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O discurso sobre as favelas cariocas na cobertura do jornal “O Globo” no fim do período militar brasileiro.”

No documento Jornalismo / Periodismo (páginas 69-83)

cícero costA ViLLeLA & WedencLey ALVes

cicerovillela@gmail.com; wedenn@yahoo.com.br

Universidade Federal Juiz de Fora

Resumo

O presente trabalho pretende a partir da perspectiva teórica da Análise de Discurso Franco-Brasileira (ORLANDI, 2005) discutir quais são os sentidos dados às favelas no período final da Ditadura Militar no Brasil (1977-1982). Partirmos dos pressupostos teóricos da Análise de Discurso Franco-Brasileira (ORLANDI, 2005) na qual o discurso é entendido como efeito de sentido entre locutores, bem como a produção de sentidos e sujeitos se dá por ele. Nosso intuito é analisar como a mídia afeta a produção das territorialidades – ou seja, como a mídia contribui na formação de um imaginário sobre a cidade e seus territórios – bem como os sujeitos que são construídos por meio desses discursos. A partir do momento em que os meios de comunicação, ao produzirem seus relatos sobre o espaço urbano, são interpelados por determinados discursos eles (re)produzem determinadas percepções sobre o território e os sujeitos que habitam esse local. Esses discursos são sempre materializações de relações de poder dadas em nossa sociedade.

Nesse ponto, trazemos a contribuição de Michel Foucault, sobretudo sua noção de poder e sua relação com os discursos e a distribuição de poder/saber em nossa sociedade. Para esse autor, “Não há possibilidade de exercício do poder sem uma certa economia dos discursos de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigência. Somos submetidos pelo poder à produção da verdade” (FOUCAULT, 2008.p. 179-180).

Dentro desse contexto o jornalismo adquire centralidade no processo de produção e circulação de diferentes enunciados. Por isso, pretendemos analisar quais são os gestos interpretativos hegemônicos dos relatos jornalísticos e como eles contribuem para a formação de um imaginário urbano sobre as favelas.

O fim do período militar é um momento profícuo para a percepção dessas questões, sobretudo no processo de construção de um discurso hegemônico sobre espaços marginalizados da cidade do Rio de Janeiro como as favelas.

Palavras-Chave: Análise do discurso; jornalismo; cidade; favela

Introdução

O presente artigo tem como objetivo mapear, de forma inicial, os discursos do jornal “O Globo” acerca das favelas cariocas no período final da Ditadura Militar Brasileira, precisamente entre os anos de 1977 e 1981. Para dar conta desse objeto utilizamos os preceitos teóricos e metodológicos da Análise de Discurso (Orlandi, 2003).

Com isso pretendemos dar conta do processo de construção discursiva e iden- titária, efetivado pelo jornalismo, por meio de seus discursos e narrativas, sobre regiões marginalizadas, levando em conta as diferentes relações de poder que atra- vessam a produção textual.

No momento atual, a questão das favelas vem se tornando objeto central de políticas de Estado, que se baseiam em um discurso de “pacificação” que é

reproduzido pelos grandes jornais. Esse processo de pacificação está marcado por discursos outros que o atravessam produzindo sentidos múltiplos para as “favelas” e para a cidade do Rio de Janeiro.

Para dar conta da conjuntura atual, nossa pesquisa pretende dar um passo atrás e buscar na História a produção de sentidos sobre as favelas, a fim de perceber como esses discursos se transformam em diferentes momentos do país.

Este artigo se situa como um ponto inicial da nossa pesquisa de mestrado que pretende mapear os discursos do jornal “O Globo”, um dos mais lidos do país, sobre as favelas em um período de 30 anos (entre 1982 e 2012).

Alguns pontos precisam ser levados em conta nesse percurso. É preciso escapar aos efeitos de evidência da favela como locus da violência e da pobreza. É preciso tentar captar o objeto em sua dimensão discursiva, em suas heterogeneidaidades. Queremos com isso dar conta de algumas questões, como “o Globo” produz sentido sobre as favelas? Quais são as formações discursivas que o jornal faz circular quando fala sobre a cidade? O jornal absorve os discursos oficiais da Ditadura em suas matérias?

cIdade, podere MídIa

Ao trabalharmos a questão das favelas cariocas faz-se mister que se reme- more um pouco a história, ainda que de maneira breve, desses bairros cariocas. Não daremos enfoque no início das favelas e do movimento de resistência da Revolta da Vacina. Passaremos para a onda migratória ocorrida em nosso país em meados da década de 60, sobretudo como efeito da urbanização e da industrialização.

Apesar de ter perdido o posto de capital da República no início da década de 60, e com isso deixando de ser o centro de poder do país, a cidade ainda permanece como um dos principais pólos de cultura e economia e, com isso, atraindo milhares de migrantes que vinham em busca de melhores condições de emprego. Segundo Birman (2009)

Nas últimas décadas, o Brasil assistiu a uma gigantesca inversão de sua concen- tração populacional, transformando-se de um país essencialmente centrado no campo em um país urbano. Se tudo isso foi certamente disparado na década de 1930, foi efetivamente nas de 1950 e 1960 que os efeitos maiores da industria- lização e da urbanização se fizeram sentir. Assim, ocorreu um inchaço da popula- ção das grandes cidades do país, dentre as quais se destacavam evidentemente Rio de Janeiro e São Paulo, que ofereciam indiscutivelmente mais oportunidades de trabalho. A riqueza do país se transformou cada vez mais de rural em urbano- -industrial, em correlação com essa redistribuição demográfica (2009: 267).

O grande fluxo migratório tem como efeito uma explosão demográfica descon- trolada. Como efeito, as políticas sociais não conseguem acompanhar esse impacto o que traz à tona questões de desigualdades sociais já antigas na tradição brasileira. As favelas se tornam esses locais de precariedade que coloca a mostra as contradi- ções do desenvolvimento brasileiro.

É nesse momento da década de 60, em meio ao governo militar que começam a surgir os principais trabalhos sobre favelas nas Ciências Sociais. Segundo, Licia do

Prado Valladares (2005), os trabalhos produzidos na academia contribuem sobrema- neira para mobilizar um imaginário sobre as favelas e pautar as políticas públicas do período militar. Sobretudo no que tange as políticas de remoção.

Há, portanto, uma convergência de discursos, que se refletem no jornalismo e se materializam em teorias sociais que buscam dar conta desse grande fluxo migratório, que torna o Brasil um país eminentemente urbano. Segundo os dados de Valladares (2005) em 1950, 64% da população morava no campo, enquanto em 1980, 68% moravam nas cidades. Este é um retrato do crescimento “desordenado” das cidades, que gera as chamadas “sub-moradias” e “favelas”.

As análises demográficas do processo de urbanização da América Latina e no Brasil, dos anos 1950-1960, insistiam sobre sua natureza excepcional: processo inédito, sobretudo quando comparado com a experiência europeia, conhecido pela expressão “super-urbanização” (over-urbanization). Resultado dos fluxos migratórios aleatórios e taxas de crescimento demográfico muito elevadas, em especial, nas grandes concentrações urbanas, a superurbanização atribuiu grande visibilidade a essa pobreza. (...) Consequência da superurbanização, o subemprego logo foi percebido como causa maior da pobreza, e nos anos 1960- 1970 tornou-se tema de reflexão e pesquisa privilegiada na América Latina e, particularmente no Brasil (Valladares, 2005:127).

Conforme estamos afirmando, os estudos acadêmicos contribuem para a cons- trução de um imaginário da favela como local da pobreza, que vai se materializar em duas frentes: primeiramente nas políticas públicas do período militar, que têm por base a remoção das favelas; e de maneira secundária afeta as coberturas jorna- lísticas que são pautadas pelos eventos que acontecem em relação a esses bairros.

Não podemos dizer que há aqui o discurso acadêmico criando um imaginá- rio de forma isolada. Na verdade, o processo de criação desse imaginário sobre as favelas acontece concomitantemente nessas esferas. Não há uma causa única, há a circulação de diferentes discursos que possuem por fundamento formações que se assemelham e produzem efeitos parecidos.

Com isso, podemos afirmar que a mídia – tomada aqui como sinônimo de jornalismo - entra nessa equação com alguma importância, sobretudo no seu papel de circular diferentes discursos sobre a cidade. Dessa forma, ela afeta a construção dos sentidos sociais hegemônicos em relação às favelas.

Ao circular diferentes enunciados sobre o espaço urbano, ela posiciona os lugares habitáveis, bem como seus sujeitos. Dessa forma, ela constrói uma narrativa na qual o sujeito é determinado pelo local que habita. Conforme afirma o sociólogo Erving Goffman: “Os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade de serem neles encontradas” (2004: 5).

Apesar de concordarmos em parte com a afirmação de Goffman ela merece ser mais aprofundada. Não são apenas os ambientes sociais que determinam as categorias de pessoas. Os discursos sociais que circulam tanto nas conversas coti- dianas quanto nas mídias determinam simbolicamente o tipo de pessoa que habita os espaços da cidade. Nesse sentido, apesar de não considerarmos a metáfora da imagem a ideal, cria-se uma imagem da cidade, ou de parte da cidade, que situa

sujeitos – isto é produz subjetividades – e de alguma forma cria um imaginário acerca não apenas dessas pessoas quanto desses ambientes.

Esses imaginários interferem de forma direta na maneira como nos posiciona- mos e como posicionamos, no nosso caso de análise, os moradores das favelas. E a construção desse imaginário da cidade e seus sujeitos passam pelos discursos que ganham projeção na mídia.

Podemos dizer que a mídia funciona como um mapa de leitura da cidade. Dessa forma, ela se dá estatuto simbólico na definição dos ambientes. Apesar de não analisar a mídia de forma direta, a proposta do semanticista Eduardo Guimarães (a de leitura dos mapas de cidade) é de utilidade para entendermos o funcionamento da mídia como um guia socialmente relevante: “o sentido do mapa não se dá como descrição de uma cidade, nem como narração de sua história, ele se dá, diríamos, no sempre depois de seu presente, como instrução semântica” (2002: 60).

Assim como o mapa, a mídia é uma instrução semântica da cidade, ao produzir relatos sobre o espaço urbano – em especial sobre as favelas. As narrativas midiá- ticas inserem os locais em relações simbólicas que produzem sentidos, tornando o espaço urbano pleno de sentidos (Pêcheux, 1997). O relato tem papel fundamental na transformação da realidade existente: para o historiador Michel de Certeau, os relatos “transformam lugares em espaços ou espaços em lugares. Organizam também os jogos das relações mutáveis que uns mantêm com os outros” (1990: 203).

O jornalismo, portanto, adquire centralidade no processo de produção e circu- lação de relatos. Além disso, ela se arroga a posição de relato verdadeiro da reali- dade, que tenta produzir uma narrativa única sobre as favelas, silenciando as rela- ções de poder que se tornam presentes no processo de produção dos enunciados. Por isso, temos como hipótese o fato de que a narrativa da mídia sobre as favelas tende a buscar uma transparência, a fechar os sentidos, a silenciar discursos outros que tentam representar de forma alternativa o espaço urbano. Isso evidencia que o discurso é objeto de luta.

Quero dizer que em uma sociedade como a nossa, mas no fundo em qualquer sociedade, existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o corpo social e que estas relações de poder não podem se dissociar, se estabelecer nem funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma circula- ção um funcionamento do discurso. Não há possibilidade de exercício do poder sem certa economia dos discursos de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigência. Somos submetidos pelo poder à produção da verdade. Isto vale para qualquer sociedade, mas creio na nossa as relações entre poder, direito e verdade se organizam de uma maneira especial (Foucault, 2008: 179-180).

Dentro dessa economia dos discursos, os meios de comunicação – e com destaque o jornalismo – se tornam cada vez mais presentes na vida cotidiana. Dado seu alcance, pode-se dizer que a mídia funciona como arena pública, ao mesmo tempo em que oculta o discurso de que ela própria é um dos atores que interagem nesse espaço. Desta forma, a capacidade de dispor os discursos, e em consequência o poder, passa de alguma forma pelos meios de comunicação. É preciso, contudo,

relativizar esse poder e considerá-lo à luz de perspectivas não maniqueístas. Segundo a linguista Alice Krieg-Planque,

As mídias são ativas em dois sentidos: em parte, no sentido de que, de forma geral, operam uma seleção e uma filtragem (filtragem que operam sobre um material já bastante filtrado antes); e, em parte, no sentido de que a circulação a que submetem a fórmula – como diz Louis Quéré (1982: 121), que recusa um ponto de vista sistêmico e a ideologia do desempenho que o sustenta – ‘não pode ser reduzida a uma tecnologia d empacotamento e da transmissão de mensagens’. Ao contrário, deve ser vista como uma operação de transformação (2010: 121).

Queremos mostrar com isso, que a construção discursiva dos territórios e da cidade são partes de jogos estratégicos de poder que circula pelos enunciados que estão presentes na sociedade. De acordo com Mendonça (2010: 2)

Com isso, podemos entender de que forma as cidades, como os discursos, estão longe de possuírem algo como uma essência concreta ou um sentido único. Como produtos de um processo complexo de apropriações simbólicas, tanto os espaços, como os discursos são, por natureza, polissêmicos e terão suas interpretações hegemônicas modificadas, gradualmente, em função das historicidades envolvi- das no jogo de relações de poder que compõem a sociedade.

Estamos, portanto, trabalhando as relações de poder que atravessam os discur- sos como elementos centrais na produção do espaço urbano e que tem o jornalismo como um dos locais nos quais esses discursos sobre as favelas adquirem maior dispersão e se solidificam em narrativas e imaginários sobre a cidade.

A forma como o jornalismo será abordado nesse trabalho é como um espaço de estabilização dos sentidos, ou seja, o jornalismo é atravessado por diferentes discursos, mas possui marcas que tentam estabilizar a heterogeneidade desses enunciados. Essa tentativa de estabilização é o gesto interpretativo fundamental do jornalismo. Segundo Orlandi, “não há sentido sem interpretação” (2005: 45). E toda interpretação é a de determinados dizeres em uma memória que os estabilizam. “Este é o trabalho da ideologia: produzir evidências, colocando o homem na relação imaginária com suas condições materiais de existência” (Orlandi, 2005: 46).

Ao fazer circular discursos e consequentemente poder, o jornalismo interpela sujeitos, disponibilizando diferentes discursos que afetam a construção identitária destes, ou seja, produzem subjetivações. Dados os nossos pressupostos na aborda- gem do problema teórico da relação entre cidade, poder e mídia, podemos passar para a análise e perceber como o discurso funciona nas matérias e na produção desses imaginários urbanos.

MetodoloGIa

Teremos como objeto de análise matérias do jornal “O Globo”, um dos princi- pais jornais cariocas, em um período de 5 anos (1977-1981). Este período é marcado pelo período final da Ditadura civil-militar no Brasil. Em 1982, Leonel Brizola será eleito governador do Rio, após 18 anos sem eleições diretas no Brasil.

Para conseguirmos dar conta desse recorte temporal, precisamos usar algumas estratégias para que o corpus não se torne tão grande que impossibilite uma análise mais detalhada, mas também que não seja pequeno que não permita a percepção dos deslocamentos e a emergência de sentidos outros.

A análise se dará em duas etapas complementares. Em um primeiro momento traçaremos um quadro quantitativo. Esse quadro nos serve de linha guia para chegarmos a eventos nos quais o significante “Favela” aparece com mais frequência.

Para a montagem da tabela nós fomos ao acervo do jornal “O Globo” 1 e fizemos a busca pela palavra “Favela” e “favela”. Percebemos que não há diferença na busca entre maiúsculo e minúsculo, já que não houve alteração nos números de ocorrências. A partir dessa busca fizemos a coleta de dados entre os anos de 1977 e 1981, contando sempre o número de aparecimentos a cada mês. Com esses dados em mãos construímos a tabela da série histórica analisada..

A segunda etapa deverá será feita sob a ótica da Análise de Discurso de origem francesa, tendo como principais autores Eni Orlandi (2005) e Michel Pêcheux (1997). Partimos do conceito de discurso como “efeito de sentidos entre locutores” (Orlandi, 2005: 21). Onde o que está em jogo são sujeitos e sentidos interpelados por diferentes formações discursivas que se remetem às relações de poder presentes na sociedade. Essa proposta não remete a análise ao descobrimento de sentidos ocultos no texto, mas o interroga a partir de seu processo de significação. Ou seja, não preten- demos saber o significado de favela no jornal, mas como os diferentes sentidos sobre a favela foram construídos, a partir de quais posições, afetados por quais formações discursivas, como ele produz uma memória sobre o espaço urbano e como ele inter- pela os sujeitos (Orlandi, 2005).

Nossa análise tem como foco a identificação das Formações Discursivas (FD) que sustentam os dizeres de “O Globo”. São elas que sustentam a formação dos enunciados. Segundo Orlandi “A formação discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada – ou seja, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica dada – determina o que pode e deve ser dito” (2005: 43).

Essas formações mobilizam toda uma memória discursiva que situa sentidos e sujeitos. Dessa forma, ao identificarmos FD vamos remetê-las à memória para perceber onde aparecem diferenças e repetições.

Recorreremos às famílias parafrásticas que serão úteis para uma análise como a nossa. Paráfrase em AD diz respeito ao funcionamento da linguagem, que está baseado em um princípio de tensão entre a paráfrase e polissemia.

“Os processos parafrásticos são aqueles pelos quais em todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a memória. A paráfrase representa assim o retorno aos mesmos espaços do dizer. Produzem-se diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado. A paráfrase está do lado da estabilização. Ao passo que na polissemia, o que temos é o deslocamento, ruptura dos processos de significação. Ela joga com o equívoco” (Orlandi, 2005: 36).

Com a separação desses enunciados de uma mesma família de paráfrases será possível percebermos o deslocamento e a estabilização dos sentidos e o processo de produção dos discursos sobre as favelas. Desta maneira, será possível perceber- mos as ideologias manifestas nas matérias jornalísticas. Ideologia entendida não como ocultação da verdade, mas como relação necessária entre linguagem e mundo (Orlandi, 2005: 47). Nessa perspectiva a Ideologia não é o que falta, mas aquilo que sobra no texto, o fechamento dos sentidos, aquele que não abre para outras possi- bilidades de leitura.

Teremos como foco na materialidade textual do jornal, deixando, ao menos nesse momento, a interação entre elementos como fotografia e diagramação da página em segundo plano. Reconhecemos que essas materialidades são importantes para a produção de diferentes efeitos de sentido, mas esses elementos ficarão para uma análise posterior.

Pretendemos, com isso, responder a algumas questões: Como a mídia produz e circula pelas diferentes formações discursivas os sentidos de “favela”? A partir de quais posições? Quais formações sustentam esses sentidos? As estratégias traçadas acima pretendem de alguma forma trazer luz a esses questionamentos.

análIse

Antes de nos atermos em uma análise mais detalhada em do nosso Corpus, precisamos fazer uma leitura mais geral sobre a ocorrência da palavra nas páginas do jornal.

Tabela 1

Confirme dissemos, essa tabela nos mostra o aparecimento da palavra “favela” nas páginas do “Globo”. O número lido é o número de páginas e não o de palavras. Em alguns momentos, a palavra ocorre mais de uma vez na mesma página. Há uma percepção geral, de que a cobertura sobre as favelas não se dá de forma muito exaustiva, tendo alguns picos em 1980, devido a ocorrências que mobilizam mais a cobertura jornalística. Mas no final de 81, começa um indicativo de aumento da cobertura, estabelecendo uma nova média páginas.

Escolhemos para análise dois momentos. O primeiro é Julho de 77 que apresenta um valor médio de cobertura. Queremos com isso ver como os discursos se manifes- tam em um momento sem ocorrências que aumentam a cobertura do jornal. A matéria

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