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2.4 TEORIAS DO ENVELHECIMENTO HUMANO

2.4.1 Teorias biológicas

O envelhecimento biológico não está associado à idade biológica. Esta é entendida como um indicador do tempo que resta a um indivíduo para viver, num dado momento de sua vida. O funcionamento biológico, desde o nível celular até o todo do organismo, tem uma lógica interna de ritmo e duração, das quais os ciclos de sono e vigília, o ciclo menstrual e os ritmos metabólicos são indicadores de diminuição de funcionalidade e da probabilidade de sobrevivência51.

O envelhecimento biológico é estudado pelos biogerontologistas que admitem tratar-se de fase de um continuum que é a vida, começando esta com a concepção e terminando com a morte53. A partir do conhecimento gerado pela realização de estudos longitudinais, a biogerontologia verificou que os sistemas corporais e órgãos envelhecem em velocidades diferentes e acumulam modificações diferentes e muitas vezes disfunções em maior ou menor grau. Existem órgãos ou sistemas que começam a apresentar modificações a partir dos 30 anos de idade e outros que vão acumular diferenças morfológicas e fisiológicas em idades mais avançadas56.

As teorias que tentam explicar o envelhecimento pelo aspecto biológico não encontram uma explicação adequada para a pergunta: “Por que envelhecemos”57:7? Os biogerontologistas elaboraram seus experimentos para tentar responder a essa pergunta, contudo os resultados não foram ainda satisfatórios. Com exceção da descoberta de que as mudanças associadas à idade ocorrem dentro de cada célula, atualmente não se sabe muito mais sobre a causa fundamental do envelhecimento do que sabíamos há um século. A maior parte das informações é descritiva, ou seja, sabe-se muito mais sobre o que acontece do que se sabia antes, mas sabe-se muito pouco sobre por que acontece o processo básico. Os cientistas sabem que os experimentos são elaborados para responder perguntas, portanto a escolha da pergunta certa é mais importante para se obter resultados significativos57. Desse modo, outros autores58 propõem que seja feita uma outra pergunta: “Por que vivemos o tempo que vivemos”58? Considerando que implícita na pergunta, está a idéia de que a longevidade humana aumentou desde os tempos pré-históricos e pode aumentar ainda mais. Nessa perspectiva, os experimentos poderiam obter informações sobre as mudanças sofridas pelo organismo durante os milênios as quais provocaram o aumento da longevidade e o retardamento do processo de envelhecimento58.

A explicação para tais questionamentos depende de muita investigação para se chegar a um consenso sobre conceitos básicos que possam definir o processo de envelhecimento. A ausência desses conceitos sedimentados impede a formulação de uma teoria fundamental que explique, elucide, interprete e unifique o domínio de fenômenos envolvidos no envelhecimento58.

Todavia, para a biogerontologia o envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte53.

O estudo de revisão de Arking, citado por Jeckel-Neto58, aponta para uma classificação dualística das teorias biológicas, a saber: Teorias Estocásticas e Teorias Sistêmicas.

As Teorias Estocásticas ou teorias determinadas por fatores acidentais postulam que a deterioração provocada pelo avançar da idade acumula danos moleculares que ocorrem ao acaso. Dentro dessa perspectiva, existe uma subdivisão das teorias, das quais a Teoria de Uso e Desgaste é a mais antiga e pressupõe que o acúmulo de agressões ambientais proporciona o decréscimo gradual da eficiência do organismo até sua morte. A Teoria das Proteínas Alteradas trata das mudanças que ocorrem em moléculas protéicas depois da etapa de tradução, durante a síntese das proteínas, o que provocaria alterações na célula e na atividade enzimática. Já a Teoria das Mutações Somáticas focaliza o acúmulo de mutações somáticas ao longo da vida, o que alteraria o código genético e o funcionamento celular58.

Na Teoria do Erro Catastrófico ocorrem erros nos processos de transcrição e, ou tradução dos ácidos nucléicos, fato que reduz a eficiência celular. A teoria postula que o erro incide sobre outras moléculas que não as do DNA. A Teoria da Desdiferenciação propõe que o envelhecimento normal de um organismo resulta do fato das células se desviarem do estado normal de diferenciação. Assim, mecanismos errôneos fariam com que a célula sintetizasse proteínas desnecessárias e prejudicasse sua eficiência até sua morte58.

A Teoria dos Radicais Livres ou Dano Oxidativo postula que os radicais livres são responsáveis pela produção de danos intracelulares relacionados às deficiências fisiológicas conseqüentes do envelhecimento. Apesar de ser uma teoria plausível, ainda carece de mais estudos e não pode ser provada por um único experimento58. A Teoria da Lipofuscina e do

Acúmulo de Detritos mostra o acúmulo de substâncias intracelulares como produto do metabolismo, que não pode ser eliminado a não ser pelo processo de divisão celular. A Teoria das Mudanças Pós-Tradução em Proteínas trata de alterações químicas dependentes do tempo em macromoléculas importantes, como o colágeno e a elastina, fato que comprometeria as funções dos tecidos e eficiência celular até sua morte58.

Ainda segundo Jeckel-Neto58, as Teorias Sistêmicas apresentam-se como resultado das cascatas de retroalimentação hierárquicas características das espécies. Essas teorias apresentam diferenças entre si, mas todas estão baseadas na genética para explicar o envelhecimento.

A Teoria Metabólica postula que a longevidade pode ser entendida como função do declínio metabólico. Apresenta dois conjuntos de idéias, o da taxa de vida e do dano à mitocôndria, que expõem mecanismos diferentes para explicar o declínio do metabolismo. A taxa de vida aponta para uma função inversamente proporcional entre longevidade e taxa metabólica. O dano à mitocôndria sugere que os danos cumulativos do oxigênio sobre essa organela responderiam pelo declínio fisiológico das células durante o envelhecimento58.

A Apoptose ou Teoria da Morte Programada supõe que o suicídio de certas células seja induzido por sinais extracelulares. Apesar de o papel da apoptose no envelhecimento não- patológico ainda não ter sido completamente esclarecido, um gene ou um conjunto deles parece ser o alvo de um programa de apoptose desencadeado pelos sinais extracelulares. A Teoria da Fagocitose aponta para o ataque de células senescentes por macrófagos que as identificariam como alvo de destruição. Apresenta comprovação experimental, porém limitada às células vermelhas do sangue58.

Na Teoria Neuroendócrina a falência progressiva de células integradoras específicas levaria ao desequilíbrio e colapso da homeostase do organismo, à senescência e à morte. A Teoria Imunológica aponta para a longevidade como dependente de genes do sistema imune, os quais regulariam vários processos básicos como o sistema neuroendócrino. A falha nesses processos levaria ao desequilíbrio corporal e à morte. Essa teoria é criticada por não ser passível de generalizações, já que o sistema imune organizado ocorre somente nos grupos mais evolutivos da escala zoológica58.