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4 SISTEMA SOCIOECOLÓGICO DA FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS

4.7 RESULTADOS

Ostrom (2009) divide os resultados das interações entre os sistemas do SES em três: a) medidas de desempenho social;

b) medidas de desempenho ecológico e; c) externalidades para outros SES.

Como apresentado nas seções anteriores as mudanças institucionais ocorridas a partir do começo dos anos 2000 que conformaram o sistema de governança atual do SES da Flona do Tapajós tiveram implicações significativas sobre os resultados do manejo dos recursos na UC na medida em que definiu regras e padrões a serem seguidos pelos usuários proporcionando uma mudança nas interações com os recursos e seus sistemas, de forma que nas subseções a seguir são apresentados os principais resultados dessas interações. As externalidades para outros SES, contudo, serão apresentadas na seção dos Ecossistemas relacionados.

4.7.1 Medidas de desempenho social (R1)

Os resultados da pesquisa mostram que para o grupo de usuários pesquisados os resultados do arranjo formado para realização do MFC foram positivos, no que tange às medidas de desempenho social avaliadas a partir dos indicadores: aumento na renda, melhora na infraestrutura da comunidade, melhora na estrutura educacional e melhora nos serviços de saúde.

Todos os entrevistados afirmam que houve melhora na infraestrutura das comunidades, essa percepção justifica-se pelo fato da cooperativa utilizar suas próprias máquinas para realizar a manutenção das estradas que interligam as comunidades da Flona do Tapajós. Como as estradas são de chão, no período chuvoso é comum a abertura de crateras que inviabilizam a passagem, sendo necessárias ações de manutenção dessas vias pela cooperativa. Essa iniciativa é apontada pelos usuários e líderes das associações como resultado do descaso do poder público municipal e estadual. A própria abertura das estradas é um fenômeno recente. Até o começo dos anos 2000 a maioria das comunidades da UC só era acessível por meio do rio Tapajós.

Quanto à estrutura educacional das comunidades apenas 55% perceberam alguma melhora como reflexo do MFC, isso porque a influência dos resultados do MFC ocorre de forma indireta sobre a estrutura educacional, uma vez que a oferta de escolas é uma atribuição exclusiva do poder público.

Tabela 10 – Desempenho social Resultados

Sim Não

Qtde % Qtde %

Aumento da renda 48 98% 1 2%

Melhora na infraestrutura 49 100% 0 0%

Melhora na estrutura educacional 27 55% 22 45% Melhora nos serviços de saúde 40 82% 9 18%

Fonte: Pesquisa de campo (2018).

A melhoria na renda é apontada por 98% dos entrevistados e nos serviços de saúde por 82% dos entrevistados. Os serviços de saúde, assim como a educação, é atribuição do poder público, porém os cooperados da COOMFLONA acabam sendo beneficiados com a disponibilidade de transporte para deslocamento, quando necessário, de doentes das comunidades até a sede do município mais próximo, de forma que para os usuários entrevistados isso representa uma melhora nas condições dos serviços de saúde.

Vale destacar que essa percepção se refere ao grupo de usuários entrevistados, uma amostra dos cooperados, em torno de 22% das famílias que vivem na UC21. Para as demais

famílias que não recebem os benefícios diretos do aumento na renda e da melhoria nos serviços de saúde, cabe apenas os benefícios indiretos do MFC, através da melhoria da infraestrutura e das ações que a Federação realiza com os recursos do Fundo Comunitário, que em 2017 foi no valor de R$ 84.788,43.

Assim, mesmo com os avanços recentes no que tange ao sistema de governança, pode- se inferir que as interações do SES da Flona do Tapajós conduziram a um arranjo organizacional que mesmo sendo eficiente do ponto de vista social, uma vez que gera benefícios sociais que são claramente observados nas comunidades da UC com implicações significativas na melhoria das condições de vida dos usuários dos recursos naturais, não é equitativo, na medida em que os benefícios econômicos e sociais diretos ainda estão concentrados em um grupo reduzido de usuários, quais sejam os que fazem parte da cooperativa.

21 Considerando-se um cooperado por família, como não é isso que ocorre na realidade esse percentual é um

A solução para essa divergência de resultados mostra-se como o principal desafio do MFC na Flona do Tapajós e ela perpassa por várias questões. O sistema de governança existente coloca regras para a distribuição equitativa dos resultados do manejo quando no artigo 19 da IN nº 16 de 2011 afirma que o ICMBIO, ouvindo o conselho consultivo da UC definirá o percentual e a forma de destinação dos lucros ou rendimentos que deverão ser aplicados em atividades ou projetos que gerem benefícios à população tradicional residente na UC. Da mesma forma o Estatuto da Cooperativa define no inciso IV do artigo 67 que 15% dos resultados são destinados ao Fundo de Apoio Comunitário.

Não obstante as regras estarem claramente definidas, a distribuição equitativa dos resultados depende ainda de outros fatores entre os quais: a capacidade organizacional do arranjo existente para conduzir outras atividades além das relacionadas ao manejo madeireiro, o que perpassa pela estrutura de rede estabelecida, uma vez que as parcerias têm se mostrado muito importantes e fundamentais para a conquista de novos investimentos capazes de ampliar a ação da cooperativa para outras atividades; o surgimento e o estímulo à formação de novos líderes capazes de conduzir os empreendimentos, bem como unificar os usuários em torno de uma ação coletiva, pois somente dessa forma será possível a ampliação da interação entre recursos madeireiros e não madeireiros

4.7.2 Medidas de desempenho ecológico (R2)

De acordo com dados do PRODES, projeto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para o monitoramento da floresta Amazônica brasileira, até 2017 4,92% da área da Flona do Tapajós já havia sido desmatada, sendo que 4% desse desmatamento ocorreu até 1997 e 0,92% restante entre 1997 e 2017, ou seja, em 20 anos, o incremento médio no desmatamento foi de 0,05% (vide Tabela 11).

Tabela 11 – Incremento no desmatamento da Flona do Tapajós

Ano Área em Km² Incremento %

Até 1997 214,95 4 2000 28,7 0,54 2001 3,74 0,07 2002 2,73 0,05 2003 0,58 0,01 2004 1,86 0,04 2005 0,6 0,01 2006 0,77 0,01 2007 2,57 0,05 2008 1,02 0,02 2009 1,21 0,02 2010 1,12 0,02 2011 0,36 0,01 2012 0,06 0 2013 0,14 0 2014 0,21 0 2015 0,19 0 2016 0,13 0 2017 0,11 0 Total desmatado 261,05 4,92 Fonte: PRODES (2017).

Esses dados evidenciam uma redução no ritmo do desmatamento após as mudanças institucionais que ocorreram a partir de meados da década de 1990. Em 2000, ano na promulgação do SNUC, o incremento ainda foi de 0,54%, mas foi diminuindo ao longo dos anos, à medida que novas instituições surgiram para dar suporte e sustentação ao que havia sido definido no SNUC. A partir de 2012 o incremento passou a ser de 0%, ano em que ocorreu uma importante mudança com a promulgação da Lei nº 12678 que reduziu o tamanho da Flona do Tapajós e excluiu duas áreas com características urbanas que exerciam grande pressão sobre o uso dos recursos.

Assim, observa-se que as interações entre os sistemas de governança e os usuários, e entre os recursos e os sistemas de recursos têm conduzido ao uso sustentável dos recursos florestais, na medida em que o desmatamento na UC foi sensivelmente reduzido a partir das mudanças institucionais que ocorreram. Porém, vale destacar que os dados do PRODES são provenientes de resultados do monitoramento via satélite o que aponta para macro resultados.

A análise micro, a partir do número de espécies comercialmente exploráveis, bem como a capacidade de regeneração das árvores exploradas após a implementação da EIR

podem indicar o nível de resiliência e de exploração do SES. Os primeiros estudos realizados apontam para uma taxa de regeneração média de 0,32 cm, conforme dados apresentados na seção 4.4.2, considerando que o MFC utilizando EIR é realizado na Flona a apenas 13 anos, ou seja, menos tempo do que a metade do ciclo de corte, esses resultados ainda são incipientes, mas sinalizam para uma resiliência no SES.

Com relação aos níveis de exploração, observa-se que existe uma pressão para uma superexploração do recurso madeireiro, em virtude da racionalidade que indica o seu maior valor econômico, de tal forma que, de acordo com o POA (2017), o primeiro critério para a seleção das árvores que serão exploradas é o seu valor econômico, só após essa primeira seleção é que é realizado um novo filtro que considera os critérios estabelecidos no sistema de regras em vigor para o manejo madeireiro.

A tendência a essa superexploração se configura também quando se observa a maior importância que o arranjo organizacional vigente concede ao manejo madeireiro em detrimento do não-madeireiro, uma vez que a diversificação das atividades de exploração dos recursos poderia representar uma redução na pressão sobre as espécies madeireiras mais valorizadas no mercado.