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Para DALY (1973), a economia de mercado utiliza as nossas preferências individuais para alocar eficientemente os diferentes recursos (meios) entre os diversos objetivos (fins), através dos mecanismos de preço.

A essência microeconômica baseia-se na decisão descentralizada de milhares de produtores e consumidores que se comunicam e se coordenam através do sistema de preços,

determinado harmonicamente pela lei de mercado da oferta e procura, com total ausência de planejamento.

Com base no princípio da sustentabilidade, DALY (1973) cria o “espectro de meios-fins”, ou Triângulo de Daly (BALATRON GROUP, 1996), que representa o reconhecimento implícito de que existe um fim que almejamos, mas dispomos de meios que limitam o seu alcance. Seu idealizador aponta, paralelamente à representação desse fim almejado, o delineamento dos níveis intermediários dos nossos desejos e limitações, que são apresentados na figura 4, a seguir.

Figura 4: Espectro de Meios-Fins

Fonte: DALY (1973).

Para o autor, os últimos meios podem ser vistos como as limitações impostas ao atual sistema de coisas e formam a base do seu espectro. Estes meios são constituídos pelo conjunto de capital natural disponível para serem utilizados pelo nosso sistema, juntamente com a capacidade de absorção do meio ambiente. Em outras palavras, os últimos meios são constituídos por matéria-energia com baixa entropia, que é o fator limitante de todo o nosso sistema de coisas e sem o qual nós, seres humanos, não podemos produzir nem manter os meios intermediários, que são compostos pelo capital-feito-pelo-homem, e que têm por finalidade manter as nossas necessidades e vontades cotidianas, denominadas pelo autor de fins intermediários.

Desenvolvimento Sustentável

Último Fim - objetivo final das nossas vidas

Fins Intermediários – Nossos desejos e necessidades

Meios intermediários – Capital feito pelo homem

Últimos Meios – capital natural

Ética

Tecnologia

No topo do espectro, encontra-se o “último fim”, descrito da seguinte forma por Daly (1980, p. 9, apud LAWN, 2001 p. 23): “aquilo que é intrinsecamente bom. Essa bondade não deriva, entretanto, de nenhuma relação instrumental com um bem maior”. Em outras palavras: o nosso bem maior.

Só é possível atingir o “bem maior” para toda a humanidade através de princípios e valores éticos e morais, tanto para com as gerações atuais quanto para com para as gerações futuras.

Entre os últimos meios e o último fim do espectro meios-fins, existem duas categorias intermediárias de meios e fins, localizadas acima e abaixo dos últimos meios e o último fim, respectivamente. Fins intermediários existem abaixo do último fim, e são compostos por aquilo que é determinado pelos nossos desejos e necessidades cotidianas, como trabalho, saúde, conforto, infra-estrutura, segurança e educação, dentre outros. Estes aspectos só podem ser atendidos pela existência de “meios intermediários”. Para DALY (1973), “meios intermediários” são meios com os quais é possível realizar os fins intermediários.

É entre os meios e fins intermediários que a nossa economia descentralizada atua, alocando recursos dos produtores (meios) de acordo com as necessidades dos consumidores (fins). A ausência de planejamento não conduz ao caos, mas a uma ordem espontânea.

Numa economia de mercado, consumidores individuais conhecem as suas preferências muito melhor do que qualquer outra pessoa, e agem diretamente no sentido de satisfazer estas preferências no mercado. Por outro lado, produtores individuais conhecem suas próprias capacidades e opções melhor do que qualquer um e, por sua vez, também levam esta informação até o mercado. É esta característica descentralizada que permite que todo esse conhecimento seja usado.

O mercado é a instituição mais eficiente para a alocação dos recursos-meio nos diversos usos-fins. É também o mercado que permite uma rápida resposta às mudanças nas circunstâncias, além de ser uma instituição de cerne participativo.

É o lucro que move produtores privados a responder rapidamente às necessidades de usuários. A resposta é muito simples: os preços têm uma função paramétrica na economia, ou seja, são os preços que estabelecem parâmetros de produção e de consumo. Esta função é relativa e serve como um "fulcro" a ponderar as possibilidades relativas de produtores e consumidores.

Neste mercado, todos são “tomadores de preços" e ninguém é "fazedor de preços”. Todos nós ajustamos os nossos planos aos preços daquilo que desejamos e que precisamos adquirir. Ninguém tem o poder de ajustar os preços aos seus planos.

2.2.3 Falhas de Mercado

2.2.3.1 Bens Públicos e Externalidades

Foi Adam Smith, no clássico “A Riqueza das Nações”, quem primeiramente reconheceu a divergência existente entre custos privados e sociais. A sua especificidade, entretanto, é atribuída a Alfred Marshall (1890) e a Alfred Pigou (1912, 1920), que definem externalidade da seguinte forma, sintetizada por BROOMLEY (1991, p. 59):

“Em essência uma externalidade ocorre quando uma determinada ação de um indivíduo (Alfa) resulta numa carga de custos indesejáveis que recaem sobre um outro indivíduo (Beta). Neste contexto, os custos sociais são aqueles que ocorrem além dos limites da unidade de tomada de decisão responsável pelo referido custo”.

PEARCE & TURNER (1990) definem externalidade como uma falha de mercado, que ocorre quando:

“uma atividade empregada por um determinado agente causa uma perda (ganho), em termos de bem-estar, a outro agente, esta perda (ganho) em bem-estar é incompensável”.

LAWN (2000, p. 197) apresenta uma definição mais abrangente de externalidade nas bases da Teoria Co-evolucionária.

“A externalidade é um benefício ou custo indireto conferido ou imposto a uma ou mais partes, através da atividade de uma outra parte. Estes custos e benefícios não são completamente refletidos pelo mercado, nem nos termos dos beneficiados (nos casos de benefício), nem das vítimas (nos casos de custos)”.

É a noção de custos (ou benefícios) recaindo além dos limites das unidades de decisão que cria e explica a origem do termo externalidade. Existem inúmeras possibilidades nas quais a ação de uns traz algum tipo de implicação para outros. Este é o cerne das interações de natureza humana, em que as ações de uns influenciam as ações que outros venham a tomar. A teoria da externalidade está fortemente conectada com o imenso domínio dos que devem arcar com custos indesejáveis.

Todavia, é mister a consideração entre a diferença de uma interferência física transmitida de um agente para outro agente, e a existência da externalidade propriamente dita, devendo- se estabelecer cuidadosamente o que realmente vem a constituir uma externalidade.

A externalidade possui dois aspectos importantes. O primeiro diz respeito à função de utilidade do receptor da externalidade, que possui variáveis reais cujo valor lhes é atribuído

por outras pessoas. Em segundo lugar, a unidade responsável pela escolha do valor dessas variáveis não compensa os receptores em montante igual ao custo marginal da ação.

Apesar de Alfred Pigou ter especificado, no inicio do século, o sentido da externalidade, foi COASE (1960) quem trouxe à luz os direitos de propriedade como fonte de solução para o seu problema. Para o autor, a partir do momento em que a sociedade tem claro sobre quem tem o direito sobre o quê, a externalidade deixa de existir como tal e passa a estar internalizada no processo decisório.

Existem, entretanto, custos relativos às transações entre as partes afetadas. Estes são os custos de transação e ocorrem em três situações: 1) levantamento de informações concernentes ao ato que gera a externalidade, sua natureza, dimensão e alcance; 2) estabelecimento de um acordo contratual, com a finalidade de internalizar a externalidade; 3) cumprimento daquilo que foi contratado, para a manutenção da internalização.

Custos transacionais, juntamente com direitos de propriedade, são os maiores empecilhos para a solução das externalidades.

Existem casos em que ocorre uma interferência física de um agente em outro(s), mas que não é caracterizada como uma externalidade. Esta só vem à tona quando réus e vítimas se enfrentam e barganham, podendo, ou não, entrar em acordo. A partir do momento que existe acordo, a externalidade deixa de existir como tal. Se não existe custo de transação, não existe externalidade. Isto não significa que a interdependência física que os une acabou; o que não mais existe é a noção econômica de externalidade.

De maneira geral, todas as nossas ações influenciam outras pessoas dentro de um determinado raio de interdependência.

O que é interno ou externo ao mercado não é verdadeiramente determinado pelo mundo real, mas pelas abstrações que foram feitas. Ao excluir-se o meio ambiente da análise econômica, tudo aquilo que afeta a sua forma original será uma externalidade.

O fato de existir um acordo entre as partes quanto a possíveis compensações não implica a eliminação da coisa física em si, mas a ocorrência econômica do fato, o que não melhora, em nada, a qualidade de vida de outras criaturas, e muito menos das futuras gerações.