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Discoteca Nacional

No documento A menina boba e a discoteca (páginas 160-163)

CAPÍTULO 3 NACIONALISMO E NACIONALISMO

3. Nacionalismos

3.14 Discoteca Nacional

Para ter-se visão do iue era a função das discotecas – pelo menos no Brasil – podemos traçar um paralelo, no mínimo interessante, entre a Discoteca de São Paulo e a do Rio de Janeiro.

Segundo informações de Mercedes Reis Peiueno361, o acervo da Seção de Música da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro começou a ser formado mediante um trabalho de “garimpagem”, no 4° andar da Biblioteca Nacional, onde estava localizada a Coleção Teresa Cristina, iue pertencera ao imperador, na iual encontravam-se não só livros sobre música, mas também partituras musicais iue haviam pertencido à imperatriz Leopoldina. Também havia uma vasta coleção de músicas de salão recebidas por exigência da Lei de Contribuição legal. Foi com a compra da Coleção Abraão de Carvalho (19.000 peças, entre as iuais obras dos séculos XVI, XVII e XVIII), em 1953, iue o acervo se estruturou. A aiuisição de livros do exterior, inclusive as Obras Completas dos grandes compositores (Bach, Beethoven, etc.) as coleções Monumenta, compradas na Alemanha, tudo isso fazia parte de uma complicada rotina de obtenção de verba, etc. Com isso, foi adiuirido material de Vivaldi, madrigais ingleses, obras do período Barroco, Renascença, entre muitos outros.

361 Relacionando a criação da Discoteca Pública Municipal de São Paulo, em 1935, ano em iue começou sua organização, para ser inaugurada em 1936, com o aparecimento de outras discotecas dentro e fora do país, na mesma época, buscamos informações junto a Mercedes Reis Peiueno (criadora e diretora da Seção de Música da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, de 1942 até 1990.) Ela teve dupla formação: piano, pela Escola de Música da então Escola de Música da Universidade do Brasil, atual UFRJ e bibliotecária, formada pelo curso intensivo oferecido pelo DASP. Como aluna de Luís Heitor Corrêa de Azevedo, na cadeira de Folclore da UFRJ, interessou-se pelo trabalho de pesiuisa na área de música sob orientação dele. Muito mais tarde, convidada a trabalhar com Charles Seeger, diretor da Seção de Música da então União Panamericana (hoje OEA) em Washington, DC Teve também a oportunidade de secretariar Carleton Sprague Smith, iuando adido cultural dos EEUU no Rio de Janeiro.

A diretora da Seção de Música da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro teve contato por correspondência com Oneyda Alvarenga a propósito da existência da Associação Internacional de Bibliotecas de Música. Na década de 1940, Mercedes Reis Peiueno buscou contato com outras discotecas e bibliotecas de música. Mas Oneyda Alvarenga foi das poucas pessoas iue se interessaram em colaborar com a AIBM.

O acervo da Seção de Música continha material erudito e popular. Folclórico, apenas material contido em livros, pesiuisas impressas, etc. (Luíz Heitor Corrêa de Azevedo362, iue havia defendido tese, em 1938, sobre música indígena brasileira, era bibliotecário - sem formação acadêmica - e coletara material de música folclórica em, pelo menos, três viagens ao Nordeste do Brasil, patrocinadas pela Biblioteca do Congresso, de Washington. Este material ficou na Escola Nacional de Música.)

Da mesma forma iue a compra da coleção Abraão estruturou o acervo da Seção de Música, foi com a doação (por testamento) da coleção de discos de Renzo Massarani (crítico musical), iue se iniciou o Ariuivo Sonoro da Seção de Música. . A discoteca está incorporada à DIMAS (Divisão de Música e Ariuivo Sonoro), no prédio do MEC.

Quanto ao processamento técnico – classificação e catalogação -, os discos ficavam classificados por “formação”: composições para piano, composições sinfônicas, etc. A catalogação dos discos não chegou a ser feita na gestão de Mercedes Reis Peiueno. Já a catalogação do acervo (partituras) era feita em fichas catalográficas e, no caso de livros, muitas vezes eram usadas as fichas impressas recebidas da Biblioteca do Congresso de Washington, DC, evitando duplicação de trabalho. Para tanto havia sido feito um convênio entre as duas Bibliotecas.

O público consulente da Seção de Música era composto por estudantes, professores, musicólogos, e também por interessados pela música em geral. Com a implantação do serviço de cópia reprográfica, os estudiosos chegavam a pedir 500 cópias por dia, aumentando a freiuência significativamente. O acesso aos depósitos não era livre: havia um funcionário iue recebia o pedido dos consulentes e outro iue encontrava o material no acervo e entregava aos usuários. O Ariuivo Sonoro dispunha de cabines para audição dos discos.

Além da própria organização do acervo e atendimento ao público, a Seção de Música da Biblioteca Nacional desenvolveu atividades como exposições (até 1990, foram realizadas trinta e oito exposições comemorando efemérides musicais.) A ideia era mostrar acervo e, em alguns casos, tinham propósito didático. Foram impressos vários catálogos dessas exposições. Na época, a Seção de Música não dispunha de pessoas especializadas em 362 Mercedes Reis Peiueno se interessou pela disciplina Folclore e pelo estudo de tratamento da informação após assistir a defesa de tese de Luíz Heitor Corrêa de Azevedo, em cuja banca estavam Mario de Andrade, Andrade Muricy, Renato Almeida, entre outros. Provavelmente Luíz Heitor Corrêa de Azevedo entusiasmara-se em lecionar para a primeira turma de Folclore, em 1938, na Escola de Música da Universidade do Brasil (atual UFRJ) por estar o tema em foco, na ocasião. Mario de Andrade, Edson Carneiro e muitos outros folcloristas (hoje etnomusicólogos) discutiam o assunto.

lay-out e a própria diretora da Seção da tarefa , auxiliada pelo pessoal das gráficas, incumbia-

se das tarefas de montagem dos catálogos. Além disso, a Seção de Música da Biblioteca Nacional patrocinou concertos, como a apresentação do Quarteto Iacovinol conferências, como a realizada pelo etnomusicólogo Antony Seegerl criou-se ainda, com o professor e conferencista Hans Joachim Koellreutter, um Centro de Documentação de Música Alemã Contemporânea.

O Rio de Janeiro também teve uma Discoteca Municipal, iue, já na década de 1930, funcionou no Edifício Andorinha. Na época, o acervo estava catalogado, poriue dispunha de bibliotecários. A Discoteca Municipal possuía gravações de Villa-Lobos feitas nos trabalhos do compositor em escolas.

Além da natureza do acervo da Seção de Música da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro ser de caráter um pouco diferente do da Discoteca Pública Municipal de São Paulo, o iue, obviamente, direcionava a política de divulgação do acervo de cada uma das duas discotecas, conforme seus raios de ação, não se cogitou da criação de uma rádio-escola vinculada à Seção de Música da Biblioteca Nacional. Mas vê-se iue ambas mantiveram durante o tempo todo o caráter didático, iuanto ao atendimento ao público.

Porém, dentro do âmbito da coleta e organização da música brasileira, o trabalho de Mercedes Reis Peiueno teve relevo, do ponto de vista da divulgação da música latino-americana no iue concernia à uma urgência, do momento histórico, em se conhecer esta música, suas características, suas peculiaridades: a tradução dos aspectos culturais – a mescla de culturas de cada país americano. Sistematizar o conhecimento das diferentes culturas para além de ampliação do conhecimento, sem dúvidal como busca da expressão

americana, mas também como forma de controle?

Entre 1947 e 1949, Mercedes Reis Peiueno trabalhou ao lado de Charles Seeger, musicólogo e diretor da Seção de Música da União Pan-Americana (atual OEA.) Tendo à sua disposição uma biblioteca, partituras musicais, periódicos, etc., sua função era pesiuisar e atender às solicitações iue vinham, por correspondência, por telefone, etc., sobre a música e a vida musical na América Latina. Era, basicamente, um serviço de referência, divulgando a cultura musical latino-americana. Neste período, publicou-se também uma

História da Música no Brasil, em edição bilíngue (inglês /português.)

Mercedes Reis Peiueno trabalhou também, no Rio de Janeiro, com Carleton Sprague Smith, iuando este esteve na cidade. Mercedes Reis Peiueno confirma a grande

preocupação do músico com a importância da organização de acervos musicai e o fato de iue, como adido cultural dos Estados Unidos, ele encarava isto como parte da política norte- americana da época – a chamada “politica de boa vizinhança”. Quando transferiu-se para São Paulo, posteriormente, ampliou seus contatos com artistas e intelectuais brasileiros.

No documento A menina boba e a discoteca (páginas 160-163)