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4. ANÁLISE DAS RESOLUÇÕES NORMATIVAS DA ANEEL SOBRE ENERGIAS

4.1. Principais resoluções normativas da ANEEL que tratam das energias alternativas

4.1.8. Resolução Normativa ANEEL nº 687/2015

Por meio dessa resolução normativa376, a ANEEL realizou alterações na Resolução Normativa nº 482/2012, que trata do Sistema de Compensação de Energia Elétrica.

Como principais inovações, podem ser citadas: (i) permissão de uso de qualquer fonte renovável, além da cogeração qualificada, para a produção de energia por microgeração e minigeração distribuída; (ii) alteração no conceito de microgeração distribuída, para passar a abarcar geradoras com potências instaladas de até 75 kW (antes o limite era de 100 kW); (iii) alteração do conceito de minigeração distribuída, para passar a abarcar geradoras com potências instaladas entre 75 kW e 5 MW (3 MW para fonte hidrelétrica); (iv) aumento do prazo para utilização do crédito pelo consumidor, de 36 para 60 meses, sendo que o abatimento no consumo pode ser utilizado em unidades diferentes do mesmo titular, desde que elas estejam dentro da área de atendimento de uma mesma distribuidora; (v) possibilidade de instalação de geração distribuída em condomínios (empreendimentos de múltiplas unidades consumidoras); (vi) criação do conceito de “geração compartilhada”, quando há a

376 ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução Normativa nº 687, de 24 de novembro de 2015.

união de vários interessados em consórcio ou cooperativa, que instalam um empreendimento de microgeração ou minigeração distribuída e utilizam a energia gerada para a redução das faturas dos consorciados ou cooperados; e (vii) simplificação do processo de conexão à rede da distribuidora.377

Embora essa resolução apenas tenha alterado a resolução de 2012 vista acima, a opção por analisá-la em separado advém do fato de que ela, diferentemente das anteriores, passou pelo procedimento de AIR378 quando da sua elaboração, permitindo uma visão mais detalhada

da atuação da ANEEL.

Pois bem. Para a elaboração da resolução ora analisada, foi realizada a Audiência Pública nº 026/2015379. Como subsídio para a referida audiência, houve a elaboração da Nota Técnica nº 0017/2015-SRD/ANEEL380, da qual, além das minutas de alteração normativa, fazem parte pesquisa de satisfação realizada em 2014 junto aos consumidores, formulário de AIR e documento detalhado da AIR.

Na nota técnica, ao analisar os impactos da Resolução Normativa nº 482/2012, fica evidenciada experiência positiva gerada pela norma para a disseminação da geração distribuída, especialmente no que se refere ao aumento da microgeração e minigeração a partir, predominantemente, da fonte solar fotovoltaica por consumidores residenciais. Positiva, também, foi a avaliação dos consumidores pesquisados, que em sua maioria disseram que suas expectativas com os efeitos da regulação foram atendidas ou até superadas.

Não obstante, houve a identificação de diversos problemas a serem resolvidos por meio da resolução proposta, relativos à certificação de equipamentos e componentes pelo

377 ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. ANEEL amplia possibilidades para micro e minigeração

distribuída. Disponível:

<http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/noticias/Output_Noticias.cfm?Identidade=8955&id_area=90>. Acesso em: 29.06.2018.

378 Em consonância com o que preceitua a Norma de Organização ANEEL nº 40/2013, ora revogada pela

Resolução Normativa ANEEL nº 798/2017.

379 ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Audiências públicas: audiência pública 026/2015.

Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/audiencias-

publicas?p_auth=QsvRgkb9&p_p_id=audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletpor tlet&p_p_lifecycle=1&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-

2&p_p_col_count=1&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_audiencia Id=969&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_javax.portlet.action=vis ualizarAudiencia>. Acesso em: 29.06.2018.

380 ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Nota Técnica nº 0017/2015-SRD/ANEEL. Disponível em:

<http://www.aneel.gov.br/audiencias- publicas?p_p_id=audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet&p_p_lifecycle= 2&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_cacheability=cacheLevelPage&p_p_col_id=column- 2&p_p_col_count=1&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_document oId=8013&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_tipoFaseReuniao=fas e&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_jspPage=%2Fhtml%2Faudien cias-publicas-visualizacao%2Fvisualizar.jsp>. Acesso em: 29.06.2018.

INMETRO, integração à rede, faturamento e prazos para conexão das geradoras.

Assim, de acordo com a agência, as propostas da ANEEL visavam sanar os problemas identificados e, também, aproveitar a oportunidade para aumentar o público alvo da regulação acelerando a adoção da microgeração e minigeração distribuída no país.

Especificamente quanto ao formulário de AIR, é interessante observar que, além de questões tarifárias e econômicas – que foram as principais –, foram suscitadas questões não financeiras, fazendo alusão, nesse ponto, aos benefícios gerados à sociedade a partir da geração distribuída. Contudo, talvez em razão dos extensos estudos anteriores, os benefícios não financeiros não foram muito detalhados.

Uma vez realizada a audiência pública, foi elaborada a Nota Técnica nº 0096/2015- SRD/ANEEL381, da qual consta a análise das contribuições enviadas à agência. Ao todo, foram 676 contribuições de 110 agentes, divididos entre consumidores, associações, bancos, distribuidoras, geradores, fabricantes, universidades, consultores, ONGs e demais interessados no tema. Dessas, 44% das contribuições foram aceitas ou parcialmente aceitas, de modo a influenciar o texto final da Resolução Normativa nº 687/2015.

É importante mencionar que a ANEEL conseguiu identificar, por meio dos procedimentos de acompanhamento da Resolução Normativa nº 482/2012, a existência de barreiras à geração distribuída e ao sistema de compensação de energia que não diziam respeito a questões regulatórias. Nesse diapasão, a principal barreira encontrada foi de cunho tributário, na medida em que, não obstante os constantes esclarecimentos de que a compensação de energia não consiste em atividade de compra e venda, ela era vista dessa forma para fins de incidência de tributos federais (PIS e COFINS) e estaduais (ICMS). Contudo, essa barreira vem sendo mitigada, pois houve isenção de PIS e COFINS para energia injetada na rede por meio da Lei nº 13169/2015, ao passo que, quanto ao ICMS, quase todos os estados já promoveram a isenção desse imposto.