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DOS ESTADOS DE MG,BA,SP,RJ, REGIÕES ONDE SE CONCENTRAM OS COMPLEXOS INDÚSTRIAIS MENCIONADOS.

Figura 1 Matriz de Gerenciamento de Risco em Saúde do Trabalhador

DOS ESTADOS DE MG,BA,SP,RJ, REGIÕES ONDE SE CONCENTRAM OS COMPLEXOS INDÚSTRIAIS MENCIONADOS.

Base Territorial Índice de Masculinidade

Complexo Siderúrgico 2,00

Complexo Petroquímico 1,28

Complexo Siderúrgico e Petroquímico 2,50

Rio de Janeiro 1,06

Salvador 0,75

Belo Horizonte 0,92

São Paulo 1,04

Fonte: Machado & Moreno (1997)

Os dados de morbidade relacionada ao benzeno (Giraldo 1991; Costa,1996a) e do índice de masculinidade, acima exposto, revelam o impacto social potencial dos casos com alterações hematológicas afastados das atividades em situação de exposição a agentes mielotóxicos, e colocam a siderurgia como setor prioritário nas ações de gerenciamento. o que justifica o montante dos gastos em reformas das coquerias, visando a redução da exposição a níveis preconizados pelos instrumentos legais de 2,5 ppm para esta atividade da siderurgia e secundariamente os setores químico, petroquímico e petroleiro que tem como indicativo legal de exposição de 1ppm, que ainda representa um nível de risco inaceitável pela Environmental Protection Agency (EPA, 1991).

A falta de informação do setor sucro-alcoleiro e contraditoriamente a disposição em realizar uma mudança tecnológica no sentido da eliminação do benzeno no processo de produção do álcool a partir da cana de açúcar, coloca esse setor em foco secundário de acompanhamento dessas alterações.

Em relação ao setor de transportes de cargas destaca-se a sua importância, do ponto de vista de quantidade de empresas, entretanto, pela dificuldade de intervenção devido sua dispersão e a relativa pouca exposição ocupacional no seu processo de trabalho, pode ser secundarizado e atingido pela ação de gerenciamento no interior das empresas produtoras e consumidoras do benzeno.

Portanto, até aqui foram traçadas duas diretrizes do gerenciamento do risco de exposição ao benzeno, delimitando os objetivos da intervenção regionalmente e setorialmente. Quando o foco das ações se direcionam aos efeitos, ou seja, no nosso caso, a morbimortalidade relacionada ao benzeno, como apresentado anteriormente, na discussão da

matriz de gerenciamento de risco em saúde do trabalhador, um tipo de exposição tem um potencial de efeitos múltiplos e relacionados diretamente com a natureza do risco e com a sua contextualização em relação a atividade em que está presente.

Os efeitos relacionados ao benzeno e a caracterização do risco foram abordados em outros capítulos anteriores, entretanto, deve ser destacado que a escolha do efeito e seu indicador também consiste em uma decisão de gerenciamento de risco. No nosso exemplo, a citopenia, anemia, leucopenia e outras alterações hematológicas, a anemia aplástica, leucemia mielóide aguda e crônica, leucemia linfocitária, mieloma múltiplo, linfoma não Hodgkin’s, alterações alérgicas e imunológicas, efeitos neuropsicológicos e associação com casos de surdez em efeito sinérgico com o ruído, fazem parte de uma síndrome de benzenismo, em que existem situações mais claramente associadas e outras em que permanecem as suspeitas, porém não podemos descartar as possibilidades de relação entre a exposição e o efeito mesmo quando não está devidamente comprovado epidemiologicamente (Checkoway, 1993), principalmente do ponto de vista preventivo.

A metodologia aqui empregada concentra-se no risco de carcinogênese, o que corresponde ao risco associado às leucemias e linfomas, que consiste em um indicador relevante pela sua gravidade.

VII.6.3. Indicativos do Método de Gerenciamento de Risco

O princípio básico do gerenciamento do risco é de ser um processo desenhado para poder identificar e confrontar os riscos considerados piores, porém ao mesmo tempo, mais controláveis.

O benzeno como observamos na identificação do perigo, pode ser considerado um risco de grande importância, pelo seu potencial impacto sanitário pôr ser uma substância tóxica carcinogênica e genotóxica, evidenciado primeiro no homem e posteriormente comprovado experimentalmente (Barale, 1995). A confluência de seu alto grau de toxicidade e de difusão coloca o controle da exposição e efeito do benzeno como uma questão incontestável para a saúde pública. Além da relevância epidemiológica, o combate ao benzeno no Brasil reveste-se de uma característica social, refletida nas lutas sindicais deflagradas pelos sindicatos de trabalhadores siderúrgicos, petroleiros e petroquímicos, que, a partir do Instituto Nacional de Saúde no Trabalho da Central Única dos Trabalhadores, lançaram a Campanha Nacional de Caça ao Benzeno e organizaram em abril de 1991 o Seminário Nacional Sobre o Benzeno (INST/CUT, 1991). Pode-se dizer que há pelo menos 14 anos trabalhadores e técnicos de saúde e higiene industrial realizam ações de vigilância em saúde do trabalhador relacionadas ao benzeno.

Pôr sua vez, também é passível de controle, selecionando um curso de ação apropriado, tendo pôr base levar em consideração os seguintes critérios de avaliação de risco, dos impactos econômicos e dos fatores sociais. A partir de estratégias de redução de exposição conduzidas pela CNP-Benzeno, representando uma instância nacional de comando e controle. Aplicando medidas de suporte aos trabalhadores com alterações de saúde provenientes da exposição ocupacional ao benzeno, de correção, reduzindo a concentração do benzeno em produtos acabados, estabelecendo Grupos de Representação dos Trabalhadores do Benzeno (GTB-Benzeno) nas empresas responsáveis pelo acompanhamento das medidas de controle nos locais de trabalho, homologando o Certificado de Utilização Controlada do Benzeno (CUC-Benzeno) para as empresas que estejam adequadas aos parâmetros do Acordo e cadastrando as empresas que produzem, utilizam e transportam o benzeno, identificando o universo de exposição ocupacional, estabelecendo o Programa de Prevenção da Exposição Ocupacional ao Benzeno (PPEOB), onde está definido o instrumental técnico principal de prevenção (Costa,1996a). Estabelecendo a substituição do benzeno na produção de álcool anidro e em outra situação em que se apresente tecnologia substitutiva.

Em termos técnicos, o acordo enquanto instância de comando e controle, apresenta ainda a consolidação da discussão de que não há padrões seguros de exposição para o benzeno e estabelece não mais limites de tolerância, e sim o conceito de Valor de Referência Tecnológico, específico para os setores de maior risco e com impossibilidade atual de substituição tecnológica. Ainda outro objetivo técnico é definir os Indicadores Biológicos de Exposição a serem aplicados em substituição ao fenol urinário em níveis de exposição ambiental entre 5 e 0.1 ppm de benzeno.

As ações preventivas desencadeadas nesse processo se concentraram no redesenho de processos de produção, como no exemplo das siderúrgicas que estão introduzindo novas formas de enfornamento do coque, colocando um material mais flexível nas portas das coquerias e instalando sistemas de exaustão no topo das baterias de coque. E no exemplo das empresas produtoras de álcool anidro que estão investindo na troca e uso de insumos de menor toxicidade em relação ao benzeno.

Como vantagens das ações preventivas temos a redução da exposição de trabalhadores e a redução no consumo de insumos perigosos.

As bases legais tem sido desenvolvidas no âmbito do Acordo Nacional do Benzeno e acompanhadas pela CNP-Benzeno, se referem basicamente ao texto do acordo propriamente dito que se refere as atribuições dos atores envolvidos (governo, trabalhadores e empregadores) e coloca como necessidade técnica imediata, tendo em vista o referido acima, a redefinição dos Indicadores Biológicos de Exposição através da criação de um grupo

temático específico para esse fim, em que a avaliação do ácido trans-trans-mucônico na urina (Barbosa,1997), como um desses indicadores se inseriu, sendo os seus resultados correlacionados positivamente com as avaliações ambientais apresentadas no Apêndice IV. Coloca ainda os prazos de cumprimento do cadastro, enquadramento nos valores técnicos de referência, da substituição do benzeno, as atribuições da CNP-Benzeno e estabelece penalidades. Nesse mesmo processo de negociação foram publicadas as Instruções Normativas, n°1 e n°2 de 20 de dezembro de 1995, que dispõem respectivamente, sobre a avaliação das concentrações de benzeno em ambientes de trabalho e sobre a vigilância da saúde dos trabalhadores na prevenção da exposição ocupacional ao benzeno.

Os temas mais polêmicos dentre os que estão sendo discutidos na CNP-Benzeno são os direitos dos trabalhadores afastados do trabalho como casos de benzenismo e as formas de acompanhamento regional do acordo nas quais a comissão não quer se envolver, mas, localmente todos estão de fato envolvidos e mesmo há uma necessidade técnica de pelo menos os órgãos do governo e trabalhadores de avaliar in loco o cumprimento dos ítens do acordo que se realizam no âmbito das empresas, como a aplicação do PPEOB, a formação dos GTB, as realizações das medidas propostas nas instruções normativas nº1 e nº2.

Entretanto, a experiência e a perspectiva de aprofundamento técnico, de difusão de informações, de estabelecimento de parcerias entre o público e o privado e o cumprimento dos textos legais é bastante positiva na avaliação desse processo costurado pelo acordo e estruturado na CNP-Benzeno.

Com o objetivo de difundir informações e dinamizar a participação da bancada do governo nas ações de acompanhamento do acordo referido acima, em abril de 1997 foi organizada uma oficina de trabalho para discussão e avaliação das perspectivas de ação governamental em relação ao acordo e com vistas a regionalização das ações de acompanhamento nos estados que concentram as atividades de risco (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo) em que foram apresentados as bases necessárias para o acompanhamento técnico científico do acordo que sintetizam as estratégias de gerenciamento de risco da exposição ao benzeno no Brasil. Estas bases são:

1. Revisão e validação dos Indicadores Biológicos de Exposição em níveis de exposição que variam de 0,1 a 5 ppm, segundo documento do Grupo de Trabalho para protocolos de estudos para implantação do indicador biológico de exposição, oficina e seminário realizado em 1996.

2. Estudo de Caso Companhia Siderúrgica Paulista Cosipa, sob coordenação da FUNDACENTRO e da Delegacia Regional do Trabalho DRT-SP, com o Sindicato de Metalúrgicos da Baixada Santista e o Ministério Público, análise da série histórica dos

hemogramas dos leucopênicos da Cosipa, a qual apresentou uma incidência de 46,95% de alterações hematológicas em 5 anos de acompanhamento de 328 trabalhadores, sendo 15,85 % persistentes, (alterações em três ou mais exames). Representa ainda, campo para avaliação do monitoramento de indicadores de efeito precoces e de avaliações ambientais, relatório apresentado na CNP-Benzeno (Costa,1996b).

3. Estimativa de risco, sob coordenação e execução do CESTEH/ENSP/FIOCRUZ, tendo início com o projeto financiado pela OPAS que resulta neste trabalho e que tem como objetivo realizar um exercício prático da metodologia de avaliação e gerenciamento de risco. O estudo da exposição, ou um tipo de risco, como o benzeno, abre uma alternativa de entendimento do processo de trabalho enquanto um determinante da situação de saúde, ou seja, abordagens mais sofisticadas de quantificação da exposição tendem a esclarecer situações de risco e suas variações

A avaliação do risco em refinaria apresentada no Apêndice V