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Evolução da literatura através do comentário crítico crônica internet e arte: a crônica é um exercício de metamorfose

No documento Jornalismo / Periodismo (páginas 83-94)

renAtA Koury

renatakouryrb@yahoo.com.br

Universidade de Marília

Resumo

Retrospectiva da literatura nacional até 1880. Notas sobre a importância do jornalismo literário na formação de um público para os escritores, divulgação de suas obras e meio de subsistência dos mesmos desde a criação da imprensa. A importância da crônica- o amadurecimento do comentário crítico, literatura e arte, a internet, e suas influências na produção cultural em comunidade. Observações a respeito do amadurecimento da cultura: a passagem da oralidade para a linguagem escrita; formação da literatura feminina e de minorias em países colonizados utilizando-se do formato da crônica para construção deste texto.

Palavras-Chave: Literatuta brasileira; jornalismo literário; comentário crítico; crônica; internet

a crônIca éuMexercícIodeMetaMorfose

Tudo começou em Paris em de 1833 a 1836, com uma elite composta por um grupo de românticos empenhados em produzir artigos científicos e uma lite- ratura nacional, composto por: Domingos José Gonçalves de Magalhães, Manuel de Araújo Porto Alegre, Francisco de Sales Torres Homem, João Manuel Pereira da Silva, Cândido de Azevedo Coutinho.

Estes mesmos escritores se uniram em 1837 a Basílio; Durão; Sousa Caldas; Monte Alverne; Januário da Cunha Barbosa; José Bonifácio e Evaristo Veiga para produzir o Parnaso de Januário e a Revista Niterói- ponto de partida da produção literária brasileira.

O resultado foi que em 1936 circulava a Revista Brasiliense de Ciências Letras e Artes que em dois números resumia o essencial da nova teoria literária, cuja epígrafe “Tudo pelo Brasil e para o Brasil” mostra-nos o caráter nacionalista tempe- rado aos preceitos religiosos que permeiam a produção cultural desta época, em essência romântica.

Segundo Candido de Andrade, o indianismo entre a década de 1840 e 1860 foi marca registrada de Gonçalves Dias e José de Alencar, clara reação ao colonizador buscando uma identidade.

Nesta fase de nossa literatura o índio é reinventado nos moldes da nobreza européia, um cavalheiro; como podemos verificar em obras como: Os primeiros Cantos de Gonçalves Dias (1846 até 1865), ou em Os outros Cantos de Gonçalves Dias; Os Timbiras, O Guarani, Iracema; A Confederação dos Tamoios e Americanas

- poesias indianistas compostas por Machado de Assis ; declamadas por ele em meados de 1875.Nesta época teremos em oposição a produção de Porto Alegre (cujo posicionamento era receoso e reticente) e a de João Francisco Lisboa ( de estilo historiador), que defende a posição de que o romantismo distorce a realidade.

Românticos como Balzac, Nietzche, Laclos, Sthendal,Vigny, Goethe,Shelley e o Marquês de Sade apresentavam todo um pessimismo avesso as regras, marcando a individualização do homem e suas angústias e solidões, idolatrando a morte.

Castro Alves foi um romântico, ícone na luta pela independência e contra a escravidão.

José de Alencar, Castro Alves, Rui Barbosa, e Olavo Bilac abrilhantaram nossa literatura nesta fase romântica, sofrendo fortes influências da língua e música italiana e toda sua cultura, que se insinuam na métrica de seus respectivos poemas.

Martins Pena é lembrado por produção teatral, assim como Gregório de Matos foi tido como escritor maldito e Balzac por abordar os costumes da época,afirma Candido em detalhes da literatura nacional florescendo:

As contradições profundas do romantismo encontraram neste gênero o veículo ideal. A emoção fácil e o refinamento perverso; a pressa das visões e o amor ao detalhe; os vínculos misteriosos, a simplificação dos caracteres, a inconti- nência verbal- tudo nele se fundiu, originando uma catadupa de obras do mais variado tipo, que vão do péssimo ao genial. É característico do tempo que esta escala qualitativa se encontra freqüentemente no mesmo autor, como Vitor Hugo Balzac, Herculano, Alencar - os escritores mais irregulares que se pode imaginar numa certa ordem de valor (Candido, 1980: 110).

O Grupo Maranhão criou as revistas Minerva Brasiliense (1843-1844) e Guanabara (1849-1855). Sob influência do romantismo de 1936 a 1846 afloram as obras de Gonçalves de Magalhães e Porto Alegre: As Brasilianas (1863).

Gonçalves Dias se consagrou por seu estilo clássico e Castro Alves pela ousa- dia, segundo nos destaca o autor. Para Antônio Cândido, a literatura deste período era pouco expressiva e cheia de boa moral, “bons costumes” e falsos tipos nobres. ”Nacionalismo na literatura brasileira consistiu basicamente, como vimos, em escre- ver sobre coisas locais; no romance, a consequência imediata e salutar foi a descri- ção de lugares, cenas, fatos, costumes do Brasil” (Candido, 1980: 112).

O romance nacional nasceu regionalista e de costumes tendendo para descri- ção dos tipos humanos e formas de vida social e os romances históricos apresentam as mesmas características.

Encontramos estas influências em todas as obras do decênio de 30 (sejam de Teixeira Pinto, Manuel Antonio de Almeida, Bernardo ou José de Alencar - que deixou para a literatura nacional obras como Lucíola, O Sertanejo, Iracema, nas quais aonde a narrativa é determinada pelo espaço- cidade, campo, selva; ou ainda: urbano, rural, vida primitiva).

Nacionalista e religiosa, engajada social e moralmente com os costumes da época, a produção literária prossegue com pequenas edições de revistas e a poesia de Francisco Otaviano; obras de Machado de Assis; Bernardo Guimarães; Eça de Queiroz; Joaquim Manuel de Macedo; Franklin Távora; Taunay.

No amadurecimento da obra de Machado de Assis, apreciamos a pesquisa de valores espirituais, num plano universal, o conhecimento do homem e da sociedade local, comenta Antonio Cândido: “Um eixo horizontal e um vertical cujas coordena- das delimitam, para o grande romancista, não mais um espaço geográfico ou social, mas simplesmente humano, que os engloba e transcende” (Candido, 1980: 115).

O decênio de trinta foi época áurea das traduções, obras de George Sand, Mérimée, Chateubriand, Balzac, Goethe, Irving, Dumas, Vigny entre outros escritores, influenciaram nossos escritores.

As obras eram publicadas em folhetins (o que prejudicava um pouco a susten- tabilidade de uma criação literária nacional).

Observamos que a formação de nossa literatura se dá pela divulgação das obras dos autores através dos jornais nos quais as obras ganham espaço e vida na emoção dos leitores; e arroz e feijão, o sustento, moradia e prestígio para os escrito- res da época. O Aniversário de D. Miguel de 1928 e Religião Amor e Pátria escritos em 1838 assim como Jerônimo Corte Real em 1840 e Amância; escrito por Magalhães e publicado na Minerva Brasiliense em 1844, As Duas Órfãs, obra prima de Norberto publicada em 1841 seguida por Maria em 1843; podem ser textos avaliados como contos ou novelas pela dimensão - considera Antônio Cândido.

Nosso primeiro romance que atende todas as características do gênero é O filho do pescador de Teixeira e Sousa, 1843.

Logo depois nos deparamos com o romance A Moreninha, datado em 1844 e O Moço Loiro escrito em 1845, ambos de Macedo.

A possibilidade de transgredir as normas, a rejeição ao maniqueísmo e uma busca de liberdade na expressão ganhou corpo no romantismo, pressagiando o romance moderno, movidos por influências dos pensadores europeus, que traduzi- dos pelos folhetins, amadureciam o pensamento e a filosofia local.

Através da antropofagia, mimese, ironia, comédia, nossos autores usam da ficção para expressar-se artisticamente, transgredir as regras e falar verdades, ter pensamentos próprios burlando o colonizador e a ditadura.

O romance-moderno ganha corpo na digestão de personagens densos, profun- dos e contraditórios, com defeitos e qualidades- espelhando assim nossa humani- dade e imperfeições, apresentando um foco narrativo que marca um tempo e espaço interior, com fluxo de consciência.

Com o aparecimento da ficção houve maior abrangência nas idéias, o que se refletiu nas obras e estilos, assim como na percepção e participação do público criado através dos folhetins

Deste amadurecimento psicológico nos personagens, percebemos uma profun- didade maior nas histórias dos romances, percebemos a influência nos escritores locais evoluindo seus personagens até então maniqueístas para personagens mais humanos, refletindo estas evoluções da literatura Européia na produção nacional.

“Ao gozo, ao gozo amiga. O chão que pisas

Nascem conceitos e amadurecem talentos no cenário nacional que se beneficiam com esta troca de experiências culturais; atualmente conhecido por intertextualidade, resultando em nossa iniciação à literatura pós-colonial ou literatura de resistência.

“Se em certos autores contemporâneos, como os que se afogam na corrente da consciência, o processo atinge por vezes a um exagero inversamente pernicioso, certo é que a grande era da ficção , aberta pelos franceses e ingleses do século dezoito , encerrada quem sabe por Marcel Proust , James Joyce e Kafka representa o triunfo do personagem sobre a peripécia” (Candido,1980: 128).

Os românticos eram doces e perversos, suspiravam pela morte e evocavam a vida e suas pequenas delicadezas, desvios, vícios, cujo pessimismo e humor negro, o sarcasmo andavam de mãos dadas com a singeleza e a ternura, num desequilíbrio celebrado.

”Por isso Junqueira Freire falhou como padre, Casimiro como caixeiro, Laurindo como médico, Varela como tudo. Por isso o advogado Aureliano Lessa caía de bêbado na rua e o juiz de Catalão, Bernardo Guimarães era demitido a bem do serviço. Por isso o melhor estudante da academia de São Paulo, Manuel Álvares de Azevedo, morreu antes de obter o canudo de bacharel. Todos eles escolheram as veredas mais perigosas...” (Candido, 1980: 151).

Candido fez referencia a todos os escritores de relevância da época, nenhuma autora foi citada. (Nota-se a ausência de referências femininas- a mulher é excluída das instituições.) Seguindo as observações Candido sobre cada autor, tomamos conhecimento de qualidades e particularidades de todos os escritores nacionais que marcaram época:

Joaquim Manuel de Macedo ficou conhecido por suas novelas de personagens. Junqueira Freire com seu estilo clássico, cuja sensualidade reprimida e dor eram latentes em sua obra; Laurindo Rabelo é lembrado como o poeta das flores. Bernardo Guimarães, eleito o poeta da natureza: denso e cheio de controvérsias foi um excelente contador de casos privilegiando o espaço em suas narrativas.

Álvares de Azevedo será imortal por sua precocidade e intensidade- na obra que transparece sua inteligência brilhante, tolhida pela morte, aos 20 anos.

Casimiro de Abreu deixou versos harmoniosos, simples e sensuais.

Manuel Antônio de Almeida ficou conhecido pelo romance picaresco Memórias de um sargento de milícias, que pode ser aproximado do romance picaresco espa- nhol, com uma observação superficial mesclada á ironia, desencanto, cinismo com sua visão direta da sociedade de costumes pressagiando a obra de Machado de Assis.

José de Alencar aos 27 anos; estréia seu primeiro poema de vida real: Cinco minutos- no Correio Mercantil. Publicou O Guarani em 1857; Lucíola em 62, Iracema em 1865 e Senhora em 1875.

Surgem as tendências naturalistas e o poeta Augusto dos Anjos cuja “embria- guês da terminologia científica, a visão materialista da carne corrupta e as taras fisio- lógicas, são a derradeira manifestação daquele sentimento romântico da morte...”. (Candido, 1980: 290.)

Podemos confirmar as influências dos autores europeus e o progresso de nossa literatura em José de Alencar, que cita em 1872, no prefácio de seu artigo Sonhos D’Ouro:

“A literatura nacional, que outra coisa é senão a alma da pátria, que transmigrou para esse solo virgem com uma raça ilustre, aqui impregnou- se da seiva ameri- cana desta terra que lhe serviu de regaço; e cada dia se enriquece ao contacto de outros povos e ao influxo da civilização?” (Candido, 1980: 290).

Machado de Assis aprofunda estas idéias em artigo publicado em 1873: “Instinto de Nacionalidade”, comentando justamente o amadurecimento da fase do indianismo romântico na literatura nacional cuja produção se resumia praticamente até então a temas religiosos, regionais e primitivos.

Com uma visão mais abrangente e liberta da euforia nacionalista e regionalista que interfere numa produção visivelmente engajada, Machado de Assis contribui com estes pensamentos transpostos em uma obra mais focada e densa na humani- dade, que converte conceitos menos arraigados e mais universais numa produção de contos cuja magnitude encanta gerações e marca fronteiras em nossa literatura.

“Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente deve prin- cipalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferecem a sua região; mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço”. Machado de Assis (Candido, 1980: 368).

Machado de Assis inaugura com este texto uma nova fase de pensamento, num grito de liberdade que repercutirá posteriormente em suas obras e em nossa literatura, nas palavras da criteriosa análise de Antonio Candido sobre o surgimento da literatura nacional.

Pelas observações de José de Alencar e Machado de Assis em seus artigos, podemos concluir que os conceitos de antropofagia, intertextualidade e literatura pós- colonial parecem ser velhos conhecidos de nossos pensadores.

(Embora estes conceitos fossem utilizados instintivamente, ainda não possuíam estas nomenclaturas.)

O jornalismo literário foi o responsável pela formação da literatura, sustenta- ção e fomentação de escritores assim como a divulgação de seus talentos e de um público para os autores no Brasil a exemplo dos países Europeus e das suas colônias.

a evoluçãodopensaMentocrítIco, roManceModerno, conto, crônIca eoespírIto dosteMpos

(...) “Trata-se, antes de tudo, de um processo de desmascaramento do mundo epidérmico, do senso comum. Revelando espaço e tempo- e com isso o mundo empírico dos sentidos-como relativos, ou mesmo como aparentes, a arte moderna não fez senão reconhecer o que é corriqueiro na ciência e filosofia. Duvidando da posição absoluta da “consciência central”, ela repete o que faz a sociologia do conhecimento, com sua reflexão crítica sobre as posições ocupadas pelo sujeito cognoscente” (...) (Rosenfeld,1969: 79).

A literatura é uma fotografia do pensamento científico, religioso, sociocultu- ral e mítico e místico de uma época cuja produção orienta o amadurecimento da cultura de um povo.

Atualmente a produção cultural circula em mídias diversas, sendo a internet a que mais dá visibilidade a estas obras e atividades artísticas, profissionais, etc; influindo em uma maior produção de obras e novos talentos em evidência.

O conhecimento e a expressão da arte, agora são compartilhados universal- mente através da internet entre grupos de afinidades em redes sociais.

Embora o ensino ainda seja ritualístico e excludente, resultando em uma elite de artistas e escritores, pesquisadores e doutores das ciências- a internet veio para socializar estas faculdades resultando em maior acessibilidade ao aprendizado, e produção artística.

Raramente utilizada neste sentido pelas comunidades, observamos que pouco a pouco, autores se apropriam deste meio de comunicação para dinamizar estes processos culturais e artísticos.

O romance moderno tem duzentos anos, quase a idade em que a literatura feminina ganhou corpo da oralidade para a linguagem escrita- como podemos tomar conhecimento através do ensaio de Virgínia Woolf “Um teto todo seu” ensaio científico escrito em 1928 que mostra um panorama da mulher no cenário literário da época.( Lembremo-nos que em momento algum a mulher foi citada por Cândido na formação da literatura nacional.)

Mulheres não tinham acesso ao ensino, utilizando-se assim do comentário e de contar histórias para a educação de seus filhos.

No romance moderno o fluxo de pensamento (até então bastante indigesto para a época) incorpora a introspecção espelhando comportamentos e subterfúgios femininos na linguagem e nas obras.

Mecanismos de resistência como a dissimulação, a ironia, mimese, sutilezas e subterfúgios de um sexo até então renegado como ser pensante, com seus dons artísticos enclausurados aos pensamentos, tomaram as páginas em branco e ganha- ram expressão feminina espelhando seus trunfos e estratégias.

Duplamente colonizada, sofrendo o impacto da cultura patriarcal e dos invaso- res, a cultura de contar histórias atravessou gerações.

A mulher, na educação de seus filhos, repassa seus valores socioculturais e artísticos através da oralidade- comentários críticos e histórias, “causos”, milagres, fatos. A esperança do sonho, a fantasia, o fantástico.

Tendo para si o ensino e demais instituições negadas: entre alma, inteligên- cia, permissão de posses, sem proteção de leis, direito ao trabalho e expressão – a mulher foi pioneira na transgressão de regras e leis sociais e institucionais.

Enfrentando barreiras cotidianamente, desenvolveu mecanismos de resistên- cia: a arte do subterfúgio e sutilezas adquiridas em séculos de sobrevivência ao massacre da cultura patriarcal transpostos da oralidade em sua produção literária.

Alforriadas pela ausência de mão de obra após a segunda guerra na Europa, a mulher ganha existência política e religiosa, tem direito á propriedade e à acesso ao

trabalho para gerir sua subsistência, usadas para substituir a mão de obra escassa devido às mortes em massa do sexo masculino, para atender as necessidades da indústria e produção em massa.

A primeira oportunidade de subsistir com literatura residia em trabalhar em jornais- principal veículo de informação impressa, na publicação de poemas, roman- ces, novelas, contos, crônicas.

Ainda hoje, o jornal segue dando espaço para revelações de escritores e escri- toras que ganharam o apreço popular e seu sustento graças a suas publicações como: Edgar Allan Poe, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Hilda Hillst, Clarice Lispector, Eliane Brum, Mia Couto.

Assim, podemos concluir que o jornalismo literário foi berço universal e fomento da literatura por toda Europa: França, Espanha, Itália, Portugal.

Brasil e países de língua portuguesa apresentam a mesma trajetória, assim como sucedeu- se em toda cultura ocidental. Os brasileiros, desde os tempos de João do Rio, acrescentaram ao estilo Europeu nossa ginga na escrita, sendo a crônica o gênero da história da nossa literatura mais reconhecido mundialmente. Há quem acredite até que a crônica é um estilo local parida e criada no Rio de Janeiro, tão bem se deu aqui, que assim como o café e a cana de açúcar, é considerada nossa maior riqueza, patrimônio nacional.

Uma paixão, assim como o futebol, arroz com feijão, rapadura e farinha de mandioca: esta chacoalhada na toalha, risada alta, o recado dado de forma irônica e de “sopetão”: nosso jeito de contar história: um pouco de verdade aqui, um faz de conta de lá, exageros e muito mais.

Crônica, é a epifania do cotidiano transformada em texto artístico, desper- tando-nos a emoção para um insite com a brevidade de um relâmpago.

Um despertar para o fato seja por meio do jornal, revista ou livro, este é um escrito de forma condensada, próximo ao conto e à poesia.

A crônica insere no jornal uma pitada de atrevimento, um toque de persona- lidade ao corriqueiro magistralmente registrado dando asas e liberdade ao fato, um olhar inusitado. Acentuando o drama, com mais ou menos fantasia e usando do humor, faz-se conhecer como gênero caracteristicamente brasileiro. Podemos dizer que a crônica é raiz e origem da literatura nacional, inaugurando-se em nosso terri- tório com a histórica carta de Pero Vaz de Caminha.

Estilo herdado da época medieval quando trovadores misturavam a fantasia aos contos e a mitologia criando fábulas e histórias que se mesclavam aos aconte- cimentos da época.

Narrando os anseios e fatos das civilizações: conquistas, batalhas, reinados, coisas do folclore e pinceladas da cultura grega, egípcia, oriental e dos índios latino- -americanos, precede todos os gêneros e historiadores, a crônica é fundamental e base da literatura de toda e qualquer expressão cultural.

Caracterizar a crônica como “estilo ou gênero menor” é desconsiderar a própria origem da história letrada, pois a crônica sucede a literatura oral, se encarregando de disseminar as narrativas que marcam a época da cultura de um povo.

Com a invenção da prensa, o surgimento dos jornais e das editoras, este gênero foi retomado na França, Espanha e, Portugal, EUA, introduziu- se em nossa cultura como ponte entre a cultura elitizada e a cultura popular, mais especificamente atra- vés do jornalismo literário.

Podemos observar a repetição destes eventos em países Africanos de língua portuguesa como Angola, Moçambique, Cabo Verde.

O jornal proporcionou aos países colonizados e minorias a produção de suas literaturas, O hábito e possibilidade de acesso a livros ou editar obras era muito elitizado, portanto restrito. Basta considerar que se a mulher não tinha acesso ao ensino, metade ou mais da população era iletrada. (Para nos conscientizarmos da dimensão do analfabetismo.)

Assim, os folhetins e a inclusão da mulher possibilitaram também a formação de um público para os escritores das minorias nos países ocidentais expandindo as idéias destes livres pensadores, perpetuando as filosofias da antiguidade possibili- tando um amadurecimento e o pensamento crítico nas comunidades.

No Brasil a primeira editora foi fundada por Monteiro Lobato, jornalista e autor

No documento Jornalismo / Periodismo (páginas 83-94)