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2.4 TEORIAS DO ENVELHECIMENTO HUMANO

2.4.2 Teorias psicológicas

Sob a ótica da Psicologia, dispomos atualmente na literatura internacional de teorias e microteorias provenientes da psicologia social e da psicologia da personalidade que se aplicam ao envelhecimento. Contudo, não dispomos de nenhuma teoria unificada que oriente a pesquisa sobre os processos de mudanças associadas à vida adulta e à velhice59.

As teorias conhecidas e os processos utilizados para a compreensão do envelhecimento buscam explicar o desenvolvimento da personalidade na velhice, destacando- se duas correntes: o paradigma da mudança ordenada, ou teoria de estágios tendo como principal representante Erik Erikson e o paradigma contextualizado e dialético que considera que a vida humana consiste em um desenvolvimento entre idéias, ações e o ambiente social que está em constante transformação. Quanto maior for a capacidade de adaptação do indivíduo às perdas e outras mudanças que ocorrem ao longo de sua vida, maior será a capacidade de ajuste pessoal ao envelhecimento60.

O envelhecimento é um processo que tem lugar ao longo do ciclo vital e tal como o desenvolvimento é determinado pela interação constante e acumulativa de eventos de natureza genético-biológica, psicossocial e sociocultural. Eventos estes que são registrados no tempo que não é assim, fator causal59.

No Brasil, a psicologia do envelhecimento é uma área emergente que vem acompanhando o processo de envelhecimento populacional juntamente com o aumento do conhecimento científico sobre os determinantes e as características desse processo, acrescidos do aumento da consciência social sobre as questões da velhice60. Até a metade da década de 1980, predominaram trabalhos referenciados ao modelo médico considerando a velhice como sinônimo de doença, perdas, afastamentos e disfuncionalidade. Entretanto, está acontecendo uma lenta e gradual mudança de mentalidade em relação à velhice e o desenvolvimento do conhecimento científico está sendo impulsionado pela perspectiva teórica de curso de vida a partir da contribuição dos estudos de Baltes citado por Neri61. Tal noção começa a ser divulgada em psicologia e em gerontologia no contexto brasileiro. Na literatura de psicologia internacional, tal perspectiva teórica é designada como life-span. É a perspectiva típica da psicologia do desenvolvimento, apóia-se nas tradições contextualista e dialética. Rejeita a noção de estágios referenciados ao tempo físico, abandona as concepções acumulativas e

Baltes PB. Life-span development psychology. Observations on history and theory reviset. In: Lerner RM.

unidirecionais das teorias de estágios em favor da aceitação dos princípios da multidimensionalidade e multidirecionalidade do desenvolvimento. Nessa perspectiva, a velhice é entendida como uma experiência heterogênea que comporta ganhos e perdas e é determinada por um amplo espectro de influências em interação61.

A perspectiva de curso de vida tem uma conotação de extensão, ou abrangência, quer da vida em toda a sua duração, quer de algum período particular. A opção por um determinado período do desenvolvimento ou por todo o curso de vida depende do que se quer saber62. Entretanto, a orientação de longo prazo é necessária sempre que o comportamento identificado envolver processos de mudanças, tais como aquelas determinadas por influências normativas ligadas à graduação por idade cujos determinantes biológicos e ambientais têm alta correlação com a idade cronológica para a aquisição de papéis e competências sociais ligadas à idade62. Exemplo disso é a maturação biológica permitindo à mulher a gestação de um filho, ou a idade prescrita legalmente para obtenção da aposentadoria.

A orientação de curso de vida leva em consideração outros tipos de influências sobre o desenvolvimento humano62. São as influências não-normativas entendidas como aquelas que dizem respeito a fatores biológicos ou ambientais, mas que não têm caráter universal, nem sua ocorrência é previsível e não estão relacionadas com época ou seqüência para indivíduos ou para grupos, tais como a perda de emprego, casamento ou divórcio. Já as influências normativas ligadas ao contexto histórico consistem em eventos de alcance genérico que são experienciados por uma determinada cultura e que guardam relações com mudanças biossociais que afetam todo o grupo de forma peculiar, mais ou menos uniforme como os movimentos políticos, as guerras, crises econômicas, que de modo geral acarretam alterações na educação, hábitos de vida e bem-estar de grupos etários em sua totalidade62.

A velhice não é apenas um processo biológico que traz consigo modificações fisiológicas, agregadas a um processo psicológico de desenvolvimento permeado de mudanças que podem ser descritas em termos de ganhos e perdas e da diminuição de probabilidade da adaptação geral e da sobrevivência do organismo51. O grau de conservação do nível da capacidade adaptativa em comparação com a idade cronológica é reconhecido como idade funcional, esta, entendida como a possibilidade de o indivíduo sobreviver sem a ajuda de outras pessoas a partir da preservação da capacidade de desempenhar atividades básicas de autocuidado51.

Na atualidade, estudiosos dão ênfase para qualidades, tais como: calma, tranqüilidade, liberdade e sabedoria, refletindo uma corrente de pensamento na ciência que enfatiza os aspectos positivos do envelhecimento, ao contrário do que habitualmente tem sido feito ao se

estudar apenas as perdas e declínios do envelhecimento. Se as várias realidades do processo de envelhecimento fossem bem conhecidas não seria necessário temê-lo, evitá-lo ou negá-lo63. Como se pode observar nos tópicos levantados até aqui, o envelhecimento é um processo heterogêneo, intrínseco, não é conseqüência apenas da degenerescência biológica, mas resulta em parte de condições políticas, econômicas, históricas e culturais da sociedade. Muitas vezes, longe de ser uma fase de vida na qual o idoso possa usufruir o descanso e reconhecimento, passa a se constituir em um período onde surgem novas tarefas, novos papéis a desempenhar. Novos comportamentos são esperados nas relações familiares e grandes alterações ocorrem no cotidiano do idoso em virtude da viuvez, doenças, hospitalização ou internamento em instituição asilar.

Percebe-se que pessoas na meia-idade ou na velhice tendem a indicar uma idade psicológica menor do que sua idade cronológica, olhando o seu próprio processo de envelhecimento com lentes de cor rosa. Muitas acreditam que a velhice é um estado de espírito e que continuam jovens em pensamento. Esse é um típico comportamento das pessoas idosas que pretendem salvaguardar a imagem social e a auto-estima, principalmente, em função das dificuldades de auto-aceitação, ou do receio de serem desvalorizadas pela sociedade.