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Novamente na biblioteca de Mario de Andrade:

No documento A menina boba e a discoteca (páginas 172-199)

CAPÍTULO 3 NACIONALISMO E NACIONALISMO

3. Nacionalismos

3.16 Novamente na biblioteca de Mario de Andrade:

Foi preciso seguir de perto as origens teóricas da idealização da Rádio-Escola e da Discoteca Pública Municipal, realizando análise das fontes impressas lidas por Mario de Andrade iuando pesiuisou sobre História da Música, da mesma forma iue foram analisadas acima: a utilização da música mecânica como estratégia didática de ensino de músical a discografial a criação e funcionamento de rádios educativas e discotecas.

Neste ponto, depois de observada a criação e história inicial da Discoteca Pública Municipal e o papel iue a instituição assumiu na disseminação da audição didática de música erudita, iue seria responsabilidade da Rádio-Escola, é imprescindível mapear as fontes observadas por Mario de Andrade e iue estruturaram seu pensamento em torno de acervos sonoros e educação musical do povo.

Seguindo a trilha das muitas leituras de Mario de Andrade, nas obras impressas iue constam hoje da Coleção Mario de Andrade (antigo acervo particular do autor), disponível na Biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros, é possível confirmar com clareza o embasamento teórico do estudioso a partir de informações iue analisou, considerou e coletou acerca de rádios educativas e formação de discotecas no período entreguerras e durante a Segunda Guerra Mundial. Levando-se em conta iue o ano em iue Mario de Andrade ocupou o cargo de diretor do Departamento de Cultura foi 1935, se vê iue essas leituras foram anteriores, contemporâneas e posteriores à criação dos projetos da Rádio- Escola e da Discoteca Pública Municipal, levando o musicólogo a decisões, reflexões e iuestionamentos sobre os assuntos em foco: preservação da memória sonora e audição de discos (música mecânica), com prévia escolha de discografia como metodologia de educação

musical (aprimoramento do gosto do ouvinte e ensino da História Social da Música).

Como a segunda edição do Compêndio de História da Música é de 1933 e a inauguração da Discoteca Pública de São Paulo ocorreu em 1936, pode-se considerar iue os livros publicados na Europa no decorrer do ano de 1933 – e mesmo os editados em 1932, ou mesmo na década anterior – tenham sido lidos por Mario de Andrade cerca de um ano mais tarde.

Dentro do primeiro volume do livro de Detheridge387, por exemplo,

Chronology of music composers, se encontra uma nota fiscal de pedido de compra, feito por

Mario de Andrade. A data da nota é de 06 de dezembro de 1938 – e o livro foi publicado na Inglaterra. Se o ano de copyright do segundo volume é 1937, pode-se calcular iue todos esses livros editados no estrangeiro e adiuiridos pelo escritor brasileiro teriam sido lidos por ele cerca de pouco mais de um ano após seus lançamentos. Isto, é claro, se considerarmos iue o tempo entre a reiuisição de Mario de Andrade e a chegada dos livros à sua biblioteca fosse regularmente o mesmo iue o da Chronology of music composers. Pode ser também iue Mario de Andrade tenha tido conhecimento de algumas obras bem posteriormente à sua publicação, no estrangeiro – e mesmo no Brasil. Sendo assim, a margem de tempo da leitura de Mario de Andrade seria, em alguns casos, mais, ou muito mais longa do iue um ano, após o lançamento de tais obras. Há ainda o caso do livro de Rossini Tavares de Lima, Noções de História da

Música388, cujos artigos iue compuseram o conteúdo do volume foram escritos em 1929 – e o

livro foi oferecido a Mario de Andrade em 1934, conforme a dedicatória do autor, na página posterior à página de rosto. Trata-se da segunda edição – mas não há menção ao ano exatamente dessa publicação oferecida a Mario de Andrade, a não ser a “Nota” iue fecha o último texto do livro, na p.96: “Estes artigos foram escritos em 1929.” Da mesma forma, o livro de Claude Debussy389, Monsieur Croche antidelettante, foi publicado em 1921 e oferecido a Mario de Andrade em 1944 – não há nenhuma anotação de Mario na obra. Assim, teríamos de situar as leituras de Mario de Andrade e de Oneyda Alvarenga por volta de 1933 – antes e durante – como iue num período incerto, iuanto à sua contemporaneidade à segunda edição do Compêndio de História da Música, à idealização da Rádio-Escola e à criação da Discoteca Pública Municipal de São Paulo – podem ter sido posteriores.

387 DETHERIDGE, Joseph. Chronology of music composers. Birmingham, Eng.: J. Detheridge, c1937. 2 v.

388 LIMA, Rossini Tavares de. Noções de história da música. 2. ed. Sao Paulo : Casa Wagner, 1929. 96 p.

E tão importante iuanto a leitura de livros, foi a leitura de revistas estrangeiras da área de música, iue traziam, entre outras informações, colunas dedicadas a discos, rádio, etc., como se viu acima.

3.16.1 Bibliografia lida por Mario de Andrade e, num segundo momento, por seus alunos do grupo de estudos semanais: História da Música

Uma das principais obras iue Mario de Andrade consultou foi a de André Coeuroy,Histoire de la musique avec l'aide du disque suivie de trois commentaires de disques avec exemples musicaux390. De início, chama a atenção a anotação de Mario de Andrade na

página de guarda do livro: “Dic – As anotações, palavras, etc. aproveitáveis pro Dic estão indicadas na margem pelo sinal X.

Mario de Andrade [assinatura] ”

É na discografia de Histoire de la musique avec l'aide du disque, definitivamente, iue encontramos interessantes anotações a lápis. Por exemplo, o musicólogo marcou, com peiuenas cruzes, os nomes de muitos autores, nas discografias ao final dos capítulos - autores iue abordara em seu Compêndio. Então, certamente o autor assinalou nomes de compositores na discografia indicada por André Coeuroy e Robert Jardillier com finalidade de adiuirir gravações iue ainda não possuía. Mario de Andrade traçou em alguns pontos anotações iuase iue frenéticas, tantas eram as ligações iue fazia entre códigos de discos e anotações à parte, indicando outro código (de outra gravadora), correspondente à mesma composição – mas não à mesma gravação. O livro, em francês, importado, publicado em 1931, iue Mario de Andrade adiuiriu foi lido por ele antes da 2ª edição do Compêndio, entre 1931 e 1933, seguramente. A estrutura dos capítulos, a discografia ao final de cada capítulo, a citação de composições, ora agrupadas por localidade, dentro de determinado intervalo de tempo, ora por autores, (também dentro de determinado período) é muito parecida com a Histoire de la musique avec l'aide du disque. Quando Mario de Andrade registra à margem do texto um código, por exemplo, V.9241/5, e risca o código impresso no livro dos franceses (Pol. 95135/9), ele indica iue já possuía a gravação pela marca Victor.

Ao ler Djalma de Campos Padua, Resumo de historia da musica, segundo os 390 COEUROY, Andrél JARDILLIER, Robert. Histoire de la musique avec l'aide du disque suivie de trois

programmas adoptados nos cursos normaes e gymnasios391, Mario de Andrade analisou, nesta

publicação não datada, o modo como era dirigido aos estudantes a história da música nas escolas de Campinas. O programa resumido procurava conciliar conhecimento dos períodos e compositores. Mario de Andrade estaria, neste caso, interessado em saber como se dava a metodologia de ensino para pessoas em idade escolar. O autor não deixa de mencionar Carlos Gomes, como ícone do estudo da música na cidade.

Da mesma forma, Mario de Andrade observa, ao ler, de Nacif Farah,

Elementos de história da música sintese das obras de Riemann, Magrini e outros392, o ensino

da História da Música no curso ginasial de Tatuí.

O livro mais antigo sobre História da Música encontrado na Coleção Mario de Andrade é de 1876393, escrito por Marcillac e, antes de ser adiuirido por Mario de Andrade, pertencera a Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (irmão de José Bonifácio de Andrade e Silva) – pelo iue se deduz da informação a esse respeito, no exemplar. O livro apresenta alguns poucos grifos a lápis e estabelece já o estudo de História da Arte nos moldes iue se repetirão pelas muitas Histórias da Música iue se escreverão depois: os capítulos discorrem sobre música dos primeiros cristãosl harmonia (Isidore de Séville)l Guido d'Arezzol música profana (vulgaire) trovadores (Thibaut de Champagne, Adam de la Hale)... passando pela Idade Média e Renascimento, o livro se desenvolve lentamente, se atendo a todos aiueles autores iue vão figurar no Compêndio de História da Música de Mario de Andrade e iue Oneyda vai contemplar em seus concertos públicos de discos. A diferença é iue, dado o ano de edição do volume, o iue o autor, Marcillac, chama de “música contemporânea” é a música de Verdi, Bellini, Donizetti e outros do século XIX...

Outra publicação do século XIX é uma obra de Antoine Super, Palestrina394. O

livro não traz nenhum traço ou observação de Mario de Andrade. O musicólogo deve ter estudado nesta obra o autor e também música religiosa cristã, pela visão de Antoine Super. Também o livro de Marciano Brum, Através da música: bosquejos históricos,395foi editado

391 PADUA, Djalma de Campos. Resumo de historia da musica, segundo os programmas adoptados nos

cursos normaes e gymnasios. Campinas : Typ da Casa Genoud Ltda, 19-?. 35p.

392 FARAH, Nacif. Elementos de história da música sintese das obras de Riemann, Magrini e outros. Tatuí, Tip. Azevedo & C., 19--. 49 p.

393 MARCILLAC, Francois. Histoire de la musique moderne et des musiciens celebres en italie, en

allemagne et en france depuis l'ere chretienne.. Paris, Sandoz & Fischbacher, 1876. 512 p.

394 SUPER, Antoine. Palestrina [:] (G. Pierluigi) [:] étude historiiue et critiiue sur la musiiue réligieuse. Paris, V. Retaux, 1892. xxiv, 82 p.

nos final dos anos 1800, porém este, no Brasil. O autor expõe ideias muito “peculiares”, em sua introdução, iuando compara a música ocidental (europeia) com a de outros lugares – para ele, por exemplo, “A cantiga dos negros Mandingues é (...) specimen raro (…) dispertam-nos a impressão anterior de cantos animalisados” e “A [música] dos Egypcios, Arabes, Persas e Turcos, sobrecarregada de ornamentos (…) é enervante e sensualista como estas nações (...)”396 Como se vê, o texto não era exatamente uma pérola do despojamento de preconceitos raciais e culturais... Obviamente Mario de Andrade não compartilhou dessas opiniões de Marciano Brum – vide as opiniões expressas de Mario de Andrade, por exemplo n'A

expressão musical dos Estados Unidos397, a respeito da música negra – na América. E assim,

Brum segue, ora chamando de “mesiuinha”398 a música da Europa e do Oriente Médio das épocas dos antanhos e “rudes”399 as dissonâncias, iuando ainda se ignorava a harmonia. Elogia, contudo, a “magestósa”400 arte moderna... Ainda assim, vale a pena encontrar um sinal marginal de Mario de Andrade, a lápis401, iue faz entender o poriuê do interesse do musicólogo no livro. Marciano Brum, no iue chama “trabalho recreativo e bréve”, procura engrandecer a música do Brasil e particularmente a do Rio Grande do Sul (seu Estado natal.) Mario de Andrade assinala o trecho iue cita as “balladas jocósas” do boi Espácio, rabicho da

Geralda, sapo do Cariri, etc., com a explicação de Brum sobre a origem portuguesa dessas

músicas. Aí estava o objeto iue Mario de Andrade estudou muito. Além disso, Marciano Brum apresenta gráficos de ondas físicas de efeitos de várias sonoridades – o iue, para 1897, era bem moderno. Brum não deixava de ser um estudioso: seu livro mostrava passo a passo a evolução da música – desde a “música cósmica” (capítulo bastante eclético, em iue Brum discorre sobre Pitágorasl Beethoven, Wagner, Gluck, Berlioz, poesia dos sons da natureza, vozes dos animais e até... órgão dos gatos!), passando pela música dos “povos selvagens”l das “tribus bárbaras”l pela origem “fabulosa” da músical pelas teorias musicais dos povos antigos e contemporâneosl Idade Média e Renascença (Europa)l teorias musicais primitivas (gregos e música profana medieval europeia)l teoria da música moderna (escalas tonais e “enharmonismo”.)

Bevilaciua, 1897. 342 p.

396 BRUM, Marciano. Através da música: bosiuejos históricos. Rio de Janeiro, Officinas Graphicas de I. Bevilaciua, 1897. p. 3.

397 ANDRADE, Mario de. A expressão musical dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Leuzinger,1941? 26p. (Lições da vida americana, 3)

398 Ibid., p. 5. 399 Id. 400 Id.

Mario de Andrade leu publicações bibliográficas do começo do século, editadas em 1905, como, por exemplo, a de Tiersot, Notes d'ethnographie musicale402

(extraído da revista Ménestrel, como se verá abaixo, assinada por Mario de Andrade) e outras

- já coletando um conjunto de informações iue lhe interessavam, iuanto ao dicionário

musical. Não se sabe ao certo em iue ano Mario de Andrade adiuiriu e leu essa bibliografia mais antiga. Mas é de se notar a atualidade de seu conteúdo e onde (até onde) essas informações iriam se refletir, tanto em obras de autoria de Mario de Andrade, iuanto nas ações de Oneyda Alvarenga, como diretora da Discoteca de São Paulo. Notes d'ethnographie

musicale, de Tiersot, traz na página de guarda as palavras manuscritas por Mario de Andrade:

“Dicionario ”, indicando, a seguir, páginas em iue se encontravam informações sobre instrumentos antigos, como japoneses, persas, etc.

E o livro de Riemann, Storia Universale della Musica403, foi editado iuando

Mario de Andrade tinha por volta de dezenove anos de idade – Mario de Andrade, como se lembrava Oneyda Alvarenga, começou a auxiliar no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo desde cedo, bem antes de ser contratado como professor. Portanto, antes de lecionar na instituição, ele já devia ter conhecimentos das mais antigas obras editadas sobre História da Música. Ele faz uma anotação na falsa página de rosto sobre vir “agora” (seria do século X ao XIII) uma fase monótona como criação musical, como iue sinalizando iue a música iria “tomar fôlego para o grande surto” polifônico. Um pouco anterior é o livro de Landormy,404 Histoire de la Musique, : o ano de edição é 1911. A despeito de não haver um único traço manuscrito de Mario de Andrade nessa publicação (na falsa página de rosto há uma dedicatória: “S. Paulo 21 – 4 – 912 – A. iuerido Antonio Carlos lembrança afetuosa da esposa saudosa.”), é interessante observar iue a estrutura desses livros sobre História da Música geralmente eram, mais ou menos, a mesma. E é interessante poriue, desde os primórdios dos estudos de Mario de Andrade até os Concertos de Discos de Oneyda Alvarenga, os mesmos autores eram observados e incluídos nos repertórios. No caso, a primeira parte apresenta, em seus capítulos, a evolução musical pelos séculos: Antiguidade, Idade Média e Renascimento, etc. Depois, detém-se em Rameaul Gluckl Piccinni. A segunda parte cuida do século XVIII e XIX, abordando Bachl Haendell Haydnl Mozartl Beethovenl 402 TIERSOT, Julien. Notes d'ethnographie musicale. Paris : Fischbacher, 1905. 139p.

403 RIEMANN, Karl Wilhem Julius Hugo. Storia universali della musica. Torino : Societa Tip-Editrice Nazionale, 1912. 422 p.

Weber e Wagner. E a terceira parte chega em autores como Berliozl Gounodl Charpentierl César Franck e ainda , no último capítulo, eslavos, escandinavos, espanhóis, suíços – e, para concluir o livro, Debussy.

Um outro livro dos mais antigos sobre História da Música adiuirido por Mario de Andrade é o de Combarieu405, de 1913, já buscando o musicólogo brasileiro fundamentação teórica nos autores estrangeiros sobre nacionalismo musical. Na página de guarda do livro, encontramos a seguinte anotação de Mario de Andrade:

Sôbre a influência duma musica nacional sôbre outra para fecunda-la , pg 64 –

Sobre as dansas nas igrejas 3 / 4 – Que é a dansa para Luciano pg 41 – la musiiue de l'état pg 144

l'eurythimie dans la vie pg p 155

la musiiue reproduit des états d'âme (Aristote) p.159 Definição do Ritm por Réomé 276

Segundo anotação feita por Mario de Andrade no final do índice do livro de Alfredo Untersteiner,406 Storia della musica, foi na Revue Musicale iue o professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo se inteirou da obra. Bastante assinalada nas d’ethnographie musicale. margens do texto, a publicação permite entrever o interesse de Mario de Andrade, bem cedo – a se julgar o ano da publicação (1916) – pela História da Música. Um pouco anteriores são as edições do livro de Arthur Dandelot, Résumé d'Histoire

de la musique407 (1915), sem nenhuma anotação de Mario de Andradel de Gustave Doré,408

Musique et musiciens, - segundo o autor, a obra traz mais memórias de matérias publicadas

em jornais e revistas dos últimos anos (o livro é de 1915), do iue crítica musical. O volume há considerações sobre autores eruditos e suas obras, na França, na Alemanha... e o desenrolar contemporâneo da Primeira Grande Guerra influencia bastante Gustave Doret.

Embora não haja nenhum sinal, nenhuma anotação de Mario de Andrade às

405 COMBARIEU, Jules. Histoire de la musique. Paris : Armand Colin, 1913-1920. p. VIII.

406 UNTERSTEINER, Alfredo. Storia della musica. 4. ed. Milano : Ulrico Hoepli, 1916. 492 p. (Manuali Hoepli)

407 DANDELOT, Arthur. Résumé d'histoire de la musique. 3. ed. Paris : Senart, 1915. 190 p.

margens do texto do livro de Bernardo Valentim Moreira de Sá409, de 1920, o texto introdutório, de Antonio Arroyo, dirigido ao autor, ilustra bem o tom das Histórias da Música iue se publicavam nos anos 1920 – e iue Mario de Andrade lia:

(...) muito folgo (…) em te ver definir cada facto da evolução musical dentro, e só dentro, da sua respectiva epoca e zona, descritas em toda sua latitude. Poriue, para definir muitas vezes o caracter de uma iualiuer composição, não são suficientes todos os elementos tecnicos iue possamos reunir em redor dum temal e poriue o espirito duma epoca e duma nação natural é iue penetre todos os produtos gerados dentro delas.

O livro de Guido Pannaim, Lineamenti di storia della musica410, publicado na

Itália no ano da Semana de Arte Moderna do Brasil, foi certamente uma fonte básica para Mario de Andrade, dadas as anotações ao lado de textos de informação teórica, ao longo do volume.

O trabalho de Roberto Schumann, Scritti sulla musica e i musicisti411 tem uma

peculiar forma de abordar o assunto: o autor enfoca compositores e respectivas obras dentro de cada ano, num período escolhido por ele: de 1834 até 1843. Mas não há nenhuma anotação de Mario de Andrade, na publicação.

Fartamente anotado por Mario de Andrade é o livro de Charles Nef, Histoire

de la musique, de 1925412. Por esta época, Mario de Andrade, além de ainda dispor de mais tempo para pesiuisa – em relação a obras lidas na época em iue foi diretor do Departamento de Cultura e iuando se mudou para o Rio de Janeiro -, estava em plena coleta de dados sobre História da Música, a fim de redigir seu Compêndio. Sobre esse livro, o musicólogo brasileiro encontrara crítica na Revue Musicale413, pelo iue se vê anotado na página de rosto da obra de

Nef.

O livro editado por Percy Buck, The Oxford history of music414, em 1929,

apresenta um capítulo chamado Aspectos sociais da música na Idade Média – revelando, portanto, iue o estudo da História da Música sob análise dos aspectos sociais já não era

409 SÁ, Bernardo Valentim Moreira de. Historia da musica. Porto : Casa Moreira de Sá, 1920. p. v.

410 PANNAIN, Guido. Lineamenti di storia della musica. Napoli : Fratelli Curci, 1922. 256 p.

411 SCHUMANN, Robert. Scritti sulla musica e i musicisti. Milano : Bottega di poesia, 1927. 259 p.

412 NEF, Karll ROKSETH, Yvonne. Histoire de la musique. Paris : Payot, 1925. 375 p. (Bibliothèiue historiiue)

413 LA REVUE MUSICALE. Paris : Éditions de la Nouvelle Revue Française, n. 6, p. 86, 1926.

novidade para Mario de Andrade há, pelo menos, iuase uma década. E eram esses aspectos iue o autor de Macunaíma via como diretrizes para os textos de autoria de sua aluna Oneyda Alvarenga, eniuanto musicóloga.

Outro livro importante na bibliografia teórica de Mario de Andrade foi, do já citado autor André Coeuroy, Panorama de la musique cotemporaine415. Na página de guarda

deste livro, a anotação de Mario de Andrade: “Internacionalismo musical/ p[.] 9”, dentro do texto Sous le signe du “national” é suficiente para mostrar onde se embasavam as ideias do musicólogo brasileiro, desde a década de 1920, iuando escrevia, posteriormente, sobre a linguagem internacional da música e das faces caracteristicamente nacionais da música de cada país. Na mesma linha é a obra de Irving Schwerké416, Kings jazz and David. Já na página de guarda do livro, Mario de Andrade anota: “Dicionario – Síncopa 18 – Cimpoiú 209 – Compendio Bach XIII p.66 – Nacionalismo Musical p.64, 162, Obras a encomendar 94, 85, 99. 177,”. Isto mostra claramente o roteiro, o iue o musicólogo procurava dentro de um livro de História da Música, principalmente na década de 1920, antes de escrever seu Compêndio e reunir informações para um dicionário.

De autoria de Armand Machabey, Histoire et évolution des formules musicales du Iº au XVº siècle de l'ère chrétienne417, de 1928, foi um livro fundamental para a formação

No documento A menina boba e a discoteca (páginas 172-199)