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EDUCAÇÃO E ESCOLA EM TEMPOS NEOLIBERAIS

No documento Anais completos (páginas 53-57)

BERNARDI, Nádia Maria Ferronatto (URI) nadiabernardi@hotmail.com FONTANA, Patrícia (URI) patricia.fontanaimm@gmail.com KUHN, Martin (URI) martin@uri.edu.br

Eixo temático 2: Gestão Escolar Financiamento: Sem financiamento.

RESUMO

A proposição tem como intenção refletir sobre as implicações do mercado/capital na educação e na escola. É de caráter bibliográfico e dialoga com teóricos que abordam a temática.

Palavras-chave: Escola. Mercado. Teoria do Capital Humano.

A educação no Brasil apresenta inúmeros desafios que precisam ser discutidos por diferentes setores da sociedade. Neste sentido, a proposição tem como meta refletir sobre as implicações do mercado e do capital nas políticas e ações da escola. A discussão é de caráter bibliográfico e dialoga com teóricos que investigam a temática.

Parte-se da compreensão que a escola é um espaço que possibilita o desenvolvimento integral do sujeito. Isso requer professores identificados com domínio de uma pluralidade de saberes que orientam o ato pedagógico e gestores comprometidos com o ensino e aprendizagem. Segundo Libâneo (2013, p. 37) exige dos implicados clareza da “tarefa de ensinar a pensar requer dos professores o conhecimento de estratégias de ensino e de desenvolvimento de suas próprias competências do pensar.”

Mészáros (2008, p. 47) afirma que “[...] a aprendizagem é a nossa própria vida, desde a juventude até a velhice, de fato quase até a morte; ninguém passa dez horas sem nada aprender.” O ser humano, da infância à velhice, é inclinado a buscar o conhecimento e esse movimento de busca o coloca em constante aprendizagem. Contudo, o autor interroga o sentido dessa aprendizagem: Será ela para autorrealização? Será ela para a “perpetuação, consciente ou não, da ordem social alienante e definitivamente incontrolável do capital”? Será ela para a“autoemancipação da humanidade?” Será, pelo contrário, a adoção pelos indivíduos, em particular, de modos de comportamento que apenas favorecem a concretização dos objetivos reificados do capital?” (MÉSZÁROS, 2008, p. 47-48).

As indagações anunciam que a educação é marcada pelo seu tempo, pelas transformações sociais que a influenciam. Em nosso tempo, isso significa que o sistema vigente vincula a educação à lógica mercadológica e estabelece outras referências à formação humana. De acordo com Flickinger (2010, p. 180) nesse cenário a “formação vê-se guiado pelas diretrizes da racionalidade econômica que servem também de critérios para a avaliação dos resultados.” Boa educação é a que prepara à inserção no mundo produtivo.

Dardot e Laval (2016, p. 16, 30) afirmam o neoliberalismo como uma racionalidade que tende a estruturar e organizar a existência humana em sua totalidade, produzindo “certos tipos de relações

54 II Congresso de Educação | Currículo e Gestão na Escola de Educação Básica Eixo 2 - Gestão escolar

sociais, certas maneiras de viver subjetividades”, que se estendem a todas as dimensões da existência humana como a nova razão do mundo: expandir e acumular capital. Essa nova racionalidade produz “uma subjetividade ‘contábil’ pela criação de concorrência sistemática entre os indivíduos.” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 30). Para a produção dessa subjetividade se torna pertinente o aparato educacional.

A produção de subjetividades neoliberais requer, no entender dos autores “uma política de educação de massas que prepare os homens para as funções econômicas especializadas que os aguardam e para o espírito do capitalismo a que devem aderir para viver ‘em paz uma Grande Sociedade de membros interdependentes’.” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 92). Trata-se de produzir capital humano para esse mundo intensamente concorrencial e empreendedor. E diante disso, Mészáros (2008, p. 27), afirma que é preciso “[...] romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente.”

Em Laval (2004, p. XX) “[...] a nova ordem educativa que se delineia, o sistema educativo está a serviço da competitividade econômica, está estruturado como um mercado, deve ser gerido ao modo das empresas.” Desta forma, é relevante enfatizar que a educação está partindo para uma estrutura de prestadora de serviços, estabelecendo um modelo de empresa onde o educando passa a ser o cliente. Destacam-se sob está perspectiva, que os sujeitos para atender as demandas do mercado precisam desenvolver competências individuais (subjetividades), aprimoramento específico e as habilidades necessárias para competir no mercado concorrencial. Flickinger (2010, p. 187) pondera que “quem não se lhe adaptar, perde chance de integrar-se na normalidade da rede social e de seu ser reconhecido sem restrições.”

Essa vinculação da escola a razão econômica gera uma manipulação do processo formativo. Sader (apud MÉSZÁROS, 2008, p. 16), destaca que “no reino do capital, a educação é, ela mesma, uma mercadoria. [...] Talvez nada exemplifique melhor o universo instaurado pelo neoliberalismo, em que ‘tudo se vende, tudo se compra’, ‘tudo tem preço’, do que a mercantilização da educação.” Assim, no que diz respeito à direção visada pela escola neoliberal Laval (2004, p. 12) ressalta que “as reformas impostas à escola vão ser em seguida, cada vez mais, guiadas pela preocupação com a competição econômica entre sistemas sociais e educativos e pela adaptação às condições sociais e subjetivas da mobilização econômica geral.” Esta realidade interpela a busca de caminhos para romper com a lógica econômica e (re) pensar o processo formativo.

Para finalizar, reiteramos as palavras de Pierre Dardot e Christian Laval (2016, p. 402): “Cabe a nós permitir que um novo sentido do possível abra caminho. O governo dos homens pode alinhar-se a outros horizontes, além daqueles da maximização do desempenho, da produção ilimitada, do controle generalizado.” Podemos reinventar o nosso mundo, a partir dos princípios da suficiência (tenho mais que me falta) e da transcendência (pensar nas futuras gerações). Nessa perspectiva, é possível pensar um mundo para todos os seres humanos, em que todos tenham o direito de saborear as conquistas da humanidade. Os processos educativos e de gestão podem contribuir com a construção de uma racionalidade mais cooperativa.

REFERÊNCIAS

DARTOD, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.

FLICKINGER, Hans-Georg. A caminho de uma pedagogia hermenêutica. São Paulo: Autores Associados, 2010.

LAVAL, Christian. A Escola não é uma empresa. O neo-liberalismo em ataque ao ensino público. Londrina: Planta, 2004.

LIBÂNEO, Carlos José: Adeus professor Adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

MÉSZÁROS, István. A Educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2008.

OLIVEIRA, Dalila Andrade et al. A nova gestão pública no contexto escolar e os dilemas dos(as) diretores(as). RBPAE, v. 33, n. 3, p. 499-855, set./dez. 2017.

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