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CAPITULO 3 – A Educação Visual

3.1 A Educação

“A educação (...) é um grito de amor à infância e à juventude, que devemos acolher nas nossas sociedades, dando-lhes o espaço que lhes cabe no sistema educativo, sem dúvida, mas também na família, na comunidade de base, na nação”.

(Jacques Delors, 1996:11)

A sociedade actual é uma sociedade complexa devido ao ritmo vertiginoso com que se transforma. As suas alterações que se manifestam em todas as áreas da sociedade, nomeadamente a globalização, dão um novo protagonismo às questões sociais e à necessidade de se encontrarem respostas para os desafios presentes e futuros como nos refere Ramón López Martín. (2003:229)

“Democracia, Cidadania, Bem-estar, novas tecnologias e globalização, alguns desafios com os quais se vão enfrentar as sociedades do século XXI e cuja correcta orientação das politicas sócio-educativas devem prestar um apoio decidido.” (Martín 2003:230)

Neste virar de século, que segundo Roberto Carneiro, (1996) se define por estar a ser um período de mudança cultural e civilizacional, no qual se manifesta um avolumar de incertezas e dúvidas que se expressam a nível mundial, a sociedade está dividida relativamente ao que representa e espera deste novo século.

“para muitos o século XXI é um tempo de incerteza e de ameaças. Para outros representa sobretudo uma grande oportunidade. Ainda para alguns não será melhor nem pior do que o tempo actual”. (Carneiro 1996:9)

Segundo o Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (Coordenação de Jacques Delors,1996), a educação é um fabuloso tesouro que cabe às gerações futuras descobrir. Um tesouro que cada um tem que descobrir no seu espaço de intervenção e de atuação, “mas

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sobretudo, com base numa introspeção permanente que a busca de sentido para a vida e para a existência cada vez mais impõem” (Delors, 1996:9)

A ação educativa é assim vista como a “construção do mundo”, um mundo individual e coletivo que implica a “capacidade de projetar uma realidade, de agir sobre esse projeto e de mediar essa ação pela vontade refletiva” ou seja, a realidade surge de “um diálogo constante, (...) entre o projetar, o fazer e o refletir" como afirma Ruben de Freitas Cabral (1999:131)

O grande dilema que se coloca à escola actualmente, prende-se com a diversidade de valências que tem que assegurar, assim como, com a diversidade de capacidades, ritmos e experiências prévias dos alunos. Perante a necessidade da escola responder ao repto da igualdade de oportunidades e da educação de qualidade para todos, esta vê-se na encruzilhada de disponibilizar a unidade da igualdade na educação, versus a diversidade da individualidade de cada aluno. A dicotomia entre a diversidade e a unidade da educação na escola, implica uma adequação do seu currículo e da sua organização que seja capaz de lhe dar resposta. Como postulou Herbert Read:

“O objeto da educação pode ser apenas o de desenvolver ao mesmo tempo que a singularidade, a consciência social ou reciprocidade do individuo. Como resultado das infinitas permutas de hereditariedade, o individuo será inevitavelmente singular, e esta singularidade, dado ser algo que mais ninguém possui, terá valor para a comunidade (...) isso contribui para a variedade da vida. Mas pode ser uma maneira singular de ver, de pensar, de inventar, de expressar o pensamento ou emoção e nesse caso a individualidade de um homem pode ser de valor incalculável para toda a humanidade (...) a educação deve ser um processo não apenas de individualização mas também de integração, que é a reconciliação da singularidade social com a unidade social. (Read, 2010:18)

A denominada era da globalização vem exercer uma pressão constante de mudança sobre a escola. Estas pressões, segundo Margarida Ramires Fernandes (2000:23), surgem no sentido em que as inovações necessárias para responder a

65 um novo paradigma social, encontram resistências, que advêm de práticas e estruturas, que embora desajustadas, se encontram enraizadas, e que criam tensão entre os diversos atores da educação.

“As mudanças que ocorreram nas sociedades desenvolvidas, nas ultimas décadas, abrangendo campos de atividade tão distintos como as ciências, as artes e as tecnologias, vieram abalar muitos dos valores e conceitos por que nos temos regido”. (Fernandes 2000:27)

Para fazer face as estas mudanças e na procura de uma educação universal e de boa qualidade, a educação artística, sob a égide da UNESCO, foi objeto de estudo em diversas conferências regionais, que culminaram com a realização em 2006, em Lisboa, da I Conferência Mundial de Educação Artística. Desta conferência emanou o documento “Roteiro para a Educação Artística”, no qual se “propõe explorar o papel da Educação Artística na satisfação da necessidade de criatividade e de consciência cultural no século XXI”, ou seja:

“(...) comunicar uma visão e promover um consenso quanto à importância da Educação Artística na construção de uma sociedade criativa e culturalmente consciente; estimular a colaboração na reflexão e na acção; e reunir os recursos financeiros e humanos necessários para uma integração mais completa da Educação Artística nos sistemas educativos e nas escolas.” (UNESCO, 2006:4)

A Educação Artística na escola, como parte integrante da expressão estética, possibilita vivências, experiências e formas de comunicação essenciais à capacidade criativa dos alunos, que progressivamente os ajudam a compreender, apreciar e experimentar expressões artísticas num contexto de igualdade de oportunidades de atividade cultural e artística. O sistema educativo tem, assim, um papel preponderante na democratização da cultura, promovendo o acesso de toda a população escolar às atividades estéticas.

As várias formas de arte, como defende Herbert Read (2010), abrangem todos os modos de autoexpressão, e como tal, constituem uma abordagem integral da

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realidade a que se deve chamar Educação Estética, uma educação dos sentidos que assentam na consciência, na inteligência e no raciocínio do indivíduo humano. “É apenas na medida em que estes sentidos se relacionam harmoniosamente, habitualmente com o mundo exterior, que se constrói uma personalidade integrada. “ (Read, 2010:20),