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Santa Catarina – As Idas e Vindas dos Projetos de Lei

2.6 ICMS-ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA AMBIENTAL

2.6.7 Santa Catarina – As Idas e Vindas dos Projetos de Lei

O estado de Santa Catarina ainda não possui sua lei de ICMS-Ecológico, mas já viu, no Legislativo, inúmeros projetos. Foram ao todo três, dois projetos de lei complementar e uma proposta de emenda constitucional. Somando-se às iniciativas da Assembléia Legislativa, encontra-se um anteprojeto de lei complementar de origem do Poder Executivo, aprovada pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente que, juntamente com as minutas de quatro decretos regulamentadores do tema, nunca chegaram à Assembléia Legislativa. São, pois, sete projetos e anteprojetos de lei para reformulação dos critérios de rateio da cota-parte dos municípios, mas nenhum deles se tornou realidade.

A primeira iniciativa de ampliação dos critérios de distribuição da cota-parte dos municípios do produto da arrecadação do ICMS em Santa Catarina, aí compreendidos os critérios ambientais, foi do Poder Executivo, em 29 de março de 1995, através da "Comissão Estadual Pró-Projeto Viva o Verde", instituída pela Secretaria de Meio Ambiente e publicado no DOE em 3/04/1995. O objetivo desta comissão era de:

"elaborar estudos que viabilizem a criação de incentivos fiscais por parte do Estado aos Municípios que implantassem projetos de preservação de mananciais, destinação do lixo urbano e industrial e criação dos CONDEMAS (Conselhos Municipais de Meio Ambiente) (SANTA CATARINA, 1995).

A comissão que daí se criou procedeu à elaboração de uma proposta de anteprojeto de lei, encaminhada ao então secretário de Meio Ambiente, no início de 1996, e foram estas as propostas contidas no documento:

Quadro 14: Critérios da Proposta "Viva o Verde"

CRITÉRIOS PERCENTUAL VA 80% COTA FIXA 15% MANANCIAIS 2% UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 1,5% PROJETOS AMBIENTAIS 1,5 TOTAL 100%

Fonte: SANTA CATARINA (1995).

Esta proposta teve um certo encaminhamento inicial, mas nada que pudesse marcar sua trajetória. Não existem maiores vestígios de seu curto tempo de vida.

O primeiro projeto de lei versando sobre critérios de repartição da cota-parte das municipalidades foi o PL 082.7/1995, de autoria do deputado Lício Mauro da Silveira. Este PL deu entrada no Legislativo em 17 de maio daquele ano. As modificações previstas no referido PL são as constantes do quadro 15.

Quadro 15: Critérios e Percentuais de Rateio - PL 82.7/1995

CRITÉRIOS SITUAÇÃO ATUAL PL 82

VA 85% 82,5% COTA FIXA 15% 12,5% UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 2% MANANCIAIS 2% EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1% TOTAL 100% 100%

Os critérios aqui descritos mostram um PL estritamente ecológico, repartido entre UCs, mananciais e educação ambiental. É questionável a validade deste último fator, pois sua implementação e manutenção está bem aquém das dificuldades enfrentadas pelos municípios que possuem UCs ou mananciais de abastecimento. A inserção do critério educação ambiental pode servir para alocar recursos às municipalidades sem restrições territoriais e desvirtuar o objetivo do estabelecimento de índices ecológicos.

O Projeto de Lei 82.7/1995, baseado na legislação paranaense, a única em vigor nessa época, foi encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça, e teve seu trâmite regular interrompido sem razões específicas ou aparentes (Parecer ao Pl 82/95 fls. 14). Ao final daquela legislatura, foi arquivado em cumprimento ao regimento interno da casa49.

Reeleito, o deputado Lício Mauro da Silveira, em 25 de março de 1999, solicita desarquivamento50 do PL, que retorna ao mesmo procedimento de avaliação a que se havia submetido na legislatura anterior, em cumprimento à determinação do Regimento Interno da casa.

Em 11 de agosto de 1999, o deputado Rogério Mendonça apresenta outro PL, de número 226.5/1999, versando sobre a mesma matéria apresentada por seu predecessor. As alterações constantes deste PL são apresentadas no quadro abaixo.

Quadro 16: Critérios e Percentuais de Rateio - PL 226/1999

CRITÉRIOS SITUAÇÃO ATUAL PL 226.5

VA 85% 75% COTA FIXA 15% 15% VALOR AGROPECUÁRIO 4% UC 3% EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1% RECEITA PRÓPRIA 1% TOTAL 100% 100

Fonte: SANTA CATARINA (1999).

Em maio de 2000, o presidente da Comissão de Finanças e Tributação apresenta um substitutivo global aos dois PLs, com o objetivo de compactar as propostas. O deputado Rogério Mendonça teve a preocupação de manter o percentual destinado à cota fixa,

49 Pelo regimento interno, todos os processos que não foram a plenário durante um mandato de legislatura devem ser

arquivados ao termo deste.

prevalecendo os 15% constantes da lei em vigor, de acordo com seu parecer (ALESC, 2000 p. 23):

"...constatamos unicamente a necessidade de ser avaliada a proposta aos incisos do art. 1°, especialmente quando diminui a participação igualitária de 15% aos municípios. Esta previsão foi uma conquista daqueles entes, prevista pela Lei 8.203 de 26 de dezembro de 1990, e sua modificação, especialmente para menor percentual, certamente restaria numa mobilização de protestos indesejáveis, bem como na absorção de dificuldades aos já parcos recursos municipais".

Após emenda do deputado, os critérios de repartição das receitas passam a ser:

Quadro 17: Critérios e Percentuais de Rateio – Substitutivo Global

CRITÉRIOS SITUAÇÃO ATUAL SUBSTITUTIVO

VA 85% 77% COTA FIXA 15% 15% VALOR AGROPECUÁRIO 3% UC 3% EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1% RECEITA PRÓPRIA 1% TOTAL 100% 100 Fonte: ALESC (2000).

Este substitutivo global, aprovado em todas as comissões pelas quais transitou, foi a plenário em 28/11/2000 e retirado de votação por um de seus autores, o deputado Lício Mauro da Silveira. Em 26/06/2001, o substitutivo retorna à pauta da plenária e, mais uma vez, é retirado de votação pelo mesmo deputado, sob a alegação de que o Poder Executivo estaria enviando à Assembléia Legislativa um anteprojeto de lei sobre a matéria. Este anteprojeto estaria sendo elaborado por um grupo técnico ligado às diversas câmaras do Conselho Estadual de Meio Ambiente - Consema - e por isto contaria com maior embasamento para sua futura implementação.

Tal alegação é fato, visto que o deputado compareceu à reunião com a Comissão Intermunicipal do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro em 26/04/1999, na Fazenda Princesa do Sertão, onde se comprometeu com a retirada do PL em pauta em função de estudos e de um anteprojeto de lei elaborado pelas diversas câmaras técnicas que formavam o Conselho (Of. SDM/GABS n° .1205/994).

No início do ano de 2002, o então secretário de Meio Ambiente, deputado Federal João Macagnan, remeteu o anteprojeto de lei à apreciação do governador do estado, juntamente com quatro minutas de decretos regulamentadores dos diversos critérios apresentados.

Quadro 18: Critérios e Percentuais de Rateio - Consema

CRITÉRIOS SITUAÇÃO ATUAL ANTE PROJETO

VA 85% 82,5% COTA FIXA 15% 12,5% UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 1,25% MANANCIAIS 1,25% SANEAMENTO 2% EDUCAÇÃO AMBIENTAL 0,5% TOTAL 100% 100%

Fonte: Anteprojeto de lei de origem do Executivo.

Por recomendação da Câmara Técnica de Assuntos Jurídicos do Consema, o anteprojeto em tela deveria ser então encaminhado à Secretaria de Estado da Fazenda e à Procuradoria Geral do Estado. Onde toda esta documentação se encontra é incerto, certo é que jamais foi protocolada na Casa Legislativa.

Minutas de decretos acompanham este anteprojeto no sentido de definir os critérios técnicos de alocação dos recursos; as metodologias empregadas, bem como a base de cálculo e os fatores de conversão serão detalhados mais adiante.

Em 17 de abril de 2001, o deputado Jaime Duarte deu entrada na Casa Legislativa com o Projeto de Emenda Constitucional de n° 04.5/2001, com o objetivo de alterar o inciso II do § 3° do artigo 133 da Constituição Estadual. A alteração pretendida modificava, da seguinte maneira, o inciso em questão.

Quadro 19: Comparativo PEC 04/2001

Art. 133 Pertencem aos Municípios § 3° ...

EM VIGOR PROPOSTA

II Até um quarto de acordo com o que dispuser lei estadual

II Até um quarto distribuído aos Municípios, conforme critérios econômicos, sociais e ambientais a serem definidos em lei complementar.

Fonte: SANTA CATARINA (1989 e 2001).

Existe um certo consenso, partilhado por todos os poderes, de que não seria necessária a edição de emenda constitucional na forma como aconteceu em outros estados da União, porque a Constituição do Estado de Santa Catarina remete a matéria para legislação complementar (... com o que dispuser lei estadual). Esta PEC foi arquivada ao final da legislatura 1998-2002, em cumprimento ao disposto no art. 107 do Regimento Interno da casa.

Na data de 17 de abril de 2001, o deputado Francisco de Assis deu entrada ao PLC 04.2. Os critérios de distribuição nele constantes são os seguintes.

Quadro 20: Critérios e Percentuais de Rateio - PLC 04.2/2001

PERCENTUAIS POR EXERCÍCIO FISCAL

CRITÉRIOS SITUAÇÃO ATUAL

1° ANO 2° ANO 3° ANO

VA 85% 75% 75% 75% RECEITA PRÓPRIA 8% 8% 6% POPULAÇÃO 2% 2% 2% ÁREA DO MUNICÍPIO 1% 1% 1% COTA FIXA 15% 9% 9% 9% SANEAMENTO AMBIENTAL 0% 0% 2% UC 5% 5% 5% TOTAL 100% 100% 100% 100% Fonte: ASSIS (2001).

Este PLC é uma lei auto-aplicável, uma vez que traz no seu corpo a regulamentação das matérias nela constantes. As metodologias de cálculo, bem como as demais formulações, serão detalhadas no próximo item.

O referido projeto foi arquivado ao final da legislatura 1998-2002, em cumprimento ao art. 107 do regimento interno daquela casa.

Em 2003, o mesmo deputado estadual apresenta um outro projeto de lei complementar de ampliação dos critérios de rateio da cota parte do ICMS dos municípios. Esta nova proposta é um tanto diferente da primeira, pois abre o leque de critérios ecológicos, passando dos dois da proposta anterior para quatro no novo PLC de número 10.9/2003. A descrição de todos os critérios é apresentada abaixo.

Quadro 21: Critérios e Percentuais de Rateio - PLC 10.9/2003

PERCENTUAIS POR EXERCÍCIO FISCAL

CRITÉRIOS

SITUAÇÃO ATUAL

1° ANO 2° ANO 3° ANO

VA 85% 75% 75% 75% RECEITA PRÓPRIA 7% 7% 7% POPULAÇÃO 2% 2% 2% ÁREA DO MUNICÍPIO 1% 1% 1% COTA FIXA 15% 9% 9% 9% SANEAMENTO AMBIENTAL 0% 0% 2% EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1% 1% 1% MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO 2% 2% 2% UC 3% 3% 3%

PERCENTUAIS POR EXERCÍCIO FISCAL

CRITÉRIOS

SITUAÇÃO ATUAL

1° ANO 2° ANO 3° ANO

TOTAL 100% 100% 100% 100%

Fonte: ASSIS (2003).

Um dos aspectos que mais impedem o devido encaminhamento e a aprovação dos projetos de lei é a total falta de informação sobre o tema, tanto por parte dos legisladores, quanto do Poder Executivo, e mesmo da população em geral.

Um projeto tributário, mesmo que não acarrete aumento de carga tributária, é sempre polêmico. Neste caso, como envolve uma área muito nova no Brasil, a do pagamento por serviços ambientais, a carência de informações é ainda mais gritante.

Pode-se observar, ao longo de todo o tempo da pesquisa sobre o tema, que nos estados onde as municipalidades estavam junto com o movimento ambientalista, a lei de ICMS- Ecológico veio a termo com sucesso, como é o caso do Paraná. Por outro lado, nos estados onde estes se opõem à implantação da lei, o processo é lento e atravancado, e não se chega a um bom termo quanto à aprovação e muito menos quanto à sua implementação.

Neste sentido, a Federação Catarinense de Municípios - Fecam – posiciona-se radicalmente contra a aprovação da Lei de ICMS-Ecológico em Santa Catarina. É esta a opinião do secretário executivo da entidade (Vedana, Entrevista):

"Nós somos favoráveis à implementação do ICMS-Ecológico, mas queremos paridade com o Governo do Estado. Para cada 1% que nós cedermos, o estado tem que ceder também."

As municipalidades devem participar do processo de criação da lei e, na medida das possibilidades, de seus decretos regulamentadores. Neste sentido, o gabinete do deputado autor do PLC 10.9/2003 vem buscando a participação da sociedade para a criação do PLC, que foi feito com base na legislação matogrossense, inserindo-lhe conceitos que mais se aproximem da realidade catarinense. Membros do gabinete assumem que a falta de informações elucidativas sobre as conseqüências da implementação da lei é o principal obstáculo para a sua aprovação.

Consta, também, que à época do anteprojeto de lei do Consema houve busca da participação das prefeituras, mas não houve frutificação das propostas apresentadas.

Aparentemente, o governo do estado, empossado em 1° de janeiro de 2003, pretende dar andamento ao processo de aprendizado para a elaboração, aprovação e implementação da lei, instituindo um protocolo de intenções para a criação de um grupo de trabalho conjunto, formado por membros da Assembléia Legislativa do estado e membros do Poder Executivo.

A comissão instituída será coordenada pelo Fórum Permanente de Desenvolvimento Sustentável. Faz parte da comissão, na Casa Legislativa, o gabinete do deputado Francisco de Assis. São representantes do Poder Executivo: a Casa Civil, a Secretaria da Fazenda – Sefaz -, a Secretaria do Desenvolvimento Social, Urbano e Meio Ambiente - SDS -, a Fundação de Meio Ambiente - Fatma - e membros representantes da sociedade civil organizada e da Federação Catarinense de Municípios - Fecam.

Com a finalidade de comparar as propostas catarinenses com aquilo que foi pesquisado e, por sua conta, concluído, apresento a seguir um quadro comparativo de todos os projetos aqui listados, apontando aqueles que, do meu ponto de vista e segundo as conclusões apresentadas, são, de alguma forma, interessantes aos objetivos propostos.