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2.1 TEORIAS DE APRENDIZAGEM

2.3.4 Teorias da Educação a Distância

No século XX quatro autores se destacaram em seus estudos sobre EaD, são eles: Charles A. Wedemeyer, Michael G. Moore, Borje Holmeberg e Otto Peters. Esses autores apresentaram novas abordagens sobre questões pedagógicas, mediação, veículos de difusão, processo de comunicação e autonomia do aluno. Será apresentada uma breve discussão sobre algumas teorias baseadas nas obras desses autores.

Teoria da Industrialização (Peters)

Esta teoria, que surgiu em 1967, considera a EaD como algo ‘industrializado’, ou seja, um produto de uma sociedade industrial. Otto Peters não considerava suas ideias como uma teoria de EaD, mas estas tiveram um impacto significativo por diferenciar-se das demais teorias. A EaD foi comparada ao processo de produção industrial, na tentativa de encontrar características em comum. Foram identificadas questões semelhantes com relação a: divisão de tarefas, mecanização das atividades, orientação para a produção em massa e padronização dos procedimentos utilizados (KEEGAN, 1994).

Peters assume que a EaD, em seu início, foi um produto da indústria cultural, baseada em uma aprendizagem pré-concebida e pré-produzida (ensino por correspondência e material impresso). Ainda hoje é comum as falas sobre o ‘engessamento da EaD’, devido aos materiais estruturados previamente e a busca por oferta de vagas cada vez mais elevadas, ou seja, uma EaD com o objetivo de abarcar uma economia em larga escala.

A partir da década de 1990 com advento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) o modelo de EaD pôde ser alterado, incluindo diferentes estratégias de ensino, desde algo mais individualizado até a proposta de atividades interativas e colaborativas, permitindo um melhor diálogo entre o professor e o aluno.

Teoria do Estudo Independente (Wedemeyer)

Nesta teoria a ênfase foi dada à autonomia e independência do aluno no processo de ensino e de aprendizagem.Wedemeyer (1977) destacou quatro elementos fundamentais para o processo de ensino e de aprendizagem: o professor, o aluno, os conteúdos e o modo de comunicação

entre professor e aluno. A Teoria do Estudo Independente possui seis características: separação entre professor e aluno, individualização do ensino, realização dos processos de ensino e aprendizagem por meio escrito ou digital; aprendizagem a partir do desenvolvimento de atividades, aprendizagem no ambiente familiar do aluno e a responsabilidade do aluno pelo seu próprio ritmo de aprendizagem.

Os processos de ensino e de aprendizagem baseiam-se pelos meios utilizados, que podem ser impressos ou digitais. A aprendizagem se dá em razão das atividades desenvolvidas pelo estudante de acordo com o seu ritmo.

Teoria Transacional (Moore)

Moore (2002) desenvolve o conceito de ‘distância transacional’, que vai para além da distância geográfica ou temporal, sendo, sobretudo, um conceito pedagógico. É um conceito que descreve o universo de relações professor-aluno quando estes estão separados no espaço- tempo. Existe grupos de variáveis voltadas para o ensino e a aprendizagem, que influenciam na distância transacional: o diálogo, a estrutura e a autonomia do aluno (MOORE, 1989).

• Diálogo: é desenvolvido entre professores e alunos ao longo das interações que ocorrem quando alguém ensina e os demais reagem. Os conceitos de diálogo e interação, em alguns momentos são usados como sinônimos. O termo "diálogo" é usado para descrever uma interação ou série de interações que possuem qualidades positivas que outras interações podem não ter. Um diálogo é intencional, construtivo, respeitoso e valorizado por cada parte. O diálogo deve favorecer a compreensão por parte do aluno. Os meios de comunicação têm um impacto direto sobre a extensão e a qualidade do diálogo entre alunos e professores, e ainda tem-se a questão do número de alunos por professor, às oportunidades elaboradas para que o diálogo aconteça de maneira efetiva. O diálogo é influenciado pela personalidade do professor, pela personalidade do aluno e pelo conteúdo.

• Estrutura: a forma como um curso é planejado, a metodologia e os meios de comunicação adotados, podem influenciar na distância transacional. A falta de flexibilidade no currículo, o controle sobre as mensagens enviadas, as estratégias de ensino adotadas, o formato dos conteúdos e as formas de avaliação são elementos que fazem parte da estrutura. Um vídeo por si só é um material altamente estruturado, não

há diálogo. Já o uso da webconferência, permite a participação do aluno, desde que a mesma seja bem organizada e dê possibilidade de haver o diálogo.

• Autonomia: o comportamento autônomo deveria ser algo natural para o adulto, entretanto, alguns adultos não estão preparados para uma aprendizagem totalmente independente e nesse sentido o papel do professor enquanto mediador é fundamental para a aprendizagem do aluno para adquirir tal habilidade.

Para Moore (2002) quanto mais os materiais didáticos forem estruturados maior é a distância transacional e vice-versa.

Teoria da Conversação Didática Guiada (Holmberg)

Para Holmberg (1995) a aprendizagem é um processo de diálogo que deve ser ‘guiada’ pelo professor. A EaD atribui um papel fundamental ao exercício da autonomia. O aluno assume uma parcela maior de responsabilidade por sua própria aprendizagem, definindo seu ritmo e organização de estudo, inclusive alterando a sequência de conteúdo. Para a compreensão da teoria de Holmberg (1995, p. 47) apresentam-se os sete axiomas que a justificam:

1) Relação interpessoal entre o instrutor e o aluno para promover a motivação e satisfação pelo estudo;

2) relação com apoio de materiais didáticos bem desenvolvidos e que permitem a comunicação em duas vias,

3) que a motivação pelo estudo seja importante para atingir aos objetivos propostos; 4) que a atmosfera de conversa amigável favorece a relação proposta no item 1; 5) que as comunicações sejam realizadas como uma conversa natural, assim serão mais facilmente compreendidas e lembradas;

6) que o conceito de conversação possa ser traduzido com sucesso para os alunos a distância utilizando as mídias disponíveis;

7) planejar e orientar o currículo são necessários para a organização de um estudo a distância.

A EaD enquanto conversação didática guiada promove diálogos reais por meio de ferramentas de comunicação (e-mail, chat, webconferência), por telefone ou pelo contato pessoal. E simuladas, por meio de materiais textuais e outras mídias.

Considerações sobre as teorias de Educação a Distância apresentadas

As teorias apresentadas não devem ser consideradas como sistemas fechados. Por outro lado, elas têm interseções com teorias sobre a aprendizagem e outras questões de cunho mais geral. Na implantação de um curso a distância algumas questões precisam ser identificadas, em especial a capacitação dos professores e tutores, a infraestrutura, as condições de trabalho disponíveis e as possibilidades de interação entre os diversos atores envolvidos.

Convém, também, destacar que um país como o Brasil com alto grau de diversidade, seja por questões geográficas, sociais, políticas e/ou culturais, parece pouco realista ver um curso a distância em que o uso do telefone seja mais usado do que um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), ou ainda que se recorra a serviços postais, mas isso é possível. A realidade de diferentes municípios deve ser observada antes de pensar em um modelo de EaD, pois em certa região pode ser considerado fator de sucesso, em outra pode levar ao fracasso.

O incentivo ao uso das TICs no ensino presencial, serve para minimizar a dicotomia entre o ensino presencial e a educação a distância. Segundo Moran (2004) “Teremos aulas a distância com possibilidade de interação on-line (ao vivo) e aulas presenciais com interação a distância”.

Na EaD novos elementos surgiram ou ressignificaram, por exemplo, a forma de disponibilização de conteúdo, estratégias de ensino, gestão e a tecnologia de suporte à educação a distância.