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Verônica e seus jovens estudantes: os sujeitos das práticas 1 Verônica, a professora do curso de Pedagogia

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COM FILMES NA LICENCIATURA: OS CASOS DAS PROFESSORAS DORA E VERÔNICA

4.2 Verônica e seus jovens estudantes: os sujeitos das práticas 1 Verônica, a professora do curso de Pedagogia

A ideia da escolha da professora Verônica como o segundo estudo de caso se deu quando comecei a explorar o campo para a pesquisa e após a aplicação do questionário junto aos docentes. Eu me lembrava vagamente da predileção dela por cinema, tanto fora, quanto nas atividades de sala de aula. Mesmo de posse dessa informação, eu não tinha ainda, de forma sistematizada, os motivos que a levaram ao contato com a arte cinematográfica. Foi só a partir da leitura de seu questionário e de algumas conversas informais que tive com ela que tive a certeza de que ela também poderia contribuir para a pesquisa.

Como docente da Unidade-Campus Garanhuns, a professora Verônica possuía, na época da pesquisa, uma carga horária total de 40 horas semanais, divididas entre ensino, pesquisa e extensão. No momento de observação da sua prática pedagógica, ela

lecionava a disciplina “Educação e ludicidade” no curso de Pedagogia. Essa disciplina tem como objetivo ampliar os conhecimentos acerca dos fundamentos teóricos da educação e da aprendizagem relacionados à ludicidade. Tal disciplina apresenta e analisa propostas de atividades com jogos, brincadeiras etc., com o objetivo de levar os alunos, futuros docentes, a perceberem as dimensões afetivas, cognitivas, psicomotoras e socioculturais dos aprendizes. Segundo Verônica, é a partir desse contexto que se insere a criação de atividades lúdicas a partir de filmes, com o objetivo de ampliar e diversificar a prática pedagógica e a formação docente.

Além da disciplina citada, ela ministrava outras disciplinas pedagógicas como: Didática, Educação de jovens e adultos e História da Educação, em outras licenciaturas: Matemática, Geografia e História, prática muito comum aos docentes formados em Pedagogia, pois, devido a uma formação multidisciplinar, transitam em vários cursos, sendo alocados em disciplinas pedagógicas.

Durante as conversas que tivemos, a professora Verônica relatou que seu forte eram as disciplinas voltadas para alfabetização e as que estavam relacionadas à Educação Infantil, por isso gostava de ministrar aulas no curso Pedagogia, haja vista que tais disciplinas estavam mais alinhadas com sua formação e as perspectivas do curso. Contou- me também que havia sido professora da Educação Básica, tendo trabalhado, especificamente, com alfabetização de crianças.

No que diz respeito ao ensino superior, seus primeiros passos se deram dentro da própria Unidade-Campus Garanhuns, como ela mesma descreveu:

Sou graduada em Pedagogia pela Universidade de Pernambuco – Garanhuns (2005), Especialista em Psicopedagogia pela Universidade de Pernambuco/Garanhuns (2006), Mestre em Educação pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL, na linha de pesquisa de História e Política da Educação (2013) e hoje, doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL (atualmente), na linha de Pesquisa de História e Política da Educação. Lecionei na Universidade de Pernambuco e, atualmente, leciono na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Participo do grupo de pesquisa GEPE - Grupo de Pesquisa sobre Estado, Políticas Sociais e Educação Brasileira. (Diário de campo, Depoimento, 26/11/2015).

Completando, Verônica era uma mulher de 35, nascida e residente na cidade de Garanhuns, recentemente casada, sem filhos, morena clara, alta, esbelta, esguia e com longos cabelos lisos, naturais e negros. Tanto dentro quanto fora da sala de aula, sua voz era suave e se mantinha inalterada em diversas situações, sejam reuniões do curso,

conversas informais ou no trato com os estudantes, característica muito singular que percebi durante suas atividades. Isso ocorria mesmo quando havia barulho na sala, com conversas paralelas e desatenção dos discentes. Além desse atributo, ela era atenciosa e possuía um sorriso largo e contagiante, com o rosto sempre sereno, tranquilo.

Quanto às atividades com filmes, era notória entre nós, colegas professores, a paixão dessa docente por cinema. Ora aqui e ali, nas reuniões, ela fazia um comentário sobre filmes quando discutíamos o planejamento e as atividades comuns a algumas disciplinas. Contudo, até o momento da pesquisa, eu ainda não havia estado tão próximo das atividades que ela realizava envolvendo filmes. Sobre isso, no momento da entrevista, perguntei se, quando ela ia ao cinema, já tinha a intenção de assistir ao filme vislumbrando a possibilidade de, caso ele fosse interessante, utilizá-lo em sua prática pedagógica. Ela comentou que sempre ia ao cinema com a intenção inicial de desfrutar de um bom filme, de se divertir, porém, tinha essa outra perspectiva: tentava perceber se os filmes assistidos poderiam servir, de alguma forma, para suas aulas. Sobre isso, ela relata o seguinte episódio:

[...] A semana passada eu estava em Maceió e eu não tinha intenção nenhuma de ver filme. Na verdade, eu estava super cansada, já eram quase 21h horas da noite e eu estava querendo voltar para Garanhuns, já iria voltar. Então, eu entrei no shopping para jantar, mas quando eu subo... (suspense na fala), vejo lá em cartaz: O pequeno príncipe 3D (gargalhada). Enlouqueci, não é? Eu adoro o livro, inclusive, desde criança, eu tenho tudo, faço coleção, aquela coisa toda; então, enlouqueci! Não tinha como eu ver depois, porque o desejo foi maior; quase que eu ia ficar sem jantar para ver o filme. Aí eu fui assistir. Eu entrei na sala de cinema com um olhar mais pedagógico mesmo. Foi mais realmente querendo ver o que eu já sabia e compreendia do livro, o que o filme iria trazer de novo que poderia ser trabalhado nas minhas aulas. (Verônica, Diário de campo, Entrevista, 26/11/2015).

Ao ler esse relato, se observa o quanto o cinema era importante para Verônica no momento da entrevista e o fascínio que esse lhe causava. Soma-se a isso a sua intensa vontade de dinamizar a sua prática pedagógica, sua metodologia, seu trabalho docente. Mesmo em seu tempo livre, a professora vislumbrava a sua prática pedagógica como algo cotidiano, que era mexido por seu desejo de sacudi-la, transformá-la, fazê-la viva. A sua fala explicita que, como docente preocupada com a formação docente de seus estudantes, não se furtava em “perder” tempo livre para pensar a sua prática educativa, sem esquecer que, atrelado a isso, estava o seu prazer pelo cinema. Verônica, assim como outros docentes, acreditava que era possível buscar e encontrar nos filmes elementos, fatos,

histórias, que se ancoravam numa articulação que dimensionava o seu fazer docente, as disciplinas que lecionava e os conteúdos disciplinares, como ela mesma ressaltou. 4.2.2 Os alunos da professora Verônica

Os alunos da professora Verônica eram homens e mulheres do 6º período do curso de Pedagogia, na faixa etária entre 19 e 35 anos. Tratou-se de um grupo predominantemente feminino, com apenas 04 pessoas do gênero masculino. Esse fato não me causou estranheza, pois, historicamente, o curso de Pedagogia é marcado pela forte presença feminina, fruto da feminização da atividade docente. Essa tendência é caracterizada por um conjunto de práticas que são cultural e socialmente associadas ao gênero feminino, como: o cuidado, o trato afetivo, o carinho, ações mais visíveis principalmente quando se trata do exercício docente. No caso do curso de Pedagogia, cuja formação profissional é destinada à docência na Educação Infantil e no primeiro segmento do Ensino Fundamental, há diferenças comparando-se com o curso de História, no qual parece haver uma equidade dos dois gêneros no ingresso dos estudantes.

Pelas conversas que eram travadas, via-se que muitos desses estudantes já estavam no exercício profissional. As informações obtidas através dos questionários indicaram sua qualificação no Magistério Nível Médio, habilitação ainda muito comum em cidades pequenas do interior do Estado de Pernambuco, onde o acesso à licenciatura não era possível para todos os jovens.

Em relação à pertença racial, o número maior recaiu sobre os sujeitos que se declararam pardos e pretos, um menor número se declarou indígena; sendo todos os participantes oriundos de escolas públicas. Foi observado que grande parte desses estudantes morava com os pais e outros familiares, tinham filhos e companheiros. Mais da metade deles trabalhavam, mas só uma pequena parcela exercia atividades em escolas. Assim como os estudantes de outros cursos do Campus-Unidade Garanhuns, os alunos de Pedagogia residiam em Garanhuns e em cidades vizinhas e tinham também as mesmas características: chegavam à noite, em ônibus disponibilizados pelas Prefeituras de suas respectivas cidades, e alguns se dividiam entre o estudo e o trabalho, enquanto outros se dedicavam somente ao estudo.

O grupo de estudantes de Verônica não foi tão receptivo à pesquisa quanto imaginei que seria. Durante alguns dias após a observação e mesmo depois da aplicação dos questionários, tentei fazer contato com alguns estudantes através de e-mails e de

contato pessoal. Conversavam pouco, não apresentavam entusiasmo e eram monossilábicos nas questões mais pertinentes à pesquisa, embora, durante a observação, tivessem demonstrado algum interesse. Não desistindo de meu intento, conversei com os poucos que puderam e quiseram participar. Foram cerca de 10 estudantes, todas mulheres. Logo após entregarem o questionário, elas forneceram algumas informações sobre as atividades com cinema/filmes. Do total de 10, apenas 04 me concederam entrevista por correio eletrônico.

O conjunto de 10 mulheres estudantes, dentre outras questões, apontou a necessidade de mais atividades com filmes, com vistas à prática, pois só a professora Verônica realizava atividades práticas, lúdicas e pensadas para a sala de aula, destacando- as como processos formativos. Segundo essas estudantes, alguns professores passavam filmes para serem discutidos, debatidos ou para passar o tempo de aula, e alguns filmes não se encaixavam no conteúdo das disciplinas.

Apesar dessas queixas, no entanto, quando houve a Semana Universitária no mesmo ano, apenas uma estudante da professora Verônica participou da oficina com filmes que a professora ofereceu, no qual ela revisitou uma atividade que fizera quando professora da Educação Básica.

Quanto ao fato de estarem cursando Pedagogia, as jovens informaram estarem satisfeitas com o curso, terem uma afinidade com o magistério e estarem, algumas, já trabalhando em escolas ou creches. De modo geral, para essas estudantes, o magistério em classes da Educação Infantil era uma possibilidade de efetivação na carreira. Isso porque, morando em cidades pequenas e interioranas, a docência nesse nível de ensino era o que oferecia maior número de vagas em concursos públicos municipais, sejam como docentes ou no exercício em outras atividades educacionais, conforme dispõe a Diretriz do Curso de Pedagogia, em seu Art. 4º82, sobre a formação acadêmica.

Embora a formação em nível superior seja uma exigência do documento oficial em consonância com o Projeto do Curso de Pedagogia, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, bem como outros dispositivos legais que se referem ao curso de Pedagogia e aos cursos superiores, no que diz respeito às licenciaturas, as estudantes disseram que não conheciam

82 “O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer

funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.” (BRASIL/MEC/CNE, 2006, p. 02).

profundamente as Diretrizes do Curso. As informações eram passadas quando um ou outro docente do curso tratava de tais diretrizes em disciplinas como: Gestão Educacional, Organização da Educação Nacional e os estágios, já que essas disciplinas apontam e discutem a atuação do pedagogo em diferentes espaços formativos.

As estudantes disseram ainda que não tinham ideia da potencialidade do curso antes de sua entrada na Faculdade, fato que só veio à tona, segundo elas, durante o processo de preparação de entrada dos estudantes no campo de trabalho, os Estágios Supervisionados.

Com isso, pode-se inferir que parte dos estudantes do curso de Pedagogia vislumbravam apenas o exercício da docência em decorrência do fato de muitos já estarem, de certa forma, envolvidos na Educação Infantil, com trabalhos em creches e no trato com crianças e adolescentes. De modo geral, percebi que havia desconhecimento entre os estudantes quanto ao fato de que o licenciado em Pedagogia pode exercer diferentes atividades em espaços formais e não formais, conforme recomenda o Conselho Nacional de Educação83.

Escutar essas estudantes, de alguma maneira, levou-me a refletir que as falas delas denunciavam, nas entrelinhas, que o motivo de ingresso no curso é creditado à vocação, à inclinação para a docência, à continuidade da profissão de algum membro a família, ou ao gosto “natural” pela profissão docente. Nesse sentido, as estudantes pareciam buscar, na formação docente em nível superior, não só um diploma para conseguirem o cargo público na educação, mas também um maior aprofundamento metodológico oferecido pelo curso, que as auxiliasse no ato de ensinar e que as tornasse professoras mais competentes no presente e no futuro de suas profissões. Para elas, o magistério parecia ser uma forma mais comum de trabalho profissional, haja vista a maioria feminina no curso.

Essa forma de pensamento me fez refletir sobre as concepções que as estudantes tinham sobre o “fazer” e o “ser” docente e a profissão. Assim, as concepções se pautavam nos diferentes contextos históricos, em influências individuais e em interações coletivas que antecederam a entrada no Curso e na Universidade, como aponta Cunha (2006, p. 363): “[...]nas práticas historicamente construídas, delineando representações da profissão de professor que se estabelecem no senso comum.”

83 “Atenção às questões atinentes à ética, à estética e à ludicidade, no contexto do exercício

profissional, em âmbitos escolares e não-escolares, articulando o saber acadêmico, a pesquisa, a extensão e a prática educativa.” (BRASIL/MEC/CNE, 2006, p. 04).

Posteriormente e concomitantemente a essas conversas, o passo seguinte foi observar como a professora Verônica conduzia suas atividades com filmes. Agendei a observação por telefone e marcamos dia, hora e local e também registrei o conteúdo da atividade. O objetivo da observação foi verificar que atividade com filme seria desenvolvida e que encaminhamentos a professora daria a partir da exibição desse filme. 4.2.3 Cenas e enredos da aula - algumas sequências

Data: 15 de maio de 2015 - quarta-feira

Local: Sala de aula do curso de Pedagogia - Unidade Garanhuns - PE Tempo de aula: 18h50min às 20h30min

Personagens: A professora Verônica, 33 jovens (30 mulheres e 03 homens) e o pesquisador

No dia combinado, encontrei Verônica às 19h10 min, na entrada da Faculdade. Ela surgiu alegre, segurando uns livros, a bolsa e o notebook. Após as saudações, seguimos juntos, falando sobre amenidades pelos corredores que nos levariam à sala de aula dela. Ao passarmos pela cantina, vi que estava cheia de muitos estudantes e alguns docentes, homens e mulheres, que faziam uma “boquinha” antes de irem para suas salas de aula. Assim como Dora, Verônica conhecia muitos estudantes que estavam naquele ambiente E, ao longo do trajeto, ora falava, ora cumprimentava, ora acenava para aqueles jovens. Isso aconteceu até chegarmos à sala na qual ela ministraria sua aula.

Verônica entrou na sala saudando os estudantes e se dirigindo à mesa, onde colocou o material que trazia, e disse: “Boa noite gente!”

Entrei logo atrás dela e, como uma espécie de câmera, foquei a sala fazendo uma panorâmica daquele espaço tão próximo e tão querido. Ainda era a mesma sala em que, durante sete anos, eu estivera à frente como professor. Essa sala era como tantas outras da Faculdade: de porte médio, com mais ou menos 8m². Os estudantes presentes na sala estavam dispostos em carteiras desordenadas: umas de frente para as outras, fazendo um meio círculo; algumas colocadas em círculo; outras enfileiradas. Essa forma de “arrumação” deu a entender que os alunos se agrupariam assim durante a aula e foi o que aconteceu. Durante toda a aula, os estudantes se posicionaram da mesma forma como as carteiras que escolhiam estavam postas. Um ou outro ajeitava a cadeira, ora para ficar de frente para a professora, ora para ficar mais próximo de algum colega.

Na sala havia dois janelões de vidros, que estavam fechados devido ao frio que, naquela época do ano, era constante e cortante. Os janelões estavam cobertos com uma

tinta escura para impedir a luz do sol em dias quentes ou escurecer a sala, fato que, de certa forma, favorecia o uso do datashow e, consequentemente, a exibição dos filmes.

As paredes nuas, sem nenhum cartaz ou aviso, eram de tijolo aparente, pintadas com um verniz que dava um certo brilho às mesmas, porém, sem luz do sol ou luz artificial, parecia ser uma sala escura. A lousa ficava logo após a entrada da sala e de frente para os estudantes; era de PVC branco e lustroso, sem nada escrito, com apenas algumas manchas azuis e pretas que indicavam que ela era frequentemente usada.

Como a Faculdade não possuía uma sala de cinema específica, os filmes, quando exibidos, eram projetados nas próprias salas de aula ou no auditório, que, embora não fosse o ideal, oferecia boas condições de exibição. Assim como Dora, Verônica preferia usar o auditório quando exibia filmes, espaço no qual as cadeiras eram mais confortáveis e em que, ao apagar das luzes, o clima de “quase cinema” se instaurava no ambiente.

Sentado em uma cadeira próxima a um dos janelões, comecei a fazer as anotações descritas acima enquanto Verônica conectava os cabos à tomada, ao datashow e ao notebook. Observei que os estudantes iam chegando um a um, aos pares e aos poucos, dando um “boa noite” a Verônica e se assentando em alguma cadeira disponível. Assim que se assentavam, imediatamente iniciavam uma conversa com outro colega. Dentro e fora da sala, o volume das conversas era alto e chegava a incomodar, porém a professora parecia estar alheia a esse barulho, compenetrada em ajustar os equipamentos, enquanto eu me sentia incomodado. Confesso que não conseguia distinguir bem todos os assuntos, devido ao tom alto e paralelo das conversas, mas, aguçando meus ouvidos, notei que algumas conversas versavam sobre o atraso do ônibus, problemas familiares, atividades da aula, problemas escolares dos filhos e o cotidiano escolar de quem já era docente.

Mais uma vez correndo os olhos pela sala, notei que, apesar de já terem se passado vários minutos do início da aula, ainda havia poucos estudantes presentes, fato muito comum na Faculdade, já que muitos alunos eram de outras cidades, chegavam em cima da hora da aula e ainda iam lanchar primeiro, antes de se dirigirem à sala de aula. Isso fazia com que, muitas vezes, as aulas começassem com muito atraso.

Enquanto Verônica continuava na arrumação do material da aula, outros estudantes iam chegando. À medida que entravam, me olhavam como um estranho que eu era, pois, embora eu fosse professor da Unidade, ainda não nos conhecíamos, visto que eu havia saído para o Doutorado quatro períodos antes.

Após terminar de conectar os cabos, Verônica deu um novo “Boa noite!” e começou a justificar a minha presença na sala, informando que eu era docente da

instituição e do curso de Pedagogia daquela Faculdade. Estava ali para fazer um trabalho de observação das atividades que ela desenvolveria com cinema. Feita essa apresentação, em seguida, ela pediu que eu mesmo me apresentasse e explicasse o meu projeto de tese e os meus objetivos naquele momento.

De pé, saudei os estudantes e descrevi a pesquisa de Doutorado. Expus os objetivos e a importância da observação daquela atividade. Mesmo enquanto falava, observei que os alunos pareciam me olhar com desconfiança, embora estivessem atentos e em silêncio. À medida que fui falando sobre a relação entre cinema e educação, a importância do cinema no campo da educação, as atividades importantes que decorrem dessa relação, foi havendo um entendimento maior e, com acenos positivos de cabeça, consentiram a minha observação da aula.

Quando terminei de falar, perguntei se, posteriormente, todos poderiam colaborar com a cessão de entrevistas. Percebi, através dos olhares, que alguns acharam a ideia interessante, como se estivessem consentindo. Embora não tivessem falado nada, a forma como ouviram com atenção justificava essa impressão. Esses gestos emblemáticos que substituíam a fala indicavam compreensão sobre o que fora exposto, ao mesmo tempo em que denotava consentimento. Após a minha fala, a professora Verônica retomou a palavra e começou sua aula. Nesse momento, já havia mais de 30 estudantes na sala.

No andamento de sua fala, Verônica, olhando para mim, mas de frente para os