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Este estudo se deu no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) cuja vocação tem sido, sobretudo, para a Educação Profissional e Tecnológica (EPT). Daí a necessidade de abordar este tema.

O principal objetivo da educação profissional é a criação de cursos voltados ao acesso do mercado de trabalho, para estudantes ou profissionais que buscam ampliar suas qualificações.

O termo Educação Profissional foi empregado no Brasil pelo governo federal a partir de 1978 por meio da Lei 6.545/78 (BRASIL, 1978), que dispõe sobre a transformação de algumas Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica, oportunizando a possibilidade de essas instituições oferecerem cursos superiores na área tecnológica. Posteriormente, o termo foi empregado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), complementada pelo Decreto no 2.208 de 17 de Abril de 1997 (BRASIL, 1997), substituído em 2004 pelo Decreto no 5.154 de 23 de Julho (BRASIL, 2004). A Lei no 11.741 de 16 de Julho de 2008 (BRASIL, 2008) altera a denominação de ‘Educação Profissional’ para ‘Educação Profissional e Tecnológica’ e informa sua abrangência, conforme apresentado no artigo 39:

Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. [...]

§2o A educação profissional e tecnológica poderão abrangerá os seguintes cursos:

I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; II – de educação profissional técnica de nível médio;

III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação (BRASIL, 2008).

A formação profissional no Brasil foi marcada pelo caráter assistencialista. Hoje se reconhece tal formação como condição para acesso ao mercado de trabalho, que exige muito mais do que um domínio operacional, exige uma compreensão global do processo produtivo, de

aspectos sociais e culturais. Beloni, Wonsik e Pereiras (2009, p. 23) ressalta a importância de uma formação mais global:

Embora conste, no artigo 9º do Decreto 2.208 que as disciplinas do currículo do ensino técnico serão ministradas por professores que deverão ser preparados para o magistério, previamente ou em serviço, através de cursos regulares de licenciatura ou de programas especiais de formação pedagógica, a prática aponta uma ação diferente da preconizada no artigo e, o que se observa, são educadores que necessitam de uma formação mais global que os ajude a compreender, a dar conta das mudanças ocorridas nesse universo de trabalho – a educação – para que possam articular as inovações metodológicas e temáticas numa proposta abrangente e coerente.

Convém ressaltar que o decreto nº 2.208 de 17 de Abril de 2007 (BRASIL, 1997) foi substituído pelo decreto no 5.154 de 23 de Julho de 2004 (BRASIL, 2004), conforme já citado, retirada a exigência de formação pedagógica aos docentes. Ou seja, se antes a exigência de formação pedagógica era regulamentada, agora, fica a critério de cada instituição de ensino superior. Salvo nos cursos técnicos, que por meio da resolução nº 6 de 20 de Setembro de 2012, a qual define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio e traz orientações sobre tal formação.

O breve histórico sobre a educação profissional e tecnológica envolve questões políticas, sociais, culturais e econômicas com reflexo direto no trabalho do docente, mas um estudo mais amplo do assunto foge ao escopo desse projeto.

A questão de a educação profissional visar não somente o mercado de trabalho foi discutida no Fórum de Jovens sobre a Democratização da Educação em Genebra, em 1971, segundo Lemaresquier (1974, p. 51): “A instrução [...] deve visar ao desenvolvimento pessoal e social de um operário, por exemplo, e não a melhoria de sua produtividade”. Também foi pedido mudança no conteúdo e no sentido da escola, passando da competição à solidariedade, referindo-se ao ensino técnico e profissional, na época considerada inferior e para as classes mais modestas da população. Os estudantes questionavam a valorização do método de aprendizagem baseado essencialmente em dados abstratos, em detrimento de um ensino que alie a teoria à vida a vida prática.

O parecer CNE/CES277, de 07 de dezembro de 2006 altera os eixos tecnológicos propostos pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) para organizar a oferta de Cursos Superiores de Tecnologia, substituindo a tipologia das Áreas Profissionais até então adotada (MEC, 2008) que passam a ser (BRASIL, 2006, p. 3):

i. Ambiente, Saúde e Segurança. ii. Controle e Processos Industriais. iii. Gestão e Negócios.

iv. Hospitalidade e Lazer. v. Informação e Comunicação. vi. Infraestrutura.

vii. Produção Alimentícia. viii. Produção Cultural e Design.

ix. Produção Industrial. x. Recursos Naturais.

2.4.1 Criação do Instituto Federal do Espírito Santo

Em 1909, o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), chamava-se Escola de Aprendizes e Artífices (1909-1942). Segundo Sueth e outros (2009, p. 37):

O decreto de criação das Escolas de Aprendizes e Artífices, datado de 23 de setembro de 1909, indica as intenções de Nilo Peçanha com relação ao ensino industrial a que ele procedia no Brasil Republicano. Nos considerados, o decreto ressalta ‘o aumento da população das cidades exige que se facilitem às classes proletárias os meios de vencer as dificuldades’, ou seja, ele tem em vista a população menos favorecida das cidades, com enfoque nas classes proletárias.

Ao longo dos anos as características da escola foram mudando e outras denominações foram dadas: Escola Técnica de Vitória (ETV) (1942-1965), Escola Técnica Federal do Espírito Santo (ETFES) (1965-1999), Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (CEFETES) (1999-2008) e atualmente Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).

Entre 1960 e 1970 houve um processo de expansão dos cursos técnicos da então Escola Técnica Federal do Espírito Santo. Nesse período o Espírito Santo (ES) passava por um período de crescimento da economia, motivado, dentre outras coisas, pela implantação de um modelo industrial-desenvolvimentista, paralelo ao modelo agrário-exportador, o que afetou a estruturação da escola. Segundo Sueth e outros (2009, p. 89), “[...] a partir de 1976 foram estabelecidas as coordenações por curso e por área, para que todos trabalhassem com ‘objetivos definidos’”, reafirmando assim sua identidade para o ensino técnico.

A educação profissional era concebida, então, numa perspectiva taylorista-fordista. Visava à rápida inserção de mão de obra qualificada no mercado de trabalho, oportunizando a

empregabilidade para milhares de jovens, o que reduzia, assim, a procura por cursos superiores.

Essa proposta, no entanto, não funcionou por diversas razões que não cabe discutir neste estudo. As escolas técnicas federais se transformaram nos anos 80 e 90 em instituições de ensino médio profissionalizantes muito bem equipadas e elitistas, atraindo alunos pouco preocupados com a formação técnica. No Espírito Santo não foi diferente, a qualidade do ensino levou a escola a ser procurada, sobretudo, por alunos que queriam ingressar nas instituições públicas de ensino superiores e não pela motivação em exercer a profissão do curso técnico escolhido. Muitos si quer chegavam a exercer a profissão enquanto técnicos.

A partir de 1999 a antiga escola técnica foi transformada em Centro de Educação Federal e Tecnológico do Espírito Santo (CEFETES), autorizada e incentivada a formar tecnólogos de nível superior. Em 2004, inicia-se a oferta de cursos superiores voltados para a educação profissional. No contexto atual, as políticas públicas voltadas para essa área, adotam uma concepção de inclusão não apenas no mercado de trabalho. Busca-se formar seres humanos que compreendam o seu papel na sociedade, onde o ato de pensar deve presidir ao ato de fazer, indo para além do ensino fragmentado muito característico dos cursos técnicos.

Com relação ao ingresso dos alunos com deficiência no Ifes, apesar de ter aumentado nos últimos anos, ainda apresenta um número muito reduzido, que não chega a 1% do total de alunos, conforme já apresentado. A Figura 15 apresenta um quantitativo/percentual de alunos que possuem laudo médico sobre deficiência no Ifes no primeiro semestre de 2003.

Figura 15 - Alunos com deficiência no Ifes em 2013/1

2.4.2 Busca de identidade a partir da criação do Instituto Federal do Espírito Santo

Como Instituto Federal, criado em 2008, o ensino passou a ser destinado a cursos técnicos, a algumas licenciaturas e à formação de professores. A lei nº 11.892 de 29 de dezembro de 2008 (BRASIL, 2008) que criou os institutos federais, estabelece, inclusive, que este deve oferecer cursos superiores, com 20% de vagas para cursos de licenciatura, visando sobretudo a oferta de cursos de licenciatura identificados como carentes de professores, como os de Física, Química Matemática e Biologia, além de oferecer programas especiais de formação pedagógica, com vistas à formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e educação profissional.

Todas as mudanças ocorridas no Ifes exigem um repensar sobre as práticas pedagógicas até então adotadas. Machado (2011, p. 693) apresenta uma fala do então reitor Denio Rebello Arantes que corrobora com a preocupação desta pesquisa.

Em debate sobre formação de professores para a EPT, realizado pelo MEC em Brasília, em 2006, Denio Rebello Arantes, atual reitor do Instituto Federal do Espírito Santo e vice-presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, expôs sua preocupação:

Hoje está entrando uma leva enorme de professores que tem mestrado e doutorado, mas, por outro lado, muitos deles nunca tiveram uma atuação profissional anterior. Para muitos, essa é a primeira vez que estão atuando profissionalmente e, vejam a contradição, eles vêm para o para dar aula de educação profissional. Temos encontrado problemas bastante sérios e não apenas de natureza pedagógica. Recentemente, depois de uma longa discussão, um desses nossos novos professores diz: realmente a gente não está sabendo formar técnicos. Se você pedir para ele formar um graduado, ele sabe, agora se você pedir para formar um técnico, ele não sabe.

Após a criação dos institutos federais, em março de 2009, o Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), criou um Termo de Acordo de Metas e Compromissos, com destaque para a Educação Inclusiva e a redução de barreiras educativas para garantir a inclusão de alunos com deficiência, ampliando as políticas de inclusão e de assistência estudantil.

O Termo de Acordo de Metas e Compromissos faz com que uma nova identidade seja estabelecida aos institutos federais, que se encontra em 2014, em um processo de construção. Dentre eles, destaca-se a necessidade da institucionalização da EaD.