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Discriminação no local de trabalho

No documento A homossexualidade e o mercado de trabalho (páginas 49-53)

CAPÍTULO 4- ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

4.2. Discriminação no local de trabalho

Dos 21 trabalhadores entrevistados, 5 relataram ter sido, em algum momento das suas vidas, vítimas de assédio e discriminação em âmbito laboral. Neste caso, os Entrevistados 1, 2, 11 e 18 e a Entrevistada 15.

Como se constata, a maioria são trabalhadores gays, facto mencionado por Herek (1998), Crow et al (1998) e Herek (2000) e assente no pressuposto de que a discriminação é mais frequente em trabalhadores do sexo masculino.

Além disso, todos os cinco são trabalhadores identificados como totalmente assumidos, facto que vai ao encontro do referido por Croteau e von Destinon (1994) e Croteau e Lark (1995), onde trabalhadores assumidos se poderão encontrar mais vulneráveis a potenciais situações de estigmatização.

Quando questionados sobre o tipo de incidentes que sentiram ser mais flagrante, piadas e comentários homofóbicos foram os salientados,

“estavam a cantarolar uma música, mas que não era na versão original (…) e tinham chegado outros, de outro setor, e estavam todos lá a rir-se… a dizerem coisas obscenas e brejeiras” (Entrevistado 1);

“essa pessoa começou a chamar-me”paneleiro”e que devia ter sido um aborto (…) mesmo no próprio avião, com passageiros que, ou já estão um bocado embriagados ou que estão no seu grupo de amigos… a dizerem “fucking faggot” (Entrevistado 18);

... assim como os olhares de desdém,

“sentia que estava sempre a ser observado, estudado, analisado milimetricamente…como um bicho de laboratório” (Entrevistado 1);

“lembro-me de um cliente que me olhou com desprezo… de como tu olhas para um lixo” (Entrevistado 2),

… evidências que vão de encontro às constatações apresentadas pela Out Now (2018), e mencionadas por Croteau e Lark (1995), Van den Bergh (2004) e Pichler et al (2010), no que concerne aos principais episódios de assédio inflingidos a trabalhadores homossexuais. Já no que toca a discriminação e tratamento diferenciado no exercício de funções, os entrevistados salientam,

“desde que sabe da minha homossexualidade, (o chefe) implica comigo por tudo; está sempre a dizer que eu não trabalho, que não faço nada” (Entrevistado 11);

“o meu patrão começou a dizer que a minha namorada não podia aparecer ao café (…) que não podia falar com as minhas colegas (…) na altura tinha câmaras, e chamou-me para ver as filmagens, a acusar-me de tudo e mais alguma coisa (…) berrava comigo em frente a toda a gente, inclusive clientes” (Entrevistada 15);

“imagina eu acho que eu era o caixote do lixo (…) tudo o que os outros não queriam, eu tinha de fazer (…) eles tentavam… fazer com que eu fosse tipo, empurrado para baixo, tipo, pisado, no sentido mesmo de… de tarefas” (Entrevistado 1);

“quando eu contei, fui despedido passadas umas semanas, recebi a carta de despedimento; disseram que eu não estava a trabalhar o suficiente” (Entrevistado 11);

… afirmações que vêm confirmar as constatações de Ozeren (2014) onde a competência profissional questionada, a atribuição de funções preteridas por terceiros e despedimentos são espelho de atos de discriminação em certos contextos de trabalho.

Já no que concerne a salários, nenhum dos entrevistados afirmou ter sentido disparidades facto que vem, assim, corroborar os estudos de autores como Badgett (1996), Black et al (2003) e Arabsheibani et al (2005), que apontam para uma ligeira, mas existente, diferença salarial entre trabalhadores heterossexuais e homossexuais, no mesmo desempenho de funções.

Quando questionados sobre se denunciaram os factos ocorridos,

“não sou só eu sozinho que consegue provar, eles uniam-se todos, como é que eu ia conseguir?” (Entrevistado 1);

“não fiz queixa (…) poderia haver interferência na minha permanência” (Entrevistado 11);

“foi errado da minha parte, tive medo (…) agora era capaz de ser mais direta” (Entrevistada 15);

... depoimentos que se coadunam com as observações de Herek (2000) e da Out and Equal Workplace Advocates (2002), em que mais de metade dos inquiridos confessa nunca ter apresentado queixa dos incidentes.

Já no que se refere às consequências da discriminação do ponto de vista laboral, a literatura salienta que as mesmas passam pela diminuição da produtividade e menor satisfação e comprometimento organizacionais.

Contudo, o resultado das entrevistas aponta para uma visão diferente,

“ficava mais feliz a fazer o trabalho, fazia sempre mais do que os outros” (Entrevistado 1);

“tentava colmatar a minha “falha” sendo melhor naquilo que fazia (…)o caso da Starbucks… todos os meses em que trabalhei lá fui o melhor vendedor” (Entrevistado 2);

“não afetou os meus níveis de profissionalismo, apesar de ter modificado algumas coisas na minha maneira de trabalhar, acho que até foi para melhor” (Entrevistado 18);

... testemunhos que contrariam os dados de Ragins e Cornwell (2001), Sears e Mallory (2011) e Ozeren (2014) onde, em virtude de atos discriminatórios, a produtividade, o comprometimento e a performance sairiam prejudicados.

O que se constata é que são consequências, de foro pessoal, as mencionadas, “chegava a casa e ficava acordado até as tantas (…) até hoje não estou a conseguir coordenar os sonos (…) estava a ficar muito magro… não tinha apetite para comer (…) tive períodos muito depressivos, muito mesmo, ao ponto de pensar em suicidar-me” (Entrevistado 2);

“estava atrasado e vesti-me rápido, mas para tu veres como eu estava… eu nem vi que estava sem sapatos (…) já nem me lembrava das coisas básicas por causa daquela pressão (…) ia a fazer o caminho a pé e a pensar “quero voltar para trás, o que é que eu estou aqui a fazer?”; sinto que só ia um corpo não ia a minha alma (…) acho que se ficasse lá mais de 1 ano… não ia aguentar” (Entrevistado 1);

… relatos que confirmam os resultados referidos por Herek et al (1999), sobre as consequências da discriminação para a vida pessoal e que passam por perturbações ao nível do sono, falta de apetite, stress, depressão e intenções de suícidio.

Ainda sobre as consequências da discriminação e assédio laboral;

“começava a ficar muito difícil estar lá dentro (…) deixei-me consumir com aquele ambiente, tinha mesmo que sair de lá, não havia volta a dar” (Entrevistado 1);

“tenho plena consciência que podia ter ficado lá mais tempo se não fosse a vivência hostil (…) ia trabalhar a pensar quando é que ia acabar (…) chegas a um momento em que dizes, chega” (Entrevistado 2);

… declarações que vêm asseverar o estudo de Olson (1987) e as afirmações de Clair et al (2005), Ozeren (2014), quando referem que uma das soluções para as vítimas de discriminação passará por abandonarem o emprego.

No documento A homossexualidade e o mercado de trabalho (páginas 49-53)