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CAPÍTULO 1: MÍDIA, SOCIEDADE EEDUCAÇÃO

1.8 EDUCOMUNICAÇÃO E QUESTÕES AMBIENTAIS NA

Para Belloni (1991, p. 41; 1995b, p. 35, [2001, p. 44]), desde as primeiras definições de educomunicação, em reuniões de especialistas sob os auspícios da UNESCO, está presente a ideia essencial de que a educação para as mídias é condição sinequa non da educação para a cidadania, sendo um instrumento fundamental para a democratização das oportunidades educacionais e do acesso ao saber.

Miranda (2007), assim como Belloni (2001), também defende a utilização da educomunicação, ao enfatizar que esta é uma área do conhecimento que pode contribuir para a formação de receptores críticos da informação científica. Ressalta, no entanto, que ela visa algo que vai

além da educação para a mídia. Ao citar Soares (2002), enfatiza que a educomunicação refere-se a uma educação para a comunicação, descrevendo-a como um conjunto de ações que permitem que educadores e estudantes gerenciem de forma aberta e rica os processos comunicativos no espaço educacional e o seu relacionamento com a sociedade.

Amparado em Soares (2002, 2004), Belloni (2001) e Miranda (2007), acredito que a busca por compreender o papel desempenhado pela mídia como instrumento de educação e de formação de uma consciência ambiental no contexto do ensino profissionalizante pode estar sustentada pelos pressupostos teóricos que fazem parte deste novo campo do conhecimento - a educomunicação.

Segundo Soares (2002), o histórico da educação ambiental no Brasil se confunde com os primeiros passos desse novo campo de pesquisa acadêmica no país. Enfatiza que as primeiras preocupações sobre a prática da educomunicação geraram projetos com a intencionalidade de educar ambientalmente. Prova disso é que o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) vem procurando se utilizar da educomunicação como uma possibilidade concreta de estabelecer uma relação de maior proximidade entre educação ambiental e meios de comunicação.

Como é possível perceber, desde as últimas décadas do século XX, vários estudos buscam identificar e discutir as principais carências e o pouco preparo dos atores que atuam em distintos cenários educacionais, relacionados à adequada utilização das potencialidades educativas presentes nos produtos disponibilizados pelos meios de comunicação de massa.

Uma das alternativas encontradas para suplantar tais deficiências é a educomunicação. Esse termo tem sido usado por inúmeros autores, especialmente latino-americanos, como Mario Kaplun, para nomear a prática da leitura crítica dos meios de comunicação.

No entanto, pesquisas do NCE/USP, entre os anos de 1997 e 1999, lideradas pelo professor Ismar de Oliveira Soares, passaram a utilizar o termo educomunicação para referir-se não apenas aos esforços que se concentram no sentido de uma leitura crítica das mensagens midiáticas, mas também para referir-se a outras ações que se configuram em torno da inter-relação comunicação-educação.

Segundo Soares (2002 apud BRASIL, 2005, p. 12), o termo educomunicação pode ser então entendido como:

formação e o desenvolvimento de ecossistemas comunicativos em espaços educativos, mediados pelos processos e tecnologias da informação, tendo por objetivo a ampliação das formas de expressão dos membros das comunidades e a melhoria do coeficiente comunicativo das ações educativas, incluindo os relacionados ao uso dos recursos da informação no processo de aprendizagem. Objetivando o desenvolvimento pleno da cidadania!

Ainda de acordo com Soares (2002), o campo da educomunicação é o resultado da inter-relação entre a comunicação e a educação e abrange quatro áreas de intervenção: (a) a educação para os meios, que promove reflexões e a formação de receptores críticos; (b) o uso e manejo dos processos de produção midiática; (c) a utilização das tecnologias de informação e comunicação no contexto ensino- aprendizagem; e (d) a comunicação interpessoal no relacionamento entre grupos. (SOARES, 2002 apud BRASIL, 2005).

Belloni (2001, p. 12), ao defender a educomunicação, afirma ser esta essencial para o desenvolvimento de práticas educacionais mais democratizadoras, que exigirão professores plenamente atualizados e em sintonia com as aspirações e modos de ser das novas gerações.

Como protagonistas de uma nova realidade educacional que vem se consolidando a cada momento, professores e alunos que desenvolvem suas atividades em cursos profissionalizantes estão cada vez mais envolvidos pelas modernas tecnologias de informação e comunicação e literalmente sendo invadidos pela presença marcante dos meios de comunicação de massa em suas atividades acadêmicas.

Uma educação que pretende inserir em seu contexto contribuições oriundas de outras instâncias sociais, como a mídia, necessita que seus atores estejam abertos a novos contatos, tanto em nível pessoal, quanto grupal, buscando, dessa forma, aproximar-se de novos contextos, experiências e realidades.

Deve estar preparada para a adequada utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que servirão tanto como suporte às atividades desenvolvidas no âmbito escolar, quanto como elementos que permitirão atingir outras esferas, em espaços não escolares.

Os novos atores da educação técnica e tecnológica precisam compreender igualmente a necessidade de criarem seus próprios produtos midiáticos, como alternativa à presença controladora das

mídias convencionais e a possibilidade de difundirem trabalhos e experiências exitosas a outros grupos humanos, escolares ou não.

Na opinião de Gonzales (2002), essa é uma ótima oportunidade de se lançar sobre a mídia um novo olhar. Não mais como um espectador pacífico que a tudo absorve sem nada questionar, mas como alguém que cria e discute a sua própria experiência.

Uma educação que pretende inserir as exigências desse novo cenário precisa estar atenta, sobretudo, à necessidade de formar profissionais ativos e críticos no uso das tecnologias de informação e comunicação e dos meios de comunicação de massa, como afirma Belloni (2001). Profissionais que possam atuar num mercado de trabalho que exige, além de competências e habilidades técnicas, capacidade de reconhecer os impactos sociais e ambientais decorrentes de sua atividade profissional.

Gonzales (2002), ao analisar a importância de uma educação para a utilização dos meios de comunicação, aponta para a necessidade de se realizar uma reflexão sobre os efeitos que essa possa provocar sobre os processos educacionais, ao mesmo tempo em que sugere, a exemplo de Belloni (2001) e Soares (2002), sua utilização de forma criativa, crítica e sem estereótipos. Uma educação que favoreça o fortalecimento da cidadania. Para Gonzales (2002, p. 95):

[...] a educação em meios de comunicação ou alfabetização midiática compreende a capacidade de analisar criticamente os meios e de expressar e produzir mensagens com eles. Ou seja, é preciso concentrar-se na educação e na mídia, sugerindo uma interação que envolva, por um lado, sua analise e consequente reflexão e por outro, seu uso criativo, que transforme os instrumentos, dando-lhes expressividade. Deve buscar formar e desenvolver critérios compreensivos e uniformizados da realidade midiática, que afastem os estereótipos e desterrem a passividade. Nessa perspectiva também se posiciona Morduchowicz (2007). A autora questiona sobre qual relação se espera que exista entre escola e meios de comunicação. Para ela, aqueles que negam os meios de comunicação e os condenam como diabólicos devem compreender que eles estão presentes e se constituem uma realidade na vida cotidiana de crianças e adultos, e quem os coloca em um pedestal, sem questioná-los, precisa entender que aceitá-los cegamente pode ser igualmente

prejudicial. Morduchowicz (2007, p. 12) afirma que dessas duas visões surge a relação mais adequada entre a escola e a mídia: a aceitação crítica. Uma atitude intermediária entre o otimismo ingênuo e o catastrofismo estéril. Para a autora não se trata de condenar nem de idealizar os meios de comunicação por serem bons ou maus, mas sim admitir que guardam contradições e que a única coisa que não se pode fazer é ignorá-los, pois o que se necessita, na verdade, é uma educação para saber usá-los adequadamente.

Entendo que diante das inúmeras possibilidades comunicacionais disponibilizadas pelas modernas tecnologias de informação e comunicação, presentes nesses novos tempos, não se pode deixar que estes elementos sejam excluídos do processo educacional; pelo contrário, que fortaleçam as possibilidades de se poder acessar a novos conhecimentos e informações, amplamente disponibilizados. É preciso ter os meios de comunicação como aliados dos processos de ensino e não como inimigos que disputam espaços hegemônicos. Nesse sentido, ao procurar aplanar os caminhos que a mídia-educação tem percorrido, especialmente quando se trata das experiências brasileiras e latino- americanas, faz-se necessário preparar os profissionais que lidam com a educação, neste caso específico a que se desenvolve no âmbito profissional e tecnológico, para que saibam lidar com essas novas experiências que exigem criatividade e acima de tudo criticidade.

Frente a todas essas questões que permitem esclarecer alguns dos pressupostos teóricos da educomunicação, creio ser possível afirmar que esta, ao colaborar para a formação de cidadãos aptos a desenvolverem uma leitura crítica e contextualizada da mídia e o uso adequado das novas tecnologias, por certo também estará cooperando de forma decisiva para a diminuição de processos de alienação e de manipulação da sociedade, tendo os meios de comunicação como protagonistas.

Os processos educomunicativos, ao apontarem para a necessidade de se construir essa leitura crítica dos produtos midiáticos, estarão auxiliando na formação de cidadãos conscientes e autônomos para a tomada de decisões.

Essa é uma questão também defendida por Seligman (2008), ao afirmar que, ao se ter contato com a educomunicação, pode-se estar agindo no sentido de se obter maior autonomia, além de facilitar o surgimento de outras competências que fazem parte do cotidiano. Para essa autora, independência, pensamento crítico e autonomia são palavras chave no desenvolvimento desse processo.

conduz ao pleno exercício da cidadania. Segundo a autora, ao se promover uma leitura crítica e consciente do mundo, através da mídia, se estará possibilitando colocar a educação a serviço da democracia, como instrumento ideal para ensinar e aprender a pensar livremente.

Acredito que, no âmbito da educação profissional e tecnológica, valores como estes acima colocados devem ser considerados primordiais, devendo ser difundidos e estimulados para que garantam, não somente a formação de cidadãos conscientes e participativos, mas também que lhes permitam exercer suas atividades profissionais conhecedores das consequências sociais e ambientais decorrentes de suas atividades profissionais. Nesse sentido, retomando questões defendidas por Miranda (2001) e Belloni (2007), é preciso ratificar a importância da educomunicação como fundamental para a constituição desse processo, pois segundo afirmam as autoras, a educomunicação pode contribuir efetivamente para a formação de receptores críticos da informação científica.

Diferentemente da educação profissional e tecnológica, em outros espaços educacionais já é possível perceber que algumas práticas educomunicativas vêm sendo desenvolvidas, no sentido de buscar, não somente uma maior aproximação entre estes dois campos, mas acima de tudo, promover a discussão crítica da utilização dos recursos midiáticos em seus processos educativos.

O capítulo a seguir, além de buscar reforçar alguns dos conceitos explicitados, pretende trazer à tona algumas das experiências realizadas no campo da mídia-educação, utilizando-se para isso de trabalhos desenvolvidos em nível acadêmico. Nessa compilação de teorias e experiências, de modo especial as que se estabelecem no campo da educação para a mídia, é possível perceber como essas vêm sendo desenvolvidas, de que forma podem subsidiar inclusões no espaço da educação profissional e tecnológica, além de permitirem confrontações com as experiências de utilização de recursos midiáticos, expressadas através dos posicionamentos dos professores pesquisados.

CAPÍTULO 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE TESES E