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A imprensa esportiva e a primeira visita de um clube de futebol carioca à Espanha e a Portugal

No documento Jornalismo / Periodismo (páginas 46-69)

MArcos PedrosA de souzA

marcos.pedrosa@gmail.com

Secretaria de Estado de Educação do Estado do Rio de Janeiro

Resumo

O ensaio examina a imprensa esportiva da primeira metade do século XX focalizando um dos mais empenhados e emblemáticos profissionais brasileiros do período, o jornalista Mario Filho. Primeiro na prática da reportagem, nos primórdios do jornalismo esportivo, repórter e redator-chefe que foi no Rio de Janeiro das seções esportivas das folhas A Manhã, Crítica (esses dois jornais de seu pai, Mário Rodrigues) e de O Globo, no período que vai até meados dos anos de 1930. Depois como o maior e mais festejado cronista brasileiro, consagrado por sua prática nas páginas do mesmo O Globo, do Jornal dos Sports (diário esportivo de sua propriedade) e da revista Manchete Esportiva, desde 1935 até a sua morte em 1966. O estudo comenta as características da atuação de Mario Filho nesses vários momentos de sua vida profissional, mas se dedicará especificamente a examinar o seu envolvimento com dois dos muitos jogadores de futebol que foram foco de seu interesse e atenção e sobre os quais escreveu passagens memoráveis: o goleiro Jaguaré Bezerra de Vasconcelos e o meia Fausto dos Santos. Jaguaré, conhecido como o Babilônia, o Dengoso, e, finalmente, El Jaguar, atuou, em campos brasileiros, pelo Vasco da Gama, principalmente, e, em campos europeus, pelo Futebol Clube Barcelona, Sporting Clube de Portugal, Leça Futebol Clube, Acadêmico do Porto e Olimpique de Marselha. Fausto dos Santos (ou a Maravilha Negra) foi, como Jaguaré, atleta do Vasco da Gama e do Barcelona e ainda do Young Fellows, suíço. O ensaio tratará especificamente de contrastar a cobertura jornalística do repórter e os escritos do cronista Mario Filho que dão conta da trajetória desses dois atletas, se ocupando particularmente com a primeira excursão de uma equipe brasileira, a do Clube de Regatas Vasco da Gama, a Espanha e a Portugal, em 1931. Esse momento oferece amplo material para se entender algumas questões importantes como a chegada de atletas mulatos e negros a condição de destaque entre os jogadores brasileiros em uma época que marca o começo da profissionalização do futebol no Brasil. Através de uma pesquisa apoiada na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional e de arquivos de jornais periódicos recentemente disponibilizados na Internet além da consulta à bibliografia de Mário Filho (1994; 2004) traça-se um perfil sobre esse jornalista e um painel acerca desse momento importante da imprensa brasileira.

Palavras-Chave: Imprensa esportiva: futebol; Mario filho

Mario Filho acabou com o craque perfilado como se estivesse ouvindo o Hino Nacional. O craque aparecia em pleno movimento, crispado no seu esforço. E as figuras plásticas,

elásticas, acrobáticas, enchiam as páginas de tensão e dramatismo

Nelson Rodrigues

Introdução

O Brasil foi uma das últimas nações das Américas (espanhola e inglesa) a conhe- cer a imprensa. A implantação e o início da atividade de circulação de periódicos

impressos em terras brasileiras só foi ocorrer em 1808 com a vinda da família real portuguesa que trouxe prelos junto com mangueiras de origem indiana nos porões da Medusa. Se a imprensa chegou, portanto, tarde nesse país continente, o jorna- lismo esportivo local, por outro lado, acompanhou celeremente e com desenvoltura esse fenômeno típico da cultura do século XX que foi o esporte como espetáculo de massas. Nos primórdios da imprensa esportiva brasileira e por ocasião de sua consolidação, um nome se distinguiu de sobremaneira, o de Mario (Rodrigues) Filho (1908-1966).

Trata-se de um dos mais empenhados e emblemáticos jornalistas esportivos do período. Nesse ensaio iremos acompanhá-lo em sua prática na cidade em que viveu e exerceu toda sua vida profissional, o Rio de Janeiro. Primeiro o veremos como repór- ter e redator-chefe que foi das seções esportivas das folhas A Manhã, Crítica (esses dois jornais de seu pai, Mario Rodrigues) e de O Globo, no lapso de tempo que corre entre 1925 até meados dos anos de 1930. Depois como um dos maiores e mais feste- jado jornalistas brasileiros, consagrado por suas crônicas nas páginas do mesmo O

Globo, do Jornal dos Sports (diário esportivo de sua propriedade) e da revista Manchete Esportiva, no período que vai de 1935 até a sua morte em 1966, aos 58 anos.

Serão comentadas as características da práxis de Mario Filho nesses vários momentos de sua trajetória profissional, mas será dedicada atenção especial ao seu envolvimento com dois dos muitos jogadores de futebol que ele acompanhou de perto, com interesse redobrado e sobre os quais escreveu passagens memoráveis: o goleiro Jaguaré Bezerra de Vasconcelos e o centro-médio Fausto dos Santos. Jaguaré, conhecido como o Babilônia, o Dengoso, e, finalmente alcunhado Le Jaguar pelos franceses, atuou, em campos brasileiros, pelo Clube de Regatas Vasco da Gama, prin- cipalmente, e, em campos europeus, pelo Futebol Clube Barcelona, Sporting Clube de Portugal, Leça Futebol Clube, Acadêmico do Porto e Olimpique de Marselha. Fausto dos Santos (ou a Maravilha Negra) foi, como Jaguaré, atleta do Vasco da Gama e do Barcelona. Jogou ainda pelo Young Fellows, suíço, e encerrou sua carreira no Clube de Regatas do Flamengo.

O ensaio tratará de contrastar a cobertura jornalística do Mario Filho repórter e redator-chefe com as do Mario Filho cronista e ensaísta. Particularmente as que dão conta de passagens especiais no percurso da carreira desses dois atletas, se ocupando sobretudo com a primeira excursão de uma equipe carioca, a do Vasco da Gama, à Espanha e a Portugal, em 1931. Esse momento oferece amplo material para se enten- der algumas questões importantes na cena futebolística brasileira como a chegada de atletas negros e mulatos a condição de destaque entre os jogadores brasileiros em uma época que marca o começo da profissionalização do futebol no Brasil. Através de uma pesquisa amparada na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional e nos arqui- vos digitais do jornal O Globo, recentemente disponibilizados na Internet, além da consulta à bibliografia de Mário Filho, traça-se um perfil sobre esse jornalista e um painel acerca desse momento importante da imprensa esportiva brasileira.

a trajetórIade MarIo (rodrIGues) fIlho1

O clã dos Rodrigues esteve sempre ligado ao jornalismo e, em família com um número grande de pessoas talentosas tanto para as artes gráficas como para a escrita, os nomes dos irmãos Mario Filho e Nelson Rodrigues acabaram por conse- guir se destacar e ocupar um lugar de relevo na imprensa brasileira, considerados que são dois dos maiores cronistas esportivos que o país conheceu no século XX. Como a maioria de seus quatorze irmãos (sete homens e sete mulheres), eles inicia- ram sua vivência jornalística por intermédio do pai, Mario Rodrigues (1885-1930).

Nascido no Recife, Mario Rodrigues se formou em direito com distinção. Ficou em primeiro lugar na turma de 1909 da Faculdade de Direito do Recife em que também colou grau Gilberto Amado (renomado escritor e diplomata, primo de Jorge Amado), o que lhe valeu uma viagem à Argentina e ao Chile, oportunidade em que teve a chance de entrar em contato com o jornalismo praticado nesses países. Com uma paixão por jornais que curiosamente cultivava desde pequeno, Mario Rodrigues, de maneira semelhante a outros tantos advogados da época, nunca exerceria a profissão para a qual fez seus estudos. Optaria por dedicar toda sua vida profissional à imprensa. Quando se avizinha dos seus 18 anos já aparecia como revisor e depois redator do Jornal do Recife (jornal que tinha em seus quadros o jornalista e futuro empresário Assis Chateaubriand e o jurista Barbosa Lima Sobrinho e viria a contar ainda, anos depois, com as contribuições do escritor José Lins do Rego) para dois anos mais tarde, em 1910, fundar seu primeiro veículo impresso, o Jornal da República. Com uma verve polemista incontrolável, Mario Rodrigues se viu envolvido em muitos atritos e embates políticos ao longo de seu percurso profissional, o que chegou a levá-lo à cadeia. Numa época em que as desavenças no plano das crenças políticas eram freqüentemente resolvidas a tiro, o jornalista teve ocasião de se ver correndo de uma saraivada de balas. Em função das perseguições que sofreu no Recife e como conseqüência do declínio político de Emídio Dantas Ribeiro, pessoa que o ajudara a fundar sua primeira folha jornalística, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1915.

Na então capital da República, trabalhou de início como redator parlamen- tar do jornal Correio da Manhã e depois veio a surgir como proprietário das duas folhas impressas com as quais fez o seu nome no jornalismo brasileiro: A Manhã, entre 1925 e 1929, e Crítica, nos anos de 1929 e 1930. Mario Rodrigues morrerá prematuramente aos 44 anos no dia 15 de março de 1930, sete meses antes de seu jornal ser empastelado como se dizia naquele tempo (ou depredado e extinto) pelas confusões de rua do movimento político que colocará no poder em outubro desse ano uma das muitas “revoluções”, ou golpes oportunistas, que marcaram a história brasileira do século passado.

Neto de Francisco Rodrigues, o Barba de Fogo, e, como alguns de seus irmãos, autêntico exemplar dessa minoria que são os ruivos, Mario Filho nasceu como seu pai no Recife. Em 1916, quando Mario Rodrigues ainda lutava para se estabelecer 1 As fontes bibliográficas usadas para se traçar a trajetória de Mario Filho são: Rodrigues, Nelson, 1993; Rodrigues, Stella,

no Rio de Janeiro, o pequeno Mario Filho, aos oito anos de idade, foi trazido com a mãe, Maria Esther, e seus cinco irmãos recifenses (Milton, Roberto, Stella, Nelson e Joffre) para a cidade onde viveria por toda a sua existência. Desempregado durante um breve período, Mario Rodrigues retomará logo suas atividades. Aparece de início como redator do Correio da Manhã, veículo com o qual foi colaborar por convite do proprietário dessa importantíssima folha carioca, Edmundo Bittencourt. No Correio

da Manhã, Mario fez o que sabia fazer como poucos: atacar seus desafetos políticos.

Viveu céu e inferno com o chefe Edmundo Bittencourt em função disso. Até que em dezembro de 1925 conseguiu se desentender de vez com Bittencourt, se tornou sócio e assumiu A Manhã, voltando a comandar um jornal por conta própria e ao seu estilo.

Com uma folha jornalística de sua propriedade em circulação, Mario Rodrigues tratará, de forma semelhante a outro empresário e jornalista do ramo, Ireneu Marinho (1876-1925; fundador de A Noite e depois de O Globo e falecido em meados do ano)2, de utilizá-la para defender, dentro do nascente espírito republicano, o cidadão comum contra interesses políticos. A edição que inaugura seu comando informará que o matutino “se apresenta sem ligações com o industrialismo e a política”. Há um incidente que celebrizou A Manhã por conta das ousadias de seu proprietário: a distri- buição de dinheiro, oriundo de uma tentativa de suborno, entre a população pobre.

Mario Rodrigues trata de imediato de aproximar seus filhos da rotina de sua empresa jornalística. Mario Filho e três de seus irmãos, Milton, Roberto e Nelson, serão vistos nos anos que se seguirão ajudando a produzir conteúdo em quantidade para essa folha matutina. Os três primeiros contribuindo com textos, e Roberto, com seus desenhos e caricaturas que aperfeiçoara na Escola Nacional de Belas Artes na turma em que veio a conhecer aquela que seria uma pessoa muito próxima da família, o então desconhecido pintor Cândido Portinari. Ainda muito novos, os filhos de Mario Rodrigues estavam iniciando sua jornada na imprensa ao lado de pessoas que teriam importância fundamental dentro da cultura e da imprensa brasileira nos anos seguintes: Monteiro Lobato, Agripino Grieco, Ronald de Carvalho e Danton Jobim, entre muitos outros.

A Manhã circulava com oito páginas de terça-feira a sábado e com doze aos

domingos. Não havia edição às segundas-feiras. Milton, Mario Filho e Roberto são aqueles que vão de pronto se iniciar na rotina da redação. Os dois primeiros escre- vendo, embora Mario respondesse pela tarefa adicional de cuidar da parte admi- nistrativa no cargo de gerente. A Manhã costumava duplicar o seu frontispício na primeira e última página e às vezes mesmo em uma das páginas internas. A capa apresentava as notícias do país e do mundo e a contracapa uma coleção de faits-

-divers, típica das publicações do período. A página três era uma espécie de espaço

dos editorialistas. Nela, Mario Rodrigues ocupava a parte central. Do alto até o meio da página distribuía suas diatribes, atacando todos os seus inimigos políticos e todos aqueles que em sua opinião andavam ludibriando os cidadãos da República.

2 Para uma aprofundamento do percurso de Irineu Marinho ver Carvalho, Maria Alice Rezende de Carvalho. Irineu Marinho –

Mario Filho não fará sua estréia na seção “Sport em terra, no mar e no ar”, que com freqüência ocupava boa parte da página seis (quando não a página inteira). Aos dezessete anos, em janeiro de 1926, ele tinha ambições literárias. Vai começar a publicar contos onde houver espaço no jornal e logo será presença constante na seção “Arte e Cultura”, que ganhava a página sete das edições de domingo. São tantos os contos que logo terá pronto seu livro de estréia que reunirá toda a produção do jovem autor no tomo Bonecas, editado pela gráfica do pai em outubro de 1926. Em julho do ano seguinte já terá um segundo trabalho para ser impresso: Senhorita mil

novecentos e cinqüenta.

Em setembro de 1927, aos dezenove anos, se casa com aquela que seria sua companheira de toda a vida, Célia Maria Neves de Mello, que muito menina contava apenas quinze anos na ocasião. Em dezembro de 1927, segue afiando sua produ- ção ficcional com A Mulher de Todo Mundo. Aparecerá ainda fazendo crítica teatral e mesmo vez ou outra publicando um conto. A partir de abril de 1928, no entanto, passa a posição de redator-chefe de A Manhã. Começa então a se dedicar a seção de esportes do jornal, mudando completamente seu foco de interesse. O momento marcará na página esportiva a introdução de uma nova abordagem no trato da reportagem, revelando aquela que seria a maneira muito peculiar de Mario Filho se envolver com atletas, técnicos, dirigentes de clubes e todas as pessoas relacionadas com o mundo dos esportes.

Qualquer informação importante colhida em ambiente informal (uma mesa de bar, no transporte urbano, por exemplo) podia virar assunto de um texto a ser publicado. Surgem ainda entrevistas com amplo registro fotográfico em que se abre espaço para que o leitor se aproxime mais da realidade dos atletas que todos viam apenas nos gramados da cidade. Muitos desses atletas seriam convidados a visitar a redação de A Manhã e Crítica. Entre os muitos esportistas brasileiros e estrangeiros com os quais Mario Filho estabeleceu contato e estreitou relacionamento, dois joga- dores se projetarão de maneira insistente nas páginas dos jornais de seu pai, Jaguaré Bezerra de Vasconcelos e Fausto dos Santos, assunto desse ensaio.

Jaguaré despertou logo o interesse de Mario Filho que não perdeu tempo em festejá-lo como pode tanto em A Manhã como em Crítica. Fausto dos Santos custará um pouco mais a ganhar a adesão afetiva do jornalista, mas também acabará sendo assunto de muitas reportagens. Os dois estarão ainda e ao lado de futebo- listas importantes como Arthur Friedenreich, Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Garrincha, Pelé e tantos outros craques, nas crônicas memorialistas que irá escrever quando se firmar como um grande nome na imprensa brasileira.

Dois fatos trágicos marcam a passagem do ano de 1929 e o começo de 1930 na trajetória de vida de Mario Filho. No dia 26 de dezembro de 1929, Crítica publica uma reportagem de capa que trazia os detalhes sobre o divórcio da jornalista Silvia Serafim Thibau, “uma escritora moderna” e “[r]einvindicadora dos direitos da mulher nesse século”, segundo o autor da reportagem, Erastóstenes Frazão. Na reportagem não assinada, Frazão insinuava que o motivo real da separação de Silvia de seu

marido era um caso extra-conjugal, que a jornalista estava tendo com o radiologista João de Abreu (na verdade, Manuel Dias de Abreu, inventor da abreugrafia). No dia seguinte, Silvia vai ao jornal e, não encontrando Mario Rodrigues, saca uma arma e atira em Roberto Rodrigues, que morreria em poucos dias no hospital. Roberto tinha sido o autor do desenho que ilustrava a reportagem de capa. Três meses depois, era Mario Rodrigues que morria de um derrame (talvez como conseqüência do desgosto que experimentou pela perda do filho). Diante desses fatos trágicos, Mario Filho terá de assumir o jornal do pai com o irmão mais velho, Milton. Levam a situação até outubro desse ano quando o golpe militar que colocaria Getúlio Vargas no poder turva o futuro jornalístico dos Rodrigues.

Entre o final de 1930 e o início de 1931, a família passa por sérias dificuldades. A salvação foram as mudanças que ocorreram no jornal O Globo. Com a morte do editorialista, Eurycles de Mattos, em maio de 1931, o filho mais velho de Ireneu Marinho, Roberto Marinho (1904-2003), assume a direção da folha jornalística e convida Mario Filho, seu amigo particular de noitada de sinuca no Liceu de Artes e Ofícios, para dirigir a seção de esportes. A chegada de Mario Filho à redação de O

Globo, trazendo os irmãos, Nelson e Joffre para trabalharem na trincheira esportiva,

será a oportunidade para que a experiência iniciada em A Manhã e Crítica tenha continuidade. Ainda que lentamente, Mario Filho irá imprimindo seu estilo ao noti- ciário, agora com respaldo de uma seção extremamente estruturada, resultado dos cuidados editoriais de cinco anos de trabalho sério e rigoroso de Eurycles de Mattos. É por essa época que o Clube de Regatas Vasco da Gama, que havia sido campeão carioca de 1929, irá fazer aquela que entrou para a história como a excur- são inaugural de um time de futebol do Rio de Janeiro a Portugal e à Espanha, com os atletas Jaguaré e Fausto em seu quadro. Mario Filho estreará, portanto, em um momento importantíssimo para o futebol brasileiro.

Mario Filho seguirá na reportagem de O Globo até meados dos anos de 1930. Em outubro de 1936, adquire o Jornal dos Sports3, um diário estritamente esportivo que existia desde 1931 e que replicava no Brasil o L´Équipe, Francês, e o Gazzeta dello

Sport, Italiano. Depois do fim dos jornais de sua família, essa é a segunda tentativa

de Mario Filho de ter um jornal voltado exclusivamente para o noticiário esportivo. Houve a experiência anterior em Mundo Sportivo, depois que se firmou como coorde- nador da seção de esportes de O Globo, mas que durou poucos meses. Para se tornar proprietário do Jornal dos Sports, Mario Filho teve de recorrer de novo a Roberto Marinho, que ajudou tanto financeiramente como cedendo a gráfica de O Globo para que o jornal fosse ali rodado. Ajudaram ainda como sócios José Bastos Padilha, presi- dente do Clube de Regatas do Flamengo (no futuro se tornaria concunhado de Mario Filho) e Arnaldo Guinle, rico empresário, ex-presidente do Fluminense Football Club e da Confederação Brasileira de Desportes (hoje, Confederação Brasileira de Futebol, 3 Para um conhecimento mais detido sobre as características do Jornal dos Sports consultar: Hollanda, Bernardo Borges de.

“O Cor-de-Rosa: ascensão, hegemonia e queda do Jornal dos Sports”. In: Hollanda, Bernardo Borges Buarque de e Melo, Victor Andrade de (org.). O esporte na imprensa – e a imprensa esportiva no Brasil. Rio de Janeiro, 7Letras, 2012.

CBF). Anos depois, Mario Filho ficará como único dono desse jornal impresso em papel cor-de-rosa.

Dando expediente integral no Jornal dos Sports, sobrará tempo apenas para seguir como cronista com uma coluna em O Globo. Trata-se da afamada “Da primeira fila”, em que vai rememorar nos anos de 1942 suas vivências como repórter e redator em crônicas antológicas. Uma seleção desses escritos será posteriormente alinha- vada como uma narrativa contínua no livro O negro no futebol brasileiro, que ficou célebre a um só tempo por dar conta da história do futebol brasileiro e carioca e

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