• Nenhum resultado encontrado

A relação professor-pesquisador nas sessões reflexivas como resultado da observação das relações professor-aluno nos fóruns de discussão

MECANISMOS DE INTERROGAÇÃO

3.1 A relação professor-pesquisador nas sessões reflexivas como resultado da observação das relações professor-aluno nos fóruns de discussão

Esta pesquisa foi desenvolvida a partir da observação da relação professor-aluno nos fóruns permanentes de discussão do curso de graduação em Administração na modalidade de EAD. Concomitantemente, professor e pesquisador se reuniram virtualmente em sessões reflexivas para discutirem a realidade vivenciada nos fóruns.

184

O foco das observações foi, inicialmente, a compreensão dos modos de produção de conhecimento na prática do professor com seus alunos naquela ferramenta/ambiente. Entendo a produção de conhecimento como um movimento dialético da contradição que promove a superação, a emergência do “novo” em substituição ao “velho” e assim sucessiva e infinitamente. Para compreender os modos como os participantes agem nas relações de produção do conhecimento, é preciso, como destaca Magalhães (2014) entender as negociações nesta produção que, linguisticamente, se organizam de forma argumentativa. Por isso, fez-se necessária a observação dos fóruns permanentes das unidades do módulo da disciplina Administração Mercadológica II em curso. Paralelamente a essa observação ocorreram sessões reflexivas para discussão do que era observado.

As duas primeiras sessões reflexivas ocorreram antes da observação do AVA. A primeira delas serviu para apresentação da proposta de trabalho e do professor, conforme foi descrito no quadro de conteúdo temático e nas características enunciativas apresentadas no capitulo 2 desta tese. Na sessão reflexiva 2 (SR2), foi possível aprofundar as discussões abordando aspectos da constituição profissional do professor, sua trajetória da educação presencial para a atuação, concomitante, na EAD.

A temática do fórum foi um dos pontos discutidos e considero importante observarmos os sentidos e significados iniciais do professor sobre ele. Como naquele instante eu ainda não tinha acesso ao AVA, ative-me a explorar a temática às avessas do método marxiano, que parte sempre da prática para a idealização. Porém considerei uma oportunidade de compreender sentidos e significados iniciais do professor.

Também considero necessário observar como se estabelece a relação professor- pesquisador nesta sessão reflexiva, uma vez que o pesquisador não tem experiências anteriores nessa abordagem teórico-metodológica. Como se trata de uma pesquisa que se pretende crítico-colaborativa, é importante que o pesquisador se coloque em condições de ser o companheiro mais experiente nessa interação.

É importante ainda destacar que cada sessão reflexiva desta pesquisa pode ser compreendida como uma atividade. Nela, o professor e o pesquisador têm a necessidade compartilhada de construírem um locus para descreverem, informarem, confrontarem, reconstruírem suas práticas e colaborarem mutuamente. Se o pesquisador contribui para que o professor melhore sua aula, o professor colabora para que o pesquisador desenvolva sua pesquisa. Assim, é possível dizer que os sujeitos têm um motivo

185

comum: contribuir com a realização do objeto do outro. Leontiev (1972/1977) afirma que para que a construção coletiva de uma atividade aconteça, é preciso que os sujeitos compartilhem o mesmo objeto, movidos por uma necessidade comum, de maneira consciente.

Considero ainda, embasado em Vygotsky (1934/1998), que a interação entre os sujeitos na sessão reflexiva é mediada pela linguagem. Magalhães (2004; 2012) compreende a linguagem como um espaço para reflexão e negociação recíproca de sentidos iniciais. Liberali e Fuga (2012) entendem a argumentação como artefato para a análise e discussão dos problemas e conceitos e não como manifestação ou aceitação automática de verdades prontas. Dessa forma, entendo a argumentação como um instrumento linguístico de reflexão, negociação e colaboração efetiva entre os sujeitos nas atividades.

Portanto, observar uma sessão reflexiva implica observar o processo argumentativo nela presente e, partindo dele, compreender as relações estabelecidas entre os sujeitos participantes dessa atividade: relações de desenvolvimento e pertinência, os modos de articulação discursiva, os tipos de perguntas e respostas, as categorias linguísticas da argumentação, e tantas outras marcas que a linguagem imprime na fala ou escrita.

Para as análises adoto, nos recortes, três níveis de destaque de fragmentos que estão demarcados por colchetes. O primeiro nível é demarcado por um número entre colchetes e registra uma observação mais ampla, por exemplo: [1]; o segundo nível aparece quando destaco, nesse fragmento, um trecho ainda menor para uma análise mais detalhada, e sua notação terá um segundo nível, como [1.1], [1.2] e assim por diante; o terceiro nível ocorre quando tiver a necessidade de, dentro de um destaque do nível anterior, ressaltar a especificidade de palavras ou expressões. Neste caso, assumem uma forma que mantém o índice do nível em que se inserem e são numerados sequencialmente: [1.1.1], [1.1.2], [1.1.3] e assim por diante. Observo ainda que a ordem sequencial de numeração dos fragmentos em destaque nos recortes ocorre condicionada às suas referências nas discussões. Considero que esta prática traz conforto a quem escreve e indica ao leitor os caminhos percorridos na reflexão e na produção discursiva do autor.

186 Recorte 1 – SR2

22. PESQUISADOR - O que faz para conseguir a participação dos alunos nas atividades que propõe?

23 PROFESSOR - As atividades são previamente elaboradas, como parte do material didático e avaliativas. 30% da nota final dos alunos é composta pela realização de atividades, por isso, eles fazem as atividades para obterem os pontos. Há também atividades livres, que não são pontuadas e que, nesse contexto, menos alunos fazem. Nos fóruns procuro incentivá-los a realizar também as atividades livres, dizendo que tais atividades contribuem para reflexão do conteúdo e também para a preparação para a prova.

24 PESQUISADOR - Fale mais sobre os fóruns: sua função, como se desenvolvem e o que

pensa dele como ferramenta educacional.[1]

25 PROFESSOR - Os fóruns são espaços destinados ao diálogo com os alunos,[2] de uma forma coletiva. Nele podemos postar notícias, tirar dúvidas coletivas e assim por

diante.[3] No nosso ambiente de aprendizagem temos um fórum para notícias,[5] ou seja,

para informações gerais e para cada unidade do material didático temos um fórum de

dúvidas.[6] Como ferramenta considero os fóruns bem interessantes, pois ele representa um instrumento de diálogo coletivo, ou seja, por meio dele posso falar com todos os alunos matriculados numa disciplina e compartilhar debates também.[4] Se desejo falar

individualmente utilizo mensagens específicas para isso, mas se é geral, utilizo o fórum, que é uma ferramenta que funciona muito bem.

26 PESQUISADOR - Você considera o fórum um ambiente colaborativo?

27 PROFESSOR - Considero, pois ele representa a oportunidade de uma construção coletiva, ou seja, o debate que ali se desenvolve é construído tanto pelo professor quanto pelos alunos, portanto, um ambiente em que ambos colaboram para a construção do conhecimento. 28 PESQUISADOR - Você fala em debate neste ambiente colaborativo. Você considera que seja

possível desenvolver uma colaboração crítica neste ambiente de interação do curso?

29 PROFESSOR - Sim, acredito que sim. Inclusive, no modelo de educação a distância que utilizamos considero o fórum como a ferramenta mais prática que temos para a construção de uma colaboração crítica, mas não são todos os que participam, mas os que participam o fazem de maneira bem interessante, elaborando visões próprias sobre os conceitos.

30 PESQUISADOR - É comum um participante questionar respostas e posicionamentos dos outros?

31 PROFESSOR - Não. É mais comum haver opiniões complementares, mas não questionamentos ou opiniões contrárias.[7]

32 PESQUISADOR - Você, como professor, atua de que forma quando percebe que os conceitos teóricos estão sendo tratados equivocadamente em uma discussão nos fóruns?

33 PROFESSOR - Quando ocorrem situações como essa eu intervenho fazendo o redirecionamento para o foco correto. Nos fóruns procuro, além de acompanhar, comentar cada observação, portanto, evitando que ocorram distorções.[8] Só não comento individualmente quando há muitos comentários e não consigo abordar todos, mas ainda assim procuro fazer um comentário generalizado que aborde o comentado de forma geral. 34 PESQUISADOR - Posso fazer mais duas perguntas para fecharmos essa sessão?

35 PROFESSOR – Sim, pode sim.

36 PESQUISADOR - Como que você acredita que acontece o aprendizado no ambiente do fórum?

37 PROFESSOR - Acredito que o fórum é uma atividade complementar,[9] mas não o fator determinante. O fórum só cumpre seu propósito se o aluno fizer a leitura dos textos necessários, ou seja, os materiais didáticos.[10]

38 Agora, se ele tiver cumprido tais pré-requisitos, a interação dos fóruns estimula o debate e o debate instiga e incentiva o conhecimento, por isso, acredito que o fórum contribui e, além do mais, enquanto constrói suas respostas ou participação nos fóruns o aluno está construindo o próprio conhecimento.[11]

187

Neste momento inicial da minha pesquisa o que mais me interessava era conhecer com a maior profundidade possível o fórum disponibilizado aos alunos, os sentidos do professor sobre ele, seu funcionamento e suas possibilidades como recurso educacional. Por se tratar dos primeiros encontros e do uso do chat – um meio de comunicação à distância síncrono e escrito –, havia o desafio de estabelecer e manter um contato com o menor grau de dispersão temática possível. Para isso, eram precisos dois cuidados: primeiro manter uma relação de desenvolvimento e pertinência, depois conseguir avançar na relação argumentativa de forma a perceber as relações pretendidas/possibilitadas pelo professor para esse ambiente.

A abordagem sobre a temática do fórum surge a partir de uma resposta dada pelo professor, no turno 23, quando foi perguntado sobre ações para conseguir a participação dos alunos nas atividades propostas.

Recorte 1.1 – SR2

24. PESQUISADOR - Fale mais sobre os fóruns: sua função, como se desenvolvem e o que

pensa dele como ferramenta educacional.[1.1]

25. PROFESSOR - Os fóruns são espaços destinados ao diálogo com os alunos,[1.2] de uma forma coletiva. Nele podemos postar notícias, tirar dúvidas coletivas e assim por diante.[1.3] No nosso ambiente de aprendizagem temos um fórum para notícias, ou seja, para informações gerais e para cada unidade do material didático temos um fórum de dúvidas. Como ferramenta considero os fóruns bem interessantes[1.4.1], pois ele representa um instrumento de diálogo coletivo[1.4.2], ou seja, por meio dele posso falar com todos os alunos matriculados numa disciplina e compartilhar debates[1.4.3] também[1.4]. Se desejo falar individualmente utilizo mensagens específicas para isso, mas se é geral, utilizo o fórum, que é uma ferramenta que funciona muito bem.

Aproveito a referência feita pelo professor para tentar ampliar a discussão e criar um espaço dialógico que permita aprofundar o debate sobre os fóruns para conhecer, não só os aspectos técnicos, como os sentidos do professor sobre eles. Dessa forma, o uso da pergunta declarativa “Fale mais sobre os fóruns: sua função, como se desenvolve

e o que pensa dele como ferramenta educacional”[1], que é do tipo de expansão,

favorece, segundo Ninin (2013, p. 127), “a inserção de contribuições de outros participantes e, por consequência, seus engajamentos na ação discursiva”. Além de pedir a expansão do assunto de forma genérica (“Fale mais sobre os fóruns”[1]), ainda incluo três questões pontuais para orientar e garantir uma resposta pertinente (“sua

188

função, como se desenvolve e o que pensa dele como ferramenta educacional”[1.1]), ou seja, a função dos fóruns, o modo de desenvolvimento e os sentidos do professor.

Considero importante estabelecer esses pontos norteadores da discussão como forma de promover o desenvolvimento da argumentação de forma pertinente, o que contribui para a fluência do discurso e para a constituição de um ambiente favorável à colaboração entre este pesquisador e o professor. Vale destacar que, apesar de terem uma relação pessoal e familiar, esta sessão reflexiva marca um período de início de uma relação em que assumem papéis sociais diferentes bem distintos: professor e pesquisador.

Já no que se refere ao conteúdo, esta pergunta, ao se subdividir em três, coloca em discussão conceitos, ações e sentidos do professor. Ao apresentar a função (“São

espaços destinados ao diálogo com os alunos”[1.2]) e modos de agir (“Nele podemos

postar notícias, tirar dúvidas coletivas e assim por diante”[1.3]), o professor recorre à sua memória e resgata a vivência de outros cursos, ou seja, recorre à historicidade para poder responder à questão. Já quando responde o que pensa sobre os fóruns o professor manifesta seus sentidos construídos (“Como ferramenta, considero os fóruns bem interessantes, pois ele representa um instrumento de diálogo coletivo, ou seja, por

meio dele posso falar com todos os alunos matriculados numa disciplina e compartilhar debates também”1.4]). Para manifestar o sentido sobre o fórum, o professor teve que

recorrer a outros conhecimentos, articulá-los e construir uma estrutura argumentativa que lhe permitisse dar sustentação ao seu ponto de vista (“bem interessantes”[1.4.1]). Imediatamente ele avança sua caracterização subjetiva apresentando um sentido baseado na funcionalidade dos fóruns (“instrumento de diálogo coletivo”[1.4.2]) e ainda exemplifica detalhando a funcionalidade (“ou seja, por meio dele posso falar com todos os alunos matriculados numa disciplina e compartilhar debates também”[1.4.3]). As abordagens interativas que permitem aos sujeitos trazerem seus sentidos para a discussão propiciam a construção de relações colaborativas. Elas permitem que os respondentes resgatem, reflitam, compreendam, confrontem, negociem e até mesmo ressignifiquem seus sentidos gerando significados compartilhados.

No que diz respeito à condução temática, entendo que na pergunta do turno 24 há uma estratégia de desenvolvimento da unidade temática, pois está ancorada por uma referência aos fóruns na resposta anterior. No entanto, ao mesmo tempo, ela tem um caráter introdutório quando consideramos a totalidade da sessão reflexiva. É a partir

189

desse ponto que a temática dos fóruns é inserida na discussão entre os sujeitos, estendendo-se do turno 24 ao 38. Dessa forma, partindo de uma colocação do professor em resposta à pergunta anterior, procurei inserir a temática dos fóruns de forma a dar fluidez ao discurso, garantindo-lhe o fio discursivo, fazendo a situação parecer e ser o mais natural possível, minimizando os inevitáveis impactos que as relações de poder imprimem nestas interações.

No fragmento abaixo reproduzo um recorte ainda menor, com os turnos 24 e 25, para demonstrar como ocorre, pelo mecanismo de distribuição das vozes, o processo de materialização dos sentidos de fórum para o professor.

Recorte 1.2 – SR2

24 PESQUISADOR - Fale mais sobre os fóruns: sua função, como se desenvolvem e o que pensa dele como ferramenta educacional.

25 PROFESSOR - Os fóruns são espaços destinados ao diálogo com os alunos, de uma forma coletiva. Nele podemos postar notícias, tirar dúvidas coletivas e assim por diante. No nosso ambiente de aprendizagem temos um fórum para notícias, ou seja, para informações gerais e para cada unidade do material didático temos um fórum de dúvidas. Como ferramenta

considero os fóruns bem interessantes, pois ele representa um instrumento de diálogo

coletivo, ou seja, por meio dele posso falar com todos os alunos matriculados numa disciplina e compartilhar debates também. Se desejo falar individualmente utilizo mensagens específicas para isso, mas se é geral, utilizo o fórum, que é uma ferramenta que funciona muito bem.

Os verbos, destacados no excerto, desempenham um papel importante para, por meio da distribuição de vozes, compreender a implicação de diferentes sujeitos no enunciado. Ao fazer a pergunta o pesquisador utiliza o verbo falar (“Fale”) na terceira pessoa do imperativo, o que remete a ação a ele/você, ou seja, ao outro na interação, exercendo na prática a marca do tu no processo de posicionamento enunciativo. Na linguagem coloquial é comum o uso de fale no lugar de fala ao se referir à 2ª pessoa do discurso em interações de caráter pouco formais. Dessa forma, o pesquisador dá voz ao professor para manifestar-se sobre um tema específico, o fórum.

Ao assumir a fala, o professor define de forma impessoal os fóruns. Em seguida, ao explicar os modos de funcionamento desta ferramenta, o professor dá voz a outros sujeitos por meio do uso verbal na primeira pessoa do plural: podemos, temos. Ao referir-se ao modo como os fóruns são desenvolvidos, o professor invoca o plural como possível referência aos outros sujeitos envolvidos nessa atividade: alunos, tutor, professores e até mesmo a instituição. Vale destacar que o fórum é uma atividade coletiva. Ele não se materializa senão como uma atividade: com sujeitos que tenham

190

motivo para construírem um objeto comum, com a linguagem e artefatos tecnológicos mediando a interação dos sujeitos. Nos fóruns de dúvidas, as postagens podem ser feitas pelo professor, pelo tutor ou pelos alunos. Já a definição entre ter um ou mais fóruns (de dúvidas e de notícias) é da instituição de ensino.

No entanto, ao discutir os sentidos dos fóruns, o professor usa a primeira pessoa do singular: posso, desejo, utilizo. Com isso demarca que esses sentidos são exclusivamente seus. Além disso, sinaliza quais são as suas práticas, suas relações e o modo de produção do conhecimento utilizando esse recurso da EAD. É importante observar que ele considera o fórum como um instrumento de diálogo coletivo, o que em sua concepção implica em um meio para “falar com todos os alunos matriculados numa disciplina e compartilhar debates também”[4]. Contudo destaca que nas relações individuais utiliza uma outra ferramenta, chamada de mensagem.

O materialismo histórico-dialético compreende o mundo a partir da observação da prática que será, posteriormente, idealizada tornando-se teoria. Vygotsky (1934/1998) considera que o pensamento tem a sua origem na prática vivenciada nas relações sociais, pois os significados compartilhados, após um processo de interiorização, tornam-se sentidos pessoais. Dessa forma, o caminho inverso, respeitado todos os ruídos, também é capaz de expressar sentidos que se constituíram em outros momentos e relações. Por isso considero válido esse movimento de observar os sentidos do professor sobre os fóruns em um momento anterior à observação dos mesmos no AVA.

A modalização é um recurso linguístico que auxilia na compreensão dos enunciados aproximando o discurso do seu enunciador, ou seja, o significado dos seus sentidos. Liberali (2013) destaca que os mecanismos de modalização permitem a compreensão das ideias expostas, destaca que não devem ser compreendidas como uma verdade absoluta, mas como possibilidades. Resguardadas essas questões, considero importante a observação da modalização deôntica como forma de compreender o comportamento do professor, dado que ela serve para avaliar aspectos do domínio do direito, da obrigação social e/ou da conformidade. Entendo que o grau das modalizações deônticas lançam luz sobre o nível de compromisso do sujeito enunciador com a temática central da argumentação em curso. Em três momentos do turno 25, o professor modaliza de forma deôntica o discurso referindo-se aos fóruns: “Nele podemos postar

191 meio dele posso falar com todos os alunos”[4]. Nessas expressões quando ele usa o

verbo ter (“temos”) ele denota condição de existência e o verbo poder (“podemos” e “posso”) no sentido de permissão. Isso indica um baixo grau de comprometimento do enunciador com o conteúdo do enunciado.

Gonçalves (2012, p. 145) afirma que “os modalizadores permitem que o interlocutor perceba posicionamento no enunciado” e que “tais marcas conduzem, direcionam o(s) sentido(s) do enunciado”. Dessa forma, “compreender a modalização sob a perspectiva enunciativa implica considerá-la como processo do qual o locutor consciente ou não lança mão para cumprir um propósito discursivo”.

Com base nessas considerações há fortes indícios, no discurso do professor, de que tenha baixo grau de compromisso com a postagem de notícias nos fóruns e com o seu uso para falar com todos os alunos. Como ressalta Liberali (2013), essa é uma possibilidade, não uma verdade absoluta, e precisará ser observada na prática.

Neste excerto uma sequência de perguntas abertas que se alternam basicamente entre os tipos de expansão, síntese e esclarecimento garantem a evolução da discussão entre os sujeitos, mantendo as condições de desenvolvimento e pertinência destacadas por Pontecorvo (2005). Estas perguntas permitiram que, não só a resposta do professor como também as perguntas seguintes do pesquisador, trouxessem novos elementos ao debate, relacionassem outros conceitos, como o de colaboração, e problematizasse a prática pedagógica do docente. Exceção a essa sequência está no turno 34 em que o participante é levado a responder afirmativamente quando perguntado se poderiam continuar por mais duas perguntas.

Esse conjunto de perguntas demonstram também que pesquisador e professor estabelecem uma relação de colaboração confortável neste encontro, o que até impede de chamá-lo de Sessão Reflexiva. Neste ponto o que temos realmente é um encontro colaborativo virtual, pois há colaboração que não seja crítica, que seja confortável, porém não existe sessão reflexiva confortável. Fullan e Hargreaves (2000) consideram que a colaboração confortável é um dos fatores limitantes para o desenvolvimento das ações na prática escolar, pois elas são limitadas, não atingem a sala de aula e raramente