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O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que adquire características muito peculiares no Brasil, dada à velocidade com que vem se instalando. Antes denominado um país de jovens, atualmente já pode ser considerado um país estruturalmente envelhecido40. O Brasil está no rumo de uma revolução etária e, em 25 anos, terá o título de país envelhecido dando atenção concomitante, não só ao controle da mortalidade infantil e epidemias de dengue, mas também atenção à saúde de pessoas com doenças crônico-degenerativas, demências, depressão dentre outros desequilíbrios que afetam os idosos. Para o ano de 2050, a previsão é de que haverá 38 milhões de brasileiros com 65 anos ou mais, representando 18% da população total41.

Como envelhecimento populacional, entende-se o aumento da proporção de pessoas com idade avançada em uma população à custa da diminuição da proporção de jovens nesta mesma população. Uma população envelhecida, na concepção da Organização Mundial de Saúde (OMS), é aquela em que a proporção de pessoas com 60 anos ou mais na população total atinge cerca de 7%, com tendência a crescer42.

O perfil demográfico brasileiro tem mudado, principalmente durante as últimas décadas. A transição demográfica da população brasileira foi influenciada primeiramente pela queda da mortalidade, na década de 1940, devido à redução das doenças infecciosas e parasitarias, resultando em ganho de vidas humanas em todas as idades. Porém, foi a queda da fecundidade, fato ocorrido a partir de 1960, o fator que notadamente contribuiu para a ampliação da população mais idosa43.

No país inicia-se o novo século com a população idosa crescendo proporcionalmente oito vezes mais que os jovens e quase duas vezes mais que a população total. Essas mudanças significativas da pirâmide populacional começam a acarretar uma série de previsíveis conseqüências sociais, culturais e epidemiológicas, para as quais a sociedade brasileira ainda não está preparada para enfrentar4.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstrou com o Censo de 2000 que a população de idosos representava, até aquela data, quase 15 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade, o que equivalia a 8,6% da população44. A estimativa é de que nos próximos 20 anos a população de idosos poderá ultrapassar 30 milhões de pessoas e representará cerca de 13% da população geral. Existe a perspectiva de que em 2025 o Brasil passe a ocupar a posição de 6º país do mundo em número absoluto de indivíduos com mais de 60 anos45.

O envelhecimento populacional brasileiro vem provocando transformações sociais que exacerbam os já profundos problemas estruturais de nossa sociedade e estão a mudar as características de grupamentos populacionais. Estados como a Paraíba e o Rio Grande do Norte, têm mais idosos proporcionalmente que São Paulo, Rio de Janeiro e Rio grande do Sul, por exemplo, fato que repercute no aspecto econômico das regiões quando se avalia especialmente, a concessão de aposentadorias42.

Os estados do Norte e Nordeste terão muita dificuldade para atender as demandas de uma população envelhecida precocemente42. Tendo em vista o fenômeno da migração rural, caracterizado pelo deslocamento da população jovem para as grandes cidades, esses locais mais pobres apresentam uma maior proporção de pessoas idosas, criando situações novas nas relações sociais e contribuindo para acentuar os diversos e complexos problemas dessa

população como: dificuldades financeiras, deterioração das condições de saúde, solidão e exposição à violência urbana4.

Os idosos utilizam mais os serviços públicos de saúde, considerando que são responsáveis pelas mais elevadas taxas de internações hospitalares, comparadas a qualquer outro grupo etário, considerando também, que o tempo médio de ocupação do leito é três vezes maior, consumindo dessa forma mais recursos do sistema público de saúde, o que nem sempre significa uma assistência suficientemente adequada às suas necessidades4.

Estudos conduzidos dentro de uma abordagem antropológica tornam-se imprescindíveis nessa perspectiva, uma vez que permitem avaliar as condições de vida dos idosos, permitem conhecer os principais problemas e as estratégias utilizadas para enfrentá- los e identificar os fatores sociais, culturais e econômicos que intervêm positiva ou negativamente para sua qualidade de vida46.

Essas considerações mostram a importância do desenvolvimento de estratégias e ações preventivas coordenadas pelo serviço público de saúde, executadas nas unidades básicas, que priorizem as necessidades de atendimento da população idosa de acordo com as características locais e o perfil da população a qual se destina.

As políticas sociais direcionadas à promoção da saúde do idoso necessitam estar voltadas ao entendimento de que saúde é um processo, envolvendo todas as condições que permitam ao indivíduo uma vida digna em que lhe são assegurados direitos sociais e são oferecidas oportunidades que visem promover sua autonomia, integração e participação social, favorecendo dessa forma, um saudável processo de envelhecimento. Para tanto, faz-se necessário promover o potencial criador do indivíduo idoso, respeitando-o como cidadão e inserindo-o no planejamento e controle de seu próprio processo de envelhecer 47.

A maior parte dos idosos é capaz de decidir sobre seus interesses e organizar-se nas atividades diárias prescindindo de ajuda para o cotidiano, podendo ser considerado um idoso saudável, ainda que seja portador de uma ou mais de uma doença crônica. O envelhecimento saudável representa uma condição individual e coletiva que depende do delicado equilíbrio entre os limites e as potencialidades do indivíduo e os ideais da sociedade, expressos e atendidos pelo Estado por meio da elaboração e execução de políticas sociais48.

Envelhecer de maneira saudável implica não apenas na possibilidade de obter cuidados em relação aos problemas de saúde que se apresentam nesta etapa da vida. Implica também, reconhecer os idosos como seres humanos com necessidades e possibilidades especiais, que além de um bom estado de saúde física, necessitam de reconhecimento,

respeito e segurança que lhes permita sentirem-se participantes de sua comunidade, na qual podem colocar sua experiência e depositar interesse49.

Outro fato que deve ser considerado é quanto à dificuldade de acesso da população idosa aos serviços públicos de saúde, notadamente no que diz respeito à oferta de cuidados preventivos, contribuindo dessa forma para que muitos idosos recebam atendimento de saúde somente nos estágios mais avançados das doenças ou nos seus quadros agudos50.

O envelhecimento de nossa população representa motivo de preocupação para a sociedade como um todo e para o Sistema Único de Saúde (SUS) em particular, pois há de se considerar a necessidade de modificar ou implementar fatores como o acesso aos serviços de saúde, a cobertura de saúde às demandas de risco, a permanência dos idosos junto às famílias, o fornecimento de medicação básica e especial nas unidades básicas. Porém fundamentalmente, faz-se necessário que a população em geral e os profissionais de saúde em especial, compreendam o processo de envelhecimento e suas peculiaridades de forma a direcionarem seus esforços na construção de uma velhice digna a todos. Para tanto, é necessário ter conhecimento da ciência do envelhecimento: a Gerontologia.

O termo Gerontologia foi usado pela primeira vez em 1903 por Metchnicoff, a partir da composição das palavras gero que em grego significa velho e logia, estudo. A gerontologia é o campo multi e interdisciplinar que visa à descrição e à explicação das mudanças típicas do processo de envelhecimento e de seus determinantes genético-biológicos, psicológicos e socioculturais. Abrange aspectos do envelhecimento normal e patológico. Trata-se de um campo de conhecimento que envolve interfaces com a Filosofia, a Neuropsicologia e a Biodemografia que contribuem para a descrição e a explicação da dinâmica do envelhecimento. É multidisciplinar e multiprofissional, pois agrega várias áreas profissionais como a Clínica Médica, a Psiquiatria, a Geriatria, a Enfermagem, a Fisioterapia, a Odontologia, o Direito, o Serviço Social, a Psicologia Clínica e a Educacional, dentre outras, das quais derivam soluções para problemas individuais e sociais, novas tecnologias e hipóteses para a pesquisa51.

A gerontologia estuda as mudanças que acompanham o processo de envelhecimento do ponto de vista físico, psicológico, e sociológico, preocupando-se também com o ajustamento do indivíduo às várias transformações que vão ocorrendo com o avanço da idade, às implicações da personalidade e da saúde mental nesse processo. Tem como meta o bem- estar integral do idoso, com a participação de técnicos de diversas áreas52.

Uma vez que o fenômeno do envelhecimento é multifacetado e multifatorial é importante compreender a gerontologia como uma disciplina científica multi e

interdisciplinar. Suas finalidades são o estudo das pessoas idosas, as características da velhice enquanto fase final do ciclo de vida, o processo de envelhecimento e seus determinantes biopsicossociais e a promoção de pesquisas que possam esclarecer fatores que envolvem a sua gênese53.

Tendo em vista os múltiplos aspectos que caracterizam o processo de envelhecimento torna-se imperativo que se dê à saúde da pessoa idosa uma atenção holística e abrangente que busca não somente o controle das doenças, mas principalmente o bem-estar físico, psíquico e social, ou seja, a melhoria da qualidade de vida de acordo com o que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em virtude do aumento da longevidade e da presença de doenças típicas da velhice, e devido aos avanços no estudo dos aspectos diagnósticos e terapêuticos, durante décadas a Geriatria teve maior importância sobre os demais campos da Gerontologia. Por ser uma especialidade da medicina, por muito tempo deu-se destaque especial à Geriatria criando-se a impressão de tratar-se de área totalmente independente da Gerontologia. Entretanto, na medicina, a Geriatria surgiu em 1909 para fazer frente à prevenção e manejo das doenças do envelhecimento. A Geriatria tem sob seus domínios os aspectos curativos e preventivos da atenção à saúde. Mantém uma relação estreita com disciplinas da área médica, como Neurologia, Cardiologia, Psiquiatria, Pneumologia, entre outras que deram origem à criação de subespecialidades, como a Neurogeriatria, entre outras53.