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Educação, Tecnologia, Currículo e Mudança ou Inovação Curricular

As 21 teses - aqui não foram aceitas dissertações - agrupadas sob o tema educação, tecnologia, currículo e mudança ou inovação curricular, também foram submetidas à consulta de frequência de palavras, cujo resultado é mostrado na tabela 8.

Tabela 8 - Palavras recorrentes nas teses sobre tecnologia, currículo e mudança ou inovação curricular

Fonte: Importada pela autora de sua área de trabalho no software NVivo10

Comparando essa ocorrência de palavras, com a obtida nos trabalhos sobre o tema Um Computador por Aluno, a incidência das palavras aluno e professor se repetiram em primeiro e segundo lugares, respectivamente. Mas a palavra escola (3o lugar nas teses e 1o nos demais trabalhos sobre Um

Computador por Aluno) caiu para o décimo lugar, enquanto a palavra educação (anteriormente 5o e 7o lugares) subiu para terceiro lugar. O termo currículo (que

só apareceu em 21o lugar, no grupo anterior de teses) subiu para o oitavo lugar.

PALAVRA CONTAGEM PALAVRAS SIMILARES 1 alunos 4.729 aluno

2 professores 3.148 prof, professor, professoral, professora

3 educação 3.081 educações, education 4 ensino 2.610 Ensinos

5 tecnologias 2.577 tecnologia 6 aula 2.394 aulas 7 trabalho 2.187 trabalhos

8 currículo 2.095 currículos, program 9 processo 2.011 processos 10 escola 2.009 escolas 11 pesquisa 1.858 pesquisas 12 práticas 1.750 prática 13 computador 1.687 computadores 14 aprendizagem 1.480 aprendizagens 15 conhecimento 1.421 conhecimentos 16 formação 1.348 formações 17 projeto 1.308 projetos 18 curriculares 1.117 curricular 19 docente 1.110 docentes 20 texto 1.068 textos 21 sistema 1.059 sistemas 22 recursos 886 recurso

23 planejamento 885 planejamentos, planos 24 objetivos 878 objetivo

Outra leitura da tabela 8 mostra que, nas teses desses grupos temáticos, surgiram novas palavras, não evidenciadas nas teses do grupo anterior, como aprendizagem, objetivos e planejamento. Essas palavras parecem denotar maior ênfase ao currículo. Poderíamos fazer tal inferência? Com apoio do NVivo10, uma análise de fragmentos das teses onde aparecem os termos, trouxe mais luz à reflexão.

Nesse sentido, um dos trabalhos identificados foi o de Ehrensperger (2009, p. 27). Em sua pesquisa sobre políticas e práticas curriculares no Ensino Superior no Brasil e em Portugal, o termo currículo e similares aparece 395 vezes. A pesquisadora afirma que,

enquanto processo que expressa a intencionalidade de socialização e de formação dos indivíduos, a educação pressupõe valores e propósitos, que, de alguma forma, relacionam-se com os valores dominantes num dado tempo e espaços sociais [...] De outro lado, é no currículo que se concretiza a proposta educacional das sociedades particulares.

Para a autora, currículo é um processo intencional de determinado grupo social, ou seja, o currículo é visto numa perspectiva crítica. Outro termo recorrente na tese de Ehrensperger (2009) é planejamento, que também aparece na tese de Campos (2011) e, com mais ocorrência, na tese de Arruda (2012).

Destaca-se que a pesquisa de Arruda (2012, p. 23) objetivou verificar a adequação do planejamento de aula desenvolvido pelos professores para o uso efetivo das TIC em sala de aula, e evidenciar indicadores de características do planejamento de aula que fomentem o uso de TIC integrado às situações de aprendizagem. A autora afirma que

a prática pedagógica do docente é composta – em linhas gerais – por três momentos distintos: planejamento, mediação e avaliação. Os três estão imbricados um no outro, um influencia o outro, eles têm entre si uma relação de dependência, para qualidade e coerência de todo o processo – cíclico – da prática pedagógica. Os currículos e as tecnologias orientam e permeiam constantemente esses três momentos.

O planejamento é analisado por Arruda (2012), a partir de uma concepção integradora, como importante elemento na inovação curricular. Certamente, o processo de planejamento e replanejamento oportuniza ao professor a reflexão antes, durante e após a aula, ou conjunto de aulas com o uso dos laptops. E esse processo de reflexão, aliado às concepções desse professor, o significado que ele atribui ao uso desse laptop para o currículo escolar poderá gerar mudanças, o que equivale dizer que o resultado da reflexão poderá gerar nova forma de conhecimento ou instrumento de pensamento.

Nesse sentido, com o objetivo de compreender as abordagens predominantes nas 32 teses e dissertações sobre Um Computador por Aluno e nas 22 teses sobre Educação, Tecnologia, Currículo e Mudança ou Inovação Curricular, foram elaborados mapas de nuvens com as palavras mais frequentes em cada grupo, como mostra a figura 7. (GONÇALVES, 2015b, p.10).

Figura 7 - Mapa de nuvens das teses e dissertações sobre o uso dos computadores portáteis (esquerda) e Educação, Tecnologia, Currículo e Mudança ou Inovação (direita)

Fonte: Gonçalves (2015b, p.10)

A semelhança entre os mapas de nuvens mostra que, aparentemente, abordam questões da mesma natureza. Mas são necessárias reflexões complementares. O que os autores, nos diferentes grupos de trabalho, destacam sobre alunos? E sobre professores?

Um retorno às referências que deram origem à palavra “alunos”, mostrou que, no primeiro caso, a frequência não indica, necessariamente, ênfase nos “sujeitos alunos”, ou seja, aparece pelo fato de os trabalhos tratarem de projetos que a trazem em seu título. Diferentemente, no segundo caso, as menções ao aluno, assim como aos professores, referem-se a seus papeis como sujeitos das ações curriculares.

A pesquisa de Monteiro (2011, p. 48) destaca a relevância de se considerar os conhecimentos advindos de contextos não formais, na formação do aluno, ao afirmar que ele “reúne em seu percurso, elementos que servem

de alicerce a seus conhecimentos, de forma coerente para que seus conceitos se tornem sólidos”.

Algumas vezes, as menções referiam-se às dificuldades enfrentadas por alunos e professores na assunção de seus papéis diante das mudanças enfrentadas pela sociedade imersa nas TDIC.

Sobre a integração das TIC nos planos de aula e nos currículos, Arruda (2012, p. 36), que investigou a percepção de docentes do ensino médio , destaca que, nas situações que observou, “as TIC são consideradas mais como motivadoras da aprendizagem dos alunos ou como fornecedoras do status de modernização para as escolas, do que para ampliar os desafios do meio e apresentar ao aluno uma gama maior de estratégias de aprendizagem”.

Mandaio (2011, p. 41), ao investigar perspectivas de mudanças na prática pedagógica com o uso de computadores portáteis do UCA em uma escola pública, consider a que é fácil ocorrerem transformações em u m universo tão amplo, como é o das escolas públicas brasileiras, “com diferenças regionais desafiadoras”. Para alcançar mudanças, é indispensável

gerir três grandes pilares de encaminhamentos: a melhoria do processo educacional, a ampliação da inclusão digital e a inserção da cadeia produtiva brasileira, que, por sua vez, dependem d e investimentos na infraestrutura das escolas, na formação docente, na avaliação e na pesquisa, de forma articulada para que retroalimentem as ações.

Valverde (2009, p.15-16), ao estudar o processo de inclusão educativa de jovens integrados em turmas de Percurso Curricular Alternativo, argumenta sobre a necessidade de escolas mais inclusivas. Caracteriz a tais escolas como aquelas capazes de “responder às diferenças existentes entre os alunos que as frequentam, quer em termos sociais, econômicos, culturais e éticos, quer em termos individuais, ao nível dos projetos de vida, das suas motivações e dos seus estilos”. Ao tratar do papel do professor, a autora cit a Roberto Carneiro (2004) que afirma ser o professor “cada vez menos mero transmissor de informação e /ou de conhecimento, para se transformar de forma crescente num tutor das aprendizagens pessoais e grupais”.

Os autores, nos dois grupos de trabalhos, concordam que professores e alunos são importantes sujeitos nas ações de integração curr icular das TDIC, assim como qualquer mudança nas práticas de ensino e aprendizage m formais.

Mas tal constatação encontra-se mais explícita nos trabalhos arrolados no segundo grupo.

Continuando a interpretação, o retorno às referências que originaram a palavra tecnologias revelou semelhança mais explícita nas abordagens dos dois grupos de teses. Tal semelhança refere-se à ênfase na integração das tecnologias digitais ao currículo. Nes se sentido, podem ser destacadas as abordagens nas teses de Weckelmann (2012), já citada por abordar mudanças nas práticas pedagógicas, e de Fernandes (2012).

Segundo Weckelmann (2012), os projetos de uso de computadores portáteis na prática pedagógica implicam ganhos e mudanças significativas no currículo, tanto no Brasil como em Portugal, como anteriormente apresentado. Nessa mesma linha, mas sem abordar o uso de um computador por aluno, Fernandes (2014) realizou investigação crítico -colaborativa sobre caminhos para a utilização do potencial das TIC na construção de um currículo integrado no Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja). Ela identificou sinais de integração das TIC ao currículo em diversas disciplinas em que eram utilizados: aplicativos e softwares; áudios, vídeos, animações, materiais didáticos disponíveis na rede; ambiente virtual de aprendizagem integrado às aulas e pesquisas na Internet.

As duas pesquisadoras encontraram sinais de integração das TDIC aos currículos e tais sinais podem indicar mudanças e quiçá inovações nos currículos escolares. Na presente investigação, busca -se ampliar a compreensão destes “sinais de mudança”, dando ênfase ao papel da evolução das concepções docentes sobre currículo, TDIC e sobre a integr ação curricular das TDIC.

Com essa perspectiva, passou-se à análise dos demais trabalhos sobre o tema. Assim como realizado anteriormente, o grupo de 103 artigos científicos foi submetido à consulta de palavras frequentes como mostra a tabela 9.

Tabela 9 - Palavras recorrentes nos artigos científicos relacionados ao tema educação, tecnologia, currículo e mudança ou inovação curricular

Fonte: Importada pela autora de sua área de trabalho no software NVivo10

O quadro de frequências de palavras mostra a predominância da palavra professores, sobre as palavras currículo e tecnologia, que estão respectivamente em 8o

e 14o lugares, em trabalhos sobre o tema educação, tecnologia e currículo. A palavra

alunos também é muito recorrente nos trabalhos, aparecendo em 3o lugar.

Poderia, essa ocorrência, indicar centralidade no professor? Também é possível entender que se mantém a sugestão de centralidade no aluno, palavra de maior ocorrência também nos trabalhos sobre o tema Um Computador por Aluno? Haveria mesmo centralidade?

Compreendendo que essa inferência precisa ser mais bem investigada, foi realizada uma consulta pelas palavras professor e, posteriormente, aluno, em

PALAVRA CONTAGEM PALAVRAS SIMILARES

1 professores 5.547 professor, professora

2 educação 5.172 educação 3 alunos 5.026 aluno 4 ensino 4.220 ensinos 5 escola 4.186 escolas 6 curso 3.847 cursos 7 processo 3.462 processos 8 currículo 3.452 currículos 9 prática 3.195 práticas 10 projeto 3.069 projetos 11 trabalho 2.971 trabalhos 12 formação 2.811 formação 13 curricular 2.375 curriculares 14 tecnologia 2.349 tecnologias 15 conhecimento 2.189 conhecimentos 16 pesquisa 2.135 pesquisas 17 escolar 2.131 escolares 18 docente 2.017 docentes 19 aprendizagem 1.944 aprendizagem

20 universidade 1.885 universidad, universidades 21 avaliação 1.858 avaliação

todos os artigos arrolados no banco de dados, exceto aqueles referentes ao tema Um Computador por Aluno. A consulta retornou os seguintes artigos, com maior número de referências ao professor, sendo listados os sete, com maior número de ocorrências, na tabela 10.

Tabela 10 - Trabalhos com maior número de referências ao professor

Fonte: Elaborada pela autora com apoio do NVivo10

Já a consulta sobre a ocorrência do termo aluno retornou os seguintes artigos com maior número de referências, mostradas na tabela 11.

Tabela 11 - Trabalhos com maior número de referências a aluno

Fonte: Elaborada pela autora com apoio do NVivo10

GRUNDY (apud PACHECO; PARASKEVA, 1999, p. 10), ao tratar do currículo como deliberação, destaca-o como resultante das ações de todos os atores que nele participam, isso significa dizer que tanto professores quanto alunos são “agentes diretos com capacidade para produzir a mudança” e não meros implementadores de uma decisão hierarquicamente prescrita. Destaca, ainda, que, na aprendizagem,

as mais significativas decisões curriculares são aquelas que os professores tomam, competindo-lhes não só a interpretação dos textos e práticas curriculares, bem como a consideração dos alunos como sujeitos e não como objectos da aprendizagem.

De fato, os alunos são sujeitos ativos e, frequentemente, chegam à escola com mais intimidade com as tecnologias digitais do que possuem seus professores. Essa maior “intimidade” das crianças e adolescentes com as TDIC, todavia, não pode ser empecilho para seu uso pedagógico, orientado pelos professores.

REFERÊNCIAS MENÇÕES A PROFESSOR

Hagemeyer (2011) 93 Marcondes; Moraes (2013) 71 Felicio; Possani (2013) 52 Christensen; Horn; Stacher (2013) 45 Pacheco e Paraskeva (1999) 38 Joly; Silva; Almeida (2012) 37

Pacheco (2000) 31

REFERÊNCIAS MENÇÕES A ALUNO

Pacheco; Paraskeva (1999) 38 Joly; Silva; Almeida (2012) 15

Pacheco (2000) 11

Nesse mesmo sentido, Pacheco (2000) argumenta que o contexto de realização do currículo configura-se enquanto um contexto específico de decisão dos professores e alunos. Destaca que estes são marcantes e decisivos no desenvolvimento do currículo: os professores, pelo seu papel de construtores diretos de um projeto de formação; os alunos, por suas experiências que legitimam e modificam esse mesmo projeto.

Mas nem sempre é isso que acontece. Joly; Silva e Almeida (2012, p. 85) mostram o outro lado da questão, ao tratar do impacto causado pela expansão das tecnologias digitais. Ao mostrar resultados de pesquisas sobre o uso das TDIC, por professores e estudantes de ensino médio e do superior, os autores destacam que o progresso proporcionado pelas TDIC “preocupam os professores que se sentem incapazes de acompanhar e adaptar esses progressos aos processos de ensino que adotam e de aprendizagem dos seus alunos”.

Seria necessária uma mudança nas práticas, a partir da renovação das mentes. Professores e alunos devem estar do mesmo lado, na busca pela integração curricular das TDIC, para obterem resultados positivos, como argumenta Pacheco (2000). As citações explicitam que os trabalhos trazem à tona a necessidade de atuação ativa dos alunos na aprendizagem, portanto, sujeitos no desenvolvimento curricular e na integração das TDIC e possíveis mudanças nesse projeto curricular.

Quanto a inovação em educação por meio da integração das TDIC, uma revisita aos extratos dos textos sobre tal questão evidencia a concepção de que o desenvolvimento de práticas inovadoras "emerge (...) de ambientes de participação intensiva e mediação colaborativa” (DIAS, 2013, p. 19).

Os argumentos de Vanderlinde et al. (2010) complementam as ideias de Dias (2013) ao defender que, para a integração curricular bem-sucedida de TIC, é preciso desenvolver uma política pertinente, nas instituições (escolas e sistemas de ensino), para compor um plano de políticas de TIC que envolva docentes, equipes técnica e gestora.

Dias (2013) e Vanderlinde et al. (2010) parecem sintetizar com propriedade os principais quesitos para inovação educacional: existência de uma política e prática de integração educacional das tecnologias, como prática dos sujeitos envolvidos, via mediação colaborativa para sua formação.