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Atualmente a educação a distância (EAD) caminha rapidamente para tornar-se sinônimo de educação online. Contudo, muito antes das tecnologias virtuais estarem disponíveis já acontecia essa modalidade de ensino em diversos países do mundo e, inclusive, no Brasil, como destaca Santinello (2007, p. 1), ao afirmar que “a Educação a Distância (EAD) não é compartilhada necessariamente via computador, mas pode-se dizer que no Brasil, foram utilizados inicialmente as comunicações e transmissões via rádio e, logo após, folhetos enviados via correio”. Em 1923, a Fundação Rádio Sociedade do Rio de Janeiro transmitia programas que ensinavam, entre outros, línguas estrangeiras. Em 1939, criou-se o Instituto Rádio Monitor e, em 1941, o Instituto Universal Brasileiro, ainda em operação.

Depois de muitos anos em discussão, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n° 9394/96, permitiu formas diferenciadas de educar, inclusive a distância. Esse fato contribuiu para a rápida evolução e desenvolvimento da EAD no

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Brasil, pois foi regulamentada pelos decretos n° 2494/98 e n° 2561/98 e pela Portaria Ministerial n° 301, de 07 de abril de 1998.

A conceitualização da EAD é, ainda hoje, objeto de discussões acaloradas e, ao que tudo indica, está longe de ter um caráter definitivo ou, ao menos, estável. Uma contextualização do assunto pode ser estabelecida a partir das considerações de Lobo Neto (2013, p. 9):

A EAD é, portanto, uma modalidade de realizar o processo educacional quando, não ocorrendo – no todo ou em parte – o encontro presencial do educador e do educando, promove-se a comunicação educativa, através de meios capazes de suprir a distância que os separa fisicamente. Assim, não é verdade que a educação a distância seja uma educação distante, em que o aluno esteja isolado. Ele se mantém em interação com tutores/professores, pelo trabalho de administração de fluxos de comunicação exercido por uma organização responsável pelo curso e suporte facilitador dessa interação.

Roca (1998) contribui com essa discussão apontando algumas características da EAD: a) formação personalizada; b) formação flexível; c) formação baseada em recursos didáticos e tecnológicos; d) formação interativa; e) acessível quando necessária, ou seja, permanente. Santinello (2007, p. 8) conclui também que “a educação a distância surge como uma nova modalidade de ensino que visa atender e ampliar o espaço e tempo reais, para um espaço e tempo virtuais”. E, mais recentemente, Zuin e Pesce (2010) e Leffa e Freire (2013) questionam com veemência o conceito de distância e a sua adequação ao contexto atual: os primeiros discutem os recursos de coautoria possibilitados pelos dispositivos e interfaces disponibilizados pelas plataformas de aprendizagem e pela internet atuais; Leffa e Freire (2013) tratam da mediação e questionam o conceito de distância nas relações de EAD e de educação face a face. Este é um exemplo nítido do impacto da historicidade nas discussões dessa temática e vem sendo amplamente discutido.

O desenvolvimento de novos equipamentos e a evolução tecnológica levam Guimarães (2007, p. 156) a questionar a validade do nome da EAD, dizendo que “O termo ‘a distância’, após a Internet está sendo repensado. O termo distância, embora indique a separação física entre sujeitos, não implica mais impossibilidade de comunicação”. As situações de interação vivenciadas em diversos recursos didáticos de comunicação – síncronos ou assíncronos – são sinais nítidos disso.

E a evidência dessa evolução e do conjunto de mudanças é apresentada por França (2009), ao afirmar que “já sabemos não ser possível fazer EAD apenas disponibilizando conteúdos e tecnologia aos alunos e professores, como se pensou

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anteriormente na “época industrial” da EAD.” Hoje a exigência inclui profissionais de diversas áreas como pedagogo, designer, redatores etc.

Hoje os recursos de hipermídia podem ser facilitadores do processo de ensino e aprendizagem pois combinam áudio, vídeo, textos, banco de dados, imagens e, principalmente, a comunicação síncrona, instantânea. Além disso, permitem interagir com alunos em diferentes locais e ao mesmo tempo. França (2009) destacou como exemplo de Ambiente Hipermidiático de Aprendizagem os softwares proprietários Moodle, Teleduc e Atutor, relação esta que não para de crescer e atingir novas plataformas como as de telefones celulares (smartphones). Os cursos a distância realizados pela Internet, o ambiente hipermidiático de aprendizagem torna-se um ambiente programado, com recursos e interfaces/ferramentas organizados (FRANÇA, 2009).

Ao defender que Pedagogia e Tecnologia sempre andaram de mãos dadas, Belloni (2003) compreende o fenômeno educação a distância como parte de um processo de inovação educacional mais amplo que é a integração de tecnologias de informação e comunicação nos processos educacionais. Analisando a educação brasileira na segunda metade do século XX, a autora classificou como principais experiências de educação a distância quatro grandes tipos: Formação de professores, Educação popular, Televisão escolar substitutiva e Formação Continuada ou educação ao longo da vida.

Outro aspecto interessante a se observar ao tratar a EAD é a chamada Distância Transacional. Para Moore (2002), essa distância se relaciona com os conceitos de distância física e distância psíquica e depende do quanto o aluno pode ou não dialogar com o seu tutor/professor. Nessa abordagem, a distância transacional atinge seu maior grau possível quando ocorre a forma de autoestudo, e a menor quando ocorre a comunicação contínua dos alunos entre si e destes com o tutor e o professor, baseada nas ferramentas de comunicação síncrona e assíncrona, bastante acessíveis no momento atual.

Os atuais recursos disponíveis e utilizados na preparação de cursos virtuais parecem comprovar o que Mason (1994) já observava há quase duas décadas: que a EAD e a Educação Presencial estão com seus caminhos convergindo ao ponto de ser cada vez menor as distinções entre ambas.

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Por fim, Chaves (2009) estabelece, com base na filosofia da educação, a análise das Tendências Pedagógicas e a Educação a Distância. Constrói um quadro comparativo da educação como um processo não-formal que acontece no lar com a educação como processo formal. Considera, por sua vez, que a EAD possui dois grandes modelos: Ensino a Distância e Aprendizagem Colaborativa em Ambientes Virtuais. Vale ainda destacar que Mill (2009) refuta a expressão Ensino a Distância por considerá-la despreocupada com a aprendizagem do aluno. Ao mesmo tempo defende a terminologia de Educação a Distância (EAD) como sendo

mais adequada por considerar o aluno como centro do processo: há docentes (professores e tutores) e tecnologias compondo o processo de ensino- aprendizagem e apoiando o estudante, mas, antes, importa se o educando está aprendendo (MILL, 2009, p. 31).

É importante ainda observar que a relação entre EAD e Educação Presencial não são elementos que se opõem ou excluem, longe disso. Prado e Almeida (2007) afirmam que essas modalidades não só não competem entre si como podem ser consideradas complementares em muitos contextos. Gabini et al. (2010, p. 7) destacam, ainda que os ambientes virtuais trazem possibilidades de construção coletiva de aprendizagem, “uma vez que o aluno não apenas visualiza o que acontece, mas participa e interage, atuando na elaboração do conhecimento”. Esse comportamento e ambiente de interação são característicos das propostas educacionais em que ocorre o que Valente (2003) chama de estar junto virtualmente, ou seja, por meio de recursos das TICs, alunos e professores/tutores superam o conceito tradicional de distância que implica em afastamento e ausência de contato, tornando-se presente virtualmente7.

Ambientes Virtuais de Aprendizagem – AVA

A EAD, como já discutimos, tem o desafio de educar pessoas que fisicamente não estão no mesmo local, no mesmo instante. A tecnologia é o instrumento que permite a mediação entre os sujeitos e os objetos das atividades educacionais que compõem o processo de formação a distância. Castilho (2011, p. 66) considera que “a tecnologia da educação é um produto social. Não pode ser pensada como uma coisa autônoma, que tenha princípio e fim em si mesma”.

7 Grifo meu.

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Belloni (2003, p. 59) chama a atenção para as novas possibilidades de interação proporcionadas nos primeiros anos do século XXI pelas então modernas ferramentas tecnológicas no campo educacional: “oferecem possibilidades inéditas de interação mediatizadas (professor/aluno; estudante/estudante) e de interatividade com materiais de boa qualidade e grande variedade”. A autora destaca a possibilidade de combinar a flexibilidade da interação humana com a independência no tempo e no espaço, sem perda de velocidade.

Mais recentemente Braga (2013, p. 84) faz a leitura de que “os ambientes virtuais de aprendizagem foram concebidos para reproduzir práticas pedagógicas que já existiam na sala de aula presencial”, o que certamente deixa marcas na natureza das atividades e, muitas vezes, na conduta dos professores, em sua quase totalidade também oriundos da educação presencial. Sem fazer uma apologia à EAD, Braga (2013, p. 84) aponta duas vantagens distintivas dessa modalidade em relação à educação presencial:

Uma vantagem a ser destacada é o fato de os AVAs, em geral, abrirem novos espaços para a construção colaborativa de conhecimento. Outro ponto positivo é que, sendo um ambiente virtual, ele favorece e instiga a consulta a materiais disponibilizados na internet, que é um banco de informações potencialmente infinito.

Valente (2005) já considerava, há dez anos, a internet como um dos mais poderosos meios de troca de informação e de realização de ações cooperativas. Esse potencial não só se confirmou como foi amplificado com o surgimento da Web 2.0 e suas poderosas ferramentas de interação assíncronas e síncronas. Enquanto os meios de comunicação de massa são vias de mão única, a internet permite a interatividade entre professor, aluno e tecnologia. Essa interação e troca de informações entre o professor e o aluno são muito valorizadas no ambiente online (SILVA, 2006).

O ambiente virtual de aprendizagem – AVA – representa a sala de aula online e “é um conjunto de interfaces, ferramentas e estruturas decisivas para a construção da interatividade e da aprendizagem” (ROSTAS e ROSTAS, 2009, p. 139). Por sua vez, Almeida (2003, p. 331) destaca que tais ambientes de aprendizagem

são sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados objetivos.

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Na prática, quase sempre, os AVAs funcionam como a virtualização da sala de aula, garantindo os elementos considerados pelos Projetos Pedagógicos e pelos Planos de Ensino como fundamentais para a existência do curso. Braga (2013, p. 78) destaca que, com a criação da Web 2.0, foi intensa a busca por plataformas técnicas que permitissem transpor a sala de aula para o meio virtual e foi assim que surgiram “os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), espelhados no tipo de práticas realizadas na modalidade presencial”.

A comunicação nas atividades em ambientes digitais pode acontecer por duas formas de interação: síncrona e assíncrona, definidas por Oliveira (2009, p. 67):

A comunicação é considerada síncrona quando ela é realizada por meio de canais que possibilitam uma comunicação em tempo real, como é o caso do chat. Por outro lado, a comunicação é assíncrona quando ela é realizada em tempo diferido, ou seja, é necessário um espaço de tempo entre as duas mensagens e entre os dois momentos da interação, como, por exemplo, o email.

Ambas as formas de comunicação possuem vantagens que as qualificam como instrumentos importantes a serem considerados na elaboração de uma atividade de EAD. Vale a competência de quem concebe as aulas e de quem as desenvolve para optar pelas mais adequadas a cada situação específica.

São consideradas vantagens das ferramentas assíncronas:

a) Flexibilidade desejável do tempo, ou seja, o acesso à interação pedagógica pode ocorrer a qualquer hora e de qualquer lugar;

b) Permite ao aprendiz que ele tenha tempo para refletir sobre suas ideias, verificar referências, consultar conhecimentos prévios e ter um tempo maior para preparar seus comentários;

c) Facilitar ao aprendiz a integração das ideias que estão sendo discutidas no curso, ou acessar os recursos na internet para auxiliar no desenvolvimento de seu trabalho;

d) O baixo custo dos cursos oferecidos, já que eles requerem computadores de baixa capacidade operacional, o que permite um acesso global mais equilibrado aos participantes (OLIVEIRA, 2009, p. 67).

São consideradas vantagens das ferramentas síncronas:

a) Promove a motivação para que os aprendizes prossigam com seus pares e continuem seus estudos;

b) Incentiva a cooperação e a cognição em grupo, pois a interação em tempo real contribui para o desenvolvimento da coesão do grupo e a percepção de que ele faz parte de uma comunidade de aprendizagem; c) Oferece feedback, uma vez que o sistema síncrono propicia o feedback

rápido das ideias que estão sendo discutidas;

d) Incentiva o estudante a manter-se atualizado com o curso, através das disciplinas ofertadas, o que ajuda as pessoas a priorizarem seus estudos (OLIVEIRA, 2009, p. 68).

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Existem várias plataformas de ensino-aprendizagem, ou AVAs, disponíveis como TelEduc, AulaNet, Amadeus, Eureka, Moodle, e-Proinfo, Learning Space e WebCT (GABARDO, QUEVEDO e ULBRICHT, 2010). Dentre elas vale dizer que a TelEduc é uma plataforma nacional, gratuita, desenvolvida por uma pequena equipe de programadores do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Segundo Braga (2013), a TelEduc oferece os recursos básicos que permitem desenvolver satisfatoriamente os cursos na modalidade de EAD.

A outra plataforma a destacar é a Moodle, também gratuita e de código aberto, tem versões em inglês e também em português. Por ter código aberto passa por melhorias constantes por colaboradores do mundo todo, o que faz dela uma plataforma com recursos muito sofisticados e que permitem desenvolver cursos com alto grau de interatividade e coautoria.

Diferente do que se possa pensar, um Ambiente Virtual de Aprendizagem não tem tudo pronto e não só não dispensa o professor como exige um pouco mais, ou seja, o domínio de um número ainda maior de ferramentas e competências educacionais. Braga (2013) aponta que isso também acontece em relação ao aluno pois, se por um lado as atividades realizadas em pequenos grupos são facilitadas no meio digital, por outro, em grandes grupos como nos fóruns ela é mais complexa.

Silva (2010, p. 229) chama a atenção para a importância da criação do desenho didático de uma aula na modalidade de EAD. Esse cuidado é fundamental para evitar que simplesmente haja transposição da modalidade presencial, ou de um texto impresso para um texto digitalizado, sem aproveitar os avanços que as ferramentas eletrônicas e a

internet oferecem.

A criação do desenho didático precisará cuidar para que os fundamentos do digital, do hipertexto e da educação cidadã estejam garantidos na estruturação dos conteúdos e das atividades a serem disponibilizadas como provocação à aprendizagem. Será preciso romper com a linearidade do livro e das apostilas eletrônicas de modo que não se subutilize a disposição hipertextual e comunicacional próprias do ambiente online de aprendizagem, da web. O desenho didático pode apresentar-se como rede e não como rota. Pode oferecer um conjunto de territórios a explorar. Não uma história a ouvir, mas um conjunto intrincado, labiríntico, hipertextual de territórios abertos à navegação e dispostos a interferências, a modificações. Dispõe entrelaçados os fios da teia como múltiplos percursos para conexões e expressões com os quais o docente e os cursistas possam contar no ato de manipular as informações e construir colaborativamente o conhecimento. Ele provoca o aprendente a contribuir com novas informações e a criar e oferecer mais e

101 melhores provocações à turma, participando como coautor do processo de comunicação e de aprendizagem (SILVA, 2010, p. 229-230).

Dentre as diversas possibilidades de comunicação síncronas e assíncronas existentes, destaco as que direta ou indiretamente tiveram alguma influência neste trabalho. Foram sistematizados por Silva (2002, apud OLIVEIRA, 2009, p. 69-70):