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Devido a sua importância a educação em diabetes precisa estar disponível para todas as pessoas com DM, para que possam participar do seu cuidado e tomar decisões informadas. Os fatores de risco para o desenvolvimento das complicações do DM em longo prazo aumentam para aquelas pessoas que não recebem nenhum tipo de educação23. Além do preconizado oficialmente, é necessário que a educação em diabetes seja socializada aos grupos familiares.

A importância da educação para o tratamento do diabetes é reconhecida desde a década de 1920. Tornou-se formal como experiência pioneira na Clínica Joslin, em Boston, em 1930. Foi oficializada em alguns países a partir da década de 1970. Entretanto, com os movimentos sociais pela saúde e direitos humanos que se solidificaram em todo o mundo, principalmente, no Brasil, a educação em diabetes passou a ser absorvida pela equipe de saúde, notadamente nos serviços públicos, sob orientação do Ministério da Saúde, de forma

mais enfática nas décadas de 1980 e 90. Passou então a ser aplicada como forma de obtenção de controle metabólico mais adequado às pessoas com diabetes139.

Atualmente, a educação em diabetes está incorporada ao processo de educação em saúde e deve estar baseada em um referencial educativo emancipatório, congruente com o desenvolvimento da integralidade da pessoa com diabetes. Tem como objetivos principais: a) aumentar os conhecimentos sobre o dano; b) estimular a mudança de comportamento para a aderência a um estilo de vida saudável; c) desenvolver competências e habilidades para o autocuidado15.

Diante da magnitude do dano e frente às características e déficits do processo de envelhecimento acrescentam-se ainda como objetivos, a importância de capacitar cuidadores familiares para o cuidado; o compromisso de oferecer suporte ao idoso e familiar para o manejo das situações decorrentes da cronicidade do diabetes; o bom senso ao estimular a aprendizagem do idoso e do familiar para monitorar demandas como controle glicêmico, dieta, atividade física, higiene, consultas, exames e medicação com a finalidade de prevenir as complicações agudas e crônicas decorrentes da doença.

Os programas educativos podem estreitar o vínculo do idoso com DM com a equipe que o assiste, desmistificando a doença tornando-o sujeito de seu tratamento. Favorecem a conscientização e aceitação da doença, aderência ao tratamento e a tomada de decisão em favor da mudança de comportamento. Entretanto, com a participação do cuidador familiar os programas educativos podem otimizar resultados.

A educação em diabetes “é essencial para o sucesso do tratamento”15:29. Constitui um direito e dever dos sujeitos e também um dever dos responsáveis pela educação em saúde. A ação educativa precisa abranger conteúdos desejáveis para se tornar eficaz23. Dessa forma, tomando por base as recomendações do Ministério da Saúde23, da Sociedade Brasileira de Diabetes70 de Grossi139 e das vivências junto aos participantes deste estudo, entende-se que o idoso e seu cuidador familiar necessitam saber:

a) O que é diabetes. Faz-se necessário informar sobre o dano, suas características, fatores predisponentes e de risco. Esclarecer sobre o mecanismo da glicose e da insulina no organismo. Informar as conseqüências do DM não tratado ou mal controlado, que pode concorrer para o surgimento de complicações agudas e crônicas, levando à morte, visto que o idoso se torna mais fragilizado em função das co-morbidades presentes.

b) Tipos e objetivos do tratamento. O esclarecimento sobre crenças, mitos e algumas alternativas populares de tratamento precisa ser discutido e avaliado entre idosos e seus cuidadores.

c) Sinais, sintomas e principais problemas associados ao DM, especialmente ao tipo 2 que mais faz vítimas entre os idosos. É importante ressaltar a importância dos fatores de risco para lesões microvasculares como a nefropatia, a retinopatia, as neuropatias e, principalmente o risco do pé diabético. Esclarecer sobre o risco para lesões macrovasculares como a insuficiência cardíaca e o acidente vascular encefálico. Enfatizar a necessidade da redução do colesterol e da hipertensão arterial e o combate à obesidade.

d) Necessidades individuais da dieta e como planejá-la. A ênfase na importância da terapia nutricional é de extrema importância como parte do tratamento, evitando gorduras, reduzindo carboidratos simples, preferindo os complexos. Orientar no sentido de acompanhamento com profissional da nutrição.

e) Efeitos dos exercícios e estresse sobre a glicemia. É necessário enfatizar constantemente os benefícios da atividade física como parte do tratamento, uma vez que ajuda a diminuir os níveis de glicemia no sangue, proporcionando bem-estar e elevação da auto- estima. O idoso precisa de apoio par manter disciplina e superar dificuldades.

f) Estabelecer relação do uso de drogas hipoglicemiantes orais e insulina sobre a glicemia. Os idosos e seus cuidadores necessitam de esclarecimentos sobre a ação dos fármacos no organismo para o controle do DM. É preciso fornecer exemplos sobre a ação das drogas.

g) Aplicação e ajuste da dose de insulina quando faz monitoramento. Avaliar se o idoso tem habilidades remanescentes para a auto-aplicação de insulina. Orientar o idoso e seu cuidador para os cuidados especiais, a forma correta de armazenar e os locais apropriados para a aplicação das injeções de insulina.

h) Como proceder em emergências, hipoglicemia, hiperglicemia. As pessoas envolvidas com o diabetes precisam ser informadas que se trata de duas complicações graves e agudas do DM, mas que podem ser prevenidas e até mesmo contornadas no domicílio. É preciso desfazer temores, inseguranças e ansiedades, tanto do idoso com DM quanto de seu cuidador familiar.

i) Controle domiciliar da glicemia. O idoso e sua família podem prevenir, detectar e tratar as complicações agudas em casa, até chegar ao hospital, ou unidade básica de saúde. A glicemia pode ser controlada por meio de métodos simples cujos resultados são eficazes.

j) Examinar periodicamente os pés. É fundamental ensinar e exemplificar como detectar os sintomas e sinais de complicações crônicas nos pés, fazendo uma avaliação das condições da pele, se está integra ou apresenta alguma lesão. O exame periódico dos dedos, espaços interdigitais e unhas é necessário, pois pode revelar sinais de pouca vascularização

sangüínea. Os cuidados com os calçados também são importantes, pois se forem apertados podem machucar a pele e provocar ferimentos. A queixa de dormência nos pés é indicador de problemas que necessitam de rápida intervenção.

k) O significado dos resultados e ações a serem executadas. É importante incentivar o idoso a se tornar mais auto-suficiente no seu controle, bem como incentivar a família a participar do cuidado. Um cuidador precisa ser capacitado para ajudar no cuidado, ou assumi- lo integralmente, diante da incapacidade da pessoa doente.

Diante de tais orientações23,70,139, percebe-se que uma metodologia para cuidar de idosos com DM necessita também de uma avaliação da ação educativa que envolva parâmetros relativos ao estímulo do autocuidado; mudança de comportamento do idoso com DM; adoção de hábitos de vida saudáveis; prevenção de complicações agudas e crônicas; constante controle metabólico e, principalmente, à capacitação de cuidadores nas habilidades de apoiar, auxiliar ou gerir o cuidado no domicílio. Em educação e saúde esse processo compreende o mecanismo de ação e retroação. Faz-se necessário prestar atenção aos resultados apresentados pelos idosos em tratamento, sem deixar de avaliar os objetivos dos cuidadores. Precisa-se também priorizar a identificação do nível de dependência do idoso e avaliar suas capacidades remanescentes para cuidar-se.

6.3 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO, PERSPECTIVAS EM RELAÇÃO AO