• Nenhum resultado encontrado

2.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.5.2 Técnicas de Pesquisa

As técnicas utilizadas para coleta dos dados utilizados na pesquisa tiveram natureza qualitativa e compreenderam três etapas, como pode ser observado na Figura 9. Ao longo dessas três etapas de coleta de dados, foram realizadas também, a participação observacional nas reuniões ordinárias das três principais instâncias de deliberação da UC, o seu conselho consultivo, a assembleia da Federação das Organizações e Comunidades Tradicionais da Floresta Nacional do Tapajós (Federação) e a assembleia da Cooperativa Mista da Floresta Nacional do Tapajós (COOMFLONA).

A primeira etapa, realizada entre janeiro e novembro de 2017, compreendeu a pesquisa bibliográfica e documental. Nessa etapa foram acessados estudos (livros, relatórios técnicos, teses, dissertações e artigos científicos) sobre a NEI, sobre a relação entre instituições e ação coletiva no âmbito dos recursos naturais, bem como sobre a temática da governança ambiental e do MFC que deram sustentação ao embasamento teórico da pesquisa, de modo a subsidiar o planejamento e execução da coleta de dados na pesquisa de campo.

A pesquisa documental, que também compõem a primeira etapa, foi realizada em toda a legislação pertinente ao tema, uma vez que é esta legislação que conforma as regras formais do ambiente institucional. O Quadro 9 apresenta o mapeamento das principais regras formais da governança florestal brasileira.

Figura 9 – Esquema das fases da pesquisa

Fonte: Elaboração própria (2019).

Além da legislação a investigação documental também abrangeu a pesquisa no âmbito dos documentos internos da Cooperativa Mista da Floresta Nacional do Tapajós (COOMFLONA) e da Federação das Organizações e Comunidades Tradicionais da Floresta Nacional do Tapajós (Federação), tais como Estatutos, Relatórios Técnicos e Financeiros, Contratos, Regimentos Interno e Atas das Assembleias.

A segunda etapa da pesquisa, realizada entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2018, compreendeu a realização de entrevistas com os principais atores do MFC realizado na Flona do Tapajós, atores estes que foram divididos em quatro grupos.

O grupo 1 foi formado pelos líderes das organizações comunitárias que atuam na Flona do Tapajós, a COOMFLONA e a Federação. O roteiro de entrevista para o grupo 1 foi estruturado em 4 blocos de questões que envolvem os aspectos: gerais, institucionais, econômicos e sociais e ambientais, conforme pode ser observado no Apêndice A.

O grupo 2 foi formado pelos representantes do ICMBIO, principal organização governamental atuante na Flona do Tapajós, foram entrevistados o atual chefe da UC e um servidor que atua na UC desde a década de 1970 e acompanhou todas as transformações que ocorreram. O roteiro das entrevistas do grupo 2 compreendeu questões relacionadas principalmente aos aspectos institucionais, pois o objetivo central era captar a percepção desses agentes quanto ao impacto das mudanças institucionais na relação das comunidades

1) Participação observacional nas assembleias do Conselho Consultivo, Federação e COOMFLONA 2) Dados estatísticos no IBGE

com os recursos da floresta e também compreender a forma de atuação dessas organizações na Flona do Tapajós.

Quadro 9 – Mapeamento das regras formais da política florestal brasileira

Documento Ano Descrição

Lei 4771 1965 Institui o Código Florestal Brasileiro

Lei 12651 2012 Novo Código Florestal

Lei 5764 1971 Dispõe sobre a Política Nacional de Cooperativismo Decreto 73684 1974 Dispões sobre a criação da Flona Tapajós

Lei 6938 1981 Dispõe sobre o Plano Nacional do Meio Ambiente seus fins, mecanismos de formulação e aplicação

Decreto 1298 1994 Aprova o Regulamento das Florestas Nacionais Portaria/IBAMA 48 1995 Disciplina a exploração florestal da Bacia Amazônica

Lei 9985 2000 Regulamenta o art. 225 da CF. institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da natureza

Decreto 3420 2000 Dispõe sobre a criação do Programa Nacional de Florestas

Lei 11284 2006 Dispõe sobre a gestão das florestas públicas para a produção sustentável, institui o SFB e o FNDF

Decreto 5975 2006 Regulamenta artigos das leis nº 4771, nº 6938 e nº 10650 Portaria/MMA 253 2006 Institui o Documento de Origem Florestal

IN/IBAMA 112 2006 Dispõe sobre o Documento de Origem Florestal

IN/IBAMA 134 2006 Altera a IN/IBAMA 112

IN/IBAMA 93 2006 Dispõe sobre o protocolo do IBAMA dos PMFs e das solicitações de autorização para uso alternativo do solo

IN/MMA 5 2006 Dispões sobre procedimentos técnicos, apresentação, execução, e avaliação técnica de PMFS nas florestas primitivas

NE/IBAMA 1 2006 Institui a metodologia o respectivo modelo de relatório de vistoria para os PMFS

IN/MMA 4 2006 Dispões sobre a autorização prévia à APAT

Lei 11516 2007 Dispõe sobre a criação do ICMBio

Decreto 6063 2007 Regulamenta a LGFP

Decreto 6040 2007 Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais

IN/MMA 2 2007 Altera a IN/MMA 5

NE/IBAMA 1 2007 Institui as diretrizes técnicas para elaboração dos PMFS

NE/IBAMA 2 2007 Institui o Manual simplificado para análise de Plano de Manejo Madeireiro na Amazônia

Decreto 6874 2009 Institui no âmbito do MMA e do MDA o Programa Federal de MFCF IN/CONJUNTA 17 2009 Aprova as normas técnicas para obtenção de produtos orgânicos oriundos

do extrativismo sustentável orgânico Resolução CONAMA

406

2009 Estabelece parâmetros técnicos a serem adotados na elaboração, apresentação, avaliação técnica e execução de PMFS com fins madeireiros em florestas nativas e suas formas de sucessão na Amazônia

IN/MMA 16 2011 Regula no âmbito do ICMBio as diretrizes e os procedimentos para aprovação do PMFS comunitário nas Resexs, RDS e Flonas Fonte: Elaboração própria (2019).

O grupo 3 foi formado pelo representante do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM), uma Organização Não-Governamental (ONG) que atua na Flona do Tapajós desde a década de 1990. Assim como as entrevistas com os representantes do ICMBIO, a entrevista desse grupo tinha como objetivo captar a percepção das ONGs com relação aos impactos das mudanças institucionais ocorridas e a forma de atuação dessas organizações na Flona do Tapajós.

E, no grupo 4, foram entrevistados os dirigentes e técnicos da COOMFLONA, quais sejam: o tesoureiro, o engenheiro florestal, o engenheiro ambiental, a secretaria, o diretor de Manejo florestal não madeireiro e a advogada. O objetivo dessa fase das entrevistas foi compreender os aspectos técnicos do MFC, identificar as transações econômicas e financeiras realizadas pela Cooperativa e identificar as relações que a cooperativa possui com outras organizações. O roteiro para essas entrevistas encontra-se no Apêndice B.

A terceira etapa, realizada entre março e junho de 2018 e compreendeu a aplicação dos questionários ao grupo de usuários da Flona do Tapajós foi realizada em uma amostra de 49 usuários6 dos recursos, escolhidos entre os cooperados da COOMFLONA. A escolha dos

cooperados foi feita de forma aleatória considerando-se a distribuição proporcional para cada grupo de comunidades, conforme pode ser observado no Quadro 10.

O questionário aplicado buscou abordar questões dos sistemas de recursos, sistemas de governança, características dos usuários e do grupo, as interações existentes e os resultados, conforme pode ser observado no Apêndice C.

Paralelamente a essas etapas, a pesquisa contou também com a participação nas assembleias do Conselho Consultivo da UC, da Federação e da COOMFLONA realizadas ao longo de 2018, com objetivo de levantar informações que auxiliassem na compreensão do MFC realizado. Além disso, diversas bases de dados disponíveis no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tais como a Pesquisa de Extrativismo Vegetal e Silvicultura (PEVS), o Censo 2010 entre outras foram acessadas com o objetivo de obter dados necessários para subsidiar as análises desenvolvidas.

6 O cálculo da amostra foi realizado usando a calculadora online disponível em:

https://pt.surveymonkey.com/mp/sample-size-calculator/. Os parâmetros utilizados foram: erro de 10% e nível de confiança de 90% para uma população de 203 cooperados o que retornou uma amostra de 51 cooperados, porém devido às dificuldades, principalmente de acesso às comunidades, foram entrevistados 49 cooperados.

Quadro 10 – Número de habitantes, de cooperados e da amostra distribuído por bloco de comunidade7 Bloco de comunidades e aldeias de habitantes de cooperados Proporção (%) Amostra calculada Amostra realizada

Norte (São Domingos, Maguari, Jamaraquá, Acaratinga)

1016 60 30 15 16

Centro Norte (Jaguarari, Pedreira, Piquiatuba)

823 39 19 10 10

Centro (Aldeia Marituba, Maraí, Nazaré, Tauari, Pini, Aldeia Taquara)

941 67 33 17 14

Centro Sul (Prainha I, Prainha II, Itapaiúna, Paraíso)

389 37 18 9 9

Fonte: Elaboração própria (2019).

A próxima seção apresenta as abordagens utilizadas para análise dos dados obtidos na pesquisa de campo.