• Nenhum resultado encontrado

Os Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências são uma outra vertente do modelo de Educação e Formação de Adultos desenvolvida pela DGFV. Estes centros, articulados entre si, são espaços privilegiados, a partir dos quais é possível identificar as competências que as pessoas vão adquirindo por vias informais e não formais de aprendizagem e através de um processo integrado de reconhecimento e validação, proceder à certificação dessas mesmas proficiências.

interaja na Área CLC em diferentes domínios de comunicação evidenciando competências várias que lhe permitam atuar adequadamente, com espírito crítico, responsabilidade e autonomia (…). Deverá evidenciar competências que passam pela leitura, compreensão e produção de textos de diferentes tipologias e suportes, com finalidades utilitárias, formativas, lúdicas e estéticas, havendo nestes procedimentos graus de complexidade variada (…) (Gomes, 2006, p. 78).

84

Importa, neste caso, especificar o sentido informal e não formal. Assim, uma aprendizagem não-formal é aquela que ocorre em paralelo com os sistemas de ensino e formação e não implica necessariamente a obtenção de certificados formais. Esta pode decorrer no local de trabalho, através de atividades de organizações ou de grupos. A aprendizagem informal é aquela que advém da vivência natural do quotidiano. Esta aprendizagem não implica necessariamente premeditação, podendo, eventualmente, não ser reconhecida pelos próprios indivíduos, como enriquecimento dos seus conhecimentos e na aquisição de novas competências. Aliás, muitas pessoas adquirem competências ao longo da vida a partir de múltiplas experiências, sem terem sequer frequentado qualquer sistema de educação ou de formação. Neste sentido, Cardinet refere que “o Reconhecimento de Saberes Adquiridos que decorrem da experiência, qualquer que ela seja, acaba por constituir um direito fundamental do indivíduo”. (cit. por Leitão, 2002a, p. 10)

Mediante a Portaria n.º 1082-A/2001, de 5 de setembro, o Sistema Nacional de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) assenta na estratégia europeia para o emprego e no PNE, sendo encarado como um incentivo e um apoio efetivos à procura de certificação e de novas oportunidades de formação. Permite, desta forma, o reconhecimento, pelos sistemas de educação e formação, das competências adquiridas pelos adultos no decorrer do seu percurso pessoal e profissional. Tal como salienta Ávila, “uma das principais marcas destes centros é o facto de a sua constituição ser da iniciativa, não das estruturas centrais do Estado, mas sim das próprias entidades promotoras, as quais podem ser quer públicas, quer privadas” (2008, p. 272).

Não existe apenas uma preocupação com a instalação dos centros RVCC, mas também, e acima de tudo, que haja uma articulação entre os vários centros, em que a informação circule e seja partilhada entre as diferentes equipas. De acordo com a Carta de Qualidade dos Centros RVCC, aprovada pela direção da ANEFA, a rede dos Centros RVCC é um espaço privilegiado de comunicação, de cooperação e de primazia na esfera do Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências dos cidadãos. Não se pode descurar a articulação constante com redes análogas a nível comunitário. Além disso, faz parte de um sistema mais amplo de relações que tem como objetivo a coesão social, enquanto elementos que impulsionam o desenvolvimento das pessoas e a própria competitividade das organizações. Torna-se percetível que os CRVCC, centrados no Referencial de Competências-Chave, desenvolvem a sua atividade em torno de três

85

eixos básicos: o reconhecimento, a validação e a certificação de competências e encontram-se reunidos num roteiro estruturante (Leitão, 2002). Importa, todavia, explicitar, de forma mais vasta, cada um destes eixos.

O reconhecimento de competências está relacionado com a identificação pessoal das competências preliminarmente adquiridas pelo adulto e que se identifica com um conjunto de atividades (entrevistas individuais e de grupo, atividades práticas), fundadas numa lógica de balanço de competências. Para tal recorre-se a uma variedade de instrumentos que, assim, permitam ao adulto refletir e avaliar as suas experiências de vida e profissionais. Assenta, particularmente, na história de vida do adulto, exigindo, deste modo, o acompanhamento por profissionais que auxiliam o adulto na descoberta daquilo que foi aprendendo ao longo da vida e com as diferentes situações. Deste modo, o adulto apercebe-se que nas diversas atividades que desempenhou, assim como nas responsabilidades de que foi incumbido, efetuou aprendizagens e, consequentemente, desenvolveu determinadas competências. Isso leva a que haja não só um “reconhecimento social e formal de competências”, mas também um “reconhecimento pessoal” (Ávila, 2008, p. 273; Couceiro, 2002, p. 43). Tal como menciona Cabete, neste momento o desempenho do adulto e dos profissionais torna-se imprescindível (2006).

A validação das competências está associada a um ato mais formal. Neste caso, está relacionada com um conjunto de atividades que permitem que o adulto avalie as suas competências, no que concerne às quatro áreas de competências-chave e que integram a Formação de Base dos cursos EFA: Linguagem e Comunicação, Matemática para a Vida, Tecnologias da Informação e da Comunicação e Cidadania e Empregabilidade. Este ato culmina com a presença de um júri de validação que examina e avalia o dossier pessoal de cada adulto, construído com o apoio do profissional de RVCC. No caso de haver algumas competências que suscitem dúvidas por não estarem bem documentadas, o júri poderá pedir a sua demonstração.

A certificação, que ratifica as competências obtidas, reconhecidas e validadas com a emissão final de uma carteira pessoal de competências e do certificado alcançado, dá equivalência ao 3º, 2º ou 1º ciclo do Ensino Básico. Esta é a fase que Ávila denomina de “oficialização das competências” (2008, p. 273).

Tendo em conta os três eixos de intervenção supra enunciados, os centros RVCC asseveram uma oferta diversificada de serviços junto dos adultos, bem como da comunidade local: animação local, informação, aconselhamento, acompanhamento, formações complementares e provedoria (Correia & Cabete, 2002). Prestam, assim, um

86

serviço permanente de acolhimento, informação e aconselhamento aos adultos que recorrem a este serviço. É importante salvaguardar que estes centros surgem “ na e da dinâmica enraizada no trabalho directo com as populações, promovido por entidades que asseguram uma Rede de Parcerias” (Correia & Cabete, 2000, p.4).

De acordo com o art.º 1.º, alíneas a) e b) da Portaria n.º 1082-A/2001, o Sistema Nacional de RVCC estrutura-se a partir do Referencial de Competências-Chave de educação e formação de adultos da ANEFA e do Regulamento do Processo de Acreditação das Entidades Promotoras dos Centros RVCC.

Os Centros de RVCC estão encaminhados para dois pólos de intervenção distintos, com objetivos díspares, mas cada um deve operacionalizar e potenciar o outro. Falamos de uma intervenção relativamente ao meio e uma intervenção relativamente ao adulto. Neste âmbito, o Centro estrutura-se de acordo com o contexto de intervenção no meio interno – o centro – e no meio externo – comunidade local – através das atividades estruturantes, ou seja, todas as atividades que garantem o pleno funcionamento e manutenção do Centro e com o contexto de intervenção ao nível dos adultos através dos serviços de Reconhecimento, Validação e Certificação (Leitão, 2002a). Poder-se-á constatar aquilo que anteriormente foi frisado, através da figura 1.5 que a seguir se apresenta.

Fonte: Leitão, 2001, p. 19

Figura 1.5  Domínios de intervenção do Centro RVCC MEIO EXTERNO: Diagnóstico local; Promoção e divulgação; Redes e parcerias. ADULTO: Divulgação; Reconhecimento de competências; Formações complementares; Validação de competências; Certificação de competências; Provedoria. MEIO INTERNO: Sistema de Informação, Organização técnico-pedagógica.

87

No âmbito do reconhecimento, validação e certificação de competências, a ANEFA deu incentivos para a construção gradual de uma Rede Nacional de Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências. Esta é, na verdade, uma forma de atribuir certificação escolar, para ultrapassar as situações em que a escolaridade é inferior à obrigatória. A Portaria n.º 1082-A/2001, de 5 de setembro, menciona no seu artigo 2.º, ponto 1, que os centros RVCC são criados com o intuito de acolher e orientar os adultos maiores de 18 anos e que não possuem o 9.º ano de escolaridade. Pretende-se, assim, melhorar os níveis de certificação escolar e de qualificação profissional, numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida.

Os primeiros centros RVCC começam a funcionar em 2000, altura em que ainda se demarcavam alguns procedimentos e orientações. Numa primeira fase são criados seis centros RVCC, sob observação. Estes, em colaboração com a tutela, num trabalho conjunto e partilhado de reflexão-ação, auxiliaram na definição e na consolidação dos traços orientadores e estruturantes do sistema nacional RVCC.

Os CRVCC são promovidos por entidades públicas e privadas, devidamente acreditadas, inicialmente, pelo Sistema de Acreditação da ANEFA. Posteriormente passaram a ser monitorizados pela ANQ, I.P. Falamos de entidades com implantação e capacidade técnica instalada a nível local, regional e nacional. Por outras palavras, referimo-nos a estabelecimentos de ensino, centros de formação profissional, autarquias, empresas e associações. Deste modo, a rede de CRVCC constrói-se a partir da acreditação de entidades de natureza diversa, substancialmente enraizadas na comunidade em que estão inseridas. Este processo de acreditação de entidades promotoras de centros entrou em funcionamento em 2001.

Não se pode descurar que o sistema RVCC desempenhou um importante papel no sentido de melhorar as qualificações da população ativa portuguesa, nomeadamente no que se refere às habilitações escolares dos adultos (Portaria n.º 86/2007). Neste sentido, desde a sua criação sentiu-se necessidade de atualizar o sistema, tendo em consideração a experiência adquirida.

A 14 de dezembro de 2005 é feita a apresentação pública da Iniciativa Novas Oportunidades do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, com o objetivo de alargar o referencial mínimo de formação até ao 12.º ano de escolaridade para jovens e adultos. De acordo com as alterações implementadas à Portaria n.º 1082A através da Portaria n.º 86/2007, de 12 de janeiro, é necessário “actualizar o sistema em face da experiência adquirida e da evolução

88

entretanto verificada, cerca de cinco anos após a implementação definitiva deste dispositivo de educação e formação de adultos (2007, Preâmbulo). Além disso, acentua- se no mesmo documento a “aplicação de um referencial de competências chave nos processos de reconhecimento, validação e certificação de competências, assim como a expansão da rede de centros correspondente, ora designados por Centros Novas Oportunidades” (Ibidem).

Com as alterações introduzidas pela mesma Portaria, estes centros não se destinam apenas a acolher e orientar os adultos maiores de 18 anos e que não possuam o 9.º ano de escolaridade, tal como acontecia inicialmente. O nível secundário passou a ser implementado, com o intuito de elevar os níveis de qualificação da população portuguesa.

Além deste ponto que constitui uma das missões destes Centros cabe-lhes ainda ter de fomentar a procura de novos processos de aprendizagem, de formação e de certificação por parte dos adultos com baixos níveis de qualificação escolar e profissional e, por último, asseverar a qualidade e a relevância dos investimentos realizados numa política efetiva de aprendizagem ao longo da vida, valorizando socialmente os processos de qualificação e de certificação de adquiridos (Gomes, 2007). Estes adultos, consoante as situações, são orientados para um processo de RVCC, para um curso EFA ou para outro percurso educativo mais adequado. Importa salientar, após estas alterações, que existem entidades competentes que emitem a certificação obtida pelo processo de RVCC. Falamos dos estabelecimentos de ensino públicos e privados com autonomia pedagógica e dos centros de formação profissional do IEFP.

A gestão da rede dos Centros Novas Oportunidades, segundo o art. 15.º do Decreto-Lei n.º 396/2007, de 31 de dezembro, compete à ANQ, I.P., regulando esta “as condições do seu funcionamento, procedendo à sua avaliação e acompanhamento, tendo em atenção a manutenção de elevados padrões de qualidade”. Além disso, é também à ANQ I.P. que compete autorizar a criação dos Centros Novas Oportunidades, designados como CNO. Este Decreto-Lei delibera, assim, o regime jurídico do Sistema Nacional de Qualificações, vulgo SNQ, e decreta as estruturas que atestam o seu funcionamento.

Tendo em conta que os CNO fazem parte do Sistema Nacional de Qualificações, enquadrado pelo regime jurídico constituído pelo Decreto-Lei n.º 396/2007, de 31 de dezembro, é autorizada a criação de novos centros, aumentando a rede já existente. Essa lista de centros é divulgada através do Despacho n.º 6950/2008.

89

Na Portaria n.º 230/2008, de 7 de março, já anteriormente mencionada a propósito dos cursos EFA, alude-se ao facto de o lançamento da Iniciativa Novas Oportunidades ter sido um “marco fundamental para a expansão e consolidação dos cursos de nível básico”, mas também ter criado “uma nova oferta para o nível secundário (…) permitindo integrar nessa oferta cursos de habilitação escolar” (Preâmbulo).

É igualmente importante salientar no âmbito da Iniciativa Novas Oportunidades a presença do Sistema de Informação e Gestão da Oferta Educativa e Formativa (SIGO), tendo em conta que este funciona como “instrumento único de registo de informação que permite o acompanhamento, a monitorização e a gestão no âmbito do Sistema Nacional de Qualificações, processos anteriormente dispersos por diferentes organismos” (Portaria n.º 612/2010, Preâmbulo). A sua utilização permite uma “gestão integrada das ofertas educativas e formativas, possibilitando uma melhor legibilidade da rede e maior simplificação administrativa” (Ibidem).

A atividade desenvolvida por um Centro Novas Oportunidades estrutura-se através de um conjunto de fases de intervenção que têm reflexo em níveis de serviço a assegurar, nomeadamente o acolhimento dos adultos e a sua inscrição no CNO; o diagnóstico/ triagem que permite conhecer o perfil do adulto; o encaminhamento dos adultos tendo em conta a resposta educativa e formativa mais adequada; o processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, onde estão inerentes processos metodológicos que permitem evidenciar as competências e, por fim, o acompanhamento ao plano de desenvolvimento pessoal, visando o percurso do adulto após a passagem pelo processo RVCC (Gomes, 2007).

Em 2009 brotaram os resultados dos primeiros estudos de avaliação externa à Iniciativa Novas Oportunidades, fruto de uma parceria da ANQ I.P. com a Universidade Católica Portuguesa, coordenada por Roberto Carneiro. Em 2010 é publicado um relatório, com base nos trabalhos desenvolvidos após a apresentação pública dos primeiros resultados em 2009, referente à avaliação externa que compreende os anos 2009 e 2010. Neste relatório um dos pontos salientados tem a ver com o facto de

no plano estratégico, e num horizonte de médio prazo, a Iniciativa Novas Oportunidades encerra um potencial precioso e de inigualável riqueza conceptual para inspirar a estruturação de um sistema de Aprendizagem ao Longo da Vida suscetível de colocar Portugal na dianteira dos demais países Europeus e da OCDE, que normalmente lhe servem de benchmark” (Carneiro, 2010, p. 12).

90

Esta é uma das principais conclusões deste relatório com os resultados centrais, conclusões e também recomendações concernentes à Avaliação Externa do Eixo Adultos da Iniciativa Novas Oportunidades.

Independentemente do percurso que os adultos possam optar é importante reter que, acima de tudo, a sua motivação e a “capacidade de explicitarem as suas representações mentais” são factores fulcrais para que estes possam traçar “projectos de aprendizagem e transformarem os seus modos de ler o mundo” (Rothes; Silva; Guimarães; Sancho & Rocha, 2006, p. 191).

91

apítulo 2

A literacia da leitura: enquadramento de um objeto teórico em estudo

Outline

Documentos relacionados