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Mídia Ninja – Alternativa ou Radical? A nova configuração do jornalismo transmidiático

No documento Jornalismo / Periodismo (páginas 137-147)

VALquíriA APArecidA PAssos KneiPP

valquiriakneipp@yahoo.com.br

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo

Este artigo teve como objetivo analisar o surgimento e a atuação do grupo Mídia Ninja, durante a cobertura das manifestações de junho de 2013 no Brasil. O instrumental metodológico contou com pesquisa documental, bibliográfica, análise e entrevista, configurando um estudo de caso. Buscou-se compreender como e porque o grupo vem ganhando proeminência frente a mídia tradicional na cobertura de manifestações populares? As bases teóricas envolveram o jornalismo transmidiático e as formulações a respeito de mídia alternativa e radical, entre outros conceitos, por meio de autores como Porto, Peruzzo e Downing. Considerou-se que o grupo Mídia Ninja reúne características de vários conceitos de forma sobreposta e contribui de forma única para o desenvolvimento e a reflexão das questões sociais e políticas do Brasil, porque realiza um trabalho complementar à mídia tradicional e não a substitui.

Palavras-Chave: Mídia Ninja; alternativa; radical; jornalismo transmidiático

coMocateGorIzarconceItualMenteo fenôMeno MídIa nInja?

O coletivo identificado como Mídia Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação vem se destacando no Brasil na cobertura jornalística desde as manifestações, iniciadas em junho de 2013. “Diz a lenda que ninjas eram mercená- rios contratados por senhores feudais japoneses por volta do século 15, para realizar ações de espionagem, sabotagem e atentados. Agiam na escuridão, usando técnicas de disfarce e invisibilidade para enganar suas vítimas” 1. O grupo é formado por profissionais de jornalismo, que trabalham em colaboração, transmitindo em fluxo de vídeo em tempo real, pela internet, por meio de uma estrutura composta por câmeras de celulares e uma unidade móvel montada em um carrinho de supermer- cado. Para a transmissão de informações, o grupo utiliza redes sociais, com destaque para o Facebook. De acordo com o próprio perfil do grupo no Facebook, a entrada do mesmo na rede social ocorreu em 27 de março de 2013.

Segundo o grupo, o surgimento do mesmo aconteceu em junho de 2011, atra- vés da Pós-TV2, que é uma mídia digital do grupo Fora do Eixo3. No ano de criação 1 Disponível em http://info.abril.com.br/noticias/rede/eu-virtual/2013/08/18/afinal-a-midia-digital-e-ninja-ou-nao-e/.

Acesso em 08.09.2013.

2 De acordo com página no Facebook: é a verdadeira TV aberta. Onde não existe censura, as pessoas falam livremente e

não se depende de patrocínio, o patrocinador é o povo, as entidades e os movimentos sociais. Disponível em https://www. facebook.com/canalpostv. Acesso em 15.09.2013.

3 Fundado em 2001 em Cuiabá por estudantes de Comunicação. Em 2008 houve a criação do espaço virtual www. foradoeixo.org.br. Trata-se de uma rede colaborativa e descentralizada de trabalho constituída por coletivos de cultura

estiveram presente na Marcha da Maconha e na Marcha da Liberdade. Depois em 2012 acompanharam a cobertura da situação das aldeias Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, neste momento específico começou a ficar conhecido pelo país. O grupo Mídia Ninja foi idealizado pelo jornalista Bruno Torturra e pelo produtor cultural Pablo Capilé e tem atuação nas principais capitais brasileiras, com foco mais intenso no Rio de Janeiro e São Paulo.

O termo Mídia Radical ganhou notoriedade com Downing (2002) por meio de duas interpretações diferentes que o autor propõe como: “necessária para construir a contra-hegemonia, mas desfrutando um poder apenas temporário, somente nos períodos de tensão política, ou como parte do anseio de expressar o disruptivo e profundamente arraigado descontentamento das massas” (2002: 50). Explicando, assim, o surgimento de um novo paradigma midiático no cenário brasileiro, que representou o Mídia Ninja nas manifestações de 2013.

Atualmente existe uma diversidade de definições possíveis para observar o fenômeno Mídia Ninja, como propõe Downing (2010) ao abordar algumas mídias digitais com o termo “cauda longa” da mídia. Para ele, estas mídias já receberam várias denominações como mídia alternativa, mídia dos cidadãos, mídia da comunidade, mídia tática, mídia independente, mídia de contrainformação, mídia participativa, mídia do terceiro setor e mídia dos movimentos sociais. Estas denominações surgem de acordo com as características que são possíveis de serem identificadas, por meio de suas práticas sociais.

Segundo Downing cada denominação possui seus pontos positivos e negati- vos. A mídia alternativa para o autor

oferece uma designação completamente insossa, já que tudo é uma alternativa para alguma coisa, embora do ponto de vista de Crhis Atton (2001), a própria imprecisão do termo nos ajuda a reconhecer como prática cultural cotidiana é impregnada por uma variedade extraordinária de forma de mídia alternativa (Downing; 2010: 2).

No caso específico do Mídia Ninja, pode ser considerado como uma alternativa à mídia de massa e hegemônica, devido a sua abordagem diferenciada dos fatos transmitidos pela mídia tradicional.

A definição “mídia dos cidadãos” mostra-se para Downing (cit. em Rodrigues, 2001) como um termo que reconhece o campo magnético criado pela cidadania cultural, mas que segundo ele, em tempos de movimentos de refugiados em massa e de migrações de pessoas em situação trabalhista irregular, “a palavra cidadão apli- cada à mídia deve ser explicitamente despojada de sua conotação legal” (2001; 52). Apesar de representar uma parcela dos cidadãos, o Mídia Ninja não se configura

pautados nos princípios da economia solidária, do associativismo, da divulgação, da formação e intercâmbio entre redes sociais, do respeito à diversidade, à pluralidade e às identidades culturais, do empoderamento dos sujeitos e alcance da autonomia quanto às formas de gestão e participação em processos sócio-culturais, do estímulo à autoridade , à criativi- dade, à inovação e à renovação da democratização quanto ao desenvolvimento, uso e compartilhamentos de tecnologias livres aplicadas às expressões culturais e da sustentabilidade pautada no uso e desenvolvimento de tecnologias sociais. Disponível em http://foradoeixo.org.br/historico/. Acesso em 15.09.2013.

como uma atividade plenamente cidadã, devido ao modus operandi adotado em algumas coberturas e até na própria seleção das mesmas.

O termo “mídia da comunidade” para Downing (cit. em Ellie Rannie, 2006) ainda é assombrado pelo significado nebuloso e róseo subentendido pela palavra comu-

nidade. Essa possibilidade está distante do posicionamento do grupo Mídia Ninja,

pois a atuação do mesmo não está focada em uma única comunidade, mais, em um grande conjunto de minorias comunitárias unidas ideologicamente, mais com distan- ciamento geográfico, que seria típico da comunidade. Peruzzo (2013) alerta para a vulgarização da utilização do termo “comunitário” e também para a questão do local, pois segundo ela, “há visões distorcidas do que ela venha a ser na prática. Em última instância não basta a um meio de comunicação, ser local, falar das coisas do lugar e gozar de aceitação pública para configurar-se como comunitário” (2011: 22).

Já o termo “mídia tática”, segundo Downing, foi favorecido pelo ativista de internet e escritor Geert Lovink (2002), “é um termo deliberadamente escorregadio, uma ferramenta para criar zonas de consenso temporário, com base em alianças ines- peradas... hackers, artistas, críticos, jornalistas e ativistas... A mídia tática mantém mobilidade e velocidade. Está pode ser uma aproximação válida para o Mídia Ninja, pois a ação focada nas minorias consiste em uma tática adotada pelo grupo.

“Mídia independente” para Downing é o termo preferido por Herman e Chomsky

(2010), para denominar a mídia de notícias não corporativas, não estatal e não religiosa,

“o termo tem uma motivação fundamentalmente retórica, em especial para contestar a alegação frequente de que a mídia de notícias em países com políticas capitalistas liberais, principalmente nos Estados Unidos, trabalharia com total liberdade e inde- pendência” (2010; 52-53). Devido à questão retórica que envolve esta denominação e a própria existência do grupo Mídia Ninja, o mesmo não pode ser considerado independente, pois tem um foco político identificado com os partidos de esquerda.

De acordo com Downing (2010: 53) o termo “Mídia de contrainformação” origi- nalmente concebido por Pio Baldelli, em 1977, mas ainda atual em Vitelli e Rodiguez Esperón, em 2004, “é também muito marcado dentro da área do jornalismo, na qual a palavra informação é usada como sinônimo de notícia”. Levando em consideração o sinônimo entre notícia e informação, é possível entender o Mídia Ninja como uma mídia de contrainformação, devido à visão alternativa que propõe à mídia de massa.

“Mídia participativa” para Downing, em sua concepção original significava que as pessoas afetadas por esses projetos deveriam ter um papel ativo na elaboração dos mesmos, e em seguida, também deveriam avaliar seus progressos. “Essa estratégia igualmente priorizou as maneiras de envolvimento nas quais a mídia de todos os tipos deveria ter com esses objetivos, em outras palavras, o inoperante retorno promovido das estratégias de comunicação elaboradas de cima para baixo” (cit. em Metfalpoulos, 2003). É claro que a participação pode ser considerada um lema na atuação do Mídia Ninja, mas desde que a mesma esteja alinhada ideologicamente com os princípios e objetivos do grupo, que até o momento não ficaram muito evidentes.

Para Downing (2010: 53) “Mídia do terceiro setor” é a mídia na esfera da ação social voluntária, “algumas vezes utilizado em discussão na Europa... baseado em

políticas que definem essas mídias principalmente por aquilo que elas não são. Em outras palavras, aparte do espectro midiático que não tem patrocínio comercial, governamental nem institucional”. Também pode ter uma identificação com o grupo brasileiro, que sobrevive sem financiamento comercial efetivo e está ligado a Ongs.

“Mídia dos movimentos sociais” é o termo preferido de Downing visto que consegue ancorar projetos de mídia em grandes e pequenos movimentos sociais, “construtivos e repressivos e todos os anteriores” (2008). Esta denominação pode ser a que melhor se adapta ao Mídia Ninja, devido à diversidade de movimentos que foram apoiados pelo grupo.

eM teMposdejornalIsMotransMIdIátIco

Em se tratando de jornalismo, apesar do grupo Mídia Ninja se caracterizar como um grupo de jornalistas, na prática isso não se configura em termos reais. De acordo com Bruno Torturra, em entrevista à jornalista Elizabeth Lorenzotti4, na quinta-feira (20/06/2013), o N.I.N.J.A. cobriu 50 cidades. Em São Paulo, o núcleo era de seis a oito pessoas, com idade média de 22 anos e nenhum com formação jorna- lística. Pode-se observar que o grupo faz um trabalho jornalístico, com pessoas sem a formação específica. Isto ocorre graças à internet, que democratizou os processos de comunicação e de difusão de informação, ou parafraseando Ramonet “saímos de Mídia de Massa para a Massa de Mídias, a lógica “vertical” que caracterizava a rela- ção mídia-leitor torna-se, de agora em diante, cada vez mais “horizontal” ou “circular” (2012: 19). O coletivo Mídia Ninja pode ser um exemplo desse novo sentido que tomou o processo de informação na sociedade contemporânea.

Analisando do ponto de vista jornalístico, o conjunto da obra do grupo Mídia Ninja apresenta as características de uma nova forma de fazer jornalismo, que pode ser entendido como um jornalismo transmidiático, pois apresentam diferentes formatos e formas de transmissão de informações via internet, que segundo Porto e Flores,

Periodismo transmedia viene a ser una forma de lenguaje periodístico que contempla, al mismo tiempo, distintos medios, com varios lenguajes y narrativas a partir de numerosos medios y para uma infinidad de usuarios. Por tanto, son adoptados recursos audiovisuales, de comunicación móvil y de interactividad en la difusión del contenido, incluso a partir de la blogosfera y de las redes socia- les, lo que amplia de forma considerable la circulación del contenido. Por otro lado, la telefonía celular (móvil) utilizada en el periodismo es una herramienta fundamental para garantizar la movilidad y la instantaneidade del proceso de construcción narrativa, aunque para hacerlo sea necesario producir un guion transmediático (Porto; Flores, 2012: 82).

Para Jenkins (2008), “A narrativa transmídia refere-se a uma nova estética que surgiu em resposta à convergência das mídias – uma estética que faz novas

4 A matéria pode ser conferida no Observatório da Imprensa. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/

exigências aos consumidores e depende da participação ativa de comunidades de conhecimento” Porto e Flores apontam ainda, a necessidade de definir alguns conceitos e características básicas do espaço digital. Para isso os autores sugerem adotar como parâmetros, as 10 características apresentadas por José Orichuela

El usuario es parte del proceso, y no sólo una audiencia pasiva;-Los medios venden contenido y no soporte;-El lenguaje es multimediático, con numerosos canales;-El contenido es producido en tiempo real y no diario o semanal;-El espacio de datos es ilimitado, sin limitación de tiempo o espacio;-El medio es autónomo y dispensa el gatekeeper y la agenda setting;-El proceso comunicacio- nal es de muchos para uno y de muchos para muchos y no de uno para muchos; -Utiliza el hipertexto y no el lenguaje lineal; -Ofrece interactividad al usuario (antes receptor) en la organización y obtención de información; -Ofrece informa- ción sobre la información. (cit. em Orichuela, 2003).

Confrontando estas características do espaço digital é possível identificar uma proximidade no espaço ocupado em 2013, nas manifestações ocorridas no Brasil, pelo grupo Mídia Ninja, pois o mesmo recebeu material de qualquer pessoa que se propôs a cobrir e enviar material. O grupo usou várias formas de difusão de infor- mação, como transmissão ao vivo, banco de dados de vídeos, fotos e textos. Também não havia um padrão de tempo ou formato para a veiculação de informação. Grande parte do material transmitido ao vivo não passava por nenhum filtro ou edição, possibilitando ao usuário criar seu próprio percurso de leitura ou visualização.

Outra aproximação teórico-conceitual se faz possível com o material produ- zido pelo coletivo Mídia Ninja e a proposta de Canavilhas (2013), que identifica um novo paradigma jornalístico a partir do que o autor denomina webjornalismo – a mudança da pirâmide invertida para a pirâmide deitada,

a pirâmide deitada é uma técnica libertadora para utilizadores, mas também para os jornalistas. Se o utilizador tem a possibilidade de navegar dentro da notí- cia, fazendo uma leitura pessoal, o jornalista tem ao seu dispor um conjunto de recursos estilísticos que, em conjunto com novos conteúdos multimídia, permi- tem reinventar o webjornalismo em cada nova notícia (Canavilhas, 2006: 16).

A pirâmide deitada de Canavilhas propõe quatro níveis de leitura, sendo o primeiro representado pelo topo da pirâmide como a unidade base, com o lead respondendo as questões essenciais como O que? Quando? Quem e Onde? “Este texto inicial pode ser uma notícia de última hora que, dependendo dos desenvolvi- mentos, pode evoluir ou não para um formato mais elaborado” (2006: 15). O segundo nível é o da explicação, “responde o Por que e ao Como, completando a informação essencial sobre o acontecimento” (2006: 15). O terceiro é o nível da contextualização, onde, “é oferecida mais informação – em formato textual, vídeo, som ou infografia animada – sobre cada um dos W’s” (2006: 15). O último é o nível que Canavilhas denomina da exploração, pois “liga a notícia ao arquivo da publicação ou a arquivos externos” (2006: 15).

A aproximação do coletivo Mídia Ninja está nesta nova arquitetura da infor- mação, que de acordo com Canavilhas (cit. em Edo, 2002: 70) exige um “novo tipo de jornalista – um profissional que tem neste tipo trabalho uma alta percentagem

de documentarista, que seja capaz de expor com eficácia o relato dos acontecimen- tos e os comentários produzidos nos distintos suportes possibilitados pelo ecrã do computador”.

Nesta perspectiva, Renó e Flores oferecem cinco fragmentos de conteúdos (conforme a figura 1) em diferentes meios adaptados e sempre relacionados ao tema do conteúdo, com um texto base, um vídeo, fotografias, infográfico e uma sonora ou outra foto. Caracterizando o que autores definem como reportagem transmídia, a qual observar-se-á na sequência junto ao objeto deste estudo.

Figura 1 – Fluxograma da reportagem transmídia (Flores e Porto, 2013: 97)

No fluxograma é possível conferir a configuração proposta pelos autores e é importante observar a questão da liberdade de navegação que o usuário tem para ver, ler, ouvir e assistir uma reportagem transmídia.

novaspossIbIlIdadesde coberturaapresentadas

Ao selecionar a página do coletivo Mídia Ninja, para uma análise no dia 20 de junho de 2013, no ápice das manifestações por todo o Brasil, foi possível contabilizar 40 postagens ao longo de todo o dia. Estas postagens eram compostas por uma foto- grafia e uma chamada em texto curto, conforme ilustração abaixo (figura 2), que mostra a manifestação em Brasília, com o texto: “Após concentração no Museu da República, mais de 5.000 pessoas estão na rua agora, seguindo para o Congresso Nacional”. Configurando assim o nível um de leitura de Canavilhas respondendo a quatro ques- tões do lead – Quem? Cinco mil pessoas; Onde? Seguindo para o Congresso Nacional; O que? Após a concentração; Quando? É indicado pelo horário da postagem.

Dentre estas 40 postagens encontradas, cinco continham links para um vídeo, que transmitiu ao vivo os acontecimentos. Configurando assim, o nível três de leitura proposto por Canavilhas (2013), que é o da contextualização que se faz a partir das imagens em movimento dos vídeos. Das cinco postagens com link de vídeo, uma se referia à cidade de Salvador na Bahia e as outras quatro ao estado de São Paulo. As

outras trinta e seis postagens com foto e texto cobriram as cinco regiões do Brasil, conforme tabela 1:

Figura 2 - Fonte: facebook.com/MidiaNINJA

Região Cidades Sudeste São Paulo (SP) Campinas (SP) Ribeirão Preto (SP) Franca (SP) Belo Horizonte (MG) Juiz de Fora (MG) Uberlândia (MG) Centro Oeste Brasília (DF)Goiânia (GO) Sul Porto Alegre (RS)Santa Maria (RS) Nordeste

Recife (PE) Salvador (BA) Teresina (PI)

Norte Belém (PA)Manaus (AM)

Tabela 1

Apesar da cobertura, por meio das postagens, de todas as regiões do país, houve uma concentração no estado de São Paulo, onde fica a sede do coletivo Mídia Ninja. O segundo nível da proposta da Canavilhas, que é o da explicação, não foi observado na análise das postagens desta cobertura. Mostrando desta forma, que as perguntas por que e como, não são para fazer as suas próprias reflexões, não havendo assim, um fechamento da informação transmitida.

Já o quarto nível pode ser configurado por meio dos links disponibilizados após as transmissões, que disponibilizam todos os vídeos através do Facebook e também do Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=5yjvo9RJ50U), possibili- tando a exploração de todo o material disponibilizado.

De acordo com Franco (2013) que também pesquisou este assunto e analisou a atuação do coletivo Mídia Ninja “Percebe-se que o número de transmissões ao

vivo, 5 dos 41 posts totais, feitas neste dia especificamente, ficou aquém da proposta do coletivo, tendo em vista que o momento pedia um alcance maior por meio de imagens audiovisuais ao vivo” (2013: 56), configurando uma fragilidade no processo de cobertura jornalística.

O que pode ser considerado novo em termos desta cobertura jornalística transmidiática a que se propôs o coletivo Mídia Ninja é a proximidade com que as imagens foram captadas, conforme figura 3. Existe uma busca pela realidade por meio de imagens próximas e constantes dos acontecimentos, sem edição, sem cortes, com a transmissão ao vivo. Talvez este tenha sido o grande diferencial do grupo em relação à mídia tradicional, que ficou isolada, transmitindo do alto de helicópteros e prédios.

Figura 3. Fonte: facebook.com/MidiaNINJA

consIderações fInaIs

Ao analisarmos a produção do coletivo Mídia Ninja e cruzar com as propostas conceituais de Downing (2013) e Peruzzo (2013) sobre as possibilidades de enqua- dramento do grupo foi possível uma aproximação com os conceitos de mídia alterna- tiva, mídia tática, mídia independente, mídia de contrainformação, mídia de terceiro setor e mídia dos movimentos sociais. Já com os conceitos de mídia dos cidadãos e mídia da comunidade existe um grande distanciamento. E com o conceito de mídia participativa existe uma dúvida sobre uma aproximação ou distanciamento, pois existe uma participação, mas ela é condicionada à identificação ideológica.

A relação entre a produção do coletivo Mídia Ninja e as propostas de Canavilhas (2013) sobre a nova configuração da pirâmide deitada foram observadas parcial- mente, porque os níveis um (base lead), três (contextualização) e quatro (exploração) foram constatados, mas o nível dois (explicação) não.

As postagens analisadas nesta pesquisa demonstraram que contêm todas as características da reportagem transmídia, pois foram identificados fragmentos em diferentes meios adaptados, conforme Renó e Flores (2012), como texto, fotos e vídeos. Configurando uma espécie de reportagem transmídia, mesmo sem a utiliza- ção de infográficos e sonoras, mas existe a liberdade de navegação.

Durante a cobertura realizada pelo coletivo Mídia Ninja em junho de 2013,

No documento Jornalismo / Periodismo (páginas 137-147)