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4 SISTEMA SOCIOECOLÓGICO DA FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS

4.8 ECOSISTEMAS RELACIONADOS

Os Ecossistemas Relacionados são uma categoria exógena ao SES que exerce influência sobre as categorias endógenas na medida em que os ecossistemas interagem entre si de forma dinâmica, de modo que o SES da Flona do Tapajós tanto impacta outros SES quanto é impactado por eles. As variáveis propostas por Jansen, Potette e Ostrom (2011) para essa categoria e que serão analisadas neste trabalhao são: padrões climáticos e fluxos para dentro e para fora do sistema.

4.8.1 Padrões climáticos (ECO1)

O aquecimento global tem sido nos últimos anos pauta nas principais arenas de discussões internacionais, desde as que abordam questões ambientais, até as voltadas para os assuntos econômicos e sociais. Seja no âmbito político ou científico já é consenso que a temperatura no mundo passa por um aumento crescente a cada ano, o que leva políticos e cientistas a juntarem esforços em busca das causas, bem como das soluções viáveis para minimizar tais efeitos.

Nesse contexto, em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente foi assinada a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre mudança no clima (CQNUMC), a partir de então anualmente ocorre a Conferência das Partes (COP), onde as questões são debatidas e os acordos assinados. Em 1997, durante a COPIII foi assinado o Protocolo de Kyoto que estabeleceu metas para redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) para os países industrializados. Nesse mesmo acordo foram estabelecidos mecanismos para facilitar o cumprimento das metas e entre eles o mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) que consiste, por exemplo, na comercialização de certificados de reduções de GEE entre os países que precisam cumprir a meta e os países em desenvolvimento, criando-se assim um mercado de carbono obrigatório (FEARNSIDE, 2010).

Paralelamente, ao mercado de carbono obrigatório, ao longo dos anos desenvolveu-se também o mercado voluntário, de forma que somente em 2010, o mercado de carbono movimentou mais de 140 bilhões de dólares (AGUIAR, 2018).

O Protocolo de Kyoto e o MDL, que dele surgiu, necessitam de uma governança de âmbito global o que lhe impõe uma série de limitações, como por exemplo, a postergação do início da sua operacionalização, que só ocorreu em 2005, em virtude da recusa dos Estados Unidos em assinar o acordo. Dessa forma, dez anos depois ao Protocolo de Kyoto, durante da COP13, em 2007, foi lançado um novo mecanismo para mercado de carbono que se encaixava no novo padrão de governança ambiental multinível, a Redução das emissões causadas pelo desmatamento e degradação florestal, conhecido como REDD, que se enquadra em um espectro mais amplo de políticas conhecidas como pagamento por serviços ambientais (PSA).

Mesmo sendo uma solução de mercado, diferentemente do MDL, o REDD é considerado por Stoen, Toni e Hirsch (2015) um mecanismo de governança ambiental multinível, pois algumas decisões sobre o REDD são tomadas em nível global, outras em nível nacional e, as ações são implementadas em nível local. Isso pode fazer com que cada ator envolvido se aproprie da ideia de forma diferente, levando ao que os autores chamam de “hibridização”.

O REDD é baseado na ideia de que é possível reduzir o desmatamento ao se oferecer uma compensação financeira aos usuários das florestas por não modificarem o uso de terras florestais. O REDD é considerado uma estratégia duplamente vantajosa que teria o potencial de abordar as contradições entre a conservação da floresta e o desenvolvimento econômico (STOEN; TONI; HIRSCH, 2015).

Em 2009, governadores dos estados da Amazônia reuniram-se e escreveram uma carta para o Presidente onde afirmavam que o Brasil estava ficando para trás no desenvolvimento de mercados de carbono. Essa posição é reflexo sobretudo da visão comum entre os políticos de que as UCs são um obstáculo ao desenvolvimento na medida em que impõem elevados custos econômicos, principalmente devido à restrição no uso da terra, de forma que os governadores da Amazônia viam nos mecanismos de comercialização de carbono uma alternativa eficaz para minimização dessas perdas (STOEN, TONI, HIRSCH, 2015).

Nesse contexto, o governo brasileiro criou o Fundo Amazônia, um fundo gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para angariar fundos para ações do PPCDAm. Não obstante esse objetivo central, o Fundo Amazônia se propõe também a apoiar iniciativas que promovam a conservação e uso sustentável dos recursos.

Posteriormente ao lançamento do mecanismo de REDD, foram sendo acrescidas outras funções as originais, de forma que em 2010, quando o mecanismo entrou em vigor na COP16, o mesmo foi transformado em REDD+ e passou a incluir além da diminuição do desmatamento, redução no corte de árvores, conservação do que já existia e uso apropriado da terra e da floresta, o aumento dos estoques de carbono pelo reflorestamento. Em seguida, o mecanismo sofreu outra transformação com a inclusão das melhores práticas para a agricultura e virou o REDD++.

Na Flona do Tapajós até o momento nenhum projeto de REDD foi implementado, não obstante o enorme potencial que a mesma possível. Aguiar (2018) na tentativa de estimar esse potencial, realizou um estudo para quantificar o impacto do manejo florestal na quantidade de carbono e identificou que em sete anos é possível ocorrer a recuperação do estoque perdido, o que demonstra a resiliência da floresta após o processo de exploração florestal.

Apesar de nenhum projeto de REDD ter sido implementado na Flona do Tapajós, o governo federal entre setembro de 2013 e dezembro de 2017 implementou um programa de PSA, o bolsa verde, que beneficiou 286 famílias da UC. Esse programa foi planejado para realizar transferência de renda para famílias em situação de extrema pobreza que vivessem em áreas relevantes para conservação ambiental. Um estudo realizado pelo Centro Internacional de Estudos para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em 2016, para avaliar o programa, constatou que na percepção dos usuários dos recursos da Flona do Tapajós a bolsa verde apresentou nível de impacto muito alto sobre o poder aquisitivo, as condições de vida e a produção e impacto de nível alto sobre a conservação ambiental.

4.8.2 Fluxos para dentro e para fora do sistema (ECO2)

A forte sinergia entre os sistemas ecológicos tem sido estudada pelos cientistas há bastante tempo, porém, descobrir relações de causa e efeito em sistemas complexos, como é o caso das florestas, não é nada fácil. O Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) é um exemplo de projeto que tem esse foco. Liderado pelo Brasil, o LBA é uma cooperação científica que envolve pesquisadores e recursos financeiros de diversos países (BRASIL, 2004a).

A Flona do Tapajós é um dos principais locais de desenvolvimento das pesquisas abrigadas no Projeto LBA, em particular aquelas relacionadas com o Componente LBAEcologia. Este eixo do projeto abriga as pesquisas que buscam explicar como a conversão da floresta tropical, a sua regeneração e a exploração florestal seletiva influenciam os estoques de carbono, a dinâmica de nutrientes, os fluxos de gases e as perspectivas de uso sustentável da terra na Amazônia. Para viabilizar a realização das atividades, o Projeto construiu uma base de pesquisa dentro da UC, situada no km 84 da BR 163 e torres para coleta de dados atmosféricos e de dossel, distribuídas em áreas de floresta primária e áreas de exploração madeireira situadas nos km 67 e km 83, respectivamente (BRASIL, 2004a).

Entre os diversos projetos desenvolvidos no âmbito do LBA, no que tange aos impactos da extração madeireira, os resultados caminham para evidenciar o que Asner et al (2009) chamaram de efeitos em cascata na ecologia, na medida em que as mudanças no padrão espacial causadas pela extração afetam as taxas de crescimento florestal, os processos hidrológicos e toda rede alimentar da floresta. Esse efeito em cascata ocorre devido a três principais alterações que a extração madeireira provoca: mudanças no ambiente de luz, no ciclo de carbono e nos nutrientes do solo.

Para minimizar esses impactos, Asner et al (2009) evidenciam os benefícios ecológicos do EIR, apontando que enquanto a área afetada pela queda de uma árvore na extração convencional é de 100 m de raio, no EIR é de apenas 50 m.

Outros estudos vêm sendo desenvolvidos na fase 2 do LBA comandados pelo INPA, bem como outros projetos de diversas Instituições de Pesquisa, a fim de evidenciar as relações e desenvolver mecanismos que minimizem os impactos da ação humana sobre o meio ambiente.