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INTEGRALIDADE NA FORMAÇÃO DOS TÉCNICOS DE ENFERMAGEM NAS ETSUS NO BRASIL

Daniela Priscila Oliveira do Vale Tafner1 e Kenya Schmidt Reibnitz1

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1. UFSC

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Resumo

As metodologias ativas estão sendo cada vez mais utilizadas como ferramentas para efetivação e concretização da integralidade, universalidade e equidade no processo de formação dos técnicos de enfermagem. Este artigo teve como objetivo compreender como as metodologias ativas estão sendo aplicadas no processo de formação dos técnicos de enfermagem das escolas da RETSUS para a efetivação da concretização do princípio da integralidade. Pesquisa: qualitativa, desenvolvida através do método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Resultados: foi possível constatar que as metodologias ativas instrumentalizam os alunos para uma melhor compreensão e atuação na realidade dos serviços e contribui de forma efetiva para a concretização do SUS.

PALAVRAS-CHAVES: Metodologias Ativas; Processo de Formação; Integralidade.

Introdução

Historicamente a educação na área da saúde vem gradativamente sendo defendida como uma prática que busca mudanças significativas dos serviços de saúde, onde facilite o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e, que seu projeto no processo de formação seja apoiado sobre o bojo dos princípios da universalidade, equidade e integralidade da atenção (FRANCO, 2013).

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Educação, essa que propõe transpassar as barreiras existentes da dialética entre as práticas educacionais e o cuidado na saúde, busca proporcionar um aprendizado que articule o fazer, o educar, o saber e o conviver, possibilitando o “nascer” de um profissional crítico, criativo (REIBINTZ, 2006).

Esse processo de formação busca conduzir o aluno a experiências ricas de saberes e valores, farta de significados almejáveis para a projeção de um sistema de saúde nas práticas, levando esses alunos a sonharem e lutarem por uma realidade diferente da vivida, proporcionando-lhes ações e reflexões para possíveis transformações (FREIRE, 2008).

A mudança de trazer as práticas do campo real, das práticas do dia-a-dia para o processo de formação desses profissionais para atuarem na saúde tornou-se cada vez mais latente e fundamental para o objetivo de fornecer ao sistema de saúde, profissionais capacitados e preparados para uma assistência pautada em seus princípios.

Para isso, tornou-se importante a adoção de ferramentas pedagógicas que facilitassem a aproximação dessas realidades existentes, sala de aula versus campo real da assistência, onde surge a estratégia de ensino, práticas inovadoras de formação, chamadas de metodologias ativas.

As metodologias ativas se baseiam na proposta educativa que busca estimular a produção do ensino-aprendizagem pautado na reflexão e ação, desenvolvida através de elaboração de situações de ensino que promovam uma aproximação do aluno com a realidade, de forma a estimular no aluno um raciocínio crítico-reflexivo, que o incentive a buscar respostas aos problemas existentes (SOBRAL, 2012).

Com a repercussão das metodologias ativas, essas estão sendo cada vez mais utilizadas como ferramentas para efetivação e concretização do processo de formação dos profissionais de saúde nas instituições escolares, pois esse método possibilita incentivar um olhar critico-criativo-reflexivo, proporcionando comprometimento e facilitando intervenções de forma consciente sobre a realidade a qual estão inseridos.

Coma proposta de mudança no processo de formação, as metodologias ativas intensificam a necessidade de o aluno compreender suas funções como propagador do cuidado ao ser humano, onde estes resultados possam ser percebidos como ações pautadas no princípio da integralidade e demais pressupostos do SUS, atuando de forma que a assistência ao próximo seja fundamentada também no conhecimento e na técnica, propondo a superação desta dicotomia, tendo a concepção de seus atos no sujeito, na família e na comunidade, buscando a autonomia e a solidariedade.

Atualmente essa proposta pedagógica de formação se faz cada vez mais ativa na educação, nas Escolas Técnicas do SUS em nosso país. As metodologias ativas são instrumentos na constituição dos currículos dos cursos técnicos de enfermagem.

149 As Escolas Técnicas do SUS (ETSUS) têm como princípio didático-pedagógico uma estreita ligação entre ensino e serviço; flexibilidade e descentralização na organização e execução dos cursos; a construção de currículos integrados; a avaliação constante dos alunos trabalhadores; a compatibilidade com a proposta do modelo vigente de nosso sistema de saúde, voltada para uma prática profissional integral a partir de uma percepção crítica da realidade existente (PEREIRA, 2006).

Metodologicamente, o processo de formação parte das experiências vivenciadas pelos alunos da ETSUS em seus processos de trabalho, envolvendo continuamente a problematização como ferramenta para a qualificação desses profissionais, possibilitando a reflexão sobre as possibilidades de reorganização do próprio trabalho. Os conteúdos são apresentados em uma sequência lógica de conceitos e ações, iniciando pelo simples olhar e evoluindo para o complexo pensar, do concreto para o abstrato (MATTA; LIMA, 2008).

O objetivo deste artigo é compreender como as metodologias ativas estão sendo aplicadas no processo de formação dos técnicos de enfermagem das Escolas da RETSUS para a efetivação da concretização do princípio da integralidade.

Metodologia

Pesquisa qualitativa desenvolvida através do método de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), a qual está sedimentada na teoria das representações sociais. O DSC busca dar luz às representações sociais sobre o tema estudado.

O DSC tem por objetivo o pensamento coletivo. Permitindo iluminar o campo social pesquisado, resgatando nele o universo das diferenças e semelhanças entre as visões dos agentes sociais coletivos que o habitam (LEFEVRE, 2012).

A proposta do DSC é fazer o pensamento coletivo falar diretamente, é resgatar e dar forma às representações, lançando mão de instrumentos metodológicos pertinentes (no caso do DSC, dos conceitos de expressão chaves, ideias centrais, ancoragens, categorias e discursos do sujeito coletivo) (LEFEVRE, 2012).

Nessa pesquisa os agentes sociais convidados foram os coordenadores dos cursos técnicos de enfermagem de cada Escola Técnica do SUS no Brasil, que atuam no processo de formação dos técnicos de enfermagem, sendo estes os escolhidos por possuírem funções de relevância para essa representação. Além disso, de acordo com o DSC, o sujeito a ser entrevistado deve ser capaz de emitir, julgar e posicionar-se sobre o problema investigado.

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A coleta de dados foi realizada através do software QLQT, devido à distância geográfica de nosso país. O software QLQT tem se mostrado excelente auxiliar nas pesquisas de coletas de dados pela internet.

Após contato telefônico e envio de convite por e-mail, 12 coordenadores aceitaram participar da pesquisa desenvolvida. Após declaração de aceite, os mesmos preencheram o questionário online.

Para análise e construção dos DSCs foi utilizado o software Qualiquantisoft, que facilita e possibilita uma análise mais detalhada e rica.

Durante toda a execução da pesquisa, respeitou-se as normas e princípios, direitos e deveres pertinentes à conduta ética e profissional. A coleta de dados dessa pesquisa só iniciou após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos - CEPSH, parecer 301492, aprovado no colegiado em 10/06/2013.

Resultados

Com uma proposta curricular a favor da educação, as ETSUS inserem em seu processo de formação conteúdos curriculares e práticas que evidenciem o trabalho da saúde como uma prática objetiva e subjetiva, onde ocorra o entendimento de que os seres humanos são as relações que se estabelecem entre si (MATTA, 2008).

Para alcançar essa educação emancipadora, faz-se necessário definir e desenvolver ações que possibilitem e auxiliem articular a teoria e prática, ensino e serviço, competência profissional e competência social, para a construção de uma práxis pedagógica (REIBNITZ, 2012).

Como uma ferramenta para o alcance destes objetivos vê-se claramente no DSC que, ao inserirem em sua formação através das metodologias ativas a articulação do ensino com o serviço, e discutindo a vivência de trabalho e as práticas de serviço, esses profissionais buscam para os seus alunos o aprender sobre o princípio da integralidade e demais alicerces.

Pinheiro e Lopes (2010) referem que a prática de ensinar o cuidado junto à realidade ajuda o aluno a compreendê-la, como também facilita o processo de aprendizagem, em que o aluno conhece melhor os saberes e as técnicas de que os cuidadores podem lançar mão quando se trata de responder, cotidianamente, às necessidades dos sujeitos que buscam cuidar-se.

151 Conforme metodologia empregada, o DSC resultou no discurso desses coordenadores, que segue:

DSC: Portanto, a metodologia ativa e a filosofia da escola, contribuem para a efetivação dos

princípios do SUS, trazendo para a sala de aula temas reflexivos que destaquem os problemas e vivências das unidades de saúde, proporcionando a reflexão sobre o SUS e a assistência à saúde das pessoas, ao mesmo tempo, em que os profissionais oferecem uma assistência integral. Essa reflexão leva nossos alunos a compreenderem o ser humano como um ser integral, passando a respeitar o outro e, também, compreendendo seu próprio valor como pessoa humana, busca despertar, no futuro profissional, o olhar integral ao paciente, considerando o paciente, sujeito do cuidado, estimulando o aluno a observar os valores humanos, sociais e econômicos.

Considerações

Foi possível constatar durante o processo de realização deste artigo que as metodologias ativas instrumentalizam os alunos para uma melhor compreensão e atuação na realidade dos serviços, além de instrumentalizá-los com ferramentas para uma melhor atuação junto à população e percebe-se no DSC que a metodologia ativa contribui de forma efetiva para a concretização da integralidade, da universalidade e da equidade, proporciona reflexões sobre o SUS e sobre a assistência à saúde, ao mesmo tempo em que possibilita ao aluno uma compreensão do ser humano como um ser integral, sujeito do cuidado.

Podemos perceber através deste DSC que, as ETSUS buscam através de seu processo de formação, fermentar a necessidade em seus alunos de mudanças significativas no modo de pensar e agir para que possam concretizar um sistema de saúde mais justo e digno a todos, propondo em seu processo de formação que não busquem apenas a construção de um profissional habilitado tecnicamente, mas sim um ser humano capaz de atuar junto às diferentes situações da assistência de enfermagem, sempre disposto a construir novos caminhos para a realização de um cuidado enraizado na integralidade, no respeito e na subjetividade de cada sujeito.

Nesse sentido, podemos concluir que as metodologias ativas se mostram excelentes ferramentas para o sucesso nesse processo de educação e, acima de tudo, de transformações na sociedade.

Qualquer atividade educacional que se queira intencional e eficaz precisa ter claros os pressupostos teóricos que irão orientar as ações, em que o ato pedagógico precisa ser compreendido como uma relação entre sujeitos sociais, que promova mudanças que os tornem elementos ativos dessa própria ação.

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Na educação que articula o ensino e o serviço, assim como em qualquer atividade educacional, essa deve abrir espaço para que seja possível a reflexão crítica das ações, das práticas e da realidade que envolvem esses profissionais e usuários. O processo educativo promove transformações e reflexões sobre as ações, propondo um aperfeiçoamento e renovação nos campos dos saberes.

Referências

FRANCO, T.B.; MERHY, E.E. Trabalho, produção do cuidado e subjetividade em saúde. São Paulo: Hucitec, 2013.

REIBNITZ, K. S.; PRADO, M. L. Inovação e educação em enfermagem Florianópolis: Cidade Futura, 2006. FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. 2a

reimpressão. São Paulo: Centauro, 2008.

SOBRAL, Fernanda Ribeiro; CAMPOS, Claudinei José Gomes. Utilização de metodologia ativa no ensino e assistência de enfermagem na produção nacional: revisão integrativa. Rev. esc. Enferm. USP, São Paulo, v.46, n. 1, fev. 2012 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080- 62342012000100028&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 01 maio 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0080- 62342012000100028.

PEREIRA, I.B.; RAMOS, M. N. Educação Profissional em Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.

MATTA, G. C.; LIMA, J. C. F. Estado, sociedade e formação profissional em saúde. Contradições e desafios em 20 anos de SUS. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2008.

LEFEVRE,F. O Discurso do Sujeito Coletivo e o resgate das coletividades opinantes. Projeto de Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP. Universidade de São Paulo. 2012. Disponível em:

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______. Pesquisa de representação social: um enfoque qualiquantitativo: a metodologia do Discurso do Sujeito

Coletivo. Brasília: Liber Livro Editora, 2.ed. 2012.

PINHEIRO, R.; LOPES, T. C. Ética, técnica e formação: as razões do cuidado como direito à saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2010.

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UTILIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM BASEADA EM

TAREFAS NO ENSINO DO METABOLISMO DOS

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