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Isadora Pierotti1, Anaísa Cristina Pinto2, Fernanda Rissardi de Moraes1 e Mara Lúcia Garanhani3

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1. Aluna de Enfermagem -Universidade Estadual de Londrina 2. Mestranda em Enfermagem - Universidade Estadual de Londrina 3. Professora Doutora de Enfermagem - Universidade Estadual de Londrina

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Resumo

Este estudo aborda a distribuição e a avaliação do tema transversal Ser humano Sócio-

Histórico-Cultural em um currículo integrado (CI) de Enfermagem. O objetivo do estudo foi

analisar como o tema transversal referente ao ser humano está sendo desenvolvido ao longo das séries do CI. Pesquisa qualitativa exploratória, descritiva que utiliza o grupo focal como método de coleta de dados. Os participantes foram 23 estudantes das quatro séries do curso de enfermagem do CI. Os grupos foram gravados e filmados, transcritos e analisados. O tema transversal Ser humano Sócio-Histórico-Cultural está sendo desenvolvido em todas as séries do CI. O estudante é avaliado nas abordagens com o usuário/paciente de maneira progressiva, buscando desenvolver o olhar para a integralidade do cuidado e, nas atividades desenvolvidas nos grupos tutoriais.

PALAVRAS-CHAVE: Humanos; Educação em Enfermagem; Currículo; Pesquisa em Avaliação de Enfermagem.

Introdução

O curso de enfermagem da Universidade Estadual de Londrina (UEL) começou a ser ofertado em 1972 e passou por sete reformulações curriculares. Dentre elas, a implantação do Currículo

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Integrado (CI), no ano 2000 (DESSUNTI et al., 2012).O CI adota o princípio do currículo em espiral, que propõe que se parta do conhecimento geral para o específico, em níveis crescentes de complexidade, por meio de sucessivas aproximações (DOWDING, 1993). O principal objetivo do CI é a formação de profissionais críticos, reflexivos e que atendam às necessidades do sistema de saúde, além das exigências do mercado de trabalho. Todas as séries do curso são estruturadas em módulos interdisciplinares. Nesses, as atividades se desenvolvem em torno de conceitos chave, de modo a favorecer o alcance de desempenhos essenciais para a formação do enfermeiro (GARANHANI et al

2013).

Também são adotados temas transversais, que são compreendidos como aqueles que transpassam as disciplinas curriculares (BRASIL, 2010). Esses temas transversais foram denominados

seivas pelos docentes do CI. As seivas são compreendidas como dinamizadoras das atividades

acadêmicas, articuladas de forma crescente aos conteúdos específicos e desempenhos essenciais para a formação do enfermeiro (GARANHANI, et al., 2013). São conceitos que devem estar presentes em todos os módulos interdisciplinares, com maior ou menor grau de aproximação, de maneira a favorecer a incorporação por parte dos estudantes no decorrer das séries, até a formação profissional (DESSUNTI, et al., 2012).

Desde 201, as seguintes seivas estão em vigência no CI: Ser Humano Sócio-Histórico-Cultural; Determinação Social do Processo Saúde-Doença; Sistema Único de Saúde; Gestão do Cuidado; Metodologia da Assistência; Integração Ensino-Serviço-Comunidade; Educação em Saúde; Comunicação; Investigação Científica; Trabalho em Equipe; Bioética e Biossegurança (GARANHANI, et

al., 2013). O primeiro tema transversal trata-se do Ser Humano Sócio-Histórico-Cultural e constitui-se

objeto de estudo desta pesquisa.

Sabendo que o ser humano é o foco principal do cuidado em saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), no ano de 2003, desenvolveu a Política Nacional de Humanização (PNH), que tem como objetivo qualificar práticas de gestão e de atenção em saúde. Com esse programa, o SUS pretende que novas atitudes sejam tomadas por parte de trabalhadores de saúde, na perspectiva da humanização (PASCHE; PASSOS, 2010).

Tendo em vista que o CI se propõe a formar profissionais que atendam as demandas dos serviços de saúde, o desenvolvimento do tema transversal Ser humano Sócio-Histórico-Cultural nesse currículo, é capaz de articular as práticas pedagógicas em enfermagem com PNH do SUS. Isso é possível, graças à congruência entre a definição desse tema transversal, com o primeiro princípio norteador da PNH. No CI encontramos que o ser humano deve ser visto como um ser integral, com características biológicas, psicológicas, espirituais e sociais interligadas e interdependentes. É determinado por sua história pessoal de vida e faz parte de um grupo social. A sua inserção no processo de produção determina o seu processo de saúde e doença (GARANHANI et al., 2013). O PNH

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Desta forma, o CI se torna um campo de análise propício, podendo trazer contribuições efetivas, que favoreçam as discussões a respeito da humanização da assistência, tanto para a realidade do local de estudo, como para outras escolas de enfermagem. Assim, a questão norteadora da pesquisa foi: Como o tema transversal Ser humano Sócio-Histórico-Cultura lestá distribuído e é avaliado na percepção do estudante de enfermagem? E, estabeleceu-se o objetivo: Analisar como o tema transversal Ser humano Sócio-Histórico-Cultural está distribuído e como é avaliado em todas as séries do curso de enfermagem, em um currículo integrado.

Revisão de Bibliografia

A PNH é uma iniciativa inovadora e desafiadora proposta pelo SUS, tendo como pressuposto que a humanização corresponde ao ato e a atitude de humanizar a assistência em saúde. Neste sentido, exige-se uma mudança paradigmática e ética, tanto no cuidado ao usuário, quanto na gestão do mesmo, para que se superem problemas e desafios do cotidiano do trabalho. Assim, estão envolvidos nesse processo trabalhadores, gestores e usuários do serviço de saúde. (PASCHE, D.F; PASSOS, E., 2010)

A idealização da política surgiu pela percepção dos usuários e trabalhadores da área saúde, em relação à execução dos serviços de saúde, do que seria a desumanização da assistência. As “práticas de desumanização” ou “práticas desumanizadoras” se referem às formas precárias de organização do trabalho como as filas; a falta de sensibilidade dos trabalhadores frente ao sofrimento dos usuários; o isolamento dos mesmos em relação aos seus apoios sociais e familiares nos procedimentos, consultas e internações; os tratamentos desrespeitosos; as práticas de gestão autoritária; as deficiências nas condições concretas de trabalho, incluindo a degradação nos ambientes e nas relações de trabalho (BRASIL, 2004).

O método da PNH define a humanização como uma maneira de fazer inclusão e como uma prática social que amplia os vínculos de solidariedade e co-responsabilidade, entre os atores envolvidos no processo. Na humanização, a singularidade dos sujeitos é exercida nos espaços da gestão, do cuidado e da formação em saúde. Parte-se do pressuposto de que exista uma produção subjetiva do cuidado, ao mesmo tempo em que há produção de sujeitos do trabalho. Isso acontece, na medida em que os profissionais, os usuários e os problemas de saúde interagem (FRANCO;MEHRY, 2011).

Na proposta da PNH, o educar para a humanização não é apenas a transferência de informações acerca do modo correto de se fazer. Nas premissas da política, o termo formar para a

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humanização teria o sentido de “humanizar os desumanos”. (PASCHE, D.F; PASSOS, E., 2010). Desta maneira, a humanização deixa a conotação abstrata para se atualizar como política pública agindo nos e pelos coletivos. Humanizar a saúde determina a alteração das práticas de saúde e dos sujeitos nelas implicados (BENEVIDES; PASSOS, 2005).

Nesse sentido da humanização, vale lembrar uma das três diretrizes básicas do SUS, a integralidade. A abordagem integral do ser humano é contraditória às intervenções compartimentadas e olhar fragmentado sobre os sujeitos. Esses devem ser vistos em suas inseparáveis dimensões biopsicossociais (PASCHE, D.F; PASSOS, E., 2010).São atribuídos alguns sentidos para a expressão

integralidade. Mattos (2004) destacou que um deles se refere a atributos relacionados às práticas dos

profissionais de saúde. Esses se referem à atenção voltada para o indivíduo, família e comunidade, de maneira que se compreendam os contextos familiares, sociais e culturais. Assim, o enfoque seria no humano como um ser integral, que é mais que um conjunto de partes e de órgãos. Cecim (2004) e Mattos (2004) referem que esse ponto de vista valoriza os aspectos cotidianos da vida do usuário do serviço e a sua relação com o profissional de saúde, reconhecendo a importância de um diálogo, onde ambos se façam ouvir.

A integralidade é, possivelmente, a diretriz do SUS, menos visível entre as três. Acredita-se que, para a sua maior nitidez, sejam necessárias transformações no processo de formação de profissionais de saúde (MATTOS, 2004). Sendo a integralidade e a humanização do cuidado, diretriz e política do SUS, devem ser consideradas na elaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) dos cursos de graduação da área da saúde. Laluna (2007) recomenda que as Instituições de Ensino Superior devam repensar seus modelos de formação na área da saúde, na medida em que as políticas públicas estimulam a adoção de projetos educacionais inovadores, que contemplam parcerias entre academia, serviço e comunidade.

Metodologia

Trata-se de um estudo exploratório, descritivo com abordagem qualitativa, realizado no curso de graduação em Enfermagem, localizado no Centro de Ciências da Saúde da UEL. O curso disponibiliza, anualmente, 60 vagas para o ingresso de novos acadêmicos e está estruturado em 18 módulos interdisciplinares. Desses, quatro estão na primeira série; cinco, na segunda; quatro, na terceira e cinco na quarta série.

Os participantes da pesquisa foram estudantes do CI, das diferentes séries do curso de enfermagem. Os critérios de inclusão foram: ser estudante do CI; estar frequentando regularmente as

179 aulas e aceitar participar da pesquisa, assinando o termo de consentimento livre esclarecido. A coleta de dados aconteceu no período de dezembro de 2013 a março de 2014.

A estratégia utilizada para a coleta de dados foi o grupo focal. A escolha dessa técnica foi baseada no fato de já que, os grupos focais além possibilitarem diferentes análises dos participantes da pesquisa em relação a um tema, permitem ao pesquisador explorar como os fatos são articulados e confrontados por meio da interação grupal (RESSEL et.al., 2008).

Foram realizados quatro grupos focais, um com cada série do curso, totalizando 23 estudantes, cinco estudantes da primeira série, seis da segunda, cinco da terceira e sete da quarta série. Os grupos foram realizados no último mês do ano ou no início do ano seguinte, assegurando que o estudante tivesse passado o maior tempo possível na série. Os trechos das falas dos estudantes (E) estão identificados por dois algarismos arábicos. O primeiro indicando a série e o segundo indicando o estudante (E11, E12...E21, E22...E31, E32...E41,E42...).

Ao início dos grupos foi colocada a música Gente, composta por Caetano Veloso no ano de 1977 e pedido para que prestassem atenção e a acompanhassem pelo impresso da letra, que havia sido distribuído. Essa etapa visou criar um ambiente de acolhimento e aquecimento para que os participantes da pesquisa se aproximassem do tema investigado. Em seguida, foram levantadas as questões: Na série que vocês concluíram, em quais módulos foram abordados aspectos relacionados ao ser humano? De que maneira estes aspectos foram avaliados?

Os grupos foram gravados e filmados, transcritos e analisados, segundo a análise de conteúdo de Bardin (2011).

A pesquisa foi aprovada pelo colegiado do curso de enfermagem em estudo e pelo Comitê de Ética em Pesquisa, conforme CAAE 18931613.5.0000.5231. Os resultados apresentados neste artigo originaram-se de uma pesquisa de iniciação científica.

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