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4 SISTEMA SOCIOECOLÓGICO DA FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS

4.3 SISTEMA DE GOVERNANÇA (SG)

4.3.3 Estrutura de rede (SG3)

Além das organizações governamentais e ONGs atuam na Flona do Tapajós as organizações comunitárias e intercomunitárias, criadas no contexto de luta pelo estabelecimento dos direitos dos povos tradicionais de viverem na e da floresta.

Primeiramente, foram criadas as organizações intercomunitárias que englobam mais de uma comunidade localizadas geograficamente próximas e com características e interesses em comum. A primeira a ser criada, em 1994, foi a AITA que envolve as comunidades de

Nazaré, Tuari, Pini, Taquara, Prainha I e II, Itapaiuna, Paraiso, Jutuarana e Itapuana. Em seguida, em 1995, foi criada a ASMIPRUT, abrangendo as comunidades de Piquiatuba, Pedreira, Jaguarari, Acaratinga, Jamaraquá, Maguari, São Domingos.

Essas associações tiveram papel fundamental na conquista dos direitos de uso e gestão dos recursos que ocorreram nos anos seguintes a suas criações, tanto que em 1998 foi assinado um TAC entre IBAMA e o Ministério Público Federal (MPF) que concedeu as comunidades tradicionais da Flona do Tapajós o direito de uso dos recursos, uma vez que mesmo com a promulgação do Decreto de 1994, que estabeleceu o direito de permanência das comunidades tradicionais nas Flonas, não havia nenhum outro instrumento legal que garantisse o direito ao uso dos recursos de forma que os comunitários eram constantemente punidos pelo órgão fiscalizador.

Estimuladas pelas associações intercomunitárias e pela ONG PSA muitas comunidades criaram suas próprias associações com o objetivo de atender as demandas específicas de cada comunidade através do fortalecimento de laços de confiança na busca de parcerias e o estabelecimento de redes. Atualmente, quatorze das vinte e uma comunidades tradicionais possuem associação formalmente constituída, sendo que dessas apenas quatro estão legalizadas e aptas a receber recursos externos por meio de projetos.

Em 2004, face as mudanças institucionais que ocorreram e que como já foi apresentado no capítulo anterior culminaram em um novo padrão de governança florestal, vislumbrou-se a necessidade da criação de uma organização que pudesse representar politicamente todas as comunidades da Flona do Tapajós nos processos de reconhecimento de direitos que ainda estavam em curso, tais como a necessidade imposta pelo SNUC do estabelecimento de um CCDRU para utilização dos recursos das Flonas. Assim, em maio de 2004 foi criada a Federação, entidade que até hoje é a principal organização comunitária da Flona do Tapajós, representando os interesses de todas as comunidades nas diversas arenas.

Em 2005, com a aprovação do PMFS da Flona do Tapajós e a necessidade de iniciar o MFC em escala empresarial, foi criada uma outra organização, a COOMFLONA para ser a executora do PMFS e ao mesmo tempo a responsável pela comercialização dos recursos extraídos da floresta.

A opção pela criação de uma nova organização foi apontada por alguns entrevistados como a única alternativa face a limitação que a Federação, enquanto associação possuía para emissão de nota fiscal, porém outros entrevistados afirmam que a cooperativa foi escolhida como melhor arranjo, devido a possibilidade de divisão dos resultados o que não é possível em associações.

Não obstante ter havido a criação de uma nova organização, observa-se que Federação e COOMFLONA encontram-se fortemente entrelaçadas e suas ações ocorrem em sintonia. Essa proximidade pode ser percebida em alguns aspectos como por exemplo, a divisão do mesmo espaço físico pela sede das duas organizações, o gerenciamento do Fundo comunitário realizado pela Federação que o recebe da Cooperativa.

Dessa forma, observa-se que Federação e COOMFLONA são as duas organizações centrais no manejo dos recursos da Flona do Tapajós, cabendo à primeira as relações políticas e sociais e a segunda as relações econômicas. A partir da centralidade dessas duas organizações são estabelecidas ligações com outras organizações, com destaque para o ICMBIO, a UFOPA e o INPA no âmbito governamental e o PSA, IDESAM e a CI no âmbito não-governamental.

Nas entrevistas realizadas com os atores chaves do MFC na Flona do Tapajós, todos apontaram a parceria como um fator fundamental para o sucesso do manejo realizado na UC, mesmo muitas delas não sendo formalizadas a estrutura de redes de relacionamento que se construiu ao longo dos anos sinaliza para a presença de laços entre as organizações comunitárias, as organizações governamentais e as ONGs.

Contudo, no intuito de fortalecer ainda mais esses laços o ICMBIO12 compreende que

há a necessidade de formalizar as parcerias e tem trabalhado para concretizar esse objetivo, uma vez que só assim será possível a cogestão plena da UC.

Com relação as parcerias com as ONGs, elas ocorrem sobretudo para realização de projetos com recursos de fundos voltados para a conservação do meio ambiente. A parceria mais recente da COOMFLONA é com a CI que por meio do Fundo Amazônia conseguiu recursos para o projeto de implantação de uma serraria.

Essas parcerias com ONGs para proposição de projetos visando conseguir recursos financeiros ainda é uma necessidade das organizações comunitárias, incluindo Federação e COOMFLONA, o que limita em parte o poder de ação dessas organizações, bem como a sua autonomia na tomada de decisões. Alguns autores têm enfatizado a questão do equilíbrio de poder entre as organizações que estabelecem parcerias, sendo esse equilíbrio uma condição idealizada que pode ser alcançada apenas em parte por meio da mutualidade das parcerias (ESPADA, 2015).

Dessa forma, mesmo tendo uma rede de organizações ampla e diversa atuando na Flona do Tapajós em prol do MFC, observa-se muitas fragilidades nessa rede, o que levou a

Espada (2015) a identificá-la como uma rede pouco densa, entre essas fragilidades pode-se citar: a informalidade das parcerias e relações de poder desequilibradas face sobretudo a forte dependência técnica das organizações comunitárias para proposição de projetos com vistas a busca de recursos financeiros para executá-los.