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Educação formal, não-formal e informal

CAPÍTULO 1: CIÊNCIA, EDUCAÇÃO, CULTURA E POLÍTICAS PÚBLICAS

1.3 Educação formal, não-formal e informal

Passando muito rapidamente pelos conceitos da educação, apenas para efeitos de compreensão deste trabalho, podemos resumir a educação formal como a educação escolar; a educação não-formal como o trabalho de escolas de idiomas ou de outros cursos livres, a distância e de extensão, centros e museus de ciência e a educação informal como o material que pode ser utilizado com fins didáticos, como filmes, músicas, jornais, documentários, etc, mas que não tem como intenção primeira a sua função didática, embora também contribuam para a formação cultural e a compreensão da ciência e tecnologia.

A visão mais corrente da educação ainda é aquela tradicional/conservadora, ao considerar que o ensino de ciências acontece apenas na escola. Ghanem (2008) diz que ―no

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Brasil, o que se denomina sistema educacional é considerado, na prática, apenas um conjunto de sistemas escolares‖ (GHANEM, 2008:64).

Aqui há uma grande diferenciação entre a educação formal e a não-formal. Ainda há o estereótipo de uma cultura bacharelesca, que valoriza mais o diploma do que o conhecimento. Na contramão, os países desenvolvidos têm disponibilizado aulas nas mais diferentes universidades renomadas com o intuito de popularizar o conhecimento. No Brasil esse movimento se iniciou com o Veduca, uma plataforma online que disponibiliza cursos gratuitos de 19 universidades – dentre elas Harvard, Yale, MIT, Columbia, Stanford, USP, Unesp, UnB e Unicamp. Porém, ainda é bastante cedo para uma avaliação sistemática deste processo.

O Brasil ainda luta para colocar todas as crianças na escola. Mesmo em tempos de internet, ainda existem comunidades às margens da educação, da informação e das ciências. Crianças ainda trabalham. Existe o sucateamento do ensino público, ao mesmo tempo que, no âmbito do Ensino Superior, multiplicam-se as faculdades privadas não qualificadas que, com mensalidades baixas atraem alunos interessados fundamentalmente em diplomas, face à valorização do ―canudo‖ e não do conhecimento.

D‘ambrósio (2005) diz que ―a educação básica tem objetivos sociais em duas vertentes: preparação para o consumo e oportunidade de acesso aos cargos de decisão‖ (D‘AMBROSIO, 2005:204). O autor é polêmico ao dizer que a educação serve para formar ou consumidores ou líderes. Os líderes são aqueles que, dentro dos grupos de poder, influenciam no processo decisório do país. Os consumidores são aqueles que compram a CT&I desenvolvida para dar lucro para os grupos de poder. A educação básica tem preparado as novas gerações para o consumo. A indústria de celulares nunca vendeu tanto e independe da renda familiar. O segundo ponto é que apenas alguns são preparados para exercer cargos de liderança e manipular a educação das gerações futuras, além de tomar outras decisões importantes de âmbito abrangente. E assim segue uma tradição triste e bastante mercadológica, de difícil rompimento.

32 Da parte didática

A Educação é parte de um processo cultural de uma sociedade. Assim, não pode ser fragmentada, em prejuízo da sociedade. Nesse sentido, a educação formal, não formal e informal são partes integrantes de um todo que não pode ser desmembrado.

Trilla (2008) acredita que existem formas de unir a educação formal, não-formal e informal de modo que se tornem mais ―porosas‖, por meio de interações funcionais:

 de complementaridade, quando partilham funções e objetivos;

 de suplência ou substituição, quando um dos sistemas não realiza a tarefa de forma satisfatória e o outro precisa intervir;

 reforço e colaboração, quando reforçam atividades dos outros tipos de educação;  de interferência ou contradição, quando há posicionamentos diferentes referente

à mesma temática.

O autor dá alguns exemplos de cada um destas variantes, contudo, vamos nos ater às dificuldades encontradas dentro dessa dinâmica, considerando que em muitos aspectos a educação formal é complementada pela educação informal, não-formal e assim sucessivamente, de forma quase sempre bem-sucedida.

O cuidado é quando se espera de uma instituição de educação não-formal o rigor que existe ou deveria existir na formal; ou quando se espera que a educação formal ensine conteúdos que não são de sua responsabilidade; quando se espera uma substituição da educação formal, exigindo de cursos livres o conhecimento que só se obtém com anos de dedicação na educação formal; ou ainda nos casos em que instituições diferentes confundem o público com informações desencontradas e desconexas sobre o mesmo tema. Todas estas nuances negativas das relações entre as educações de certa forma já causam obsolescência do sistema – a educação formal não consegue assumir mais do que lhe é possível executar, considerando não apenas suas reais funções, mas também suas dificuldades. Assim, a educação não-formal não pode ser vista como substituta da formal. Quando isso acontece, nada é bem executado e os resultados não são alcançados. Seria necessário um planejamento minucioso quanto à quantidade de alunos nas escolas, à quantidade de professores necessários para atender a contento esses alunos; delimitar os objetivos da educação formal e da não-formal, de forma a serem apenas parceiras,

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complementares e colaborativas. O fundamental é manter o interesse do aluno para que este possa estar aberto ao conhecimento. Se isso não ocorrer, é possível verificar diariamente em qualquer escola que:

Alguns bons estudantes perdem o interesse em prosseguir os seus estudos em ciências, outros estudantes tornam-se interessados pela ciência pelas razões erradas e muitos estudantes tornam-se cidadãos (alguns com cargos importantes no governo e na indústria) que tomam decisões baseadas em mitos acerca da natureza da ciência e dos aspectos sociais do empreendimento científico. (AIKENHEAD, 2009: 54)

Por esse motivo, o Brasil tem dificuldade de encontrar pessoas qualificadas em determinadas áreas. Teríamos que aproveitar o contingente de pessoas economicamente ativas oferecer a qualificação que o país precisa. Fazer com que crianças e jovens se interessem pela ciência é importante para compreender o mundo em que se vive e poder atuar nele para sua transformação. Aikenhead (2009) ainda conclui que:

a educação tradicional em ciência proporcionou um fraco e até insignificante papel nas vidas pessoais da maioria dos estudantes; e a ciência escolar irá unicamente envolver os estudantes numa aprendizagem significativa se o currículo tiver valor pessoal e enriquecer ou fortalecer a identidade cultural e pessoal dos estudantes‖ (AIKENHEAD, 2009: 60)

Para o currículo ter valor pessoal, enriquecer ou fortalecer a identidade cultural e pessoal dos estudantes, é necessário uma série de medidas: dificuldades de aceitação de propostas novas pela direção, pais, alunos e por outros professores; falta de infraestrutura básica para um ensino de qualidade; falta de vontade, seja dos professores em realizar atividades diferenciadas, seja dos alunos em querer manter-se na zona de conforto da mesmice – quanto menos trabalho, melhor; falta de incentivo quanto à criatividade; falta de reconhecimento profissional das direções; dificuldade em realizar experiências; enfim, dentre muitos outros fatores.

Ghanem (2008) acredita numa ―educação por inteiro, sem hierarquia de modalidades‖ (GHANEM, 2008:84). Ainda sugere que as vantagens de uma sobreponha as desvantagens da outra e vice-versa: ―se suas vantagens [da educação não-formal] são o oposto das desvantagens da educação formal, trata-se não só de manter aquelas vantagens da educação

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não-formal como de enfrentar as desvantagens da educação formal‖ (GHANEM, 2008:84). Ou simplesmente desconsiderar o conceito e infiltrar uma na outra, de forma que a educação seja realmente um sistema educacional, em que as engrenagens trabalham em conjunto e não de formas distintas. ―Vale dizer que esse caminho só poderá ser percorrido pela luta por política educacional de grande amplitude, na qual se elabore a própria política educacional, instalando-se relações democráticas dentro e fora do Estado, e entre esta sociedade civil‖ (GHANEM, 2008:87). Este é o desafio que tentamos por décadas instituir, ainda sem sucesso.

Bevilaqua (2005:165), por sua vez, acredita que ―a nossa tradição, provavelmente, a tradição mais recente do mundo ocidental, é considerar o aprendizado como um enxerto, fruto do ensino, e não como uma semente com vida própria prestes a brotar‖. Talvez seja esta a visão de que, dentro da política, ainda não seja possível vislumbrar. Alguns professores saem das universidades com a visão de Paulo Freire quando este dizia que a educação transforma o mundo. Contudo, a realidade vai fazendo com que apenas se execute o que lhe é esperado, em alguns casos, ainda de forma ineficiente devido à infraestrutura deficitária com que os professores são obrigados a conviver todos os dias – seja desde a falta de giz de lousa até a necessidade de trabalhar em várias escolas diferentes, face aos baixos salários recebidos. Dessa forma, o professor não tem tempo para novos aprendizados que poderiam contribuir para sua visão de mundo e dos alunos. Como Aikenhead (2009:75) resume ―a adequação educacional inclina-se perante as realidades políticas‖, que precisam ser modificadas a partir do interesse público para uma formação cidadã.