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O DISCURSO DO DESPORTO E O DISCURSO DA MOTRICIDADE – Uma

2. O HUMANO OBJECTIVO

4.3 O DISCURSO DO DESPORTO E O DISCURSO DA MOTRICIDADE – Uma

MOTRICIDADE – Uma relação de conflitos

“O discurso sobre o Desporto diz de si mesmo o que não é, e é, o que não diz ser.”

Constantino (2003, 55)

Ao universo intelectual do desporto, da educação física, da motricidade, incube-se a tarefa de transmitir e argumentar um conjunto de teses de sustentação epistemológica de apoio à afirmação da área. No entanto, este domínio tem-se afigurado de grandes conflitos e poucos consensos quanto a uma união em torno de um mesmo desejo, levar a acção motora ao patamar que por direito deveria usufruir.

Aparentemente todos parecem dizer o mesmo e ao mesmo tempo refugiam-se na sua prosápia intelectual individual e

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encaram toda a altercação como confronto ou competição de instituições, de regiões, de cidades, de intelectos.

Inicia-se esta reflexão com as palavras de Gaya (2007, 204) “não compartilho com a possibilidade de reduzir o Desporto a uma disciplina científica”. Sérgio (2003b) é da opinião que o Desporto apenas se significa na sua ciência da motricidade humana e nunca como uma ciência isolada. O mesmo autor (2003c, 115 e 116) chega mesmo a referir que as ciências do Desporto “são farrapos avulsos de meia dúzia de conceitos extraídos da área biomédica”, que o Desporto “é uma teoria, uma acção, uma invenção”.

Tal como se vem referindo, a humildade intelectual deve predominar nas nossas defesas e todas as ideias devem ser criteriosa e claramente apresentadas de uma forma livre de dogmatismos e prosápias intelectuais egocêntricas.

Um facto é que o Desporto moderno é um fenómeno social do século XX, que tem origens muito anteriores, cujo impacto é evidente e supera qualquer outro tipo de evento cultural. O Desporto “é uma expressão de cultura no sentido antropológico do tempo” (Constantino, 2003, 55). Neste sentido, o desporto não se pode constituir como uma ciência, o desporto é uma área do saber que congrega todo um conjunto de saberes de várias ciências. O Desporto “reúne-se em conclave” com outras áreas como a engenharia, a medicina, as ciências cognitivas. Pombo (2004) denomina estas ciências como interciências, ou seja, são áreas do saber que se constituem na confluência de conhecimentos distintos. Em algumas situações poderemos ter ciências de

fronteira, se houver uma disciplina resultante da relação

entre duas áreas diferentes, ou interdisciplinas, se a relação entre várias áreas se aplicar ao campo industrial e organizacional (Ibidem, idem).

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Desta forma, coarctar o Desporto a uma dimensão de “arrecadação” constituída por “farrapos avulsos” é realmente algo que não se compreende e que não se aceita. A abolição de fronteiras, nomeadamente epistemológicas, tal como Garcia (1999) refere, não se apresenta como um facto original, proporcionando, tal facto, um manancial de relações, ou inter-relações, entre múltiplas disciplinas apelando à transdisciplinaridade. Ou seja, o Desporto como área transdisciplinar evoca uma perspectiva transcendente de coordenação de conhecimentos, não apenas na reciprocidade entre elas, mas essencialmente na posição de uma organização global que compreenderia estruturas operativas e reguladoras. Assim, como as ciências cognitivas se afirmam como uma área emergente e com grande divulgação científica, qual a razão para tanto ataque, injúria, vitupério às ciências do Desporto?

Relativamente ao humano desportivo-motor ou, como Bento (2004) prefere apelidar, homo sportivus, ele representa tanto o corpo como a alma, a força como a virtude. Não faz qualquer sentido encarar o desporto como maquinaria performativa do humano. Se assim fosse haveria desporto? Representaria o desporto o papel humano, social, universal, que hoje representa, se estivesse alicerçado apenas em questões de performance?

Subscreve-se a ideia de Constantino (2007, 59) “não há Desporto no sentido unidimensional do conceito, mas vários modos de o contextualizar, de o praticar e de o vivenciar”. Daí que as críticas a que o desporto é sujeito de forma desproporcionada e isenta de qualquer sentido crítico agregado a uma capacidade intelectual de multi-análise, advenham de uma focalização excessiva num único ponto de vista, realizando posteriormente uma indução totalmente incongruente com a realidade.

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Sérgio (2003c, 115) entende os atletas como seres “formatados pelo treino e pelas regras de jogo, mas sob um asfixiante totalitarismo biológico”. Sem dúvida que o factor biológico é determinante na prática desportiva, assim como o condicionamento do treino e das regras. Todavia, se tal fosse assim tão linear como é que teríamos prestações tão heterogéneas e distintas?

Considerar os atletas formatados é totalmente contra a própria natureza do humano. O desporto é uma prática restrita ao humano e Bento (2003) contrapõe a formatação do atleta à liberdade do atleta. Para este autor (idem) o desporto é uma forma de expressão e aspiração da liberdade humana, é o palco de transcendências, superações, emancipações e quebras das amarras da natureza. Mas não se tente abalizar esta posição liberal, pois, o mesmo autor (2007) defende que é no desporto que muitos dos valores e vivências se fomentam: rigor, empenho, regras, disciplina, compromissos, integridade, deleite, diversão, felicidade, tristezas, suor, etc.

Bento (2007, 21) defende mesmo que o conceito de desporto representa, congrega, sintetiza e unifica um conjunto de “dimensões filosóficas e culturais, biológicas e físicas, técnicas e tácticas, espirituais, afectivas e psicológicas, antropológicas e sociológicas, inerentes às práticas de aprendizagem, exercitação, recriação, reabilitação, treino e competição”.

Decorrente do anteriormente mencionado, fará sentido induzir o Desporto a uma dimensão exclusivamente performativa, corpórea, financeira, isenta de sonhos, de superação, de transcendência, de puro lazer, de intelectualidades?

Segundo Sérgio (2003c) o Desporto é o espelho do racionalismo instaurado nas sociedades modernas. Uma

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prática puramente destinada à demonstração do poder do corpo e das novas tecnologias ao serviço da performance.

A motricidade humana é a solução, referem os seus defensores. Sérgio (2003b) refere mesmo que a motricidade humana é a única “ciência da acção motora” que se justifica cientificamente, que possui uma teorização própria, que engloba todo o humano na sua dimensão motora. É a única ciência que considera a intencionalidade operante do humano no processo de transcendência e virtualidade para a acção, que considera o humano como objecto e sujeito do conhecimento (Ibidem, 2003c). “O Desporto vale no sentido que é Motricidade Humana” (Sérgio, 2003b, 209).

Sem qualquer dúvida que todas as defesas e sustentações epistemológicas realizadas pela motricidade humana fazem todo o sentido e se sustentam em premissas, mais ou menos, válidas e razoavelmente lógicas. Todavia, tal como já se fez referência ao conceito de motricidade em capítulos anteriores, este aflui numa redundância ao se alicerçar no conceito de acção motora. Para além, da acção motora constituir todo o desenvolvimento do humano desportivo- motor, ou seja, uma vez que o desporto aporta todo o sentido da acção motora, e como tal, pressupõe intencionalidade e transcendência, porque não, ao invés de uma epistemologia da motricidade humana, uma epistemologia do desporto?

Será a ciência da motricidade humana a caixa de Pandora do entendimento do humano desportivo-motor? Será correcto colocar todo o conhecimento “farfalhudo” do Desporto no caixote do lixo? Então e a tão propalada reciclagem? Não seria o melhor caminho?

Toda a contextualização teórica não deve embarcar na simples contra-argumentação de outro paradigma. Se as críticas ao mecanicismo da educação física se fundamentam de forma inequívoca, não é a constituição de uma “ciência”

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completamente nova que irá resolver o problema. Da mesma forma que não concebemos o Desporto como disciplina científica, também não faz qualquer sentido entender a motricidade como tal. O entendimento do humano desportivo- motor pressupõe conhecimento científico e não científico (Gaya, 2007), abertura à complexidade imbuída na própria existência do humano. Daí que o Desporto se constitui como uma interciência, mas sem o objectivo de possuir a síntese das sínteses. Antes um conhecimento assente na trindade capital da complexidade (dialógica, recorrência, hologramática) dos vários fenómenos.

Concluindo, voltamos à dúvida da possibilidade de uma teorização unificadora, que apenas se apresenta se a humildade intelectual não prevalecer, se as fronteiras se mantiverem intactas e se o controlo alfandegário for corrompido.

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CONCLUSÃO

“Quem se contenta com o possível nunca constrói o que quer, pois fica preso nos limites da mediocridade”.

Herbert de Souza (cit. in Bento, 2004, 110)

Em suma, neste trabalho expusemos, de forma muito abalizada, algumas linhas essenciais de análise do humano, mais especificamente, num campo desportivo. Ficou perceptível a complexidade duma interpretação objectiva do humano, nomeadamente, na sua característica comportamental diferenciadora, no que concerne à acção motora.

Alguns podem contradizer a ideia de que um humano, que “não se mova” (assumindo que a acção motora é o movimento), não deixa de ser um humano distinto dos outros humanos. Ora, essa perspectiva restabelece alguns fios que muitos cortariam como se fossem um nó górdio, eliminando, assim, o problema.

Na concepção exposta, ao longo deste trabalho, a acção

motora não é representada exclusivamente pelo movimento,

ela é composta por todo o processo inteligível (mente) e visível (corpo), e mais importante ainda, está em constante interacção com o ambiente (social, natureza e cosmos), formando uma estrutura diluída, extremamente complexa, onde a sobrevivência das espécies se processa por ciclos retroactivos de ordem-desordem-adaptação. É, neste sentido, que a dualidade se desvanece, numa falta de argumentação perante o paradigma da complexidade, que elimina a

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simplificação, em favor do respeito pela complexidade do humano.

Segundo uma perspectiva biológica, a mente humana é faustosa, tal é a sua imaginação,

“a mente humana moderna não é um simples relógio medieval, não é um botão de rádio ou de telefone, não é um sistema de software inteligente, e não é de certeza um mecanismo computacional geral como uma máquina de Turing. Tudo isto não é mais que metáforas que a mente usa quando se contempla a si própria”. (Donald, 1999, 436)

Daí que se torna inconcebível pensar o corpo sem a mente e a mente sem o corpo. Damásio (2005) é peremptório ao referir que na ausência de relação e interacção entre o corpo e o cérebro a mente humana não se figurava como hoje a concebemos. Segundo o mesmo autor (2005), o cérebro estabelece com o organismo como um todo uma estrutura indissociável, cuja interacção se estabelece por um conjunto extremamente complexo de circuitos bioquímicos e neurológicos altamente interactivos. Esta interacção não se esgota apenas na relação mente – corpo, mas envolve também o meio envolvente, uma vez que as operações mentais procedem dessa relação estrutural e funcional entre organismo, mente e meio.

Neste processo, a percepção assume a sua importância. No entender de Damásio (2003) ela envolve obrigatoriamente a formação de imagens na nossa mente. Estas imagens são essenciais para depois o organismo desencadear um mecanismo de resposta devidamente ajustado à situação percepcionada. Daí que a relação entre a acção motora e os padrões mentais (imagens dinâmicas e contínuas) se estabeleça em regiões específicas do cérebro, que constrói um mapa das acções que estão a ser levadas a cabo no momento (Damásio, 2003). A relação do corpo com a mente é tal, que este processo de

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mapeamento não se desfalece num processo passivo, é antes condicionado pelos sinais do corpo e por outras estruturas cerebrais (Ibidem).

Noutro sentido, mas na mesma direcção, está a acção motora como factor significante. A relação entre a acção e cognição resume-se à própria concepção da acção motora. Araújo (2005) resume a acção a uma actividade cognitiva, e decorre daí a ligação, incorporação, do sistema cognitivo no próprio sistema motor.

Como ficou demonstrado ao longo deste trabalho, a acção está sempre, mas não exclusivamente, acoplada à percepção, e dessa relação exalta o comportamento humano. A explicação da influência da simples reflexão sobre a acção no próprio desempenho motor resulta precisamente desta relação estreita. Todavia, também ficou demonstrado o papel que a cultura desempenha no processo de significação motora. Daí, que o comportamento humano não seja exclusivo do processo percepção/acção. E tal como Melo (2002a) sentencia, a teoria dos sistemas dinâmicos falha neste ponto, na ausência do papel da memória na acção motora e na subestimação das representações mentais.

Neste sentido, toda a concepção teórica corre o risco de cair ou no empirismo positivista, ou no subjectivismo coarctado à realidade do sujeito que a concebe. Todavia, tal cenário apresenta-se possível de investigação se toda a descrição e concepção teórica forem conscientes e a exposição for cautelosa. É totalmente improvável entender o humano no seu todo apenas pela linha da objectividade, prova disso é o entendimento da sua acção motora.

Daí que a teoria da acção, retratada no capítulo do “humano objectivo”, representa a clara materialização das reflexões desta tese. O respeito pelos vários tipos de acção, física, biológica, psicológica, social e ecológica, e a respectiva inter-relação/dependência entre todas elas,

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é resultado de todo o entendimento do papel da complexidade no sistema humano desportivo-motor. Esta teoria coloca em jogo não só a antinomia do corpo e mente, mas todas as outras que lhe estão associadas, objectividade e subjectividade, movimento e cognição.

Pois é pelo fascínio da subjectividade que a acção se compreende, caso contrário, a conclusão seria clara, não haveria acção mas apenas movimentos físicos. O entendimento do humano desportivo-motor seria:

“o movimento visto como uma função de contracção muscular que actua como um produto final e como um sistema de alavancas e de roldanas, formado por ossos, tendões e ligamentos, decorrente de adaptações de tecidos baseados na capacidade do organismo utilizar nutrientes e dissipar os seus desperdícios bioquímicos, reforçando uma perspectiva molecular do movimento” (Fonseca, 2005, 390).

Todavia, existe em comunhão com este processo mecânico uma outra dimensão mais subjectiva e adimensional que se resume na intencionalidade e na transcendência do acto. Mas o que é a acção motora senão intencionalidade e transcendência? Fonseca (2005) refere mesmo que o acto apresenta-se precisamente pela sua intenção, pelo problema a partir do qual se desencadeia uma solução, sendo depois a intenção, a auto-regulação, entre outros procedimentos mentais, determinantes na construção da resposta a esse problema.

Contudo, a sociedade ocidental continua a fomentar o paradoxo da alienação do corpo em favor da mente, por um lado, e vice-versa por outro. Bento (1994, 85) apelida este fenómeno de “corpo a mais” e “corpo a menos”, ou seja, há uma existência excessiva de corpo. “Corpo a mais” na medida em que a actividade mecânica humana foi reduzida ao mínimo

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necessário, tornando o humano numa estrutura volumosa, enferrujada e pesada; “corpo a menos” porque na publicidade, cultura, arte, etc., é transmitida uma ideia de corpo ausente, pois recorda-se mais um “corpo anacrónico e em fuga”, doente, fechado em imagens superficiais que relevam o corpo para a subjectividade. Segundo Gomes (2003), estas questões perspectivam-se segundo as influências políticas, académicas e religiosas.

Mas a magnificência do homem permite que não haja apenas

“uma chave dos sonhos, mas diversas, e a chave de todas as chaves residiria na intercomunicação geral daquilo que está mais ou menos tabicado ou separado no estado de vigília, numa prodigiosa mistura do sociocultural, do intelectual, do afectivo, do genético, do ambiental, do

ocorrencial, das recordações escondidas, dos desejos

insatisfeitos, verdadeira miscelânea da hipercomplexidade neguentrópica” (Morin, 1991, 122).

Dai que a mudança ideológica não deve ser encarada como algo prejudicial ao próprio conhecimento. A mudança provoca o avanço do conhecimento, raramente o contrário. Sérgio (2003b, 19) refere mesmo que “nada é mais prejudicial a uma teoria do que a necessidade obsessiva de a manter”. Contudo, será a transição de uma teoria para outra um processo totalitário? Quem é que porá em causa o paradigma de Newton no estudo dos fenómenos físicos numa escala macroscópica? Numa escala microscópica, haverá com certeza uma maior aplicação do paradigma de Heisenberg.

Todavia, no nosso ponto de vista, e como vimos alertando ao longo deste trabalho, é necessário no entendimento e na aplicação do conhecimento levar em conta alguns pontos: complexidade - princípio dialógico, recorrente e hologramático (Fractalidade - a questão da escala de análise); Desordem – Ordem – Organização; Migração

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conceptual; Abolição de Fronteiras (mutualidade entre as ciências). Mas alertamos para o total desprendimento do paradigma da complexidade de Morin perante a realidade como um todo. Não se pode, só porque se observa que determinados fenómenos se criam pela desordem, advogar que agora tudo é complexo, desordem, que “a ordem já não é suberana” (Morin, 1997, 76). O paradigma da complexidade é algo que deve ser estudado e levado muito em conta, pois recria um conjunto de pressupostos altamente pertinentes para o entendimento do humano. Mas o que foi aprendido até agora não deve ser simplesmente eliminado, pois ainda contém muito gérmen.

E assim, não somos da radical opinião de Sérgio (2003b, 55): “não há que temer o novo, há que recear, sim, o espectáculo farfalhudo da permanência do velho, quase sempre caucionado, pessoal e solenemente, pelas autoridades competentes”. Será mesmo que o velho já não interessa? Não nos abarcamos da prosápia científica egocêntrica existente em muitos domínios e assumiremos alguma humildade na defesa das nossas ideias admitindo sempre a ausência da verdade absoluta.

Daí que o questionamento sobre a concepção de uma teoria unificadora do desporto se revele estéril se não absorver toda a complexidade do humano e não absorver toda a relação entre a objectividade e a subjectividade. No nosso entender, o caminho para um entendimento mais fidedigno do humano desportivo-motor é: respeitar o conhecimento adquirido; procurar absorver as vantagens do conhecimento sistémico, através da abolição de fronteiras e respectivo controlo alfandegário dos conceitos; frequente reciclagem das estruturas teóricas à medida que a evolução científica nos conduz a novos patamares de conhecimento; entender o humano desportivo-motor como um humano complexo, resistindo assim, ao acaso e às respectivas vicissitudes ideológicas.

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Neste sentido, e estando de acordo com Sérgio (2003b, 127), para o entendimento da acção motora como “acto estruturante e significativo”, é necessário encarar a correlação entre o homem/mundo, o pensamento/matéria, subjectividade/objectividade, eliminando de certa forma este pensamento binominal. Todas as ciências possuem a sua autonomia e a sua especificidade, todavia, o Humano não se figura exclusivamente de quantidades, mas também de qualidades, de subjectividades, de vazios escuros e aporias.

Nesta encruzilhada da conceptualização de realidades, esta perspectiva revela-se proveitosa, em alguns aspectos, mas termina de forma inconclusiva. Assim, esperamos que novas áreas possam ser implementadas e que esta dúvida não seja um fim, mas um princípio inadiável para um campo intangível, porém susceptível de investigação profícua.

Desta forma, renunciamos a opinião romancista de Kundera (2008, 113), “os extremos marcam a fronteira para lá da qual não há vida, e, tanto em arte como e em política, a paixão do extremismo é um desejo de morte disfarçado”. Os

génios contrapõem-se aos falhados, dois tipos de outliers,

e são extremamente importantes, devendo ser observados e analisados com abnegação e consideração. Então a eliminação

dos outliers, para normalizar a distribuição deste

argumento refutável, é um pensamento dos mecanicistas e simplistas, a quem o acaso e o imprevisível são colocados como questões a ser banidas, assim como a análise centrada na média. Ora, merecem, indubitavelmente, um bem-haja esses

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