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4 SISTEMA SOCIOECOLÓGICO DA FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS

4.1.5 Incentivos de mercado: produção florestal

Para fins de análise de mercado, os estudos costumam dividir os recursos florestais em madeireiros e não-madeireiros que inclui óleos e essências, sementes, ceras, gomas e borrachas, fibras, cascas e frutos. Os usos desses recursos florestais são diversos e variam em intensidade. Entre os principais, destacam-se: as indústrias farmacêutica e alimentícia, a construção civil, produção de energia, fabricação de papel e celulose, móveis e decoração, conforme pode ser observado na Figura 11 do esquema da cadeia produtiva do setor florestal apresentada a seguir.

Segundo estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON) em parceria com SFB realizado em 2010, os agentes envolvidos na cadeia produtiva consideram os recursos florestais madeireiros mais rentáveis, de forma que essa racionalidade conduz os indivíduos a engajarem esforços para otimizar a produção florestal madeireira através da busca pelo aumento da eficiência econômica e ambiental, sendo assim possível encontrar um maior número de estudos com dados e estatísticas a respeito da demanda e da oferta dos recursos madeireiros do que dos não madeireiros.

Figura 11 – Cadeia produtiva do setor florestal

Fonte: Site do SFB (2018).

Por exemplo, a cadeira produtiva florestal madeireira já foi amplamente estudada e, de acordo com o SFB, é formada por dois ramos: de um lado, em especial nos setores de celulose, papel, lâmina de madeira, chapa de fibra e madeira aglomerada, o setor é dominado por poucas empresas de grande porte, integradas verticalmente da floresta até produtos

acabados, que atuam da produção até o comércio, caracterizando-se uma estrutura oligopolizada. De outro, principalmente na produção de madeira serrada, compensados e móveis existe um grande número de empresas de pequeno e médio porte, de menor capacidade empresarial, que configuram um mercado competitivo.

Já a cadeia dos produtos florestais não-madeireiros (PFNM) brasileira ainda é incipiente e pouco organizada, o que dificulta as pesquisas e a produção de dados e estatísticas que possam subsidiar análises de demanda e oferta. A principal fonte de informações sobre a cadeia florestal brasileira é a PEVS do IBGE e as informações disponibilizadas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MIDIC) com relação aos dados especificamente de exportação.

A seguir serão apresentados alguns dados da produção florestal madeireira e não madeireira a nível nacional, regional e estadual e sua relação com os mercados, com o objetivo de analisar as condições e os incentivos de mercado existentes para essas atividades produtivas.

4.1.5.1 Produção florestal madeireira

Segundo dados da PEVS do IBGE, entre 1986 e 2016 o volume de madeira extraído no Brasil reduziu 79%, enquanto a produção de madeira pela silvicultura cresceu 304% no mesmo período. Em 1986 a produção madeireira do Brasil era formada por 58% de florestas naturais e 42% de florestas plantadas, em 2016 93% da produção madeireira vêm de florestas plantadas e apenas 7% de florestas naturais.

Essa reversão de cenário, segundo os dados da PEVS, iniciou-se em 1994 quando 52% da produção passou a ser de florestas plantadas e 48% de florestas naturais e intensificou-se com o passar dos anos como reflexo sobretudo de dois movimentos fortemente entrelaçados. Por um lado, a mudança na oferta de madeira de florestas naturais se reduziu devido as mudanças institucionais que impunham novos padrões de extração. Por outro lado, houve também uma mudança na demanda, onde consumidores mais conscientes da importância das florestas para o equilíbrio ecológico e climático do mundo passaram a exigir o conhecimento das formas de extração e produção da madeira de florestas naturais o que implicou no surgimento da certificação.

A certificação da madeira e da cadeia de custódia, é um processo de requalificação do produto recente, a organização Forest Stewardship Council (FSC) foi criada em 1993 por um conjunto de atores não-estatais, como ONGs e empresas privadas preocupadas com sua

reputação ambiental, com o objetivo de definir e aplicar voluntariamente normas de boas práticas ambientais e sociais. Como todos os outros processos de certificação, na FSC o consumidor tem papel central, é ele o responsável por definir quais mudanças deseja ver nas práticas das empresas (GUENEAU; DRIGO, 2013).

Não obstante essa mudança de cenário, a produção florestal madeireira do Brasil cresceu 83% no período de 1986 a 2016 e ainda continua sendo um importante vetor da atividade econômica brasileira, respondendo por 7,3% das exportações totais do país em 2016, uma vez que por ser o detentor da 2º maior cobertura florestal do mundo, o Brasil é o responsável por atender grande parte da demanda mundial por madeira tropical.

Como o foco desse trabalho é o MFC em UCs, os dados apresentados nessa seção se concentram na produção florestal madeireira de florestas naturais. Dessa forma, a madeira em tora, que é o principal produto da extração vegetal brasileira, representando 41% do valor total extraído em 2016, é originada na sua maior parte da região Norte do Brasil (63% do volume total), sendo o Estado do Pará o que mais se destacada, com 29% do total extraído e 37% do volume exportado pelo Brasil em madeira bruta em 2016.

Do volume de madeira tropical extraído em 2016 (11.450.693 m³), menos de 1% foi exportado em estado bruto, apenas 2.138 m³, o que pode sinalizar para duas situações. Primeiro é a presença de um processo de verticalização da produção com agregação de valor à exportação brasileira, por meio da produção de madeira serrada, laminada, etc e segundo é a dificuldade de venda no mercado externo de madeira em tora não certificada face as novas exigências da demanda.

Quanto ao beneficiamento da madeira tropical observa-se que este é também influenciado pelos novos padrões de demanda, de forma que analisando-se os dados da exportação da madeira serrada pelo Brasil, observa-se uma redução no volume exportado ao longo dos últimos 10 anos. No total entre madeira em tora, serrada, laminada e compensada o Brasil exportou em 2016 US$ 83.753.658 de madeira tropical.

Quanto à exigência de certificação por parte da demanda externa observa-se ainda uma grande dificuldade dos programas de MFC conseguirem adequar-se aos padrões exigidos pela certificadora, de forma que atualmente existe na Amazônia apenas sete programas de MFC com certificação FSC de um total de 118 planos (BVRIO, 2017). Isso faz com que grande parte da madeira que não é certificada seja destinada exclusivamente ao mercado interno.

Assim, face as mudanças institucionais que impuseram novos padrões de extração e produção de madeira e as novas exigências de demanda que vieram reforçar a necessidade de mudanças nos padrões produtivos, cabe as comunidades tradicionais que realizam o MFC

avaliarem suas práticas e adaptarem-se as novas formas e instituições e acima de tudo começarem um processo de pensar e planejar o uso múltiplo dos recursos florestais com a utilização dos PFNMs, de forma a visualizar alternativas à racionalidade amplamente aceita de que os recursos madeireiros são mais rentáveis.

4.1.5.2 Produção florestal não madeireira

Os recursos florestais não madeireiros do Brasil são diversos, uma vez que o país é o detentor da floresta com a maior biodiversidade do mundo, a floresta Amazônica, porém a utilização desses recursos ainda é incipiente, por dois motivos: primeiro porque durante muito tempo a madeira foi vista como o recurso florestal mais rentável e portanto todos os esforços de planejamento, organização, pesquisa e políticas públicas se voltaram para ela, em segundo lugar, como consequência do primeiro, devido a existência de um número reduzido de pesquisas científicas que investiguem os diversos usos desses recursos não madeireiros de modo a corroborar os usos e conhecimentos dos povos tradicionais da floresta.

Em 2016, os recursos para usos alimentícios, tais como frutos, ervas e palmitos foram os responsáveis por 82% da extração florestal não madeireira, com destaque para a erva-mate e o açaí, respectivamente 45% e 28% da produção vegetal não madeireira total. A borracha que foi durante muitos anos o principal recurso florestal não madeireiro do Brasil, atualmente representa menos de 1% da extração vegetal não madeireira e 1% do valor das exportações de PFNM em 2016.

Em 2016 o Brasil exportou 77.892 toneladas de PFNMs, totalizando um valor de US$ 341.995 mil. Os Estados da Amazônia foram responsáveis por 11% do volume total, exportando 8.573 toneladas, sendo que desse total 95% foi de castanha do Pará, exportada pelos Estados do Acre, Amazonas e Pará.

No sentido de organizar e promover a cadeia produtiva de produtos florestais não madeireiros, o Governo federal realizou algumas ações entre as quais destaca-se: 1) a inclusão no SNUC das categorias de UCs de uso múltiplo, dando-se assim ênfase que o uso da floresta deve incorporar a utilização dos recursos madeireiros e não madeireiros; 2) a criação em 2008 da Política Nacional de garantia de preços mínimos para produtos da sociobiodiversidade, operacionalizada pela Conab que garante ao extrativista uma subvenção caso o preço do seu produto no mercado esteja inferior ao estabelecido pelo governo, essa política abrange atualmente dezessete produtos.

Ainda assim, muito precisa ser feito para o fortalecimento da governança da cadeia de valor dos produtos da sociobiodiversidade, desde pesquisas científicas para uso dos recursos a consequente criação de patentes, até projetos para o fortalecimento da organização social das comunidades tradicionais que tem o direito de acesso e retirada desses recursos.