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As buscas por trabalhos com os indexadores educação, tecnologia e inovação, na RSL, apresentada no capítulo anterior, retornou apenas oito artigos científicos. Assim, julgou-se pertinente investigar a concepção do termo inovação, em distintas áreas: administração, economia, comércio e saúde, enfatizando as inovações decorrentes dos avanços da ciência e tecnologia.

O primeiro trabalho localizado nessa nova busca foi o de Macias Cardona (2011). O autor fez uma revisão da literatura sobre os efeitos da inovação nas áreas de administração e economia e argumenta que tais efeitos vão além dos resultados econômicos para as empresas; traz resultados em termos de sustentabilidade e o impacto social da inovação incide especialmente na população de baixa renda.

Para Macias Cardona (2011, p. 15-16) é difícil medir inovação, visto que tem caráter qualitativo e aparece como processo cumulativo que requer a colaboração de diferentes pessoas, com variadas capacidades. Argumenta que a inovação é sempre um processo interdisciplinar e coletivo. Assim, segundo o autor, a inovação na empresa deve ser pensada de dentro da instituição e a partir dos sujeitos e não dos aparatos tecnológicos. O autor estabelece ligação entre inovação nos negócios e responsabilidade social corporativa, por meio da identificação de quatro categorias que se relacionam: a inovação disruptiva, inovação organizacional, a relação entre inovação e empreendedorismo e inovação social.

O conceito de inovação disruptiva, desenvolvido, dentre outros, por Christensen (1997, 2003), aborda conceitos de inovação que procuram entender os efeitos gerados pelas novas tecnologias no mercado. Inovação disruptiva, disrupção, ou rompimento, é uma força que transforma vários negócios. As empresas criam modelos de negócios disruptivos, usando inovações relativamente simples, para competir de uma nova forma em novos mercados, distantes da competição vigente. A empresa detentora da inovação disruptiva incrementa seus produtos e causa mudanças em sua participação de mercado. Como resultado desse processo, a inovação disruptiva quebra o tradicional trade off entre acesso, custo e desempenho. Tais inovações originam novos mercados e modelos de negócio, apresentando soluções mais eficientes para esses novos consumidores.

Sobre as soluções apresentadas na inovação disruptiva, Christensen (2003, p. 264) afirma que, quando aparecem, quase sempre oferecem um desempenho inferior em termos dos atributos que os clientes tradicionais se preocupam, mas conquistam novos clientes. Esse tipo de inovação “finca raízes em aplicações simples, descomplicadas naquilo que é um novo plano de concorrência”; um plano disruptivo que atende a novos consumidores. O exemplo clássico de inovação com tal desempenho, inferior ao esperado pelos consumidores tradicionais, é o da indústria automobilística. Ao lançar os carros populares mais simples, menores, mais baratos e com maior praticidade e conveniência para o uso, abriu novos mercados e fez prosperar os negócios no setor.

Em relação à inovação nas organizações, Drucker (2008, p. 189-191) apresenta quatro princípios para a inovação. Primeiro: “a inovação deliberada e

sistemática começa com a análise de oportunidades [...] com a cogitação [...] das fontes de oportunidades inovadoras”. Segundo: “A inovação é tanto conceitual quanto perceptual”. Terceiro: “Uma inovação para ser eficaz precisa ser simples e tem que ser concentrada, deve fazer somente uma coisa”. Quarto: “As inovações eficazes começam pequenas, não são grandiosas e procuram fazer uma coisa específica”. Ainda de acordo com Drucker (2008), a incorporação de uma cultura de inovação ocorre por meio de uma inovação de abordagem sistemática, o monitoramento das fontes de oportunidades inovadoras.

Ainda sobre inovação empresarial, Cândido (2011, p. 5) esclarece que “é consensual que para crescer é necessário a tecnologia, contudo a questão que se coloca em causa é se esta cria ou não processos/produtos inovadores capazes de criar uma vantagem competitiva para as empresas”. No setor da saúde, as tecnologias provocaram muitas disrupções, pois “a inovação deve ter por finalidade a melhoria da qualidade de vida das pessoas, mediante a utilização de produtos e procedimentos com vistas a evitar o aparecimento de enfermidades ou erradicá-las”.

Quando se trata das inúmeras inovações tecnológicas na área de saúde, especialmente na área médica, Drumond (2007, p. 27) destaca as inovações e os novos conhecimentos trazidos “pela genômica e pela imunologia [...] na área a química fina [com o] aparecimento de antibióticos mais potentes, o desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas [...], a reprodução assistida e a terapia genética”. O autor também apresenta como inovações na área o uso de “novos materiais e medicamentos nas áreas de estética e sexologia e o desenvolvimento de incríveis-máquinas de diagnóstico que esquadrinham toda a intimidade biológica do corpo humano”. Constata-se que tais inovações estão diretamente relacionadas aos avanços da TDIC. Ainda na área médica, Rezende (2009) destaca as dez mais importantes inovações que chegaram a modificar o destino da humanidade: os transplantes de órgãos; os progressos cirúrgicos; a fecundação artificial; a engenharia genética; a fibroendoscopia e a videoendoscopia; as técnicas de alta sensibilidade; os métodos de diagnóstico por imagens; a síntese de hormônios e vitaminas; a descoberta dos antibióticos e a imunização preventiva, dentre outros avanços nos diagnósticos e tratamentos.

Sobre a inovação social, Arbix (2010, p. 168-169) explica que “o alvo do inovador é a surpresa e a novidade, [...] mas nem sempre isso se dá pela via da invenção; quase sempre pelo rearranjo, pela combinação e pela exploração. Essa é a sua força e virtude”. Assim, inovar nem sempre significa criar algo totalmente novo, mas pode começar com mudanças nos padrões já existentes. Como exemplos, o autor apresenta o salto dos Tigres Asiáticos, o rápido crescimento da China e da Índia. Esses casos revelaram que os principais atores da inovação “não foram exatamente os processos de domínio de tecnologias críticas, mas pequenos avanços, muitas vezes baseados na cópia e na imitação, que induziram processos de aprendizagem e transformações organizacionais”.

Entende-se que o conceito de inovação não se limita a grandes feitos, podendo começar de forma muito incipiente. O que os estudos indicam é que a inovação ocorre em ambiente de incerteza e que, um “ambiente baseado na boa qualidade dos recursos humanos, na tolerância, no fluxo contínuo de ideias e informações sem preconceitos e, fundamentalmente, amigável à ocorrência do empreendedorismo é mais propício à inovação” (ARBIX, 2010, p.171). Outro aspecto significativo para a inovação é a cooperação entre empresas ou instituições engajadas na inovação e as instituições de pesquisa.

Em relação às disrupções promovidas pelas TDIC, existem algumas tecnologias que estão há poucos anos no mercado e cujo destino final ainda se encontra indeterminado, mas que podem ser enquadradas como exemplos de tecnologias promovidas como disruptoras. Destacam-se a fotografia digital, em oposição a todas as formas de fotografia química; os e-books, assim como outras maneiras de distribuição de conteúdo por download, em vez de mídia física, como DVDs e livros de papel; a Web TV e a TV digital, em oposição às emissoras convencionais de televisão; os sistemas de voz emitida por meio de diferentes aplicativos, em oposição ao telefone tradicional; e serviços de celular. Por fim, a mais intensa das tecnologias disruptoras, a Internet, “que explodiu como um furacão cujo ‘olho’ tem absorvido setores inteiros da vida das pessoas com facilidade, tendo exemplos já comprovados” (ZOGBI, 2007, s.p.). O autor enumera algumas das tecnologias proporcionadas por sua expansão:

1- a distribuição de produtos (lojas virtuais, serviços de entrega), 2- as mídias (jornais, revistas, propaganda, rádios), 3- Sistemas de pedidos e vendas (business to business), 4- Produtos digitais (sistemas para

download), 5-Serviços intelectuais (consultoria e assessoria on-line), 6- Serviços financeiros (bancos, investimentos), 7- Entretenimento (filmes, música, arte, literatura), 8- Educação (e-learning), 9- Comunicações e telecomunicações (correio, telefonia), 10- Trabalho (várias formas complementares e exclusivas de prestação de serviços).

De fato, a World Wide Web (WWW), cuja tradução literal é "teia em todo o mundo" ou "teia do tamanho do mundo", revolucionou todos os setores da sociedade ao interligar. Embora ainda existam muitas pessoas à margem dessa interligação, Zogbi (2007) destaca que o conceito de rede está cobrindo o planeta e que nada pode ser considerado mais disruptor na história da humanidade.

Com tantos setores impactados pelas mudanças ou inovações, via TDIC, o setor educacional não fica isento. Nesse sentido e considerando que uma inovação na educação pode ter início com um processo de mudança, nas seções 4.3 e 4.4, a seguir, são analisados os trabalhos que abordam inovação no contexto educacional, incorporando, também, trabalhos que abordam mudanças educacionais pelo uso das TDIC.