• Nenhum resultado encontrado

Relações e práticas de ESTUDANTES com cinema DENTRO e FORA da Universidade

DE PROFESSORES E ESTUDANTES DENTRO E FORA DA UNIVERSIDADE: CARACTERIZAÇÃO

3.3 Relações e práticas de ESTUDANTES com cinema DENTRO e FORA da Universidade

Quando perguntados se assistiam a filmes no dia-a-dia fora da Universidade, (97,9%) dos jovens estudantes dos dois cursos pesquisados – História e Pedagogia - afirmaram que o faziam e (2,1%) afirmaram que não. Mediante essas estatísticas, analisei alguns aspectos através dos quais procurei apreender como o cinema/os filmes estavam presentes no dia-a-dia do grupo estudantes, em seus tempos e espaços fora da Universidade: frequência/regularidade e os meios através dos quais assistiam a filmes; gêneros de filmes preferidos; com quem costumavam assistir a filmes nos tempos livres; filmes a que assistiam e onde o faziam; sentimentos presentes após assistirem a filmes; fatores mais importantes para a escolha de um filme.

a) Frequência/regularidade e meios através dos quais assistiam a filmes

O grupo de estudantes também pôde indicar a frequência/regularidade e os meios pelos quais assistiam a filmes (Figura 9). As frequências e regularidades mais elevadas foram: na TV diariamente (34,%); semanalmente DVD/locado/internet (23,4%) e TV (23,4%). Raramente os estudantes assistiam a filmes no cinema (46,8%), na TV (25,5%) e em DVD/locado/internet (42,6%). Quando o faziam, havia um percentual e uma frequência quinzenal: TV (2,1%), DVD/locado/internet (2,1%), cinema (2,15%).

No caso dos estudantes que assistiam a filmes com certa regularidade, vemos que houve uma maior incidência dos que viam diariamente. Isso pode indicar que, como os professores, eles também assistiam a filmes em outros meios e espaços que não a sala de cinema. A caracterização do grupo indica que uma parte dos jovens estudantes não tinha acesso a cinema em suas cidades. Esse fato inviabilizava que eles vissem filmes em salas de cinema. Possivelmente, esse era um dos fatores que os “obrigavam” a fazerem uso de outros meios para terem acesso a cinema. Já no caso de Garanhuns, a cidade possuía duas salas de cinema, nas quais predominava a exibição de filmes comerciais e estrangeiros. No entanto, pude perceber que, mesmo com essa oportunidade de acesso ao cinema, o grupo tinha uma maior regularidade no hábito de assistir a filmes em TV,

DVD/internet.

O contexto, o espaço e as situações nas quais os filmes são assistidos tornam-se importantes para que possamos entender como o cinema afeta os sujeitos através dos filmes. Para Fantin (2005), essa compreensão é importante porque:

Assistir a um filme em casa ou na escola, na televisão ou em fita de vídeo envolve variáveis que modificam a forma de percepção e significação. O contexto de fruição é outro, a luz da TV é diferente, a perspectiva interna da imagem é diferente, a atenção é diferente, o espaço é outro. (Ibid., p. 7).

Concordando com Duarte (2012), que diz que o contexto afeta significativamente a forma como as pessoas são tocas pelos filmes, Fantin diz que ver filmes em contextos, espaços e dispositivos diferentes ainda resguarda, através da linguagem cinematográfica, elementos importantes, independente do meio e espaço nos quais eles são vistos. Ou seja, o impacto causado pelos filmes é resultado de um conjunto de fatores que inclui a situação, a “sala de exibição” (imobilidade, escuridão, perspectiva monocular) e elementos da própria linguagem, que fortalecem ainda mais, como já foi dito, a ilusão do cinema (FANTIN, 2006).

Constatei que tanto os docentes quanto os estudantes tinham como principais meios/suportes para a assistência a filmes os recursos fora dos cinemas. Quanto ao fato de eles indicarem a Faculdade como local onde assistiam a filmes, isso indica que a inserção de filmes no contexto da Licenciatura era compactuada por ambos.

É comum, em cidades interioranas, como é o caso de Garanhuns e de cidades vizinhas, o circuito de cinema explorar filmes mais comerciais, diferentes daqueles filmes que podem fazer “pensar” (XAVIER, 2008a). No caso dos estudantes sujeitos desta pesquisa, a ida ao cinema implicaria um deslocamento para uma cidade mais próxima, Garanhuns. Envolvia, portanto, uma questão financeira associada a: transporte, ingresso, lanche etc., despesas que não poderiam comprometer a baixa renda do grupo dos alunos, mesmo daqueles residiam na cidade. Possivelmente, esse seria um dos fatores que os “obrigavam” a fazer uso de outros meios como TV, DVD/internet em suas casas.

Essas disposições sobre como os jovens viam filmes são explicadas por Duarte (2012) a partir de seus estudos sobre a relação de crianças e jovens com o cinema. A autora aponta que jovens possuem interesse em ver filmes e os veem, em grande quantidade e regularmente, no computador, na televisão e em DVD, mas raramente vão às salas de cinema. A exceção está quando se trata de filmes que possuem um impacto

visual, comercial e grande apelo juvenil e/ou tecnológico, que, na tela grande, pode causar maior impacto de assistência. Leva-se em conta, aí, a questão da socialização, haja vista que, em muitos dos casos, algum filme com as características acima tem potencial de agrupar os indivíduos em uma assistência coletiva. Conclui-se que, geralmente, eles gostam do que já conhecem e têm pouca disposição para entrar em contato com o que foge ao padrão estabelecido. Esses fatores fazem com que a forma com a qual os jovens assistem a filmes em outros dispositivos e espaços interfira na maneira como se relacionam com o cinema e o frequentam.

Espectadores que não têm oportunidade de vivenciar o cinema nas condições mais adequadas para sua fruição tendem a transferir para a relação com o cinema seus modos de ver televisão, associados, em geral, à experiência de fragmentação e de atenção intermitente. (DUARTE, 2012, p. 3).

Concordo que o desenvolvimento do gostar, amar, apreciar e conhecer cinema não se desenvolve sozinho. Requer uma mediação para que ele seja apresentado, estimulado, alimentado, frequentado de maneira prazerosa, fruitiva. Por isso, Duarte defende que são os adultos, dentro ou fora da escola, que quase sempre devem fazer tal mediação. A defesa em favor disso se baseia no fato de que são eles que reconhecem, inicialmente, o valor da arte cinematográfica. Nesse sentido, as atividades com filmes presentes neste estudo colaboram com a proposição de Duarte. Isso porque, devido às contingencias sociais e culturais e aos fatores já expostos, muito provavelmente, os jovens estudantes não teriam outros adultos que os estimulassem e os aproximassem do cinema, senão seus professores no espaço universitário.

b) Com quem assistiam a filmes e com que regularidades

Ao informarem com quem assistiam a filmes (Figura 10), os dados indicaram que assistir sempre sozinho (34%) foi a maior frequência se considerarmos a maior regularidade percentual; seguido de sempre com esposo/a ou companheiro/a (25,5%); sempre com irmãos (10,6%), sempre com filhos (8,5%) e sempre com sobrinhos (6,4%). Algumas vezes com os amigos aparece com 38,3% como a alternativa de maior regularidade; algumas vezes com irmãos (23,4%); algumas vezes com os pais (14,4%); e a menor, algumas vezes com sobrinhos (2,1%). No conjunto, a assistência a filmes com maior regularidade evidencia a predominância do núcleo familiar (pais, irmãos, sobrinhos, esposo/a), com os quais os estudantes compartilhavam os momentos frente à obra fílmica. Esse conjunto assemelha-se às situações que vivenciavam os professores.

Ao colocarem o cinema em seus tempos livres, na companhia de familiares muito próximos, professores e estudantes reforçaram o quanto o cinema pode possibilitar momentos fraternos muito particulares de proximidade.

Essa dimensão tem consonância com o fato de que as práticas pedagógicas nas quais o cinema e os filmes estão presentes não se apresentam como algo novo para os discentes, pois o senso comum indica que, para esses, as atividades com filmes não se configuram, ainda, como aulas. Em outros termos, os trabalhos com filmes, muitas vezes, acontecem pela via do entretenimento, da diversão, da ilustração. Partindo dessa perspectiva, o cinema, na Universidade e na escola, provoca questões que se alicerçam na análise e discussão dessa presença. Discutir o lugar do cinema na educação e nas práticas pedagógicas com o objeto fílmico tem um caráter pragmático, ou seja, pergunta- se: Por que inserir filmes como agentes no processo de ensino-aprendizagem, na rotina escolar?

Responder a essa questão é essencial para que possamos compreender, de modo substantivo, os meandros da inserção do cinema na educação. Respondê-la nos ajudará a repensarmos os modos como os discentes veem filmes dentro e fora da Universidade. “Ver filmes é uma prática social tão importante, do ponto de vista da formação cultural e educacional das pessoas, quanto a leitura de obras literárias, filosóficas, sociológicas e tantas mais.” (DUARTE, 2002, p. 17).

c) Gêneros de preferência e critérios de escolha de filmes

Quanto ao gênero fílmico de preferência (Figura 11) o romance (48,9%) é o que aparece com maior indicação de preferência dos jovens estudantes. Registra-se um percentual significativo dos gêneros ficção científica (19,1%), drama (36,2%), aventura (29,8%), terror (21,3%), infantil (19,1%), religioso (14,9%), policial (12,8%) e pornô (2,1%). Outros gêneros (4,3%) foram assinalados, mas não indicados em particular. Os gêneros histórico (25,5%) e documentário (14,9%) averiguei que foram indicados pelos estudantes do curso de História. Em comparação com os professores, os percentuais indicam um equilíbrio de diversidade que os estudantes tinham para as escolhas dos filmes, incluindo outros que não foram indicados pelos docentes.

A partir do que indicaram como gênero fílmico, perguntei as razões ou motivos que guiavam suas escolhas fílmicas (Figura 12). Para os estudantes, o tema/assunto também foi o critério primordial para a escolha de um filme (70,2%), seguido de atores (19,1%), críticas (19,1%), sinopse (19,1%), opinião (19,1%) e lugares (8,5%). Assim como os professores, ano (6,4%) e país (2,1%) foram as razões que menos os levavam a

escolher um filme. Para entender um pouco os gêneros e as razões/os motivos, pedi que os estudantes indicassem os 3 últimos filmes a que haviam assistido na ocasião da coleta de dados. Figuraram nessa lista:

A águia da legião perdida (2011); A era do gelo (2002); A era do gelo II (2005); As vantagens de ser invisível (2012); Até que a morte nos separe (2012); Carrosel - o filme (2015); Crepúsculo (2008); Desmundo (2003); Diário de um vampiro (2009); E se fosse verdade (2005); Meu malvado favorito (2010); Meu namorado é um Zumbi (2012); Mr. Bean (1997); Narco (2015); O auto da compadecida (1999); Colegas (2013); O impossível (2012); O preço do amanhã (2011); O príncipe da Pérsia (2010); Orações para Bobby (2009); Os minions (2005); Para sempre Alice (2014); Pronta para casar (2008); Série - Sobrenatural (2005- 2006); Um amor para recordar (2002); Uma prova de amor (2009); A onda (2008); A partilha (2001); Casa de areia e névoa (2003); Clube da luta (1999); Constantin (2005); Jurassic World (1993); Mad Max (1979); O labirinto do fauno (2006); O livro de Eli (2010); A bela e fera (2011); A culpa é das estrelas (2014); A pele que habito (2011); A incrível história de Adeline (2015); As sete regras do amor (2003); Cada um na sua casa (2015); Frozen (2013); Jessabele – o passado nunca morre (2014); A saga crepúsculo - Lua nova (2014); O gordo e o magro (1927); O homem de sorte (2012); O massacre da serra elétrica (1974); Paixão sem limite (2005); Para sempre ao seu lado (2009); Quase deuses (2004); Querido John (2010); Rambo (1981); Rio 2 (2014); Se eu fosse você (2006); Último tiro (2012); Valente (2012); Vozes inocentes (2004); A pequena sereia (1989); Árvore da vida (2011); Confissões de assassinatos (2012); Fúria de titãs (2010); O físico (2013); O grande Gatsby (2013); Operação big hero (2014); 50 tons de cinza (2015); A noiva cadáver (2014); A teoria de tudo (2014); Carlota Joaquina (1995); Deus não está morto (2014); Doce vingança (2010); Em nome de Deus (2001); Mama mia (2008); Os três patetas (2012); P.S. eu te amo (2007); Quem quer ser um milionário (2008); Tintin - o caçador de aventuras (2011); Um lugar para recomeçar (2005); Uma prova de amor (2009); Alexandria (2009); Casablanca (1942); Cinderela (2015); Indiana Jones (1981); O substituto (2011); Ted 2 (2015).

Como os professores, os estudantes também tinham uma preferência pela filmografia estrangeira, massivamente americana. A lista de filmes apresentados por docentes e estudantes revela, assim, uma diversidade de motivos que os levavam a gostar desse ou daquele filme. E esses gostos eram resultantes dos contextos sociais em que vivem.

Ao fazer referência ao gosto por um determinado filme, Duarte (2002, p. 89) diz: [...] gostar significa saber apreciar os filmes no contexto em que eles foram produzidos. Significa dispor de instrumentos para avaliar, criticar e identificar aquilo que pode ser tomado como elemento de reflexão

sobre o cinema, sobre a própria vida e a sociedade em que se vive. Para isso, é preciso ter acesso a diferentes tipos de filmes, de diferentes cinematografias, em um ambiente em que essa prática seja compartilhada e valorizada.

Assim, o gosto por determinada filmografia está, também, vinculado à profissão de professor, ao repertório que o docente traz e/ou usa no cotidiano das suas práticas educativas, mas que também compõe seus repertórios fílmicos, seja por gosto ou por contingência.

Além da regularidade relacionada a com quem assistiam e em que meios, os estudantes apontaram que os últimos filmes tinham sido assistidos em locais diferentes. Nessa situação, os estudantes informaram o local em que assistiam (Figura 13) e os dados foram os seguintes: em casa foi o local no qual mais assistiam a filmes (90,5%), seguido de Faculdade (3,8%), cinema (3,8%), escola (1,0%), trabalho (1,0%).

Segundo os estudantes, havia as seguintes frequências de exibição de filmes na Universidade (Figura 14): a cada dois meses (34%), raramente (31,9%), semanalmente (17, %), mensalmente 14,9%, não respondeu a questão (2,1%). De uma forma ou de outra, vemos um percentual de filmes na prática pedagógica e que eram bem recebidas pelos estudantes. Os desdobramentos das implicações das práticas pedagógicas com filmes na Universidade, segundo os estudantes, encontram-se nos capítulos seguintes.

De modo geral, através das informações colocadas nos questionários, os alunos apontaram que as práticas pedagógicas com filmes eram planejadas e obedeciam a um planejamento. Eles destacaram que os filmes traziam um conhecimento cultural proporcionado pelo cinema, fazendo com que o estudante pudesse expandir a sua visão de mundo. Apontaram também que o filme estava na prática do professor porque o docente tinha autoridade para fazer uso daquele recurso, para exibir filmes, uma vez que conhecia cinema e acreditava que este poderia ser um meio de trazer mais conhecimentos para os aprendizes.