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Dora e seus jovens estudantes: os sujeitos das práticas 1 Dora, a professora do curso de História

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM FILMES NA LICENCIATURA: OS CASOS DAS PROFESSORAS DORA E VERÔNICA

4.1 Dora e seus jovens estudantes: os sujeitos das práticas 1 Dora, a professora do curso de História

Acompanhei a professora Dora no período de observação de campo, entre setembro de 2014 e dezembro de 2015. Ela tinha 50 anos, morava em Garanhuns-PE e sua jornada de trabalho era de 40 horas semanais. Ela lecionava em três noites, totalizando 12 horas de ensino no conjunto de sua jornada semanal. Dora pertencia ao quadro efetivo da Unidade há 15 anos, além de ter tido experiência nos Ensinos Fundamental e Médio. Solteira, sem filhos, a professora se declarou branca. Nesta pesquisa, contribuiu com respostas ao questionário proposto, permitiu observações de aulas e de atividades com filmes e concedeu entrevista. Em suas aulas, introduzia e exemplificava os conteúdos de suas disciplinas com filmes de temas históricos. Mas, vamos deixar que ela mesma se apresente:

Pernambuco (1987). Especialização em História pela Universidade de Pernambuco e concluí Mestrado em Educação pela UFPE (2013), na linha Educação e Espiritualidade.

Sou filha de professores, cresci escutando experiências pertinentes à Educação e à História. Como diz o ditado popular: “Vocação para lecionar vem de berço”. Ainda como estudante (1987) da graduação, comecei a lecionar em colégio particular da minha cidade (Garanhuns). Em 1992, fiz concurso público e lecionei no Ensino Fundamental e Secundário do Estado até 1994, quando fiz concurso para a Universidade de Pernambuco. Pedi exoneração da cadeira de professora estadual; isso porque, na época, a lei determinava que não podia acumular duas cadeiras, optando pelo regime de 40 horas semanais. Atualmente, sou professora assistente da Universidade de Pernambuco, compondo o Colegiado de História. Atuei como Assessora da Direção da UPE/Campus Garanhuns (2007 a 2010) e fui coordenadora de polo de cursos técnicos a distância pelo IFET - Polo Garanhuns.

Tenho experiência na área de História e Educação, com ênfase em História; Leciono as disciplinas História Antiga, História Medieval, História Moderna I e História e Gênero. Nesse momento, concentro meus estudos sobre os estudos de gênero, tendo como aporte principal o teórico Michel Foucault, em sua última fase, quando tratou A História dos Prazeres e nos últimos seminários, no Collège de France (1982- 1984), a Hermenêutica do Sujeito, em que faz abordagem sobre a ética do cuidado de si. Através da reconstituição de memórias, busca as alternativas de sujeitos periféricos: as mulheres, os idosos - como forma de constituírem a si, construindo resistências ao ideário do biopoder. Sendo neta de fazendeiros de café (dos tempos áureos da produção de café em Pernambuco), inquietava-me com o lugar ocupado pelas mulheres no contexto da produção cafeeira. Mulheres que eram conhecidas como “apanhadeiras de café”, em meio a uma história que teimava em narrar o contexto pelo viés do machismo, beirando o heroísmo das aventuras medievais masculinas. Passei, assim, a investigar narrativas de si de mulheres da cidade de Brejão-PE, que vivenciaram, na década de 1950, o fenômeno do ciclo do café no agreste meridional de Pernambuco: “Em uma sociedade sexista, coronelista e com machismo profundamente arraigado, como conseguiram desenvolver a estética da existência e dar sentido às suas questões ontológicas?” A partir dessa questão, procurei cifras de subjetividades nessas narrativas, contribuindo para a desconstrução de uma história que silenciava a existência feminina, entendendo que o que não é narrado fica escondido nas dobras da história e passa a não existir. Com essa pesquisa, procurei, além de colaborar com a construção da história do feminino, trazer a participação do grupo de estudo NEPEJA - Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (Universidade de Pernambuco) e da “Oficina de Pensamento, Poéticas do Cuidado e Ontologias da Resistência” (UFPE). Hoje, coordeno o grupo de estudo “Epistemologia Feminista, Cultura e Gênero”, (UPE), que investiga questões de gênero, cultura, cidadania, na perspectiva da subjetividade humana da estética da existência.

Essa pequena apresentação feita pela professora Dora é reveladora. Mostra uma mulher preocupada com as questões sociais de gênero, hoje, tema tão debatido em diferentes áreas. Ela é mais que uma docente, é uma mulher comprometida com a educação em seu sentido mais amplo. Traz consigo a garra da luta pela igualdade e pela resistência; é inquieta com as coisas do cotidiano, mostrando, em suas aulas, o que a incomoda. Acredita que os temas do dia-a-dia podem ser discutidos no ambiente acadêmico, visando à abertura a novos mundos, sentimentos e aprendizagens de seus estudantes. No seu trabalho docente, encontra brechas, escrutina fórmulas, reage a estereótipos, aponta caminhos. E encontra nos filmes outros conteúdos, outras aprendizagens. Dora é, entre tantas outras mulheres, uma docente que, no seu fazer didático-pedagógico, alimenta sua prática pedagógica com filmes, com a magia do cinema, acreditando no potencial que o filme/cinema pode trazer para outras tantas aprendizagens diante de sua tarefa docente frente aos estudantes.

4.1.2 Os jovens alunos da professora Dora

Os jovens estudantes com os quais a professora Dora realizou as atividades com filmes eram 11 estudantes do 4º período do curso de História, jovens entre 22 e 25 anos. Eles residiam em Garanhuns e cidades vizinhas, como outros estudantes da Unidade, e chegavam à noite, em ônibus disponibilizados pelas Prefeituras de suas respectivas cidades. Os discentes se declararam brancos, pardos, indígenas e eram oriundos de escolas públicas. Um grupo maior deles morava com os pais e os demais, com parentes. Parte deles se dividia entre o estudo e o trabalho e o restante dedicava-se somente ao estudo. Tratavam uns aos outros com cordialidade, demonstrando umfino entrosamento durante as atividades observadas.

Durante o tempo em que fiquei com esses estudantes, pude ter com eles algumas conversas informais, a fim de coletar outras informações que pudessem me permitir conhecê-los melhor, sem a “pressão” de uma entrevista. Essas “coletas” informais me deram uma visão de como eram esses jovens estudantes nas relações com seus colegas e professores e quais eram suas aspirações profissionais. Foram educados, atenciosos e extremante solícitos à demanda da pesquisa, fato esse que me deixou muito feliz, pois, durante o tempo em que fiquei no campo e posterior a ele, mantiveram sempre um contato amigável e disponível comigo, mesmo em outros momentos. Outro fato que ressalto é que demonstraram ser muito críticos em relação ao curso, à Faculdade e às práticas

pedagógicas de seus professores, visto que apontaram lacunas, questionaram e evidenciaram práticas e conteúdos. Quanto à professora Dora, afirmaram ser uma docente muito competente e pela qual nutriam uma grande admiração pessoal e profissional.

Tais estudantes pesquisados destacaram, através das conversas informais, o comprometimento de seus professores através de incentivos a novos processos formativos que acontecem extraturno, como colóquios, seminários, grupos de estudos. Contaram que mantinham, por exemplo, um grupo de estudo sobre as questões de gênero, com encontros quinzenais, nos quais eram debatidos temas relacionados a gênero, como identidade, ideologia, igualdade e relações sociais. Esse fato foi confirmado por Dora.

Quanto ao fato de estarem cursando História, os jovens informaram que estavam satisfeitos e vislumbravam uma carreira docente. Além disso, viam no curso outras possiblidades e perspectivas que não só o magistério. Quanto a isso, perguntei aos estudantes se conheciam as diretrizes do curso e que outras perspectivas de campo de trabalho poderiam ter. Informaram que não conheciam, mas sabiam, informalmente, que poderiam trabalhar com pesquisa, em museus, órgãos de preservação história, com documentos históricos etc. 70

Quanto às Licenciaturas, as Diretrizes Curriculares Nacionais em vigor, recomendam que o egresso tenha “a) domínio dos conteúdos básicos que são objeto de ensino-aprendizagem no ensino fundamental e médio; b) domínio dos métodos e técnicas pedagógicos que permitem a transmissão do conhecimento para os diferentes níveis de ensino”. (Ibid., p. 08). Se, por um lado, no que toca ao magistério, os estudantes acreditam que terão oportunidades de emprego ao concluírem o curso, de outro, há os que apostam na formação superior como um passaporte para o trabalho público, para o qual é exigido o nível superior. Essa perspectiva é comum a uma grande parte dos estudantes das licenciaturas da UPE/Unidade Garanhuns, sendo que se apresenta em menor proporção no curso de Pedagogia, Licenciatura que tem, majoritariamente, estudantes do sexo feminino. Neste caso, são estudantes já em exercício profissional e com qualificação no

70 Essas informações, mesmo que deslocadas de uma leitura específica sobre o curso e sua finalidade, tinham

consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais (2001), que dão, aos graduandos em História, dentre outras competências e habilidades gerais, as de: “Transitar pelas fronteiras entre a História e outras áreas do conhecimento; e) Desenvolver a pesquisa, a produção do conhecimento e sua difusão não só no âmbito acadêmico, mas também em instituições de ensino, museus, em órgãos de preservação de documentos e no desenvolvimento de políticas e projetos de gestão do patrimônio cultural.” (BRASIL, 2001, p. 08).

magistério nível médio, habilitação ainda muito comum em cidades interioranas do Estadode Pernambuco.

4.1.3 Cenas e enredos da aula – primeiras sequências Data: 16 de setembro de 2015 – quarta-feira

Local: Auditório da Unidade Garanhuns - PE Tempo de aula: 18h50min às 21h50min

Personagens: A professora Dora, 23 jovens (09 mulheres e 14 homens) e o pesquisador

Dora e eu nos encontramos à noite, no hall central da Faculdade. Eu havia chegado cedo para poder observar melhor o funcionamento da Instituição enquanto a aguardava. Mesmo não sendo inverno, era um dia frio de novembro e a faculdade, localizada no bairro mais alto da cidade, estava envolta numa névoa fina, própria da região. Sob esse clima, fiquei durante aproximadamente 20 minutos, sentado em um banco de cimento, ao lado da biblioteca. Ainda era cedo, mas já se via um e outro jovem estudante chegando. A Faculdade, de certa forma, estava deserta e com poucos estudantes na biblioteca; do outro lado, a cantina já estava aberta, mas sem consumidores.

Somente lá pelas 18h04min percebi que um número maior de estudantes ia chegando, vindos de suas respectivas cidades, pois Garanhuns serve de polo educacional para outras cidades; assim, esse movimento acontecia todas as noites de aulas. Os estudantes chegavam felizes: havia muito barulho, abraços, sorrisos, cumprimentos fraternos de colegas de Faculdade. Normalmente, essa agitação se estendia para além do início das aulas, porque alguns jovens aproveitavam para ficar na cantina, “matando a fome”, já que vinham direto do trabalho, além de aproveitarem para colocar os assuntos em dia. Eram jovens, mulheres e homens, que se cumprimentavam e, logo em seguida, alguns se dirigiam para a biblioteca e outros para a cantina. Eu nunca tinha tido o hábito de estar assim, dentro desse cenário tão vivo, que era a chegada desses estudantes à Faculdade, fato esse que acheibem interessante.

Os acontecimentos acima descritos podem ser considerados cenas, pois são situações que ocorrem diariamente, em espaços e envolvem atores sociais dentro de um ou mais cenários (Erving GOFFMAN, 1985). Ao enxergamos dessa forma, nos aproximamos do pensamento desse teórico que relaciona o cenário a toda estrutura física que interfere na interação: pátio, sala de aula, biblioteca, sala dos professores, cantina,

quadra, carteiras, mesas, posicionamento das carteiras e dos objetos.

Goffman em seu estudo usa a metáfora do teatro para explicar os meandros dos encontros que compõem um enredo interacional, chama atenção às cenas, aos gestos, às formas de abraços, dentre outras expressões que ocorrem dentro desse cenário e de tantos outros espaços institucionais. O autor denomina de enredo a descrição de todo o processo de interação desses atores, ou seja, a forma pela qual os atores atuam para sua plateia; no caso do presente estudo, os jovens estudantes, os professores e os outros sujeitos envolvidos. Isso porque, cotidianamente, estamos socialmente situados, conectados e sendo interdependentes nas relações sociais.

Diante do cenário apresentado, observei que aquele era um dos poucos momentos em que aqueles estudantes podiam ficar mais à vontade. Assim, o espaço da cantina acabava se tornando um espaço de convivência e de descontração. Era também o local preferido para os jovens alunos que não queriam estudar, que ficavam conversando enquanto as aulas aconteciam, fato esse comum no campo observado e motivo de queixa de muitos professores.

Esses jovens estudantes tinham, nessas situações de encontros, a oportunidade de trocarem experiências e vivenciarem a socialização, pois não eram agentes passivos dentro de uma estrutura institucional; ao contrário, traziam, para o ambiente escolar, os elementos da cultura que vivenciavam e os constituíam fora dele. Assim sendo, a escola, como espaço sociocultural, torna-se viva por causa desses momentos interacionais e das relações interpessoais vivenciadas pelos sujeitos cotidianamente. Sobre isso, lembro o que diz Dayrell (1996, p. 02):

Analisar a escola como espaço sócio-cultural significa compreendê-la na ótica da cultura, sob um olhar mais denso, que leva em conta a dimensão do dinamismo, do fazer-se cotidiano, levado a efeito por homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, negros e brancos, adultos e adolescentes, enfim, alunos e professores, seres humanos concretos, sujeitos sociais e históricos, presentes na história, atores na história. Falar da escola como espaço sócio-cultural implica, assim, resgatar o papel dos sujeitos na trama social que a constitui, enquanto instituição.

Sendo a escola, como outras instituições, um grande palco de interações, no seu interior, professores e estudantes são sujeitos históricos e sociais, homens e mulheres, profissionais que, imersos no mundo, protagonizam mudanças, trazem consigo vivências e experiências que, no cotidiano da sala de aula, são expostas, exemplificadas e

confrontadas (DAYRELL, Ibid.).

Daí que, ficar ali, sentado, observando e fazendo minhas anotações, então na condição de observador, me possibilitou ter uma outra dimensão da Faculdade e de seus sujeitos, pois vi aqueles jovens não somente como estudantes. De alguma maneira, nessa situação, me dei conta de que, quando estamos no dia-a-dia da sala de aula, não conseguimos olhá-los por outro ângulo que não o de meramente alunos. Muitas vezes, até tentamos, mas o contexto (burocrático, tradicional etc.) da sala de aula nos remete a uma relação pedagógica limitada, restrita à explanação e transmissão de conteúdo, sem aventura, não se abrindo a relações mais humanas e dialógicas, dentre outras possibilidades (FREIRE, 2007; MORALES, 1999).

Ao me encontrar com Dora no corredor, percebi que a aula iria começar um pouco atrasada, não só por causa da chegada dos estudantes, mas porque Dora também se atrasara 15 minutos. E a aula da professora Dora parecia não ser a única com atraso, haja vista que havia vários estudantes de outras turmas e cursos fora da sala de aula, aguardando seus professores em frente às suas salas; eram alunos dos períodos 2º, 4º, 6º e 8º. Em um mesmo andar do prédio, funcionavam os cursos de Matemática, Ciências Biológicas, Letras e História, com quatro turmas cada um e um corredor estreito destinado a cada curso.

À medida que íamos caminhando, Dora ia encontrando e cumprimentando os estudantes com entusiasmo, acenos de cabeça, abraços, apertos de mão, sorrisos e “Alô garoto!”, um tipo de cumprimento usual seu. Ao chegarmos à porta da sala dela, ela avisou que a aula não seria naquela sala, e sim no auditório e, em seguida, pediu aos estudantes que se dirigissem para lá. Vi que havia cerca de 15 jovens, homens e mulheres, no interior da sala e uns outros poucos fora dela. Após dar esse aviso, Dora tomou-me pelo braço e juntos caminhamos para o auditório. Enquanto caminhávamos, ela me contou que havia transferido a aula para outro local, pois, como se tratava de um filme, achara melhor que a aula acontecesse lá, por causa da acústica e das cadeiras.

Ali chegando, ficamos uns cinco minutos em frente à porta, esperando que os estudantes chegassem. Enquanto isso, um funcionário dos serviços gerais, alto e branco, com cerca de 30 anos, acendia as luzes e ligava os equipamentos eletrônicos (caixa de som e datashow) para a exibição do filme. Ao entrarmos, vi que o salão estava bem iluminado e as cadeiras estavam dispostas como em uma sala de cinema: eram de madeira, com encostos e assentos acolchoados na cor azul-marinho. Eram levemente confortáveis e haviam sido doadas por um antigo teatro da cidade, após a sua reforma. À frente dessas

cadeiras, se encontrava uma pequena mesa de madeira e, sobre ela, um notebook com entrada para DVD. No teto, estava posicionado o projetor (datashow). Na parede, ao fundo, um quadro branco serviria de tela, como uma pequena tela de cinema para a projeção do filme. As dimensões da sala eram de cerca de oito (08) metros quadrados; limpa, arrumada, aconchegante, com capacidade para cinquenta (50) pessoas assentadas. Quanto às condições de projeção e de exibição, o quadro branco que serviria de telão não ajudava muito à exibição, pois a luz do projetor criava um espectro luminoso bem no centro da tela. Havia também, na sala, dois janelões de vidro, que estavam fechados, e dois aparelhos de ar-condicionado, um no centro da parede do lado direito e outro no centro da parede do final da sala. Esses equipamentos e mobiliários compunham o ambiente mais geral daquele auditório. Quanto à iluminação escura, necessária a uma boa projeção de cinema, pareceu-me adequada, pois os janelões tinham uma película escura, que, junto às duas cortinas de PVC, escureciam o ambiente. Tendo conhecido e estando nesse ambiente, concordei com a professora Dora no sentido de que aquele era o ambiente mais apropriado para a exibição do filme, comparativamente à sala de aula.

Mesmo sendo adequados para aquele momento, tanto o auditório que serviu de sala de cinema quanto os equipamentos, estavam longe de serem os específicos para a exibição e filmes. Quanto a isso, podemos enumerar dois fatores: o primeiro diz respeito ao fato de a UPE/Unidade Garanhuns possuir apenas os equipamentos básicos para esse fim: TV, retroprojetor (datashow), caixa de som, todos em pouquíssimas quantidades para o número de professores que fazem uso desses aparelhos. O que havia, na verdade, eram adaptações das salas de aulas e do auditório para que os professores pudessem realizar atividades com filmes. O segundo fator é a formação necessária por parte dos docentes, para lidarem com a engenharia, a linguagem do cinema e a discussão quanto à questão dos equipamentos adequados para a exibição de filmes. Para os estudiosos da relação cinema/educação, as condições físicas de exibição (falta de espaços específicos, com boas condições para a exibição de imagens e boa captação dos sons etc.) interferem diretamente na qualidade de fruição de um filme, como apontam Fresquet e outros colaboradores, no livro Cinema e educação: a Lei 13.006 - Reflexões, perspectivas e propostas (2015).

Já no interior do auditório, a professora contou-me porque propunha a exibição do filme O nome da rosa71 (Jean-Jacques ANNAUD, EUA, 1986), filme denso,

claustrofóbico, cheio de suspense, com narrativa pesada e cujo enredo gira em torno das investigações de uma série de crimes misteriosos, cometidos dentro de uma abadia medieval. Nesse ambiente quase sufocante, as personagens centrais buscam, ao longo do filme, desvendar os crimes, circunscritos à manutenção de uma biblioteca medieval, onde são guardadas as obras apócrifas, inacessíveis aos monges.

Dora explicou que o filme ajudaria na assimilação, por parte dos estudantes, de questões relativas à arquitetura, ao ambiente e ao clima claustrofóbico de um mosteiro, uma abadia. Essa justificativa deixava claro que a exibição do filme teria um propósito ilustrativo, pois ela se valeria de, pelo menos, dois elementos: a iluminação e o cenário. Embora tenha feito menção a essas duas unidades, possivelmente, Dora não tinha noção de que elas compõem um conjunto denominado de elementos fílmicos não específicos72, pois, como ela mesma dissera na entrevista, tinha uma limitação sobre os aspectos técnicos e a linguagem do cinema.

À medida que os estudantes iam chegando, um barulho ia se instalando – risos, conversas paralelas, conversas ao telefone – e tomando conta do local. No auditório, me assentei em uma das poltronas, logo à frente. Dora colocou uma cadeira do lado direito ao meu, posição na qual ela tanto podia observar a movimentação dos estudantes, quanto