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Educação em Ciências num Contexto de Cidadania

REVISÃO DA LITERATURA –

2.4. Educação em Ciências num Contexto de Cidadania

Na praia do Furadouro foram construídas algumas obras de engenharia com o intuito de preservar e/ou recuperar este troço litoral. Estas obras visam essencialmente a recuperação do cordão dunar, como é o caso das paliçadas e dos passadiços sobre elevados, de forma a permitir o acesso da população à praia sem destruição das dunas. São assim definidos os caminhos que podem e devem ser utilizados pelos veraneantes.

As paliçadas foram edificadas em frente às dunas primárias, com o intuito de acumular os sedimentos.

Regista-se alguma preocupação por parte das entidades governantes de proteger as dunas, pois existem placas de informação e participação em variados projectos que originam diferentes tipos de actividades a desenvolver no terreno.

Através de informação recolhida junto da Divisão do Ambiente e Qualidade de Vida da Câmara Municipal de Ovar, as praias de Ovar foram palco de campanhas de sensibilização ambiental através de diferentes projectos, nomeadamente, “Eco – Praia - Ambiente Saudável”; Cartazes; Eco-Passeios; Jogos ambientais; Oficinas Ambientais; Palestras; Visitas Guiadas; Teatros; “Eco-praia- Ambiente Seguro”; Ateliers Ambientais; Jornadas de Formação; Teatros Musicados; Campanhas de Limpeza; Distribuição de Eco Cinzeiros; Criação de Slogans; Desdobráveis; Sacos de Lixo Personalizados; Camisolas; Projecções Multimédia; Percursos Pedestres e Lançamento de Papagaios entre outros.

2.4. Educação em Ciências num Contexto de Cidadania

Vivemos numa sociedade que cada vez mais se preocupa com os problemas do meio ambiente, mas que continua a não ter do planeta em que habita uma visão da sua natureza, isto é uma perspectiva holística e sustentada (Rebelo & Marques, 2000).

Nos últimos anos o desenvolvimento tecnológico que surgiu para melhorar a qualidade de vida da Humanidade, rapidamente se transformou pela mão do Homem num elemento desequilibrador do sistema Terra. Verifica-se que a evolução do nosso planeta depende quer dos fenómenos naturais quer da intervenção do Homem. Por outro lado o

Homem está dependente do sistema Terra (Rebelo & Marques, 2000). O ensino das ciências deve contribuir para a formação dos alunos com a finalidade de que estes compreendam as situações do quotidiano, colaborando na obtenção dum nível satisfatório de literacia científica (Rebelo & Marques, 2000).

O pensamento construtivista teve implicações significativas no estudo de metodologias de ensino/aprendizagem. O construtivismo, iniciado na década de 70 do século passado, originou mudanças relevantes no ensino das ciências. Esta perspectiva, segundo Santos & Praia (1992), coloca o aluno no centro da actividade educativa orientada para a construção do conhecimento baseada em experiências prévias, o que faz com que a aprendizagem não seja um processo simples de adição da informação, mas antes uma reestruturação de conceitos, através da interacção entre a percepção do aluno e a nova informação. O aluno passa a ser o responsável pela construção da sua própria compreensão e representação do mundo que o rodeia. O pensamento construtivista teve implicações significativas no estudo de metodologias de ensino/aprendizagem. Até ao seu aparecimento sobressaía a aprendizagem por transmissão, que assenta na concepção associativa da aprendizagem e que, basicamente consiste num emissor (o professor) e num receptor (o aluno) que armazena informação sistematicamente. O professor coloca à disposição do aluno uma colectânea de dados e espera que este os “inscreva” na sua mente, que mais não é do que uma tablae rasae (Bonito, 1999). As implicações do construtivismo relacionam- se com o facto do aluno construir ou reconstruir o seu próprio saber, trazendo novas metodologias de ensino. Foi o caso do Ensino Por Descoberta (EPD), nas décadas de 70 e 80 do século passado que, como refere Wellington (2000), o ensino das ciências deveria conduzir o aluno “ao descobrir porque” e não ficar apenas no “descobrir que”. O Ensino Por Mudança Conceptual (EPMC), nas décadas de 80 e 90, atribuiu grande ênfase ao nível das concepções alternativas (produções originais), que se fundamentam na experiência individual e com as quais o aluno compreende o mundo através dos significados que constrói ao longo da sua vida.

Aquelas concepções são bastantes estáveis e resistentes à mudança, afastando-se, na maior parte das situações, do avanço do conhecimento científico, sendo no entanto facilmente reorganizáveis (Giordan, 1996). O que se verifica é que os alunos, desde muito cedo, revelam conhecimento que se afasta da inovação, construído ao longo do desenvolvimento da pessoa que, antes ou durante o ensino formal, pode constituir um

obstáculo à aprendizagem científica, significativa e duradoira. O professor medeia os conhecimentos prévios dos alunos e os que são cientificamente correctos, facilitando as aprendizagens e envolvendo-se na procura de interligações capazes de promover a mudança. Como refere Cachapuz et al (2000), as aprendizagens podem-se realizar por troca conceptual, implicando rupturas com as concepções alternativas ou por captura conceptual, quando se verifica continuidade entre os dois tipos de conhecimento. Relativamente às estratégias que se podem aplicar, estas devem erradicar as concepções dos alunos, valorizando a positividade dos erros de forma a realizar a desejada aproximação ao conhecimento científico.

Em 2000 surge o Ensino Por Pesquisa (EP), que preconiza a existência de uma relação entre o agir e o pensar, propondo uma visão mais relevante e actual do ponto de vista educacional e que pretende envolver cognitiva e afectivamente os alunos. Os alunos passam a percepcionar os conteúdos como meios necessários ao exercício do pensar, que se vai desenvolvendo na procura partilhada intra e intergrupos, em respostas a problemas reais e para os quais avançam com soluções provisórias, sem que o caminho seja traçado pelo professor. Adquirem uma visão holística do conhecimento científico que possibilita múltiplas interacções, sendo os saberes construídos mobilizados no seu quotidiano (Cachapuz et al, 2000).

O papel do professor já não é o de ensinar um programa predeterminado, mas sim proporcionar contextos onde o programa se pode desenvolver. Trata-se de definir, procurar informação e investigar sobre o assunto que suscita maior curiosidade e necessidade de saber mais, apoiando e encorajando, criticando e desafiando os alunos no processo de pesquisa, bem como ajudar através de sínteses a construir conceitos estruturantes (Canavarro, 1999; Cachapuz et al, 2000).

Como refere Cachapuz et al (2000) o ensino por pesquisa requer um pluralismo metodológico que vai de encontro à diversidade de situações e interesse dos alunos, baseando-se, invariavelmente, na resolução de problemas. Segundo os autores, este tipo de ensino pode ser articulado em três momentos. O primeiro momento será o da problematização que comporta a explicitação das situações reais que interessam ao aluno e que integram aspectos do currículo, assim como saberes pessoais, académicos, culturais e sociais; o segundo momento relaciona-se com as metodologias de trabalho que se desejam colectivas, em grupo ou individuais, diversificadas e dinâmicas, nas quais professores e

alunos partilham o protagonismo para explorar possíveis soluções para os problemas formulados e que vão sendo definidas e redefinidas por todos os intervenientes. A exploração pode ser feita através da leitura e estudo de textos, procura e selecção de informação, debates, planificação e realização de trabalho prático, visualização de vídeos, elaboração de esquemas, tabelas ou gráficos. O terceiro e último momento está relacionado com a avaliação, processo que analisará as soluções encontradas, bem como o processo de resolução. Para que seja consolidada a aprendizagem, o professor deve propiciar contextos de aplicação das novas estruturas cognitivas a outras situações.

Relativamente ao processo de ensino/aprendizagem, este inicia-se em situações não académicas que irão conduzir ao contexto problemático, a partir do qual se desenvolverão os conceitos de forma gradual, no sentido da maior abstracção e generalização. É um processo de interactividade entre o aluno, o professor e a situação física da qual resulta o contexto problemático. Os alunos estão continuamente expostos, através dos meios de comunicação social e outros (a educação não formal), aos mais variados problemas de ordem ambiental. Chegam a considerar os temas de interesse para a sua vida presente e futura, especialmente os que se relacionam com o seu meio envolvente. Através da exploração destes assuntos evidencia-se a utilidade dos conceitos científicos. A definição de sub-problemas e de tarefas problema são constantes no processo de ensino/aprendizagem, levando à resolução do problema inicialmente formulado ou, num processo cíclico, à formulação de um novo problema.

As metodologias de trabalho podem e devem ser diversificadas, nas quais se englobam as tarefas e actividades a desenvolver, nomeadamente o trabalho prático, no qual se destaca pela sua relevância, o trabalho experimental. As actividades práticas desenvolvem-se de forma aberta com o intuito de valorizar contextos não estritamente académicos, que surjam da necessidade de encontrar soluções para os problemas definidos. Os dados contribuem para a solução do problema – socialmente relevante – mas não são de todo a solução do problema (Cachapuz et al, 2000).

O papel do professor é o de orientar a pesquisa, podendo formular questões para a reflexão. Considera-se importante ajudar o aluno a compreender o percurso da construção e da organização científica actual, bem como das suas múltiplas facetas, colocando-o numa situação de cidadão activo. Como refere Martins (1999), “ cada indivíduo deve dispor de um conjunto de saberes do domínio científico tecnológico que lhe permita compreender os

fenómenos do mundo em que se insere, deve acompanhar as questões decorrentes da actividade científico-tecnológica com implicações sociais e deve tomar decisões democráticas de modo informado”.

É de grande relevância a realização de paragens para realizar pontos de situação com o intuito de tomar conhecimento das dificuldades e dos avanços dos alunos. O diálogo entre os intervenientes e a partilha de opiniões e argumentos na turma, sobre a questão em estudo, assim como o trabalho desenvolvido por cada um, são pontos fulcrais para o êxito do trabalho e para a melhoria da qualidade das tarefas a desenvolver. É uma avaliação formadora, que promove o cognitivo através do afectivo (Cachapuz et al, 2000).

O Ensino Por Pesquisa e a Educação em Ciências em Geral, são implementadas em diferentes locais. Podem ser desenvolvidas na sala de aula, no laboratório ou em espaços fora da escola. Em qualquer destes ambientes e com orientação prática adequada podem-se desenvolver metodologias de trabalho e a sua avaliação (Figueira, 2003).