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2.6 ICMS-ECOLÓGICO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA AMBIENTAL

2.6.5 O ICMS Ecológico nos Estados

2.6.5.1 Estado do Paraná

Os critérios ecológicos do estado do Paraná são: 1) Proteção da Biodiversidade e 2) Proteção dos Mananciais de Abastecimento.

A inserção do critério ecológico se deu pela redução dos percentuais de Valor Adicionado, apresentados no quadro 5. Esta análise é bastante importante, pois pode servir de embasamento em estudos distributivos da lei.

Quadro 5: Critérios e Percentuais de Rateio do ICMS - PR

CRITÉRIOS ATÉ 1991 (%) APÓS 1991 (%)

VALOR ADICIONADO 80 75

VALOR PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA 8 8 NÚMERO DE HABITANTES NO MUNICÍPIO 6 6 SUPERFÍCIE TERRITORIAL DO MUNICÍPIO 2 2 NÚMERO DE PROPRIEDADES RURAIS 2 2

COTA FIXA 2 2

AMBIENTAL - 5

TOTAL 100 100

FONTE: PARANÁ (1990)

A lei paranaense que rege a repartição do ICMS segundo os critérios ecológicos é a Lei Complementar Estadual 59/91, que regulamenta o parágrafo único do Artigo 132 da constituição daquele estado39. No primeiro ano de sua implantação, o cálculo do ICMS- Ecológico para a biodiversidade era feito com base em variáveis exclusivamente

38 O anexo A é um apanhado geral de todos os ICMS-Ecológico existentes no Brasil

39 A Constituição do Estado do Paraná é específica ao inserir no texto do parágrafo único do artigo citado o termo "crédito da

receita proveniente de ICMS aos municípios que tenham em seu território unidades de conservação e/ou mananciais de abastecimento".

quantitativas. Estes valores eram tão somente compensatórios, não apresentando incentivos à preservação.

A partir de 1993, incorporaram-se variáveis qualitativas ao processo. Tal fato é de extrema importância, tendo em vista o princípio da não-afetação dos impostos. Estas variáveis servem para apontar o efetivo comprometimento das autoridades locais para com a proteção à biodiversidade em seus territórios.

O ICMS-Ecológico no Paraná é regido hoje pelo Decreto Estadual n° 3.446/97, que apresenta o detalhamento matemático dos percentuais a serem repassados.

Este índice á calculado com base no Coeficiente de Conservação da Biodiversidade – CCB –, que não se atém exclusivamente ao comprometimento territorial com espaços especialmente protegidos, mas se refere à preservação e à manutenção das unidades de conservação como tais.

LOUREIRO (1995 p. 4) define da seguinte maneira o CCB e os conceitos que vêm no seu bojo.

“...a relação entre a superfície da Unidade de Conservação (ou espaço especialmente protegido), com qualidade física satisfatória (ou porção em recuperação), e a superfície territorial do município, corrigido pelo fator de conservação, representado por diferentes categorias de manejo de unidades de conservação, ou modalidades de outras áreas especialmente protegidas.”

“...1) Qualidade física satisfatória: Porção do território da UC com características suficientes para a sua identificação plena com a categoria de manejo da respectiva área; 2) qualidade física insatisfatória: porção do território da UC com características insuficientes para a sua identificação plena com a categoria de manejo da respectiva área e; 3) porção do território da UC com características insuficientes para a sua identificação plena com a categoria de manejo da respectiva área, porém, em processo de recuperação através de plano próprio...”

O coeficiente é calculado em quatro níveis, apresentados no anexo D: Básico – CCBb - por

interface – CCBi - ,para o município – CCBm - e para o estado - CCBE.

a) Coeficiente de Conservação da Biodiversidade Básico -CCBb. É o componente

quantitativo do índice, levando em consideração a interface territorial da UC com o município. Este é um índice de restrição, que leva em consideração: 1) a categoria de manejo, gerando um fator de conservação, listado no anexo B; e 2) o âmbito e domínio da UC, listados no anexo C.

b) O CCBI agrega o componente qualitativo ao coeficiente, através de tábua de avaliação

c) O CCBM é o valor agregado de todos os coeficientes de conservação por interface

existentes no município.

d) Coeficiente de Conservação da Biodiversidade para o estado.

O "escore" de uma unidade de conservação é obtido a partir da aplicação de uma "Tábua de Avaliação da Qualidade", que consiste num conjunto de variáveis, que considera, dentre outros, os seguintes itens, decompostos em grupos e subgrupos: a) qualidade física; b) qualidade biológica (fauna e flora); c) qualidade dos recursos hídricos da unidade de conservação e entorno; d) representatividade física; e) qualidade do planejamento, implementação e manutenção (LOUREIRO, 1998).

Por fim, o índice de repasse por conservação da biodiversidade é obtido numa relação entre o Coeficiente de Conservação da Biodiversidade do Município e o do Estado. O valor do índice final é a metade do apurado, tendo em vista que o fator biodiversidade equivale à metade do critério ecológico.

Uma importante observação quanto à importância da avaliação qualitativa da área é que somente áreas não molestadas, ou com qualidade satisfatória ou em recuperação, podem pleitear o ICMS-Ecológico para a biodiversidade.

Com a inserção dos critérios qualitativos, o estado do Paraná tornou possível o controle daquilo que é chamado, por LOUREIRO (1998), de “Indústria das UCs”, impedindo a proliferação de unidades de conservação em condições precárias e insatisfatórias do ponto de vista da sustentabilidade ambiental, o que pode acontecer em estados onde os critérios qualitativos ainda não foram estabelecidos.

Com recursos do ICMS-Ecológico, o estado do Paraná incrementou, entre 1992 e 1997, em 132% a superfície de seus espaços protegidos nas diversas categorias de manejo. Dado importante é que as novas UCs cumprem a função estabelecida nos seus objetivos de manejo (LOUREIRO, 1998).

Observa-se, hoje, crescente interesse das diversas prefeituras envolvidas na manutenção do índice de qualidade de suas UCs, assegurando, deste modo, a continuidade dos recursos.

É também com recursos do ICMS-Ecológico que inúmeros projetos de educação ambiental são implementados no estado. Sobre este tópico, o Secretário de Meio Ambiente do município de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, tem a seguinte opinião (FERREIRA, 2002 Entrevista):

“O nosso município aplica os recursos do ICMS-ECOLÓGICO, fazendo cumprir a Lei de Crimes Ambientais, em conjunto com a equipe de educação ambiental. Se não fossem os recursos do ICMS-Ecológico seria impossível

sobreviver e nenhuma das campanhas ambientalistas que fizemos, e foram inúmeras, teria se tornado realidade”.

De acordo com LOUREIRO (1998), de 1993 a 1997, o "escore" médio das unidades de conservação passou de 3,57 para 4,07, o que confirma a assertiva da melhoria da qualidade ambiental em função da disponibilidade de recursos.

Em 1992, primeiro ano de repasse dos recursos, eram 112 os municípios40 beneficiados; em 1997, este número passou para 192 (LOUREIRO, 2000) e, em 2002, foram 224 municípios beneficiados (BERALDIN, 2002).

Numa análise de quem perdeu o que para quem no Paraná, conclui-se que as municipalidades com maior VA perderam, pois o critério ecológico foi ajustado à sua redução, mesmo que estes municípios tenham unidades de conservação em seu território.

LOUREIRO (1994) apresenta uma análise comparativa em municípios com unidades de conservação com coeficiente de conservação de 0,9 (Parque Estadual). O autor compara a produção econômica e a cota parte de ICMS com o valor adicionado e a cota parte em função do critério ecológico. A pesquisa conclui que, para as condições em que se inserem as municipalidades avaliadas, a compensação tributária pela conservação é financeiramente mais atraente e observa que quanto menor a produtividade da economia local, maior a representatividade do índice ambiental.

Em função disto, existe hoje no Paraná um crescente interesse dos administradores públicos no carreamento desta fonte de recursos. Importante também é a mudança de percepção que ela traz no seu bojo.

A iniciativa paranaense é vitoriosa pelo efeito positivo alcançado, tanto no que toca à criação de novas unidades de conservação, quanto no sistema qualitativo de avaliação destas áreas, possibilitando a credibilidade e a confiabilidade do sistema, e servindo de incentivo ao surgimento de novos espaços protegidos.

Este é um modelo construído pelo e para o povo paranaense; seu sucesso é a principal alavanca para a criação e implementação do mecanismo em outros estados, que vêm adaptando a filosofia tributária extrafiscal à melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos, de acordo com as necessidades locais.