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2.1 RELAÇÃO ENTRE ECONOMIA E MEIO AMBIENTE: CORTINAS TEÓRICAS

2.1.3 Meio Ambiente e Economia – O Centro

2.1.3.3 Economia Ecológica

A Economia Ecológica nasceu de uma mudança na nossa visão pré-analítica, um novo paradigma baseado em pressupostos e teorias compartilhadas. Representa um comprometimento entre economistas, ecologistas e outros profissionais em implementar nova

VALORES

CONHECIMENTO ORGANIZAÇÃO

SOCIAL

MEIO

política econômica e ambiental. A Economia Ecológica tem sido, deliberadamente, pluralista em seu conceito.

Ela tem como principais objetivos repensar a Ecologia e a Economia, através da aplicação de conceitos econômicos que permitam compreender melhor a natureza da biodiversidade e buscar na teoria biológica a forma como o sistema natural e o social têm co-evoluído, de maneira tal que um não pode ser compreendido sem a presença do outro.

A figura a seguir mostra a relação entre os domínios da Economia Ecológica, da Economia e da Ecologia convencionais.

Figura 3: Representação Esquemática das Relações de Domínio da Economia Ecológica e da Economia e Ecologia Convencionais.

Fonte: COSTANZA, et al. (1991).

Uma das principais características da Economia Ecológica é a sua transdisciplinaridade, baseada em características similares aos sistemas vivos que possuem uma inter-relação forte e não-linear.

A Economia Ecológica foi fortemente influenciada pela Economia da Estabilidade, que traz para o sistema econômico as leis da termodinâmica, a fim de compreender e explicar as conexões entre a nossa vida econômica e o restante da natureza.

A primeira lei da termodinâmica é a Lei da Conservação de Energia. Ela estabelece que a energia não pode ser criada nem destruída. Assim, pode ser utilizada, mas não consumida.

A segunda lei da Termodinâmica, ou Lei da Entropia, impõe limitações qualitativas ao processo de transformação, apontando que o estado energético é continuamente degradado, de

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uma forma com alta disponibilidade para uma forma com baixa disponibilidade de matéria/energia. As transformações termodinâmicas são caracterizadas pela produção de entropia, onde energia e matéria movem-se para um estado de menor homogeneidade.

2.1.3.3.1. Leis da Termodinâmica, Vida, Sistema Produtivo

Os sistemas naturais são sistemas abertos às trocas e movimentações energéticas. Em termos ecológicos, um ecossistema faz uso de um aporte contínuo de energia solar.

Acredita-se hoje que a auto-organização de complexas estruturas bióticas ocorre como resultado do desenvolvimento de “estruturas dissipativas” (JACKSON, 1993), que dissipam completamente matéria-energia com alta entropia resultante das transformações necessárias à manutenção da vida no ecossistema. Esta tarefa é essencial para a manutenção e para a sobrevivência dos indivíduos e dos ecossistemas. Esta função requer uma dose de “trabalho forçado” de toda a estrutura biológica. Este trabalho é diretamente proporcional ao grau de complexidade do ecossistema. Quanto mais complexo, mais estruturas de manutenção de energia circulante se farão necessárias.

Em particular, cada organismo vivo requer um suprimento constante de energia de alta qualidade para a sua sobrevivência. Nas palavras de Boltzmann (apud JACKSON, 1993), “a luta pela vida é a luta por energia livre (e disponível)”.

O fator-chave é a disponibilidade de energia solar com alta qualidade. O processo de fotossíntese pode ser visto como “o processo produtivo mais importante da Terra” (DALY, 1989).

O sistema econômico funciona igual ao nosso sistema ecológico, em determinados aspectos fundamentais. Ambos são sistemas termodinâmicos abertos às trocas de matéria- energia e necessitam, para a sua sobrevivência, de matéria-energia com baixa entropia e descarregam matéria-energia com alta entropia no meio ambiente. Para DALY (1993 p. 95), o sistema econômico é tão entrópico quanto o ecológico, existindo algo que é irreversivelmente utilizado, e que ele chama de “capacidade de rearranjo de matéria-energia”. A matéria- prima é igual, em quantidade, aos dejetos que retornam à natureza. Existe, entretanto, uma diferença qualitativa entre estas quantidades: a baixa entropia.

Para GEORGESCU-ROEGEN (1971)13, o aspecto mais importante das leis da Termodinâmica é “throughput” (fluxo linear de matéria-energia), em que todas as transformações, sejam elas econômicas ou ecológicas, são inerentemente entrópicas, tanto do ponto de vista material quanto energético. Começam e terminam no meio ambiente.

2.1.3.3.2 Mudanças na Visão Pré-Analítica

Para que possamos mudar nossas atitudes frente à necessidade de um ambiente sadio e compartilhado com outras criaturas e com as futuras gerações, necessitamos avaliar e mudar nossos padrões pré-estabelecidos. Para que se possam internalizar conceitos abstratos como a entropia no nosso sistema de coisas, é necessária uma mudança naquilo que Thomas Khun chamou de paradigma, e que Schumpeter (apud COSTANZA et a.l, 1996) chamou de visão pré-analítica.

A visão pré-analítica é formada por um conjunto de fatores que estão calcados nos valores do meio que nos deu origem.

Para SCHUMPETER (1954), o esforço pré-analítico é necessário para que possamos nos posicionar frente a qualquer fenômeno. Porém, ele é precedido pelo nosso ato cognitivo pré- analítico. A nossa visão de mundo, aquele que queremos, só poderá ser construída com base nos nossos paradigmas, nos nossos modelos e padrões. Para corrigir a nossa visão, faz-se mister um novo ato cognitivo pré-analítico.

O meio ambiente é fonte de toda a matéria e energia na forma assimilável, da mesma forma que é fonte assimiladora de todos os dejetos produzidos pelo nosso sistema, seja este na forma de matéria ou de energia. O sistema econômico e o ecológico são fontes de bem-estar.

Este é um processo de aprendizado, não um aprendizado convencional, mas um aprendizado real, de fato, onde se caminha um pouco para frente, numa espécie de passo “dois pra frente um pra trás”, em que se avança mas é preciso voltar para aprender um pouco mais sobre o que não pode ser absorvido, ou o que não se sabia estar lá para ser aprendido. Isto é também mudar paradigmas.

A Economia Ecológica difere basicamente da Economia Ambiental por entender que a Terra engloba todos os demais sistemas, que são seus subsistemas. As externalidades não são tidas como tais, pois ocorrem dentro do sistema global. Este enfoque também busca introduzir a entropia como um limite dentro da análise econômica, incorporando o fato de que

13 O trabalho de Nicholas Georgescu-Roegen: “The Entropy Law and The Economic Process, 1971” é considerado o

precursor da internalização dos processos termodinâmicos no sistema produtivo. Georgescu cunhou o termo “throughput” para denominar a linearidade da entropia no sistema econômico.

contaminação não é somente um resultado de uma falha no mercado, mas um fenômeno inevitável, ditado pelas leis da termodinâmica, segundo as quais uma baixa entropia é a base de todo o capital e a alta entropia é o resultado inevitável de todo processo produtivo.

Este enfoque representa um grande desafio para a Economia Neoclássica, fazendo do sistema social e econômico parte de um grande ecossistema chamado Terra, através da investigação das suas inter-relações dentro deste marco de referência, perseguindo como objetivo principal a manutenção da capacidade de suporte da Terra, sem fornecer, porém, uma fórmula única que possa conduzir à sustentabilidade social, ambiental e econômica do nosso sistema de coisas, propondo um conjunto de medidas e de atuações que podem mudar, dependendo do caso, e que buscam melhorias no sistema em seu conjunto.

Os três pilares fundamentais da Economia Ecológica são: escala sustentável, distribuição justa e alocação eficiente, apresentados a seguir.

2.1.3.3.3 Alocação Eficiente, Distribuição Justa e Escala Sustentável.

A Economia Ecológica trabalha com estes três conceitos e busca a sua compreensão nas bases teóricas da Teoria Neoclássica, principalmente quanto ao conceito de “alocação”, mas é na inclusão do conceito de “escala” que se encontra a principal diferença entre as duas teorias. A seguir, uma breve explanação do significado de cada conceito.

Alocação: Refere-se à divisão relativa dos recursos entre usos alternativos. Uma boa alocação deve ser eficiente, ou seja, aloca os recursos entre os produtos finais em conformidade com as preferências de cada um, balanceadas pela habilidade individual de pagar pelo recurso. O sistema de preços relativos é o instrumento de mercado utilizado para alocar eficientemente os recursos através do mecanismo de oferta e procura.

Distribuição: Refere-se à divisão relativa do fluxo de recursos embutidos nos bens e serviços, dentre as pessoas. É o quanto de que vai para cada um de nós. Uma boa distribuição deve ser justa ou, pelo menos, deve ser uma distribuição cujo nível de desigualdade se mantenha dentro de limites aceitáveis. As transferências financeiras (bases das taxas e tributos) são os instrumentos que trazem no seu bojo a busca pela justa distribuição de recursos.

Escala: É o volume físico de “throughput”, o fluxo de matéria-energia com baixa entropia na forma de matéria-prima proveniente do meio ambiente, e seu retorno na forma de dejetos-matéria-energia com alta entropia. A escala, apesar de medida em

valores absolutos, possui um significado relativo à capacidade de regeneração e absorção do ecossistema. Para DALY (1993, p. 143), “escala é o produto da população pela taxa per cápita de utilização dos recursos naturais”.

Os problemas de eficiência da alocação, da distribuição justa e de uma escala sustentável estão altamente inter-relacionados, mas, de acordo com DALY (1989), são resolvidos com instrumentos de política diferenciados e independentes. Na opinião de COSTANZA et al. (1997), existe um incalculável número de formas de alocação eficiente, mas somente uma para cada situação de distribuição e escala. Para o autor, uma alocação eficiente não garante, necessariamente, a sustentabilidade.

Manter uma escala sustentável e uma distribuição justa é uma questão de decisão social, que reflete um limite ecológico e a distribuição dos ativos financeiros. Distribuição e escala envolvem relações com os pobres, com as futuras gerações e com as outras espécies. Estas relações são fundamentalmente sociais. A nossa individualidade é definida pela qualidade das nossas relações sociais. Nossas relações não são externas, mas internas e nós mudamos cada vez que nossas relações mudam.

A Economia Ecológica ordena os problemas dessas magnitudes da seguinte forma:

1. estabelecer os limites ecológicos de uma escala sustentável para proceder ao estabelecimento de políticas que possam garantir que o “throughput” da economia se manterá dentro desses limites;

2. estabelecer uma justa distribuição dos recursos, usando métodos do direito de propriedade e transferências;

3. uma vez endereçados os problemas de escala e distribuição, permitir que o mercado aloque os recursos eficientemente.