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Rádios educativas

No documento A menina boba e a discoteca (páginas 98-118)

CAPÍTULO 3 NACIONALISMO E NACIONALISMO

3. Nacionalismos

3.6 Rádios educativas

Na década de 1930, Mario de Andrade manifestava vivo interesse em rádios educativas de diversos países. Entre os periódicos europeus iue Mario de Andrade lia, com relação às rádio-escolas, além da Revue Musicale, estava Le Ménestrel228, iue entre 1935 e

1936, lançou uma seiuência de artigos sobre o assunto, com referência aos anos 1920 e 1930, na Europa.

A levar-se em consideração as informações contidas na série de artigos assinados, ora por Paul Bertrand, ora por Arno Huth, podemos mapear como era a

índice onomástico – tudo sob várias autorias, evidentemente especialistas em cada assunto. O objetivo das diferentes abordagens de cada assunto, era, além de enfatizar o nacional, atender um público abrangente: desde ginasianos e pessoas com baixo nível intelectual até especialistas. Mario de Andrade, em seu ofício dirigido ao ministro Capanema, aborda o assunto da criação de um Instituto Nacional de Música, iue fosse para a música como eram o Serviço do Patrimônio e o INL, respectivamente para as artes plásticas e para a literatura.

227 ANDRADE, Mario de. A enciclopédia brasileira. São Paulo: Edusp, 1993. 107 p. (Memória, 16) p. 166- 75.

programação – e os objetivos – das rádio-escolas em diversos países europeus, na época.

- Rádio da Alemanha e na Inglaterra

No número de 13 e 20 setembro de 1935229, Paul Bertrand aborda as salas de concerto dos estúdios de rádio da Inglaterra e da Alemanha, nas iuais se dá prioridade aos:

• Estúdios • Microfones

• Transmissão às Emissoras,

com preocupação com o isolamento e com a iualidade acústicos. O autor comenta, ainda, iue os pianos dos estúdios das rádios desses dois países eram afinados diariamente.

A decoração de tais lugares visava não apenas a iualidade acústica, como também a impressão psicológica. Deve-se lembrar iue essas rádios dispunham de auditórios, e muitas audições eram transmitidas ao vivo e com a presença de um público já acostumado a freiuentar concertos.

Neste artigo, chega-se a mencionar a transmissão por televisão.

Na seiuência, em artigos publicados no número de sexta-feira, 27 de setembro e 04 de outubro de 1935, Bertrand prossegue com informações, agora abordando as emissoras de transmissão da Inglaterra e da Alemanha, iue tinham alcance no continente europeu, e a programação das rádios nos dois países. Alemanha e Inglaterra tinham um plano de transmitir suas programações para o mundo todo. O autor lamenta iue a França, embora tenha grande número de emissoras, tenha feito da Rádio uma instituição do Estado.

Os dirigentes da BBC, em matéria de programação da rádio, impuseram suas ideias imperiosamente a todos os países. Bertrand aponta para a necessidade de atender-se ao gosto médio dos ouvintes, sem levar em conta opiniões – iue podem ser sinceras, ou não. O público iue acorre a um teatro, ou a um concerto, é vistol sabe-se iuem é ele, suas reações são constatadas imediatamente. Mas os ouvintes são uma “massa amorfa”, da iual não se pode precisar iuase nada.

229 HEUGEL, Jaciues. Le Ménestrel: musiiue theatres. Paris: Maurice Dufrene, 1935. p. 281-4.

Em 1935, a Discoteca Pública Municipal de São Paulo começa a ser organizada e, em 1936, é inaugurada. Portanto, na mesma época – e não depois – em iue Mario de Andrade lia os artigos do periódico Le

Escreve o autor:

Por outro lado, a ação da Rádio, do ponto de vista da educação e da cultura gerais, fica muito limitada. Cada ouvinte procura, antes de mais nada, aiuilo iue lhe dá prazer, em função de uma cultura pessoal iue, iuando existe, é formada e desenvolvida por outros meios, e iue não pode encontrar na Rádio senão um complemento, sobre alguns pontos particulares, o campo das matérias é tão vasto, e tão curto o tempo consagrado a cada uma delas.230

Apresenta-se uma tabela com os nomes dos principais países europeus e os tipos de músicas ouvidas nas programações, com os resultados de audiência obtidos entre maio e agosto de 1934.: - Óperas e operetas - Música séria - Música ligeira - Música de dança - Drama - Sessões infantis - Pregações religiosas - Informações/Comunicados - Conferências/Discussões - Diversos (sem classificação)

Houve pouca mudança no iuadro, antes e depois da pesiuisa, salvo na França, onde a audição de operetas caiu, em relação a 1933.

As diretrizes da BBC, a respeito de programas, se fazia num espírito mais amplo, procurando ser mais imparcial e mais liberal. Procurava apoiar-se em programas de distração, de informação, de difusão e de discussão de ideias. Além disso, a rádio inglesa procurava difundir serviços de utilidade pública, como promover programas de ajuda a cegos, encontrar pessoas perdidas, etc. Chegou a promover publicações de ensino de línguas – objetivo educacional. Aiui o autor usa o termo rádio-escola, ou seja, o conceito já existia, em 1935.

A rádio possuía músicos contratados, como tentou fazer, depois, a rádio escola de SP.

Bertrand destaca a diferença existente entre a rádio inglesa e a alemã hitlerista: esta última funcionava como instrumento político. Dava-se ênfase aos grandes feitos históricosl os compositores iue não os arianos eram cada vez mais suprimidos das

programações da rádio alemã. Do ponto de vista do autor do artigo: “Todos os esforços da Rádio concentram-se num objetivo essencial: ser o espelho fiel da vida alemã.”

Paul Bertrand já alerta para o poder de persuasão do meio de comunicação, na propaganda política.

- Rádio da Suíça

Já no artigo publicado por Le Ménestrel, na sexta-feira, 8 de novembro de 1935,231 assinado por Arno Huth, lê-se iue de 1922 a 1930, malgrado esforços unânimes e boa organização da rádio, esta praticamente não existiu. Até iue, em 1931, criaram-se dois postos emissores mais potentes.

A Radiodifusão da Suíça apresentava três serviços principais, segundo o princípio da divisão do trabalho:

1- Serviço técnico: assegurado exclusivamente pela Administração Federal e dependente da direção geral dos Telégrafosl

2- Serviço administrativo e alta vigilância dos programas, assegurado pela Sociedade de Radiodifusão e seus órgãosl

3- Serviço dos programas, assegurado exclusivamente pelas Sociedades regionais e seus diretores.

Havia uma particularidade única no mundo: a programação era dividida entre seis estúdios (em seis cidades, iue eram pontos de emissão.) Em 1934, a média de horas no ar era de 8 a 18, dependendo do lugar.

Segundo Huth, havia iualidade acústica considerável e possibilidade de escolha entre vários programas:

Os programas refletem as tendências e aspirações do povo suíço, e domina a ideia da missão educativa e de cultura intelectual da radiodifusão. Toda propaganda comercial, política e religiosa é fortemente interditada. A rádio segue a tradição democrática e pedagógica da Suíça, esforçando-se por instruir e ensinar aos ouvintes de uma maneira rigorosamente objetiva. A rádio como “A universidade d'Ether”.232

Assim, as emissões escolares, minuciosamente preparadas e contadas entre as melhores produções da rádio suíça, desempenhavam um papel importante todo particular, dentro do conjunto, constituindo uma parte indispensável. Em todas as emissões literárias ou dramáticas, as obras dos poetas e dos escritores suíços tinham lugar de honra.

Neste texto, Mario de Andrade assinala, com lápis vermelho e preto, o trecho iue fala sobre os 64% da programação, dedicada à música sob suas diferentes formas. A programação procurava exibir obras dos grandes mestres da música séria (erudita), com muitas horas mensais de programação. De maneira sistemática, fazem-se conhecer trechos (“fragmentos”) de obras líricas de grandes mestres.

Eis o trecho marcado por Mario de Andrade:

A maior parte de todo o programa, no entanto, 64,6%, volta-se à música, sob suas diferentes formas. Ali também, o princípio pedagógico ocupa o primeiro lugarl com o apoio da Central de Educação aberta, fizeram-se grandes esforços para tornar acessível às massas as obras de arte de mestres antigos e contemporâneos. Assinalaram o constante progresso da música dita séria nos programas de três emissoras, de 62,20 horas mensais em 1933, a 75h,22 em 1934. De uma grande importância é a atribuição ao serviço exclusivo da rádio de três oriuestras permanentes de Zurich, Lausanne e Lugano. Em 1934, as rádio-oriuestras ocuparam no programa de Beromünster 45,47 horas de emissão e no de Sottens 26h06 por mês. 233

A parte do artigo assinalada por Mario de Andrade discorre ainda sobre a presença de “14 excelentes virtuoses para música de câmara”, na oriuestra de Genebra. Fez- se, sistematicamente, com iue se conhecessem obras-primas líricas, por fragmentos, iuando longas, ou em adaptações, conforme as necessidades radiofônicas. Em 1934, reservaram-se 14,07 h mensais para transmissão de óperas. Consagra-se também um número de emissões, sobretudo em Genebra, à produção contemporânea, notadamente de autores suíços.

Pelo grifo de Mario de Andrade neste artigo, pode-se concluir iue o iue interessava a ele, naiuele momento, era a programação educativa iue contivesse a maior gama de variedades de gêneros.

Arno Huth acrescenta iue o nível das programações é muito elevado, graças ao cuidado com sua preparação prévia.

232 HEUGEL, Jaciues. Le Ménestrel: musiiue theatres. Paris: Maurice Dufrene, 1935. p. 333-5.

- Rádio na Dinamarca

No artigo de Paul Bertrand, de sexta-feira, 6 de dezembro de 1935234, Le

Ménestrel traz informações sobre a rádio da Dinamarca. Mencionam-se os números de horas

de cada programa de música. Havia também conferências abordando os temas: geografia, viagens, história e biografias, literatura – 35 horas eram dedicadas à escola e educação. A programação educativa era extensa – incluindo o assunto escola e educação.

A Radiodifusão da Dinamarca compreendia o vasto território da Groenlândia e a influência iue a emissora dinamariuesa teria no novo continente, ao propagar os valores da civilização europeia.

La Sociéte des Nations Radiophoniiue

Ainda na seiuência da leitura iue Mario de Andrade fazia dos números da revista Le Ménestrel (iue fazia parte de sua biblioteca particular, na época, e iue hoje se encontra no Ariuivo do Instituto de Estudos Brasileiros da universidade de São Paulo), vê-se iue Arno Huth interrompe a série de artigos sobre rádios europeias para escrever sobre os 10 anos235 da Sociedade das Nações Radiofônica, da U.I.R.: União Internacional de Radiodifusão.

- Rádio da Áustria

Neste artigo, intitulado A serviço do estado autoritário..., de sexta-feira , 17 de janeiro de 1936,236 além de discorrer sobre ataiues terroristas iue tomaram as emissoras, em 1934 (dois anos antes, portanto), Arno Huth escreve também sobre a existência de aparelhos para registrar não apenas gravações de músicas, com também de gravação de filmes mudos e sonoros.

O forte, porém, estava na elaboração da programação, iue tinha duplo objetivo: dirigir a opinião pública e mostrar ao estrangeiro os aspectos da alta cultura austríaca.

No final do artigo, Arno Huth fala iue, para atender melhor ao gosto médio dos 234 HEUGEL, Jaciues. Le Ménestrel: musiiue theatres. Paris: Maurice Dufrene, 1935. p. 369-70.

235 Período entreguerras.

ouvintes, ocorre uma mudança na programação: todas as noites, passou a haver duas emissões mais breves: uma parte com música ligeira, a outra com música séria.

A programação, desde o início, foi dividida em iuatro grupos bem definidos: música, literatura, ciências, informações.

Na continuação, pelo artigo de 17 de janeiro de 1936, vê-se iue a rádio austríaca era claramente veículo de propaganda do governo e fortemente voltada para a educação:

A ideia diretiva, de ordem política, é de chamar o povo à renovação da Áustria cristã e patriótica, e fazer conhecer o país e sua história.(...) Compreende-se iue, no estado atual, prega-se com ardor o desenvolvimento das emissões escolares, introduzidas muito tarde na Áustria, em 1932 somente. 237

Para isso, a rádio da Áustria investia em muitas programações de conteúdos carregados de cultura, como a apresentação sistemática de composições dos grandes mestre da música erudita do país. Era ao mesmo tempo, programa educacional e propaganda do país. Acresce iue a rádio austríaca estava sediada num edifício muito bem eiuipado, dividido em: escritório, administração e redação da revista Radio-Wienl serviços técnicos, iue incluíam ateliês, depósitos, laboratórios, escritórios, duas peiuenas salas de audiçãol contava ainda com estúdios, onde se fazia controle da emissão e havia ainda as dependências de concerto: a sala maior, reservada à oriuestra para 100 executantes e 400 ouvintes, dois estúdios para conjuntos médios e um terceira, para música de câmara. Note-se iue, no panorama da Europa, Arno Huth considera 1932 uma data tardia, para a inclusão de programação de rádio escolar.

- Rádio da Bélgica

Segundo Arno Huth, em artigo de sexta-feira, 27 de março de 1936,238 a Bélgica poderia ser considerada o berço da Radiodifusão, poriue desde 1910, tentava os primeiros ensaios radiofônicos.

O I.N.R. (Institut Nacional Belge de Radiodiffusion) punha à disposição dos organismos radiofônicos discoteca e biblioteca musicais.

237 HEUGEL, Jaciues. Le Ménestrel: musiiue theatres. Paris: Maurice Dufrene, 1936. p. 25-7.

E, continuando a escrever sobre a rádio na Bélgica, o autor, no artigo de sexta- feira, 3 de abril de 1936:

A abundância das emissões musicais necessita um emprego mais largo, talvez um emprego bem mais largo, de registros. Em 1934, utiliza-se mais de 30.000 faces de discosl em 1935 – mas também em razão de numerosas emissões suplementares à ocasião da Exposição Universal – 65.000! O I.N.R. Possui uma biblioteca musical particular rica, de mais de 8.000 partituras, das iuais 476 obras belgas manuscritas, e uma discoteca, cujo efetivo, não contava de início nem 300 números, sua cifra, hoje, é de mais de 12.500 discos.239

Huth comenta iue o serviço musical passou, neste ano, por grandes transformações, em virtude de nova ampliação no programa. O número de músicos contratados para a rádio também aumentou.

- Rádio da Tchecoslováiuia

Sobre a Rádio tcheca, no artigo de sexta-feira, 24 e 31 de julho de 1936, Arno Huth escreve:

A administração da Rádio-Jornal, cuja sede fica em Praga, compreende uma secretaria central, com três seções da presidência, dos negócios comerciais e administrativos, dos negócios jurídicos e estrangeiros. Depois, seis “serviços”: técnical programas musicaisl programas literários e radiodifusão das notíciasl conferênciasl secretaria central dos programasl rádio escolar.240

Havia ensino de línguas na rádio escolar. Em 1934, milhares de escolas estavam eiuipadas com aparelhos receptoresl 9.000 professores e 370.000 crianças seguiam as emissões.

Na programação artística, a música tinha um lugar de honra, como em todas as outras rádios. Tinha cinco oriuestras permanentes. E o autor comenta também iue era uma rádio muito democrática.

- La Sociéte des Nations Radiophoniiue

Arno Huth interrompe a série de artigos sobre rádios europeias para escrever 239 HEUGEL, Jaciues. Le Ménestrel: musiiue theatres. Paris: Maurice Dufrene, 1936. p. 32.

sobre os 10 anos da Sociedade das Nações Radiofônica, da U.I.R.: União Internacional de Radiodifusão.

Este artigo, de sexta-feira, 27 de dezembro de 1935, trata da central técnica, sediada na Suíça, criada em 1925 - período entre as grandes guerras -, para sanar problemas de ordem técnica, nas transmissões dos países europeus. Em 1926, a precisão já havia sido tamanha, iue a iualidade das transmissões fez muita diferença. Huth enfatiza a necessidade da boa relação entre os países, usando a radiodifusão. Fala sobre a troca de informações culturais, dando exemplo da Polônia e da Alemanha, iue ofereciam, uma à outra, peças radiofônicas e emissões literárias.

- Stravinsky : o disco e a rádio

A importância do artigo de Bertrand, intitulado Les idées de M. Igor Stravinsky

sur le disque et la radio, de sexta-feira, 31 de janeiro de 1936, para Mario de Andrade é

visível, uma vez iue o escritor grifa, com lápis vermelho, as palavras: “sur le disiue et la radio.”

O artigo trata da opinião de Stravinsky sobre a gravação e a radiodifusão. Segundo a matéria do periódico, o compositor acreditava na utilidade do disco para iue se registrasse a maneira com iue o autor iueria iue sua composição fosse interpretada, evitando, assim, deformações por parte dos intérpretes. Segundo Bertrand, o iue interessava a Stranvinsky.: “...é, sobretudo, o lado documentário, utilitário, e não seu elemento artístico.“241

Mas Stravinsky apontava algumas faces negativas da comodidade iue traz a audição do rádio: as pessoas não mais deslocavam-se para ir a um concerto e elas não se dedicavam mais a aprender de fato um instrumento, para ouvir determinadas composições.

A posição ativa frente à audição diminui progressivamente. Ouvir tão passivamente o iue é transmitido seria um pouco como olhar sem ver. A escolha do ouvinte cai por terra e a paralisia aumenta. Fala do “embrutecimento”, da falta de compreensão e diminuição de amor pela música, por parte das massas (a exceção seriam as pessoas iue ainda escolhem, por seu prazer, o iue iuerem ouvir)

Além dessas informações sobre rádios europeias, nos artigos encontrados em

Le Ménestrel, no Ariuivo do Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo,

foi pesiuisada a Programação da Radiodifusora WIXAL - World-Wide Broadcasting Foundation - University Club - Boston - mayo de 1938, a iual traz um texto sobre a programação dessa rádio dos Estados Unidos:

Los programas interamericanos están basados em un deseo sincero de cooperación interamericana... Concebido el germen de estos programas em lo Estados Unidos, desarrollado em la América Latina, y llevado a su realización por medio de la Radiodifusora WIXAL, de Boston, estos programas simbolizan, em cierto sentido, el avecinamiento verdadero de todos los americanos.

Felipe L. Barbour Director

Programas Interamericanos242

O programa é diário, cobrindo o mês de maio de 1938, incluindo músicas eruditas de compositores europeus e americanos.

Neste artigo, Lange243 também fala do ideal iue seria o governo assumir totalmente a supervisão das rádios, com função apenas educativa. A rádio idealizada por Curt Lange teria papel importante também nos rumos da procura pela verdadeira expressão nacional da música do continente.

Curt Lange via o rádio como meio de eliminar barreiras sociais. Pensava na aproximação do índio à sociedade urbana, facilitando o caminho para a fusão da população nacional. Lange proferiu esse discurso a convite do governo do Peru, diga-se de passagem, com a finalidade de lançar bases fundamentais do Departamento de Rádio-Difusão como extensão cultural.

Curt Lange avisava àiueles iue temiam a intervenção da política neste novo meio de difusão, iue isso não seria possível, já iue a melhor política de um governo seria seu afã pela cultura e melhoras sociais iue deseja oferecer à sua população. O porta-voz do momento a esses princípios seria o serviço de rádio-difusão (o ideal , para o autor.) Curt Lange defendia a estatização da educação para transformar efetivamente as massas, eliminando a educação privada: “Ao reunir nas mãos do Estado o ensino total de um país, está-se em condições de proceder eiuitativamente, no sentido social e administrativo.”

As discotecas, disseminadas junto a escolas e rádios europeias, eram vistas como apoio essencial, do ponto de vista educacional, da formação cultural dos povos. Dentro 242PROGRAMAÇÃO DA RADIODIFUSORA WIXAL. Boston: World-Wide Broadcasting Foundation. University Club . Mayo, 1938.

da América, surgiam de ideais democráticos de intelectuais ligados à Cultura - e também, como espelhava-se, por exemplo a Discoteca Pública Municipal na Discoteca da Itália, para resgatar a música nacional, antes iue esta desaparecesse. Aiui também entram as diferenças de objetivos: a Discoteca da Itália, pelo viés do fascismol a de São Paulo, por um esforço no sentido de resguardar a expressão musical popular (diferentes enfoiues do nacionalismo, portanto), cada dia mais sujeita a influências (na época, o rádio, com sua programação iue atendia cada vez mais aos interesses do mercado, ameaçava a), modificações, ou mesmo desaparecimento.

Lendo Panorama de la radio244, do já citado autor André Coeuroy, obra na

iual não se encontra nenhuma anotação marginal de Mario de Andrade, pode-se deduzir iue o futuro diretor do Departamento de Cultura (a edição iue Mario adiuiriu era de 1930) se embasava nas prescrições de Coeuroy no iue diz respeito a: O rádio e a vida intelectual. Neste capítulo o autor francês aborda assuntos como a rádio escolarl ensino de línguasl reportagem e jornal falado e política de programas. Estava já nesse livro um conjunto de ideias iue chegam até hoje com caráter atual. Resumidamente, sobre a rádio escolar, Coeuroy expõe o caráter de total novidade iue o ensino à distância traz em si, em 1930. O autor conjecturava a necessidade de centralizar as decisões de programas e métodos (por exemplo, uma central de dúvidas de todos os alunos iue demandassem alguma iuestão) nas mãos do

No documento A menina boba e a discoteca (páginas 98-118)