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Origem da pesquisa e delineamento do problema

O PROBLEMA: ORIGEM, DELINEAMENTO, LOCALIZAÇÃO NA PRODUÇÃO ACADÊMICA, BASES TEÓRICO CONCEITUAIS

1.1 Origem da pesquisa e delineamento do problema

Comumente, algumas investigações5sobre cinema na sala de aula registram, dentre outras questões, o fato de que as atividades com esta arte e com filmes nas escolas e universidades são, por vezes, isoladas e dispersas. No entanto, como práticas pedagógicas, estão estreitamente relacionadas tais instituições e à formação docente. Muitas vezes, as atividades com cinema podem se apresentar como rotineiras, tradicionais, restringindo-se a recurso didático ou ilustração para a introdução de conteúdo programático ou explicação de temas, que acontecem através da exibição de filmes. Em algumas ocasiões, as práticas com cinema/filmes se apresentam como encenação/representação de uma dada situação e/ou como um meio de se trabalhar com os estudantes de forma mais didática e interessante, como informaram alguns participantes do nosso estudo. A respeito disso, algumas indagações se colocam nesse cenário: mesmo que de forma instrumental, as práticas pedagógicas com filmes/cinema seriam bem vindas e até necessárias em algumas situações didáticas? Em outras palavras, o uso instrumental do cinema também produz aprendizagens, conhecimentos, saberes, indicando seu potencial educativo?

Em outras ocasiões, em tais atividades há a perspectiva delas se apresentarem como forma de lazer e/ou mediante o interesse dos professores em ampliarem o universo cultural dos estudantes de forma prazerosa, fruitiva e criativa. Isso é possível ser feito

5A exemplo de Fernando VIEIRA e Ademir ROSSO (2011); Sandra VIANA (2009); Marcelo

através da criação de documentários, pequenos curtas-metragens e da elaboração de roteiros, por exemplo, que possibilitam novas percepções da realidade favorecendo o crescimento da imaginação, da criatividade, da sensibilidade, dentre outras possíveis atividades realizadas coletivamente com cinema e filmes em salas de aula. Nessa perspectiva, a fruição estaria e seria, segundo Migliorin (2010, p.109), “proporcionada pelo encontro em que um indivíduo qualquer, vindo de qualquer lugar, pode sentir e fruir com o outro na imagem, com o outro da sala e com os múltiplos outros que o habitam, em uma experiência na qual a sua própria fruição já é um tipo de criação”.

Nesse aspecto, podemos entender que o cinema na sala de aula, na escola, possibilita que os trabalhos com cinema sejam pensados como importantes aliados à formação cultural, intelectual, social, humana, estética e ética. Ao mesmo tempo, revelam uma visão do cinema como arte, linguagem, um ato de criação, um olhar mais atento à sensibilidade, como indicam Turner (1997); Duarte, (2002); Fresquet (2011) e Bergala (2008). Para tais estudiosos, dentre outros, o cinema é uma arte que possibilita experiência estética, a produção de sentidos, a alteridade. Consequentemente, não pode ser ignorado pela educação. Indaga-se, portanto: vistas sob esse aspecto, as práticas pedagógicas com filmes podem oferecer aos educandos muito mais que aprendizados de conteúdos disciplinares? Se nos apoiarmos no entendimento de Freire e Ira SHOR (1986), podemos dizer que sim! Para esses autores, os estudantes não aprendem só conteúdos, nem o professor ensina apenas isso; seja qual for a disciplina, a atitude do docente ensina por si mesma, pois seus gestos “falam” também.

A partir das duas perspectivas mais comuns nos trabalhos com cinema, cabe perguntar e investigar quais processos e práticas didático-pedagógicos poderiam extrair dessa arte o seu potencial educativo, a fim de dinamizarem e enriquecerem as práticas pedagógicas com filmes. Considerando tais possibilidades e discussões contidas nas perspectivas acima, delineou-se, como objeto desta pesquisa, em um primeiro momento, a análise do potencial educativo de práticas pedagógicas com filmes na Licenciatura.

Nesta tese, considero que tal potencial se evidencia no ensino universitário e nas Licenciaturas, em especial, em práticas pedagógicas nas quais o cinema e os filmes estão presentes em vários sentidos, tais como: instrumento/recurso didático; como ilustração e abordagem de conteúdo; como objeto de conhecimento; como linguagem e como arte; como documento histórico; como representação da realidade; como fruição, como entretenimento ou tantas outras possíveis.

analisando, na literatura, o conceito de prática pedagógica e as possíveis potencialidades

educativas do cinema. Para isso, parti do pressuposto de que a compreensão desses dois conceitos seria necessária para a análise do objeto da investigação. Dito de outro modo, investigar o potencial educativo do cinema para analisar o potencial educativo das práticas pedagógicas com filmes. O segundo caminho, empírico, consistiu no estudo de estudos de dois casos nos quais o cinema/filmes estava presente como eixo central da prática pedagógica. Destaco, ainda, que o olhar dos estudantes sobre a inserção de filmes na prática pedagógica de seus professores merece aprofundamentos e novos estudos, pois as investigações sobre o tema consideram, majoritariamente, apenas a perspectiva dos docentes sobre essas práticas.

Quanto a esse aspecto, alguns estudos6, com perspectivas diferentes, já apontam um crescente interesse em enfatizar a voz dos estudantes, sobre práticas pedagógicas com filme e cinema, no contexto universitário. Instigado pela necessidade de ter acesso a essa escuta, busquei enfatizar estas vozes, observando seus gestos e ações, escutando suas palavras, tentando apreender suas visões e sentimentos em relação às práticas pedagógicas com filmes. Procurei compreender como elas conformam processos educativos, perguntando, de modo especial, como os estudantes sentem, enxergam e significam atividades com filmes, em seus cursos, uma vez que a eles se destinam. Esta perspectiva investigativa se justifica, visto que ainda é escassa a produção de estudos que buscam a voz dos estudantes e o que eles pensam sobre estas atividades.

Como pressuposto, há a ideia de que o cinema/os filmes, também em contextos de práticas pedagógicas, contêm um claro potencial educativo, que pode dinamizar várias dimensões dos processos de formação humana. Seja no que concerne às aprendizagens e conhecimentos disciplinares, seja no que se refere ao exercício da ética, da alteridade e à experiência estética, seja no que concerne à formação do gosto, dos valores, ao reconhecimento das culturas em sua diversidade, dentre suas outras possibilidades.

Nesta direção, encontro, na pressuposição de Marilia FRANCO (2014, p.87), respaldo para apreender o porquê da presença de filmes na prática pedagógica de muitos professores:

6Entre os trabalhos que discutem atividades com cinema/filmes, em espaços universitários,

destacam-se os de Laene DANIEL; Hideide TORRES (2013) e o de Fábio Marques SOUZA (2014). Dentre os trabalhos que dão voz aos estudantes, estão as pesquisas de Maria do Carmo ALMEIDA (2014), Cristiano RODRIGUES (2015), Geraldo OLIVEIRA-SILVA (2013), Egeslaine NEZ e Ralf Hermes SIEBIGER (2011), Veruska OLIVEIRA etal.(2013) e Lara Nogueira SIEBIGER, (2005).

[...] “qualquer filme é educativo”. Por quê? Porque o educativo não é o filme, mas a relação que se estabelece entre o filme e o espectador, que é pessoal e intransferível e também incontrolável do ponto de vista de como pode influenciar cada pessoa. Pode produzir um grande impacto modificador, o que eu poderia chamar de uma “modificação educativa” para o bem ou para o mal, o que corrobora com a minha concepção de que qualquer filme pode vir a ser educativo, mesmo aquele qualificado como “ruim”.

Guiado por esse pressuposto, detalharei, mais adiante, as variedades de filmes e gêneros que os docentes consideram importantes de serem exibidos em suas aulas. Inicialmente, supunha que os docentes “apostavam” no impacto dos filmes exibidos, como veículos de aprendizagem, mesmo que não fossem prioridades suas estabelecerem a relação filme-espectador. Observa-se, ainda, que a presença do cinema nas práticas pedagógicas analisadas acontece individualmente, a partir dos encontros que cada um teve e/ou tem, ou não, com a arte cinematográfica.

Voltado à problemática das práticas pedagógicas que envolvem filmes na Licenciatura, nelas discutindo como se processa seu potencial educativo, procurei analisar a seguinte questão central: Mediante quais interações, circunstâncias, condições e formatos, tais práticas efetivam seu potencial educativo? Para tal fim, considero, na análise em questão, as dimensões ou os elementos que constituem e dimensionam as práticas pedagógicas: o contexto da realidade; o professor-estudante-conhecimento e suas relações; o processo de ensino-aprendizagem; a criatividade no desafio do cotidiano; a historicidade da prática e as interações, conforme apontam Ana Maria CALDEIRA e Samira ZAIDAN(2010; 2014).

O problema de pesquisa formatou-se nos seguintes termos: Que elementos concretizam e caracterizam o potencial educativo da arte cinematográfica na realização de práticas pedagógicas com filmes? O pressuposto é que o potencial educativo do cinema pode ser concretizado de forma mais ampla ou restrita, em um sentido ou outro (na direção dos conteúdos disciplinares ou em sentido mais largo, envolvendo a própria experiência estética e outras dimensões), dependendo das configurações dessas práticas realizadas pelos docentes. Em outras palavras, ao se concretizar em práticas pedagógicas com filmes, o potencial educativo da arte cinematográfica poderá se abrir ou se limitar, tomando uma e outra direção, conforme variem ou se alterem os traçados e configurações dessas práticas.

o aperfeiçoamento das práticas docentes vigentes na Licenciatura e em outros espaços formativos. Poderá também auxiliar em reflexões sobre metodologias com filmes, com o intuito de (re)pensá-las e (re)significá-las, (re)direcionando e (re)configurando tais práticas, de forma que elas possam concretizar, efetivamente, o vasto potencial educativo do cinema nas práticas pedagógicas.

Acresce-se ao que já foi dito que, ao longo do tempo, a arte cinematográfica foi se caracterizando como uma escritura produzida, podendo ser lida através de imagens, sons, palavras, encenação e representação de diferentes realidades sociais e naturais. No contexto da sala de aula, pelas mãos dos professores, se bem direcionada, torna-se um artefato cultural que revela uma singular expressão do pensamento e da sensibilidade humana, que conta, encanta, emociona, sensibiliza, encena, mas também didatiza, pois, como arte, o cinema é pedagógico em si mesmo (FRESQUET,2011).

Levando em conta as formulações acima, com o objetivo de ampliar a análise das questões propostas nesta investigação, outros pensadores dos campos do cinema e da educação podem auxiliar. Sobretudo, os que se ocupam das implicações pedagógicas e das imagens cinematográficas, de uma forma geral, na formação dos sujeitos socioculturais. Alguns pesquisadores salientam, dentre outras questões, a importância de se compreender um pouco a gênese da relação cinema/educação. Basicamente originada das propostas do cinema educativo, ela é datada em meados das duas primeiras décadas do século XX, no Brasil, conforme nos mostra a revisão de literatura e com evidências de uma demanda do cinema como uma prática social.