispõe sobre a repactuação do risco hidrológico de geração de energia elétrica, da bonificação por outorga de concessão de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica e altera diversas leis anteriores;

q) Lei nº 13280/2016: alterou a Lei nº 9991/2000, para disciplinar a aplicação dos recursos destinados a programas de eficiência energética.

É importante mencionar que há diversos decretos que também ajudam a estruturar o setor, os quais, em conjunto às leis, direcionam a atividade reguladora da ANEEL, mais detalhada a seguir.