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Dizem que sou louco por eu ter um gosto assim... Na rua, na chuva, na

5 ENTRE RASGOS E REMENDOS: ANALISANDO A ABORDAGEM

6.5 Dizem que sou louco por eu ter um gosto assim... Na rua, na chuva, na

A compreensão dos alunos sobre os possíveis lugares de se praticar o futsal, inicialmente se mostrou alinhado a uma compreensão aberta da prática dos esportes. Embora alguns alunos tenham manifestado que a prática do futsal deveria ser

realizada exclusivamente nos espaços formais e seguindo as orientações de padrões oficiais, a maior parte dos alunos ainda apresentou respostas percebendo a viabilidade do jogo de futsal em diversos lugares, conforme mostram as informações levantadas na pesquisa. Nesse levantamento, de um total de 23 (vinte e três) respostas, 06 (seis) alunos afirmaram como sendo a quadra o único espaço destinado à prática do futsal; outros 06 (seis) incluíram além da quadra, os campos; e, finalmente, um total de 11 (onze) alunos ampliou esse leque de possibilidade aos pátios, às ruas e às escolas.

O questionário de saída apresentou uma realidade distinta do que fora observado na compreensão inicial dos alunos. Um resultado extremamente significativo foi evidenciado, pois mostrou uma visão ampliada e mais autônoma dos alunos, especialmente quando o assunto está relacionado às possibilidades de prática do futsal. Apresentamos esse entendimento porque passaram a considerar os diversos espaços para vivenciar a modalidade e, consequentemente, distanciando-se da dependência de reconhecer as quadras como único espaço adequado para usufruto dela.

Não se quer dizer, no entanto, que o espaço da quadra não é adequado para a prática do futsal. O que não pode é ele ser impeditivo. Não ter uma quadra não pode ser motivo para não vivenciar a modalidade.

De forma mais pontual, os posicionamentos dos alunos no questionário de saída apresentaram a seguinte configuração: apenas 01 (um) aluno apontou os espaços de quadra e campo como possíveis para o jogo do futsal, enquanto os demais, 22 (vinte e dois) alunos, relataram uma diversidade maior de possibilidades. Os posicionamentos foram diversos: desde mencionar uma gama maior de espaços,

como campo, quadra, praças, terreiro de casa, na rua; até o relato que associa os espaços aos objetivos de se jogar, destacando ser possível jogar futsal em qualquer lugar, desde que se queira. Assim, a intenção de ser divertimento, de ter um momento de lazer e entretenimento, por exemplo, são as fagulhas para jogar futsal, seja em qualquer lugar que seja possível desenvolver essa prática. É interessante ressaltar que, neste questionário de saída, nenhum aluno se manifestou a reduzir a prática do futsal unicamente às quadras. Para melhor ilustrar essa compreensão, traremos aqui algumas respostas de alunos, quando ampliaram as possibilidades, em se tratando de ambientes possíveis, de se praticar o futsal:

Em campo, em quadra, na areia e em casa, como lá em casa, eu jogo futsal na área de casa. (José de Alencar);

Em casa, na quadra, no campo, em qualquer lugar porque o futsal não tem um lugar só. (Cora Coralina);

Em qualquer lugar, literalmente qualquer, canto de rua, calçada, gramado, quadra, areia, terra, enfim, em qualquer lugar” (Euclídes da Cunha).

Como podemos ver, esse discurso plural dos alunos não desconsidera o futsal trabalhado dentro do âmbito da instituição esportiva, na qual a “quadra”, conforme os padrões pré-estabelecidos do espaço soberano, é destacada como um ambiente possível.

É importante frisar que foram fornecidas, ao longo das intervenções, referências (saberes) que apontam as diversas possibilidades, inclusive, a realização na quadra, ambiente formal em que a prática é realizada, na maioria das vezes, dentro dos rigores da regra e em competições. Acontece, porém, que não procuramos estipular que há um lugar certo para se jogar, mas que o “lugar certo” é o que você desenvolve a prática a partir de seus interesses.

Outro aspecto a considerar é que, por mais que apresentemos nosso olhar, as compreensões e apreensões se fazem no “lado de lá”, no aluno. É ele que, de posse dos diversos referenciais, dá sentido e que pode considerar lógicas as objetivações e a sua própria individualidade. Câmara (2014, p. 53) destaca que é o olhar plural à realidade complexa que precisa ser entretecido, de modo a construirmos nossos próprios sentidos. Noutro momento, o autor falando sobre o corpo, assim se expressa:

[...] não podemos pensar em um corpo que sente somente a partir de sua subjetividade ou, ao contrário, entender o sentimento como se fosse produto tão simplesmente de objetivações externas. Haveria então como discutir um tipo específico de corpo sem perder o entendimento da unidade?.

Como se percebe no que é apresentado, não é possível pensar o indivíduo apartado das objetivações e de sua subjetividade. Por isso mesmo, não podemos dizer que os sentidos dados pelos alunos advêm somente das estruturas ou do seu ser, pois, na verdade, se faz no diálogo entre essas duas dimensões.

Dadas essas considerações, podemos destacar também que encontramos relatos de alunos que, mesmo ampliando o referencial, apontaram a prática do futsal em quadra como sendo de fato, a referência, conforme podemos ver na resposta do Castro Alves: “No campo na rua, no ar livre, mas o principal legal e a quadra” (sic) (Castro Alves).

E para fornecer um exemplo claro de uma compreensão mais elaborada e que denota os sentidos trabalhados através de conceitos em sala de aula, nós temos a resposta da alunaCecília Meireles, que ilustra de forma didática os lugares e com que intencionalidades o futsal pode ser praticado: “Em vários lugares em quadras, em lugares com areia, com grama etc pode ser em variados lugares por objetivos de lazer, diversão, competição etc” (sic) (Cecília Meireles).

Nas intervenções realizadas na sala de aula, fizemos uso de um amplo material teórico, buscou-se ampliar o entendimento do futsal ― e não reduzir aos seus aspectos meramente técnicos e táticos ―, mas também situá-lo enquanto conhecimento histórico e passivo de transformações, conforme ocorrido em suas práticas, desde o momento em que foi criado até o contexto de suas vivências que ocorrem na atualidade. Buscamos também promover a compressão de que existem de fato diversos lugares e intencionalidades para vivenciar essa prática. Possivelmente, estes tenham sido fatores mobilizadores determinantes para os alunos mudarem de concepção, além de ampliar o entendimento acerca do assunto tratado.

Considerando os aspectos pontuados, poderíamos nos questionar: se formos pensar na aprendizagem efetiva do futsal, a diversidade de espaços diferentes da quadra, isso seria um dificultador? Sem aprofundar na discussão, concordamos com Kröger e Roth (2002), que ressaltam a importância de considerar os saberes trazidos pelo aluno para aprendizagem do esporte, como aqueles propiciados pela experiência de jogar na rua ou na praia. Aliás, em uma perspectiva multirreferencial, aprender em espaços diversos, a nosso ver, é também uma ampliação de referenciais, portanto, algo que não deve ser desconsiderado.